i. Falta apenas alguns minutos. Vamos, não precisa ficar tão ansioso. Só que este ano vai ser bom, não vai? Vai ser diferente. Você pressente isso, por isso se empolga.

ii. Na madrugada do dia que já estava batendo em sua porta, recebe o primeiro presente pontualmente da pessoa mais querida para si, que coincidentemente também estava na sua porta. Ele segurava uma cartola negra em uma mão, e com a outra, tirou dela uma pequena bola de pelos branca com um laço vermelho no pescoço. ''Ta-daa.'' É o que diz, desanimado, em contraste do menor, que já dava pulinhos enquanto batia palmas. Não fazia isso há um tempo.

iii. E também não se lembrava da última vez que sorria bobo assim para uma criatura tão diminuta. Talvez anos atrás com um gato que foi morto por quem o presenteou. (Havia visitado o túmulo do gato dias atrás, mas isso não importa; não agora).

iv. No meio da tarde, antes de sair, encara o guarda-roupa com receio. Será que deveria? Morde o lábio uma, duas vezes. Mexe-se inquieto. E se...? Não. Não importa.

v. O vestido é de um tecido não muito fino, na cor azul – sua favorita – que desliza suavemente pelo corpo magro. Amarra aqui, sobe ali, calça os coturnos, ponhe a jaqueta. No espelho, o reflexo lhe diz que é bonito. É bonito. Está bonito. No vestido azul, ele é bonito.

vii. Quando chega na instituição, todos já estavam ali. O bolo tendo o nome da deusa grega virgem da caça, que também era seu apelido; alguns balões também azuis estavam por perto. Nada extravagante ou chamativo, o que o agradou. É importante celebrar mais um ano de vida que conseguiu passar, principalmente se já esteve muito próximo da morte.

viii. Ele tem olhos tão tristes normalmente, porém hoje eles brilham juntamente com seu sorriso. Parecia muito mais vivo que o usual: cheio de luz, cheio de alegria. A risada melódica escapa dos lábios curvados e viaja pelo ar enquanto dança com um amigo ruivo.

ix. Seu amante o diz que o vestido lhe caia bem. Sua inspiração o parabenizou. Suas crianças o acham incrível.

x. Na cantoria do parabéns para você, mantém as mãos com os dedos entrelaçados em frente ao corpo, e sem esperar, uma coroa prateada é posta na sua cabeça. A cereja que faltava. Tocou o objeto em cima dele e riu-se.

xi. Após soprar as velas, lágrimas não podem ser mais contidas. O pouco de maquiagem que colocou foi arruinada, contudo não dava a mínima.

xii. Sentiu falta da sensação de sorrir tanto que suas bochechas começassem a doer. Sorrir genuinamente, com o sentimento puro no coração. Sentiu falta daquele amontoado de contentamento de uma vez só. Ele desejou poder guardar esse momento numa caixinha para relembrar futuramente.

xiii. V o abraça quando ambos estão longe dos outros. ''Cai bem em você'' Sussurrou. ''Já disse isso sobre o vestido, mas obrigado!'' Respondeu ingenuamente. ''Eu estava falando sobre felicidade'' ''Oh''

xiv. Novamente as gotículas escapam, desta vez no peito de V enquanto ainda é envolvido pelo mesmo. ''Estou tão contente, estou tão contente...''

xv. A madrugada cai de novo. Olhos quase rubros o encaram antes de selar um rápido beijo. ''Eu te amo'' E as palavras ecoam na sua mente porque não se recordava da última vez que ouviu ele falando isso ele. E ecoam, se prendem, se repetem.

xvi. Ele foi embora.

xvii. Está tudo bem ainda.

xvii. Alaska olha novamente para si no espelho. Maquiagem arruinada, roupa meio amassada, cara meio cansada. Porém está tudo bem. Um sorriso pequeno ainda se faz nos lábios rosados, que pronunciam:

xviii. ''Feliz aniversário para mim.''