Heróis Urbanos escrita por Mila Karenina


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo eba! Espero que curtam e comentem e tal, estou realizando um sonho em finalmente postar essa história aqui!
A menina da foto é a Celeste (Céu)



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O que é mais bonito e mágico que um circo? As cores diversas, a pipoca e as lindas apresentações. As arquibancadas, o cheiro da lona e o público. Ah o nosso respeitável público! O nosso queridíssimo público. As luzes coloridas já estavam acesas e os artistas já estavam prontos para entrar e dar o seu espetáculo. Uma das artistas era eu, Céu Fernandes.

Eu vestia uma espécie de colã azul com algumas nuvens desenhadas e tinha meus cabelos negros presos em um coque apertado. Meu corpo não era muito magro como eram os da maioria das acrobatas, possuía algumas mínimas curvas e algumas gordurinhas localizadas que não deveriam estar lá. Meus olhos azuis se encontravam muito bem maquiados com sombras azuis, pretas e brancas, fazia parte do show que eu tanto amava participar.

Meus pais eram artistas circenses há anos e eu não poderia seguir um caminho diferente. Eu amava o que fazia e amava todo o universo circense, mas o meu espetáculo foi prematuramente terminado. Eu nunca pensaria que naquele momento e naquela apresentação meu mundo fosse despencar sobre a minha cabeça e que os meus sonhos seriam queimados. Literalmente queimados.

Dei o primeiro passo para começar a minha apresentação de acrobacia que se resumia em muitos movimentos considerados dificeis de serem realizados por pessoas comuns. O pano branco já estava no centro do palco e eu já me alongava para subi-lo quando aconteceu. Toda a minha desgraça aconteceu.

O cheiro de fumaça tomou o lugar e logo o fogo começou. Todos morreríamos queimados era o que eu pensava. Mas não foi o que o destino quis. Parte do público conseguiu fugir antes que aquilo se tornasse algo maior, porém grande parte dele ficou preso ali conósco. Todos os artistas estavam se arrumando naquele momento, apenas eu já estava pronta e o incêndio começou justamente no camarim em que eles se arrumavam. Nessa altura provavelmente já não havia ninguém vivo e ao pensar nos meus pais eu quis morrer também. Continuei parada enquanto o fogo aumentava e a fumaça tomava meus pumãos. Fechei os olhos e comecei a esperar pela morte, mas ela não veio.

Uma pequena menina loira de grandes olhos e que vestia um adorável vestido rosa, que havia ficado presa ali, acabara de ser morta bem na minha frente. Os olhos azuis arregalados foram as últimas coisas que eu vi antes que o fogo tomasse o pequeno corpo da garota que gritou desesperada. Aquilo foi como um tapa em meu rosto e cada vez menos eu tinha esperanças e vontade de sair dali viva. Eu não conseguia enteder o motivo de o destino ter sido tão ingrato comigo. Por quê de tanto sofrimento? O que eu fiz para merecer tal coisa?

Quando eu já esperava o meu fim alguém puxou a minha mão e me conduziu para fora. Meu corpo estava molengo e o homem me pegou no colo e correu comigo que agora estava desacordada. O homem pousou meu corpo lentamente na grama que ficava em volta da lona de nossa tenda e em seguida me sacudiu. Não entendi como tive forças, mas abri os olhos e enxerguei o rosto do homem que parecia não ter mais que trinta anos. Ele tinha cabelos escuros e olhos castanhos. Naquele momento o homem que nem era bonito, me pareceu um anjo por ter salvado a minha vida que eu estava pensando não fazer mais sentido.

— Você está bem pequena? — ele perguntou com o rosto próximo do meu.

— Estou bem — respondi me levantando com alguma dificuldade.

— Não se levante ainda, as ambulâncias já chegaram — ele exclamou, no entanto ignorei.

— Não há necessidade, estou bem fisicamente e emocionalmente, acredite. — eu disse com os olhos no fogo que já havia destruído parte de nossa tenda. — A ficha ainda não caiu.

Comecei a caminhar para longe do homem sem nem agradecer por ter salvado a minha vida. Eu precisava ir para longe daquilo. Eu precisava esquecer tudo aquilo e seria difícil.

— Não vá ainda menina dos olhos celestes — o homem gritou para mim e aquela foi a última voz que eu escutei naquele dia.

A noite foi terrível e me esconder em um beco escuro com gatos foi pior ainda. Quando encontrei uma poça d'água olhei meu reflexo e quase caí para trás ao ver meu estado, mas eu deveria aceitar a minha nova condição, orfã e sem lar.

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No outro dia acordei com uma enorme dor de cabeça e uma vontade enorme de me matar e acabar de vez com aquele sofrimento, mas novamente algo me impediu e dessa vez foi a luz do sol que ao esquentar meu corpo frio, me fez acreditar que eu poderia ter um novo começo e esse começo chegou.

Com algumas poucas apresentações que fiz no centro daquela pequena cidade do interior de São Paulo e com algum dinheiro que ganhei contando a minha história para algumas pessoas, consegui sair daquele lugar e ir para um lugar cheio de novas oportunidades. São Paulo, a capital, a maior cidade do Brasil, o centro da América Latina. Esse seria o meu novo lar e eu não podia esperar para ser uma paulistana de verdade. Eu não podia esperar para tentar reencontrar a felicidade.

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Eu já estava completamente arrumada. Eu vestia uma calça jeans emprestada por uma mulher bondosa e uma blusa emprestada por uma amiga que fiz ao ficar alguns dias em uma pousada de favor. Nos pés eu calçava um simples chinelo azul e branco, a típica sandália havaiana que todo mundo já usou um dia. Meus cabelos que estavam pouco abaixo da altura do ombro estavam soltos e tinham suas ondas perfeitamente formadas e em meu rosto nenhuma maquiagem. Eu parecia exatamente o que eu era, uma orfã e sem lar.

A gentil dona da pousada que me acolheu, encheu uma mochila com alimentos e algumas roupas simples e alguns calçados. Boa parte da cidade estava ali para me ver partir. A rodoviária estava movimentada naquele instante e era tudo por mim. Finalmente chorei depois de dias contendo as lágrimas. Era difícil não se emocionar quando se acha amor em um mundo onde tudo é interesse e maldade. Aquelas pessoas gostavam de mim e eu não podia dar nada em troca daquela ajuda, mas se um dia eu vencesse na vida, eu voltaria ali e presentearia cada uma delas.

Laís tinha os cabelos louros presos em um coque e vestia um short curto e uma regata branca. Eu devia muito à ela já que se não fosse por ela, eu teria ficado na rua e sabe-se lá o que teria acontecido comigo. Ela tinha os olhos castanhos marejados de lágrimas e parecia prestes a chorar. Vendo seu sofrimento fui até ela e a abracei com força, afaguei seus cabelos e em seguida olhei no fundo dos seus olhos.

— Não fique assim ok? Não pense que é uma despedida e sim um até logo — acalmei a loura que sorriu e me abraçou novamente.

— Sabe que não precisa ir Céu... — ela começou com seu discurso. — A mamãe já disse que pode ficar o tempo que quiser conosco.

Neguei com a cabeça e segurei seu queixo em minhas mãos. Ela tinha um expressão infantil.

— Não volte a chorar e se acalme. Se tudo der certo volto para visitá-los no ano que vem e se Deus quiser, cheia de presentes para todos vocês. — respondi com um sorriso nos lábios. — Eu arranjarei um emprego e serei um orgulho para todos vocês.

— Mas você ainda nem completou dezoito anos — ela argumentou e eu cocei a cabeça.

De fato eu ainda não tinha dezoito anos e isso atrapalharia e muito as coisas, mas eu não desistiria facilmente, se tem uma coisa que aprendi com meus pais é que de qualquer situação se tira um ensinamento. Seja ela uma tristeza como perder os pais ou uma alegria como encontrar um amor. E foi pensamento nisso que levantei a cabeça e acenei para todos que estavam me olhando. Eu venceria e quando isso acontecesse seria com eles que eu comemoraria.

— Fique bem e pense mais em você Lala — afirmei e corri para o ônibus que me levaria para o meu novo lar.

Uma nova história estava para ser escrita e eu esperava que essa história não fosse mais um drama e sim uma história empolgante, cheia de cor e vida. Como costumava ser a minha casa, como costumava ser o meu tão amado circo.


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Notas finais do capítulo

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