O Outro Lado Da Vida escrita por Amigo Anônimo


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Essa é a minha primeira one shot e é bem curtinha mesmo. De toda forma, espero que gostem!



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Antes de erguer a sua katana e perfurar um corpo com sua brilhante e afiada lâmina, escutava a voz de alguém a acusando de ser louca. Já outras vezes, ouvia o som de uma voz trêmula e desesperada por misericórdia implorando que lhe poupasse a vida.

Por mais que o pavor dessas vozes seja tremendo, por mais que elas demonstrem uma incondicional dor, a garota agarrava-se na crença de que estava sendo benevolente. Encarava o seu reflexo através do espelho, vendo um líquido avermelhado lhe escorrer pela pele pálida e que marcava suas roupas amarrotadas de colegial, para logo formar em seus lábios finos e secos um sorriso orgulhoso. Contudo, seus olhos eram vazios. Não tinham brilho e nenhum sentimento. O seu olhar era tão vago e frio quanto uma nevasca.

Depois de um dia monótono e entediante, somente o seu tão honroso dever podia lhe animar. Afinal, para ela, estava fazendo mais alguém no mundo feliz e isso ela fazia com obséquio.

Dessa vez o presenteado seria uma adolescente no auge dos quinze anos.

Quando estava se aproximando da porta do quarto da jovem, já estava preparada para mais uma série de gritos bramidos e alucinados que seus ouvidos teriam que suportar. Ela não sabia como as pessoas a julgavam de desvairada, sendo que estava, na verdade, apenas desejando a felicidade do outro.

Despedir-se desse mundo podre e cheio de mentes corrompidas e poder caminhar pela misteriosa estrada do eterno descansar era o maior presente que alguém podia receber. Portanto, não conseguia compreender a infantilidade de alguém que lhe implora para poder continuar a sofrer na injusta e impiedosa vida. E, mesmo com a desaprovação de seus concedidos, engajava-se em ser persistente e nunca desistir. Esse era o seu trabalho predestinado.

Teve a abstinência em fazer barulho, pois não queria acordar a garota assim que colocou a hipótese dela estar dormindo.

Não se preocupe. Lhe concederei a bênção de poder vagar para sempre no mundo dos sonhos.

Entretanto, foi com surpresa que ao aproximar-se da cama que estava posicionada perto da parede do quarto, percebeu olhos azuis intensos a encararem.

“Vieste buscar-me?” perguntou calmamente a dona dos belos olhos azulados.

Não aparentava estar apavorada e nem mesmo dava indícios de que iria começar a berrar por ter uma desconhecida parada ao lado de sua cama. Já sabia para que aquela garota estava ali e agradecia por ao menos uma vez e no último momento de sua vida pudesse ter um miserável desejo concedido .

“Sim” respondeu com a voz rouca.

“Vais levar-me para um lugar melhor? Por favor, diga-me que sim. Eu não quero mais viver nessa casa onde sou usada como brinquedo sexual para aquele que se diz ser meu pai. Não quero ter que ser desprezada mais uma vez pelos meus colegas de classe. Não quero ter que aguentar mais uma vez todas as dificuldades. Não quero colocar mais sorrisos falsos no rosto, fingindo que está tudo bem. Estou farda!” não pode evitar de soltar um soluço. Os olhos começavam a marejar-se e uma lágrima escorreu livremente pela sua bochecha seca.

A outra garota aproximou-se mais da cama e sentou-se nela, perto do corpo que carregava uma alma sofrida. Passou-lhe o dedo pela macia pele e secou a lágrima que parecia ter sido por muito tempo reprimida.

“Vou te levar para o mais maravilhoso dos lugares. O mundo dos sonhos. Nunca mais vais ter o que temer” com isso dito, diminuiu a distância que os dois rostos mantinham e encostou sua boca na testa da frágil adolescente. Percebeu o quanto ela tremia de medo e, numa tentativa de ser simpática, segurou na sua mão enquanto ergueu a katana que carregava. “Tenha bons sonhos” disse enquanto penetrava a lâmina contra o corpo da jovem que somente deixou escapar um gemido de dor.

Após ter seu trabalho finalizado, cobriu-a com o cobertor, a protegendo do vento frio que saia da janela do quarto. Ficou observando a recém-falecida enquanto refletia sobre a primeira pessoa que não incomodou-se em tê-la ali. Um sentimento estranho tomou seu peito e ela conseguiu identificar como um arrependimento que a muito tempo não sentia. Havia um reprimido desejo sussurrando-lhe na mente que deveria ter dado à garota que não conhecia a oportunidade de ter ao menos tido uma vida feliz em vez de uma morte singela e trágica.


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