Deixe-me com os corvos escrita por Lady Gumi


Capítulo 2
O andarilho


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, estava cheia de trabalhos! Espero que gostem.
Mads Mikkelsen fará uma participação honrosa nessa fic :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644572/chapter/2

Elizabeth olhava a cabeleira loura de Deniel, este galopava alguns metros a sua frente, seus delicados fios dourados pareciam mesclar naturalmente na aurora laranja de um belíssimo pôr do sol, aquele que preparava para se esconder atrás das montanhas muito além deles. A moça notou algo de mágico na paisagem que lhe era proporcionada, encarou isso como um bom presságio, nada iria acontecer com eles até o próximo alvorecer, além do mais, estavam perto de Cherbyn, a pequena cidade que pretendiam obter informações sobre o contrabando de escravos.

A estrada por onde passavam era árida, com apenas alguns fiapos de grama sortudas por aguentar os pesados pés dos andarilhos e os fortes cascos dos cavalos. Em volta havia lindos campos de algodão cultivados pelos camponeses de Cherbyn. Já era possível enxercar os pequenos muros que protegiam aquela cidadezinha; apesar de resistentes, eram baixos e se fosse o caso de a cidade ser sitiada, seria facilmente invadida. Mas nunca acontecerá nada a estas boas pessoas que o abade Bernardo cuidava tão bem. Aquelas terras não possuíam senhores ou embaixadores, por assim dizer, ainda estava livre do poder dos nobres, ou quase.

Deniel olhou para trás, constatando que sua parceira silenciosa ainda estava ali. Ela observava, distraída talvez, os campos que os cercavam, ele imaginou que provavelmente a moça estava procurando por vestígios, pistas da passagem de seus perseguidos. Mas, ele mesmo sabia que não havia nada, então, o que ela procurava?

— Elizabeth, ponha a sua capa, a cada dia que o vento sopra nos encaminhando em direção ao inverno fica mais frio, e tu com seus braços e colo nus, por favor! – Sim, o rapaz não era nada delicado, uma de suas características que definia bem sua pessoa.

— Preste atenção no caminho, sou eu que vigio a retaguarda! – Deu de ombros, mesmo assim pegou sua capa guardada numa das bolsas que repousava bem amarrada na sela de Morgane. Era comprida o suficiente para chegar na metade da canela, de um vermelho-barro-escuro lúgubre, uma das cores que Elizabeth usava diariamente. Após o tecido cair delicadamente sobre os ombros da caçadora, escondeu o rosto com o amplo capuz, logo percebeu o efeito da ação, seus braços gélidos já se mantinham muito bem aquecidos e o vento que outrora fazia seus longos cabelos soltos esvoaçarem, que pela pressa não tivera tempo de fazer uma toalete decente, já não o fazia mais.

Percebendo que o rapaz ainda a fitava, mais sereno do que antes, disse ríspida: Feliz agora?

— Não, mas grato! – Sorriu-lhe e voltou a olhar para frente.

Elizabeth bufou de desgosto, as vezes era tão desagradável ser atrapalhada, tirada e jogada a força para fora de seus pensamentos e ter que encarar a realidade, mas a realidade não era tão ruim assim, pelo menos para a pequena Lizzie. Para esta, era necessário conformar com o que fora posto em seu caminho, e além de tudo, aprender uma forma de passar por tudo isso. Talvez seja por essa lição implantada em seu coração, que seus olhos, mesmo tendo o oceano mais lindo neles, não possuíam brilho algum, era o mar mais profundo e sombrio, sinal de sua alma fúnebre.

A caçadora não gostava de ser assim, mas isso também era guardado para si mesma, assim como todo o seu passado até aquele momento, somente ela sabia. Fora a apenas dois anos que se juntou a Deniel. Quando foram apresentados pelo destino aceitaram de bom grado o presente que lhes era oferecido: a chance de poder confiar em alguém em um mundo corrompido. Mesmo desconhecendo suas origens e o motivo que os levaram para aquela vida, se aceitaram, pois, o sofrimento estava estampado em seus olhares, em sua estrada percorrida e em sua profissão. Para ambos somente importava a pessoa com quem conviviam agora, somente o agora importava, somente ele é necessário para que o futuro percorra pelos seus caminhos curvos.



—-

Chegando a cidade, alguns camponeses entravam terminado os seus trabalhos no campo, os soldados que guardavam o portão conversavam distraidamente dando altas gargalhadas. Assim que os cavalos se puseram ao seu lado, imediatamente pararam e com o olhar desdenhoso analisavam aqueles viajantes desconhecidos. “Reles qualquer”. Foi o que pensara um deles assoando o nariz e dando uma grotesca cuspida aos pés dos animais.

— A cidade pode ser um encanto, mais pequena que uma vila talvez. Mas as pessoas daqui não são nada humildes! – Cochichou Deniel para Elizabeth, que já olhava o seu interlocutor com secura.

— Os cavaleiros poderiam me dizer se viram carruagens passando por aqui a noite? Para ser mais precisa, após o toque de recolher.

Ela jogou uma moeda de prata para o outro soldado, que agarrou a moeda sem precisar sair da posição. Ele tirou o elmo revelando cabelos espessos grudados na testa pelo suor, mordiscou a moeda e a guardou.

— Aqui a senhorita não conseguirá nada. A noite está chegando e já fecharemos os portões, a única hospedaria que a cidade possui é L’arvergen, cujo proprietário é o senhor Mathieu L’arvergen. Tenho certeza que a senhora será acolhida. Passar bem!

O soldado acompanhado pelo amigo se retirou para dentro da cidade, deixando os viajantes, Deniel mais que Elizabeth, aborrecidos.

— Uma moeda por nada!

— Vamos, Deniel! Iremos fazer o que o homem indicou, vamos nos hospedar em L’arvergen! E de manhã vamos ter com abade Bernardo na abadia.

Assim os dois seguiram para o seu destino. Enquanto ainda restava uma calma luminosidade solar, o portão que residia atrás dos viajantes fora fechado, de duas entradas para a cidade, apenas uma estava aberta, esperando os cidadãos restantes entrarem para iniciar a vigia noturna das sentinelas.

A cidade consistia de casas com telhados pontudos, umas maiores que as outras, e algumas bem encolhidas pela falta de terreno, o chão era decorado com várias pequenas pedras imitando piso e a cada esquina possuía uma árvore vigorosa. Havia algumas lojinhas localizadas nas janelas abertas das casinhas, onde o proprietário atendia seus clientes ou conversava sobre o vizinho.

A medida que os caçadores se afundavam no meio do povo começaram a chamar a atenção por se tratarem de desconhecidos. Estavam sendo observados por todos. A culpa era de Deniel que não passava despercebido nem mesmo se quisesse, era um belo rapaz disputado por todas as moças onde quer que estivesse. Há horas que Elizabeth, quando não saia para as suas caçadas noturnas, sentia a falta do rapaz, que provavelmente estava saciando suas vontades em um bordel qualquer, apesar de se sentir desconfortável com tal ato, não o reclama para o amigo, talvez ela compreenda mais do que devia.

Eles viviam mudando de cidade, quase peregrinos, estrangeiros do próprio país! Para eles esse modo de vida estava se tornando normal, matando e matando, um vampiro atrás do outro, casos para serem descobertos e depois...a recompensa orgulhosa do trabalho bem feito. Será que seria assim até não poderem levantar uma espada de tão velhos que estarão? Pensamento único de uma mulher, de nossa Elizabeth. Essa pergunta remoía em sua mente, mas agora, distraída no meio daquelas pessoas sorridentes e agitadas, ela pensava se algum dia teria um cantinho para si, um lugar para chamar de lar. Ela já o possuía, mas há muito tempo lhe foi tomado. Agora seu lar era nas estradas ao lado de Deniel, seu companheiro, amigo e irmão.




—--

— Olá, viajantes! – Disse um homem rechonchudo, com uma simpatia e sorriso agradáveis. – Sou Mathieu, dono da querida L’arvergen, por favor deixem os cavalos com Pierrot e entrem na minha humilde casa!

Elizabeth e Deniel desceram dos animais com suas bolsas e entregaram as rédeas para um jovenzinho tão magro de dar dó! O garoto possuía uma feiura simplória, mas tolerável, parecia ser um rapaz simpático de dezesseis anos, cabelos emaranhados de um castanho claro e olhos da mesma vivacidade, seu nariz era longo e torto na ponta, parecia ser filho de uma bruxa. Ele sorriu-lhes mostrando jovens dentes podres e saiu em direção ao estabulo da residência.

Mathieu, seguido pelos dois estranhos entraram na sala da pequena hospedaria formada por tapeçarias velhas, moveis de madeira, alguns adornos, e como atração principal, a lareira repousava no meio do cômodo ao fundo da sala entre dois sofás e uma poltrona florida. O local com certeza era antigo, porém, muito bem cuidado.

— Vou pedir para prepararem a mesa de jantar para os dois, senhor e senhorita...

No mesmo momento que Elizabeth abaixou o capuz, o sr. L’arvergen deixou-se calar. A moça era realmente linda. Suas bochechas róseas pelo cansaço dava um ar delicado, seu cabelo estava um pouco arrepiado, imediatamente alguns fios da cabeleira negra caíram sobre o colo e emolduraram seus seios. Boquiaberto o velho hesitou em continuar sua fala, contemplando, talvez, a primeira mulher mais bela que virá na vida.

— Srta. Lefevre e sr. Durand. – Completou Elizabeth. – Não é necessário que se prepare uma mesa, mande a comida para nossos quartos, para mim o mais isolado possível dos outros.

Deniel impaciente pela demora da resposta, criticou: é incrível como o mestre do local passa mais tempo olhando seus clientes, do que os atendendo!

O velho Mathieu se ajeitou, como se estivesse sido pego de surpresa, mas sem ligar muito com o tom do rapaz, elevou um doce olhar dirigido para Elizabeth, ele enfim voltou a falar.

­­— Oh! Perdoem-me, apenas me perdi no encanto que é essa jovem dama.

— Sr. Larvergen não sou nenhuma dama e, já que és tão educado e acolhedor, por favor mostrai nossos quartos!

— Mas, sua beleza possui os traços mais reais, talvez seja mais bela que a rainha, ouso dizer. Bem, vou levar-vos para seus aposentos, me acompanhem!

Novamente, os dois se puseram ao calcanhar do anfitrião. Terminado de subir a pequena escada, Deniel foi o primeiro a ser deixado num dos quartos, bem ao lado desta. Logo depois foi Elizabeth, que como pedira, hospedou-se no quarto ao fim do corredor.

Antes que o sr. Larvergen saísse dando uma breve saudação, ela lhe perguntou: é verdade que viste a rainha?

— Sim, uma vez! Ela passava aqui junto do rei, em direção a Londrina, imagino eu. Pelo que sei, a rainha queria muito ver os famosos campos de algodão de Cherbyn!

— Com razão, são muito belos e bem tratados.

— Somos poucos, mas trabalhadores fortes é o que não falta! Aqui todos dão duro pela comunidade, por isso somos tão prósperos. - disse numa humilde gabação.

Então, ao fim da conversa, o velho sr. se retirou e Elizabeth fechou a porta do quarto. Antes de conferir seus pertences e ajeita-los, a moça analisou o cômodo. Pequeno e confortável. Havia uma cama, uma penteadeira, em cima um jarro com água e uma bacia ao lado para fazer a toalete, uma cadeira de carvalho ao lado de uma mesa redonda, serviria para o jantar e afins, porém, Elizabeth a utilizou para colocar suas coisas e conferiu-as. No chão um tapete vermelho com bordados de flores descansava e, na parede ao lado da penteadeira tinha uma janela, que ao ser notada, a moça não tardou em abri-la para deixar o ar entrar.

A caçadora ao terminar a checagem das suas armas solicitou um banho, o sr. Mathieu então mandou sua filha mais velha e a mãe, que trabalhavam juntos no negócio da família, levarem a hóspede para o quarto de banho no primeiro andar. Lá a sra. L’arvergen encheu a banheira com água morna e alguns sais aromatizados, enquanto a filha tratava de despir Elizabeth, esta deixou-se nos cuidados das anfitriãs que a trataram muito bem sem nada comentar, além de o quanto era linda e possuía uma pele lunar divina. Ela ouvia os elogios calada, apenas dando um sorriso como gratidão a cada um que lhe era dirigido.

Após terminar o banho, vestiram-na com uma camisola e por cima um dos vestidos que Elizabeth trazia em sua bagagem, ideal para a ocasião, de tecido leve, confortável e sem exageros, como Lizzie gostava. A sra. L’arvergen se ofereceu para pentear a cabeleira morena da moça, novamente, com mais elogios sobre os púrpuros fios negros.

Assim que acabaram de escovar o cabelo de Elizabeth, ela agradeceu pelo tratamento e voltou para o quarto, debruçou-se um pouco sobre a janela, respirando o ar gelado da noite, enquanto esperava que trouxessem seu jantar, observava as casas silenciosas. Não haviam muitas pessoas nas ruas, talvez duas ou três que ainda estavam voltando para o conforto de seu lar. Com dois toques a porta se abriu, sra. L’arvergen trazia na bandeja de madeira uma tigela de sopa de repolho com costelas de javali, dois pães e uma taça de vinho, colocou tudo na mesa que estava vazia novamente, então se retirou para que a hospede pudesse aproveitar seu jantar a sós.

A noite continuou, ao passar das horas as luzes acessas de cada janela das casas de Cherbyn foram se apagando, uma de cada vez, inclusive a de Elizabeth, que se preparava para afundar nas profundezas macias dos cobertores.








Antes.

Fazia meses que o andarilho percorria aquelas terras, atravessando árduas estradas e escalando altas montanhas, nada além do cansaço poderia vence-lo, este logo não demorou a chegar. O personagem usava um poncho bege esfarrapado que cobria a maior parte do seu corpo superior e inferior, era seu único abrigo do frio, por de baixo estava com duas camisetas, uma de tecido fino e a outra de lã grossa. Calçava botas de ferro que subia até a metade de seu joelho estreitando uma calça fina preta. Em suas costas estava amarrada uma espada presa em sua bainha e, ao lado uma bolsa que possuía os únicos mantimentos do homem.

Bebendo o último gole d’agua de sua garrafa observava imóvel uma aldeia devastada, havia casas destruídas e poças de sangue no chão, corpos espalhados e alguns abertos mostrando o interior humano. Ele dava passos silenciosos e calmos, nada daquilo parecia lhe espantar, aproximou-se de uma criança já morta, agachou-se ao seu lado e por um momento observou seu rosto, seus olhos de um verde tão belo estavam abertos cheios de terror, com carinho o estranho fechou suas pálpebras. Havia chegado tarde demais.


Fitou o céu, era de manhã, o sol estava longe de chegar no meio do dia, era preciso começar logo para partir novamente. Precisava completar sua missão. Primeiro vasculhou todas as casas que ficavam na entrada, logo depois empilhou os corpos na praça que ficava no centro da aldeia, fez o mesmo com todas as outras. Estava quase terminando, entrou na última casa no fim da aldeia, saqueou os armários antes de juntar o falecido com os outros na praça, quando voltava para a sala, deparou-se com uma abertura no chão ao lado da mesa que estava jogada. Receoso, entrou na pequena fenda, por sorte, graças a hora entrava um pouco de luminosidade pela madeira do teto do porão. Não haviam muitas coisas, alguns barris e sacos de farinha. Com um dos pés no primeiro degrau pronto para subir, ouviu um barulho que vinha de trás, sua mão rapidamente chegou até o cabo da espada sem a desembainhar, porém, não havia nada, pelo menos na pratica, podia confiar muito bem em sua audição sensível. Caminhou para o fundo do porão cautelosamente, estava perto da parede quando ouviu novamente o barulho brusco. Encostou a lateral do seu rosto e pôde ouvir uma leve respiração.

Com a espada arrancou a madeira com brutalidade, o que encontrou fora uma surpresa para si mesmo. Uma linda garotinha dormia ternamente naquele minúsculo esconderijo envolvida em trapos. O que poderia ser feito?

Vagarosamente abriu as pesadas pálpebras e contemplou o estranho que a observava, a pequena não teve medo, soltou um bochecho que o fez sorrir, sua atitude só constatou que ela estava bem. Então perguntou:

— O senhor me encontrou. Mas, onde está a mamãe e o papai? É o senhor que estava brincando com a gente? Mamãe disse para que eu ficasse aqui para brincarmos de esconde-esconde, ela demorou muito e eu acho que acabei dormindo.

Seu sorriso então se desfez. Ele nada disse, não sabia lidar com crianças e muito menos dar péssimas notícias. Sua natureza bruta e seus espíritos selvagens não lhe permitiam a delicadeza necessária para dar recados.

Ele a pegou rudemente no colo e depois a colocou no chão.

— Venha ver com teus próprios olhos, criança. Verás que não há mais ninguém para tu.

Mesmo sem compreender o que o estranho queria dizer, a pequenina segurou a enorme mão do homem que estava estendida para ela. Juntos subiram para o piso superior da casa, tudo parecia “normal” ao ver da criança, mas uma estranha sensação ultrapassou seu peito quando virá leves rastros de sangue.

— Sangue? – ao passar pela porta da cozinha indo para a sala, seu olhar caminhou pelo chão até chegar no corpo de Arnaud estendido na sala ao lado de uma poça de sangue. – p-papai...?

Seus olhos se arregalaram, ela sentiu vontade de gritar, mas de sua garganta nada saia, perderá a voz e acreditou estar sonhando, desejou acordar daquele pesadelo que o desconhecido a colocou, mas aquela era a realidade, sua realidade. Seus olhos foram inundados por um mar salgado, apenas uma fina gota escorregou timidamente até a curva de sua boca. Tentou libertar suas mãos, contorcia seu fino pulso e remexia-se, porém, não adiantava, o andarilho apertava cada vez mais sua mão.

— Não vá, deixe-o ali, será pior para você. Não quero ter que separar-te de teu pai quando for a hora de queima-lo, faça um favor para nós dois, criança! – sua voz autoritária não pareceu afetar os sentidos da pequena que ainda tentava se soltar.

— Me chamo Elizabeth! – recobrando a voz vociferou com raiva libertando todas suas lágrimas. E aquele é meu pai! Deixai-me senhor, por favor! Apenas um abraço, um adeus, por favor!

— Criança idiota! Anda, fique com ele então!

O homem soltou sua mão e no mesmo instante Elizabeth se ajoelhou ao lado do falecido e enterrou seu rosto em brandos em suas mãozinhas. O andarilho saiu da casa com passos pesados, decidido que por um lado seria melhor deixa-la um pouco, depois teria o luto e estaria tudo bem, é bom que chore agora do que ao seu lado lhe importunando.




Rapidamente terminou suas tarefas ali, havia iniciado uma grande fogueira para queimar os corpos dos aldeões. Vendo que a pequenina não o procurou, o homem encontrou uma pá e longe de todas as casas cavou um buraco para colocar o corpo de Arnaud, seria melhor assim, ele merecia um enterro, e ela merecia isto. Terminou tudo assim que o sol parou no meio do dia. Foi para a última casa buscar o falecido e a criança, Elizabeth estava com a cabeça deitada sobre o peito do homem gélido. O andarilho pousou sua mão no ombro da menina e pediu para que se levantasse, ela o fez sem hesitar. Ele pegou um dos lençóis da casa e o enrolou por inteiro em Arnaud, levantou com dificuldade o pacote e o colocou sobre um dos ombros com um vasto esforço, então, começou a caminhar em direção ao tumulo feito às pressas.

— Vamos, não fique ai sozinha! Vou fazer um enterro para teu pai.


— Eu procurei pela mamãe, mas não a achei... – disse após um tempo em silêncio com a voz embarcada.

Ele a olhou por cima, ela estava com a cabeça baixa e segurava as mãos acima do peito, vinha um pouco atrás do homem, parecia esconder o rosto banhado em lágrimas.

— Aquele sangue na casa deveria ser dela, seu pai não tem ferimentos a não ser... – “por uma mordida de vampiro”. Seria ideal contar tão depressa?

— Foram aqueles demônios, não foram? Mamãe e papai conversavam sobre isso a dois dias atrás, eu os ouvi, os ouvi muito bem, foram os vampiros que os mataram.

Ela já sabia, o mais fácil seria ser direto, bufou e ajeitando o corpo que escorregava continuou:

— Seu pai foi morto por um vampiro assim como todas as outras pessoas daqui. Ele tem apenas uma mordida no pescoço e hematomas, nada que pudesse escorrer seu sangue, aquele que estava ao seu lado deveria ser de sua mãe... – respirou tomando folego - talvez ela tenha sido levada para fora da casa, sinto muito, acho que posso ter queimado seu corpo sem o saber.



Ao chegarem na terra cavada o homem não tardou em jogar o corpo no buraco, assim, começou a enterra-lo. Passados os minutos, Elizabeth havia pego pedras para colocar sobre o tumulo, os espaços foram preenchidos sem exceções, ao terminar, ajoelhou-se na grama e deixou que mais lágrimas escorressem de seu próprio oceano. O homem ao seu lado observava a garota, via ali a paisagem de seu sofrimento e de uma vida que iniciaria difícil para ela, que rumo esta criança tomaria?

Quebrando o silêncio que deixara prolongar, timidamente perguntou:

— O senhor...me levará consigo?

A ideia de deixa-la ali não saia de sua cabeça, mas era um homem de razão e senso, não poderia abandona-la quando ela já não tinha mais ninguém. Estava decidido então a leva-la até a próxima cidade e entrega-la aos cuidados de alguma ama de leite.

— Sim, vamos pegar roupas para você! Será uma longa viagem.








Continua.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero comentarios com criticas, elogios, o que for :3 nos vemos no próximo cap. A próposito, Mads é o nosso andarilho!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deixe-me com os corvos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.