A chuva caia forte lá fora e ensopava a janela. O frio no Japão era intenso, principalmente na última parte do ano. Sereny não tinha ambições de sair da cama naquela manhã de sábado, mas, se ela não quisesse perder o café da amanhã do hotel, era necessário.

Com muito esforço, tirou a coberta e levantou. O pijama de flanela não permitia que ela sentisse muito frio, mas o vento ainda era perturbador. Rumou ao banheiro para fazer sua higiene matinal. Escovou os dentes, penteou os cabelos e lavou o rosto. Foi até o armário para pegar uma troca de roupa. Uma calça jeans, uma blusa e manga comprida e um casaco grosso, além das luvas e das botas. Enfim, estava linda.

Abriu a porta e sentiu uma corrente de vento desencorajadora. Fechou a porta e desceu as escadas rumo ao restaurante. Não esperava seus irmãos ou os GazeBoys estivessem acordados, talvez apenas Yutaka.

Qual não foi sua surpresa ao encontrar Kouyou bebendo uma xícara de chocolate quente. O loiro acenou timidamente para a morena que sorriu constrangida. Quantas vezes não tinha imaginado tomar café com ele? Sentar ao seu lado, conversar sobre as coisas mais sem importância possível.

- Ohayou, Ny-chan. – o guitarrista cumprimentou-a docemente, sorrindo. – Quer se juntar a mim nesse café da manhã?

- Hai, onegai shimasu. – ela respondeu um pouco trêmula. Quantas vezes seu maior ídolo pergunta se quer tomar café com ele?

Kouyou chamou o garçom e pediu uma xícara de café com leite e um pão na chapa para a garota, que se sentou ao seu lado. Uma troca de sorrisos foi sinal suficiente para ele tentar engatar uma conversa.

- Como foi a sua noite, Ny-chan?

- Agradável. Ainda não estou acostumada a dormir em outra cama que não seja a minha. – ela riu nervosa e foi acompanhada.

- Somos dois. O problema é que eu faço isso a mais tempo que você... Já devia ser uma situação normal. Além do que, eu passo metade do ano em camas que não são minhas...

- Sim...

- Mas como poderíamos nos desapegar do que é nosso, não é? Imagino que deva estar sentindo muita falta de casa... Do seu país, dos seus amigos, seus pais...

- Pode me achar louca, mas a verdade é que eu me sinto mais em casa aqui do que no lugar que chamo de casa.

- Sente? – ele repetiu curioso.

- Muito. Não me entenda mal, gosto do Brasil. Mas sempre pensei no Japão como meu verdadeiro lar. Eu me sinto em casa quando estou aqui.

- Então essa não foi a sua primeira viagem ao Japão, não é?

- Foi sim. – Sereny respondeu com um sorriso no rosto. Já não estava tão nervosa com a presença do lindo e perfeito cavalheiro sentado a sua frente. – Mas, quando eu assistia aos lives do the GazettE, eu sentia que estava aqui no Japão, me sentia em casa.

- Intrigante... – ele murmurou.

- Achei que fosse dizer que eu sou louca. – ela falou rindo.

- Não, isso nunca. Que tipo de homem seria eu se dissesse a uma dama tão encantadora como você que é louca? Isso não seria gentil.

- Mas pode ser verdade.

- Não concordo. No fim, isso que você chama de loucura acabou se tornando realidade, não foi? E se acabou se tornando real, não pode ser considerado loucura.

- Você é muito convincente. – os dois riram de novo e a xícara de café e o pão de Sereny chegaram.

- Eu sei ser convincente quando é necessário. – ele riu. – Mas nesse caso foram os fatos que a convenceram. Eu apenas os disse em voz alta.

- Hai hai. – Sereny concordou, dando um gole em seu café com leite.

- Depois que terminarmos, quer dar uma volta pelo jardim? – ele ofereceu terminando o chocolate quente.

- Nessa chuva?

- Eu tenho um guarda-chuva, não teria problema em dividi-lo com você.

- Então é claro que eu aceito. – Sereny sorriu. Já não estava nervosa. Conversar com Kouyou, rir com ele era fácil e gostoso. Era natural. – Alguma razão especial para querer dar uma volta?

- Eu apenas gosto. Andar por aí, sentir o cheiro da chuva... É tudo muito gostoso.

- Eu também gosto do cheiro de chuva. E tudo parece mais limpo depois que chove, né?

- Muito mais limpo. Além do quê, vai ser bom aproveitar a folga que teremos daqueles preguiçosos e dos seus irmãos.

Os dois riram. Sereny terminou lentamente seu café, rindo das gracinhas que o loiro dizia ou fazia. Quando garçom levou a xícara embora, os dois rumaram ao exterior para passear com as pessoas com quem mais gostavam de estar.