14 de Fevereiro. Dia de São Valentim. 9 horas e 40 minutos da manhã.

Foi devido a esta data que acabei dormindo durante a aula de Economia Domestica e só fui acordada pela Onoda-chan, sendo essa minha amiga desde o primeiro ano no colégio Hanegasaki, que me cutucou com um lápis em meu ombro.

— Daisy-chan, se a professora te vir assim, vai acabar sendo expulsa da sala de novo. - me alertou enquanto ajeitava seu cabelo lilás que havia prendido em seu oculos.

Eu sou deveras horrível nessa matéria, o que nos exames finais sempre diminui minha pontuação no rank de notas, e acabei dormindo somente algumas horas durante a noite, pois resolvi que prepararia um chocolate caseiro para o rapaz que eu gostava. Bem, vou explicar: nesse dia as garotas presenteiam os garotos com chocolates sendo esses os obrigatórios, os de luxo e, finalmente, os caseiros. Em retorno a esses presentes, os rapazes dão em troca alguma coisa para nós no Dia Branco, podendo ser algum objeto ou somente chocolate.

— Mas eu estou com tanto sono, Onoda-chan. Você sabe como é difícil fazer aquele chocolate, ainda mais com a ajuda do meu irmão. - sussurrei, olhando de canto para a professora que explica algum assunto aleatório no quadro. - Só consegui fazer um que prestasse às 4 horas da madrugada!

— E vai me contar para quem você vai dar esse chocolate? Não é para o Hikami-san...? - me olhou aflita, esperando uma negativa minha. Ela sempre foi apaixonada pelo Presidente do nosso Grêmio Estudantil de forma que chegou a entrar no clube por causa dele, mas o rapaz não percebia essa paixonite da Onoda por ele, mesmo que sempre dava chocolates caseiros e presentes no Natal somente a ele.

— É para outra pessoa que não posso te contar. E não, não é para o seu amado e querido Presidente. - a provoquei, o que a deixou extremamente envergonhada. Eu continuaria com a brincadeira, se não fosse por um giz voador me acertar na cabeça.

— Muito bonito, senhorita Maboroshi. Espero que seu assunto com a senhorita Onoda seja extremamente importante para que ambas fiquem na sala durante o intervalo do enquanto me produzem um texto sobre a importância da rotina de trabalho. - a professora Naoko nos repreendeu fazendo com que toda a turma risse de nós duas e deixando Onoda se afundar na cadeira com o rosto totalmente vermelho.

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1 hora e 15 minutos da tarde.

— Isso é muita maldade, Onoda-chan!

Reclamei pela trigésima vez enquanto meu estômago roncava no laboratório de Química, onde teríamos nossa última aula antes de irmos para casa ou dedicarmos um pouco de tempo para nosso clube. No meu caso, eu iria para casa pois só tinha responsabilidade com meu clube de Torcida em todo terceiro domingo do mês e Onoda-chan iria para uma reunião sobre algum assunto relacionado ao Grêmio.

— Você pode comer seu almoço depois da aula, Daisy-chan. Espero que consiga entregar o seu chocolate para quem você quer. - suspirou, apoiando a cabeça com uma das mãos na mesa de experimentos. - Espero que o Itaru-kun aceite meu presente...

— Itaru-kun? Hum... Quando conseguiu tanta intimidade, Onoda-chan? - provoquei, ao perceber que o chamou pelo nome.

— E-eu quis dizer Himaki-san. Vo-você que ouviu errado, Daisy-chan! - tentou se corrigir de forma atrapalhada, arrancando risadas minhas.

Parei de rir ao ver que o Wakaouji-sensei entrou no laboratório, fazendo com que um monte de alunas se amontoassem na porta para paparicá-lo com presentes caros, os quais ele dispensava de forma gentil pois os professores estavam autorizados a aceitar somente os chocolates obrigatórios. Várias lamentações foram ouvidas até se dissiparem com todos os alunos sentados em seus lugares e uma cabeleireira loira começar a aula na qual era uma das minhas favoritas, perdendo para Linguagem e Artes Plásticas.

— Estou agradecido pelas intenções de cada alunas, mas todos conhecem o regulamento e o vice-diretor me fala todo ano que não posso descumpri-lo. - notificou novamente todas as garotas pelo seu segundo ano consecutivo. - Voltando a nossa aula, alguém gostaria de acrescentar um comentário sobre o relatório que fizeram sobre nosso experimento com benzeno? - folheou a montanha de relatórios que havia sobre sua mesa. - Maboroshi Kitsuni... Minha aluna honoraria das aulas extracurriculares. - abriu um belo sorriso que quase perdi a respiração ao vê-lo. - Poderia nos dar o prazer de uma nota construtiva sobre o trabalho que fez?

— Que quando misturamos o benzeno com devidas substancias, ele se torna acido? - arrisquei, ficando com uma postura totalmente ereta.

— Muito bem. E alguém poderia dizer que substâncias são essas?

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3 horas da tarde.

Estava pegando minhas coisas no armário escolar com intenção de voltar logo para casa, pois havia almoçado na cobertura do colégio, enquanto observava o chocolate que havia feito para aquele dia. Não tive coragem de entregar para quem eu queria: Wakaouji Takafumi. Mesmo tendo passado mais de um ano de um beijo acidental que ocorreu no laboratório quando estava arrumando os frascos e caí da cadeira diretamente em cima do professor, ainda tinha vergonha de conversar com ele sozinha ou com poucas pessoas ao redor. Afinal, quem beija o próprio professor de Química?

— Maboroshi-san?

— Wakaouji-sensei! O-o senhor está fazendo o que aqui?! - perguntei, assustada com a aparição repentina dele.

— Estava de passagem quando vi que ainda está no colégio. Se me permite, quer companhia para andar até sua casa? - me perguntou e tive a leve impressão de ter visto que estava com vergonha, ao desviar os seus olhos azuis esverdeados para um ponto qualquer.

— Para mim, tudo bem. - afirmei, quase esmagando a embalagem rosa com as mãos e colocando minha mochila nas costas com certa rapidez, começando a caminhar junto do meu professor.

Durante metade do caminho, nenhum de nós puxou assunto o que criou um certo clima pesado, o que me deixou incomodada. Fiquei pensando se entregaria ou não o chocolate para ele, que já deveria ter derretido na minha mão, pois duvido que conseguiria entregar em outro momento.

— Seu namorado estuda em outro colégio? - fiz uma cara confusa e ele indicou com a mão para meu chocolate embrulhado no papel rosa. - É um garoto de sorte, então.

— Na verdade... - parei de andar o que resultou dele imitando o meu gesto. - O chocolate é para o senhor, Wakaouji-sensei. Mas o regulamento não permite e...

— Um momento. - me interrompeu, me deixando surpresa. - O seu chocolate caseiro é para mim? - acenei em concordância. - Nesse caso, o regulamento não se aplica pois estamos fora do colégio, certo? - piscou para mim, de modo que quase pulei de felicidade.

— Sim! Quero dizer, aceite o chocolate... Por favor. - estiquei o embrulho, no qual senti um pequeno contato entre a minha com a mão do professor quando pegou meu presente.

— Obrigado, Maboroshi-san. Creio que deve estar delicioso. - sorriu de forma que eu retribuísse o mesmo, ainda envergonhada com a situação que havíamos passado. - Bem, aqui deve ser a rua de sua casa. Nos vemos amanhã no laboratório. - acenou para mim, sumindo após dobrar a esquina.

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14 de Março. Dia Branco. 11 horas da manhã.

O resultado dos nossos exames finais do segundo ano estavam sendo publicados por um senhor grisalho que trabalhava na secretaria do nosso colégio. A semana de provas fora extremamente longa, pois cada dia era de uma disciplina especifica e a última era sempre de Economia Domestica que quase fritou meu cérebro.

Dei uma olhada rápida na classificação, sendo que dessa vez eu havia conseguido uma boa pontuação tendo notas entre 100 e 78 na qual me deixou em décimo lugar e, como previa, a minha nota mais baixa foi com a professora Naoko. É, aquilo me perseguiria até o ano que vem.

Como era sábado, só tivemos aula durante a manhã e nossa tarde era livre. O problema de hoje era ver algumas garotas desesperadas por não terem recebido o retorno dos chocolates ou somente um obrigatório. Onoda-chan estava com um sorriso de praticamente rasgar o rosto pois havia recebido, de Hikami-san, uma pelúcia de algum desenho animado que ela gostava.

Se eu tinha esperanças de receber algo em troca do meu professor de Química? Um pouquinho, para não mentir. Deveria ser por isso que eu olhava a cada momento para a porta da sala dos professores e já estava me deixando com dores no pescoço todas as vezes que eu ouvia o barulho dela se abrindo.

— Daisy-chan... Vamos almoçar juntas hoje, por favor? - ouvi a voz de Onoda me pedindo e vi que fazia uma carinha de pidona.

— Claro. Sua mãe fez aquele almoço decorado de novo?

— Sim. Dessa vez é um panda. Dá até pena de comer ele. - comentou, abrindo um pouco sua lancheira onde havia um panda feito de arroz.

— É mesmo. - sorri, achando aquilo extremamente fofo e caminhando com ela pelo corredor, até ouvir um leve assobio. Me virei e vi que tinha um loiro de camisa verde acenando para que eu fosse até ele. “Wakaouji-sensei...” - Onoda-chan. Preciso ir ao banheiro, pode ir na frente?

— Posso sim. Mas vê se não demora, Daisy-chan. - me avisou, apontando para a sua lancheira. Apenas concordei com a cabeça e dei meia-volta, indo em direção do meu professor que me esperava com um pacote branco.

— Maboroshi-san. - me estendeu o presente que logo o abri, mostrando uma tornozeleira de prata com detalhes de gatinhos.

— Obrigada, Wakaouji-sensei. - agradeci, um pouco envergonhada por receber um presente “luxuoso”. - Achei que o senhor não iria se lembrar...

— Claro que lembrei. Mas isso será nosso segredo, está bem? - piscou, com um sorriso levado no rosto. - Feliz Dia Branco, “Daisy-chan”!