Adeus escrita por Miss_Miyako


Capítulo 1
Adeus


Notas iniciais do capítulo

ENTÃO NÉ, EU TENHO SÉRIOS PROBLEMINHAS!! (que novidade)
Porque raios eu invento de escrever angst de ship, meu deus??? E uma angst completamente desnecessária, né? Diga-se de passagem, mas tudo bem, tudo beeem.

Eu devo gostar de sofrer, só pode.

Mas enfim, culpem o shindanmaker, foi ele que me jogou esse prompt.

Boa leitura e... É, espero que gostem.



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Ninguém sabia exatamente como tudo aquilo começara.

Não importasse quantos filmes ridículos tivessem retratado aquela situação, mostrando inúmeras maneiras que poderiam gerar aquilo tudo, na hora "h" nada se fez útil.

A não ser, claro, pelo mais óbvio.

Atire na cabeça para matá-los de vez.

Até então, a garota nunca sequer ligara para zumbis, sempre achara os filmes estúpidos, salvo algumas exceções que a faziam rir e por isso os assistira. Só que quando a realidade resolveu se transformar em um apocalipse de mortos vivos que pareciam ter saído diretamente da capa daquele DVD que assistira anos atrás, ela teve que rever os seus conceitos.

Seus dedos puxaram o gatilho num movimento rápido e - naquela altura do campeonato - familiar. O corpo esverdeado e pútrido caiu para trás, os olhos brancos e com um buraco no meio da testa por onde saía a fumaça da bala ainda quente.

Ela respirou fundo e passou os olhos rapidamente pelos outros cadáveres que se encontravam no chão e tinham as mesmas marcas em suas cabeças.

A ânsia que sentira da primeira vez que viu aquele tipo de cena nem fazia cócegas nela agora.

-Tomori!

Uma voz a chamou e a garota olhou para trás, um garoto moreno acenou de dentro de uma picape velha e não demorou muito para seus pés a lançarem na direção do veículo. Ela pulou para o banco do passageiro e ele já tinha dado a partida antes mesmo dela conseguir bater a porta.

Yuu não tinha idade ainda para dirigir, mas bem, qualquer policial que pudesse prendê-los já estava morto mesmo.

-Se machucou? - Perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

-Não, estou bem. - Nao murmurou, recarregando o cartucho da sua arma. Ainda tinham munição para mais um dias, mas seria bom se economizassem.

De qualquer forma, eles não queriam sair numa caçada louca por zumbis então armas e balas não chegavam a fazer diferença - sem esquecer que em tempos como aqueles, era até fácil encontrar mais - o que realmente preocupava a garota eram os seus suprimentos médicos.

Encarou o pescoço enfaixado do garoto que mantinha suas mãos no volante e sua atenção concentrada no caminho à frente, a pele perto das bandagens - que se estendiam pelo torso dele, mas ficavam protegidas pelo seu casaco vermelho - começando lentamente a ficar esverdeada.

Ela não cometeria a burrice de se deixar ser mordida.

Não outra vez.

A imagem do seu irmão vindo loucamente em sua direção e fincando os dentes no ombro do garoto que se colocara a frente dela no ultimo segundo invadiu sua mente e ela segurou o cabo da pistola com mais força.

Nunca mais.

***

Seguiram caminho por quase um dia inteiro até finalmente pararem num rancho abandonado na beira de uma estrada. Apesar do campo aberto, as hordas de zumbis resolveram se concentrar em lugares mais povoados como as cidades, por isso aquela era a opção mais segura no momento.

Yuu estacionou o carro ao lado do celeiro e ambos desceram para guardar suas coisas lá dentro. Resolveram só levar o essencial para não perder tempo abastecendo o carro caso precisassem sair correndo dali.

Assim que a garota de cabelos claros pôs os alimentos em cima de uma caixa velha de madeira junto de alguns kits de primeiros socorros e mais algumas coisas que tinham, ouviu um barulho de batida atrás de si e quando olhou para trás, encontrou o moreno de joelhos no chão.

E a mão segurando seu ombro.

-Otosaka! - Ela correu até ele e o ajudou a se erguer. Ele levantou com um pouco de dificuldade e chiou por causa da dor.

-Eu só preciso sentar um pouco. - E se moveu para uma mureta de pedra que tinha perto da parede de madeira com a ajuda de Nao.

-O efeito da morfina deve ter passado, eu vou pegar mais um pouco. - Ela falou e voltou para o lugar que estava antes, procurando pelas seringas.

Quando encontrou a caixa onde as guardava e a abriu, franziu o cenho. Só restavam mais três.

Foi até o garoto e pediu para que estendesse o braço, ele assim o fez e esperou a sensação da agulha entrando em sua pele.

-Pronto. - Ela avisou.

-Obrigado. Não se esquece de jogar a agulha fora.

-Eu sei.

E se dirigiu até um canto afastado do celeiro antes de queimar a seringa por inteiro. O plástico derreteu envolvendo o metal fino por completo e ela os deixou jogados ali mesmo.

-Quando a dor melhorar, pode deixar que eu faço a janta.

-Sopa de novo. - Ela resmungou, fazendo careta. - Mas não precisa se incomodar, eu faço.

-Você já fez ontem.

-E você não está em posição de ficar se esforçando, Otosaka-kun.

Yuu a encarou e Nao o encarou de volta.

-É só sopa enlatada, não tem problema.

Ele suspirou.

-Tá bom então. - E segurou o ombro de novo.

A garota foi atrás de duas latas e duas colheres, procurou pelo abridor improvisado que conseguira e começou a abri-las.

Permitiu-se lembrar de como as coisas eram antes de tudo aquilo começar. Como era seu trabalho como presidente do conselho estudantil, passando as tardes naquela sala com Yuu, Yusa e Takajo. Mesmo sendo odiada por quase toda a escola e tendo que aguentar garotas de outras salas lhe dando socos e pontapés, Nao não se importava muito.

Em comparação, é claro que ela preferia sua vida de antes. Não era uma pergunta difícil.

Seus dois outros amigos haviam sumido completamente e sua escola estava em pedaços, era um milagre ter conseguido encontrar Yuu no meio de todo aquele caos.

Não conseguia evitar de se perguntar como o garoto estava se sentindo, nos primeiros dias do apocalipse, se separara da irmã mais nova e não fazia ideia de onde ela poderia estar. Shunsuke já havia sumido muito antes e uma parte dela pedia várias vezes ao dia que Ayumi estivesse são e salva junto dele.

Assim, ela e o garoto poderiam finalmente encontrá-los.

E quem sabe...

Uma cura para Yuu também.

Por mais fútil que aquilo parecesse, Nao gostava de pensar naquilo como uma solução ao seu alcance.

O moreno estava sentado no chão, encostado na mureta quando ela sentou ao seu lado e entregou a sopa.

-Toma.

-Obrigado.

Silêncio se seguiu enquanto os outros dois comiam.

Depois de engolir sua quinta colherada, a garota falou.

-Você é um idiota.

-Hm. - Foi a resposta.

-Não devia ter se colocado na minha frente. - Uma memória antiga do garoto impedindo duas garotas que a encurralaram contra a parede do lado de fora da escola cruzou seus pensamentos.

-Faria de novo se pudesse.

Ela bufou.

-Você é mesmo idiota.

E finalizaram a pequena conversa diária que tinham desde que Yuu fora mordido pelo irmão dela.

O silêncio só durou até quando a loira terminou de comer.

-A comida parece insossa. - Yuu comentou.

-É comida enlatada, você queria o quê?

Ele demorou para responder.

-Pois é, né.

***

A noite daquele dia foi a pior de todas.

Ela levantou num pulo ao ouvir um berro, seu coração disparou e olhou para onde o outro deveria estar.

Quando o encontrou caído no chão, com os dentes trincados e segurando o ombro com força, sentiu seu sangue parar de correr por um segundo.

-Otosaka! Ei! - Correu até ele e o mudou de posição para que ficasse deitado de barriga para cima. - Ei!

Haviam combinado em manter turnos de vigia, enquanto um dormia metade da noite, o outro ficaria acordado e assim vice-versa.

Sentiu-se estúpida por continuar com aquele plano mesmo sabendo sobre a condição dele.

-Otosaka! - Ela chamou outra vez e suspirou internamente quando ele abriu os olhos, sua expressão, mesmo que ainda dolorida, parecia mais calma.

-Tomori?

-Foi a morfina que acabou de novo, não foi? - Ela franziu o cenho. - Era pra ter durado mais tempo. Eu vou pegar mais.

E se afastou dele para ir em direção dos remédios, mas teve a impressão que ele tentara segurar sua mão.

-Tomori.

-Espera, eu já vou pegar.

-Tomori, eu não quero morfina.

Ela parou.

-... Não seja idiota. - E começou a procurar pela caixa com as seringas.

-Tomori...

Ela o ignorou.

-... Tomori.

Ainda nada.

-...Tomori!

A caixa estava no alcance dos seus dedos quando...

-Nao!

Ela parou de novo.

-Para.

Ele permaneceu quieto.

-Eu sei o que você vai falar e a resposta é não.

-E você também sabe tão bem quanto eu que não temos escolha.

-Tem a cura.

-Não vai dar tempo.

Ela agarrou a caixa com força e estava prestes a responder quando o garoto soltou um grito abafado. O objeto caiu das mãos de Nao com o susto e a loira correu até ele.

-Você devia ter ficado dormindo, os efeitos iam agir mais lentamente. - E ajoelhou-se ao lado dele. - Tenta levantar, vamos pro carro e...

Mas foi interrompida quando o moreno segurou sua mão com força.

Olhos azuis límpidos encontraram com vermelhos foscos.

-Nao... Não dá tempo.

Ela comprimiu os lábios e sentiu muito ódio de si mesma por ter concordado com ele internamente. Respirou fundo.

-Você precisa aguentar mais um pouco.

Mas ela sabia que era inútil tentar.

Com a pouca força que o restava, Yuu esticou a mão livre e conseguiu segurar a pistola de Nao que ficara com ele por estar no seu turno de vigia. A garota sentiu seu batimentos pararem outra vez e ela o encarou enquanto ele colocava a arma em sua mão.

Ela nunca imaginaria que estaria naquela situação com o garoto traiçoeiro que aprontara tanto e com quem tivera inúmeras brigas.

E nem que estaria desejando com cada fibra do seu ser que ele não estivesse morrendo.

-Me mata, Nao.

Ou que estivesse pedindo aquilo para ela.

Um nó se formou na sua garganta e a ardência em seus olhos que a tempos não sentia.

-Eu não... - Sua voz saiu muito mais fraca do que queria.

Em meio à dor, Yuu segurou com ambas as mãos a mão dela que tinha a arma e a apontou para si mesmo.

-Eu não ligo de virar um zumbi, mas eu me recuso a machucar você.

E pôs o dedo indicador dela no gatilho.

Ela respirou fundo e devagar, já havia quase esquecido como se segurava o choro.

-Desculpa. - Pediu e Yuu conseguiu dar um ultimo sorriso.

-Você pedindo desculpa pra mim, isso sim é o apocalipse.

-Cala a boca. - Mas sorriu de volta.

-Se você encontrar a Ayumi, toma conta dela por mim.

- ... É claro.

O moreno assentiu e fechou os olhos, Nao respirou fundo e se permitiu uma ultima coisa.

Aproximou-se dele e beijou sua testa suavemente, ficou assim por alguns segundos antes de se afastar.

-Adeus, Yuu.

Apontou a arma para o lugar certo e puxou o gatilho.


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Notas finais do capítulo

... Sim, eu sou um monstro. Sou horrível, sou cruel e como raios eu consegui escrever isso...?!

Mas pelo menos, eu ainda tenho um pouco de coração, fiquem com o fim alternativo no próximo capítulo.



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