Chá de Limão escrita por Natur Elv


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Então, parece que me surgiu um tempinho livre neste domingo. Eu queria muito escrever algo novo sobre esses dois e, ao mesmo tempo, terminar o capítulo de LtFB. A coisa é que eu sabia que não conseguiria terminar o capítulo, mas conseguiria criar algo novo, bem rapidinho (sério - leitores de LtFB, não fiquem bravos comigo, por favor!!!).

Enfim, a linguagem está meio informal (?), espero que não os incomodem demais. Eu preciso muito ir dormir. Boa leitura, gente, e me avisem sobre eventuais erros, por favor ♥



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Estava procrastinando no corredor da universidade, sentado no chão enquanto aproveitava o Wi-Fi e escutava a conversa dos alunos que passavam e dos que estudavam. Na verdade, eu não estudava naquele prédio. Estava ali apenas para cumprir uma matéria infeliz: cálculo. No entanto, alguém que eu sempre observava, estudava ali. Levi. Ele era lindo. Sempre o via pelo campus, parecia não ter muitos amigos, mas, também, carregava sempre uma expressão tão fechada que talvez este fosse o motivo.

Fora isso, a melhor coisa naquele prédio era o chá de limão da máquina de bebidas. Era delicioso! Mais caro do que no instituto em que eu estudava de fato, mas, ainda sim, uma delícia. Bocejei. Era meu terceiro dia de aula ali. Lancei o olhar para o lado de fora através das vidraças. Estava nublado e bastante frio. Tomei o que restava do chá e procurei por moedas em meu bolso, a fim de comprar mais.

Levantei-me e arrumei a mochila em meu ombro, seguindo até a máquina de bebidas. Para minha surpresa, Levi estava lá, esperando pelo escolhido em frente à maquina. Eu sempre o observava de longe (de muito longe), nunca havia chegado perto e senti-me tão idiota pelo nervosismo que, de repente, tomou meu corpo. Ele era lindo e parecia ser muito inteligente e parecia ser muito arrogante, também. Esta ideia me deixava um pouco decepcionado.

Parei ao lado dele, sem encará-lo. Ele também não se preocupou em olhar para mim. Era a primeira vez que eu o via de tão perto e, sério, é permitido alguém ser tão bonito? Puxei o ar para dentro de meus pulmões. Nunca havia percebido o quão baixinho ele era. Senti meus dedos nervosos e o observei retirar o copo com a bebida de dentro da máquina. Era o chá de limão!

Após pegá-lo, ele simplesmente se afastou, seguindo pelo corredor onde antes eu me encontrava. Fiquei observando sua trajetória por alguns segundos até ele sumir de minha visão. Encarei meus sapatos e suspirei. Então resolvi pegar de uma vez o chá de limão. Aliás, o chá poderia ser uma ótima desculpa para começar um assunto com ele.

-

Felizmente, aquele professor era um dos menos piores que nós tínhamos. Não quero dizer que fossem ruins, de maneira alguma. O problema é que eram um tanto indiferentes para conosco. Bem...

Havia esfriado ainda mais àquela hora. Atritei minhas mãos em meus braços e me despedi de alguns colegas no ponto de ônibus. Antes de deixar o lugar, porém, vi Levi entrando no transporte. Ele estava sozinho.

Se eu não tivesse esquecido minha carteira sobre a cama, estaria tomando aquele mesmo ônibus. Eu morava no alojamento da universidade. Levaria cerca de vinte minutos caminhando até lá.

Ao chegar em casa, não pude demonstrar maior alegria: estava quentinho! Eu morava com mais três amigos: Armin, Mikasa e Jean. Minha amizade com Armin havia sido construída antes mesmo de ingressarmos na universidade, no fundamental!

“Olá, Eren.” Fui recebido por ele, que, até então, lia algo no sofá. “Como foi a aula?”

Como sempre.” Respondi, trancando a porta atrás de mim. “Onde está Mikasa?”

“No banho.”

“Espero que não demore, preciso de um.” Fiz uma pausa. “E Jean?”

“Está no quarto.”

Descansei a mochila no chão e sentei-me ao lado de Armin. “Vi Levi hoje.”

“Ah, é?”

“Ele gosta do mesmo chá que eu.”

“Você perguntou a ele?”

“Não, eu o vi comprar.” Fiz uma pausa, fitando a televisão que estava ligada, mas num volume muitíssimo baixo. “Não nos falamos, na verdade.”

“E por que não?” Armin perguntou e eu o lancei um olhar como resposta; como se o motivo não fosse óbvio! Ele riu e tirou o óculos do rosto, massageando os olhos. “Conseguirá nada se continuar assim.”

“Como se eu quisesse alguma coisa.”

Foi a vez dele me lançar aquele olhar e, antes que eu pudesse retrucar, ouvimos o som da porta do banheiro sendo aberta e Mikasa apareceu.

“Minha vez de tomar banho!” Disse, levantando-me do sofá.

-

Eu adorava viver no alojamento da universidade. Apesar de apartamentos pequenos e falta ou péssima conexão com internet em alguns prédios – o que era nosso caso –, a convivência com os universitários vizinhos era simplesmente ótima.

Eu só teria aula pela noite naquele dia, mas, ainda sim, precisava estudar. Decidi ir à biblioteca. Lá eu poderia, além do silêncio, ter conexão com internet. Ao chegar, sentei-me em uma das mesas e conectei meu celular, respondendo à algumas mensagens antes de abrir os livros. Logo após bloquear o celular, o senti vibrar em minhas mãos e voltei a desbloqueá-lo. Era uma mensagem de Jean: “Olhe quem está sentado em frente ao ginásio:” e havia uma foto de Levi lendo algo e comendo uma fruta.

Tão cedo e ele já estava pelos arredores da universidade. Será que não trabalhava? Será que morava por perto? Ampliei a foto, mas logo resolvi que minha manhã seria mais produtiva se eu desconectasse a internet do celular. Foi o que fiz.

Várias horas se passaram e só me dei conta do tempo quando senti o que parecia ser um buraco em meu estômago. 15h20. Finalizei o que precisava por enquanto e guardei minhas coisas na mochila. Almoçaria no restaurante próximo ao instituto onde estudava.

O clima estava mais agradável do que no dia anterior. Apesar do vento, o céu não estava totalmente nublado. Não era muito fã de dias cinzas. Chegando ao restaurante, agradeci mentalmente pela ausência de fila. Não demorei a me servir e acomodar-me num lugar. Após comer, aproveitando que estava por perto, decidi ir ao outro prédio para comprar o chá de limão. Percebi que os corredores estavam um pouco mais movimentados. Dei de ombros e comprei a bebida, me sentindo muito satisfeito quando o cheiro de limão invadiu minhas narinas antes mesmo de sentir o gosto. Ainda tinha cerca de duas horas antes do início da aula.

Fui até onde ficava algumas mesas e uma lousa para os alunos usufruírem e Levi estava lá, sentado à uma das mesas junto com um cara loiro, de cabelo longo e preso. Nunca os havia visto juntos. Acomodei-me, novamente, em um lugar e tornei a retirar os livros da mochila.

Uma hora se passou e os dois ainda estavam lá. Haviam levantado eventualmente para ir ao banheiro. Um de meus colegas, Connie, chegou e sentou-se à mesa junto comigo. Em um momento, nossa atenção foi pega pela risada – que não havia sido alta, mas, ainda sim, audível – de Levi. Era a primeira vez que o via com uma expressão diferente no rosto, o que era estranho. Não o fato de vê-lo com uma nova expressão, mas sim por ter percebido o quão inexpressivo ele parecia ser. E, nossa, que belíssima expressão a que havia ganhado...

Connie chamou minha atenção para algo em seu celular e rimos juntos também.

“Vou comprar chá. Quer alguma coisa?” Eu perguntei.

“Ah, vou querer, sim.” Ele remexeu nos bolsos da calça, retirando algumas moedas e as entregou para mim. “Um café com leite.”

“Ok.” Me virei e atravessei o corredor, indo até a máquina de bebidas. Para minha infelicidade, porém, o botão que indicava o chá de limão estava com a luz vermelha acesa, o que indicava que a bebida havia acabado. Resmunguei em silêncio e entortei os lábios. Deixei que o café de Connie ficasse pronto enquanto decidia se escolheria outra coisa para beber.

Tsc,” Ouvi ao meu lado e virei minha cabeça para dar de cara com Levi.

“A-ah,” Gaguejei. Na verdade, aquela tentativa de falar saiu de minha boca sem qualquer permissão e agora ele estava olhando para mim. Que olhos...! Ah, sim... O chá acabou. Era o que queria comprar?”

“Sim.” Ele respondeu simplesmente.

“Eu também queria, mas parece que ficaremos sem.” Ri forçadamente.

“Espero que não demorem a repor.” Ele disse, comprimindo os lábios antes de me lançar um último olhar e virar as costas.

Novamente, fiquei a observar sua imagem pelo corredor, mas o café com leite de Connie já estava pronto e eu precisava levá-lo. Acabei por comprar um café preto.

-

No dia seguinte eu não teria aula, o que era ótimo para descansar um pouco.

“Vi seu amor platônico pelas quadras ontem.” Mikasa disse.

“Jean me mandou uma foto. Vocês estavam juntos?”

“Sim.”

Fiz uma expressão maliciosa a fim de provocar Mikasa, que me deu um leve tapa no braço.

“Será que ele mora por aqui? Era muito cedo quando o vimos por lá.”

“Pensei a mesma coisa.”

“Está cumprindo matéria no mesmo prédio que ele, não é? Se falaram alguma vez?”

“Na verdade, sim! Ontem. Queríamos comprar chá, mas havia acabado.”

“E então?”

E então o que?”

Ela suspirou impaciente. “O que conversaram?”

“Ah... Não foi bem uma conversa. Só o informei que a bebida estava em falta e ele disse que esperava que fosse reposta logo.”

“Só isso?” Mikasa parecia decepcionada.

“O que esperava?”

Ela balançou a cabeça e riu. “Lave logo esta louça.”

O dia passou rápido. Liguei para meus pais, ajudei Jean a levar alguns materiais para o bloco F, ao lado do nosso (Jean era estudante de artes e estava trabalhando em algo com uma das moradoras do bloco em questão). Fui com Armin à biblioteca e ainda consegui terminar o conteúdo que havia começado a estudar no dia anterior.

Na terça-feira, que era um dos dias em que eu tinha aula à noite no outro instituto, cheguei uma hora antes do início da aula e, novamente, Levi já estava lá. Desta vez, estava sozinho e pensei que, talvez, eu pudesse ir falar com ele. Então foi o que fiz.

“Olá.” Disse ao chegar à mesa e ele levantou o olhar para mim. De novo: que olhar! Em minha mente eu dizia “por favor, não me olhe assim”, eu devia ser muito babaca.

“Olá.” Ele respondeu.

“Posso me sentar aqui?”

O observei varrer o lugar com os olhos, havia muitas mesas desocupadas. Eu o devia estar irritando. A atenção voltou para mim.

“Claro.”

Agradeci e afastei uma das cadeiras, descansando minha mochila no chão. Vi que ele estava tomando algo: era o chá. Ótimo. “Parece que temos chá de novo, então!”

Ele deu uma olhadela no copo e me encarou. “Ah, sim.”

“Desculpe, eu o estou atrapalhando?” Tive de perguntar.

“Não, não está.” Levi respondeu após dois ou três segundos. “Na verdade, estou lendo um livro de interesse pessoal, nada a ver com os estudos.” Explicou, bebericando o chá quente. “Como você se chama?”

“Eren. E você?” Fingi não saber seu nome.

“Levi. Você não é deste prédio, hm?”

“Não, não sou. Estudo ao lado. Estou fazendo uma matéria aqui, apenas.”

“Foi o que pensei. Nunca o havia visto por aqui.”

“Você passa o dia inteiro neste lugar?”

“Preciso passar nas matérias e meus companheiros de apartamento não são dos mais silenciosos.”

“Você mora em república?”

Ele fez que não com a cabeça, sorvendo mais um pouco do chá. “Moro no alojamento.”

Sério? “Sério? Como nunca o vi por lá? Eu também moro no alojamento.”

Observei-o erguer uma das sobrancelhas de leve. Por deus, ele era lindo. “Saio cedo, volto tarde.” Foi o que disse.

“Entendo.” Mordisquei a parte interna de meu lábio inferior e puxei o ar para os pulmões. “Bem, saímos no mesmo horário. Podemos voltar juntos se não for incômodo.”

Ele não respondeu de imediato, ficou a folear o livro sobre a mesa. “Claro.” Disse finalmente. “Eu preciso terminar estas coisas aqui.” Ele puxou um pequeno punhado de folhas xerocadas.

Apesar de contente com a resposta, fiquei um pouco sem graça por achar que o estava mesmo incomodando, ele queria estudar. “Tudo bem, me desculpe. Ficarei quieto.” Então resolvi fazer o mesmo.

Logo nos despedimos, pois precisávamos ir para a aula. Combinamos de nos encontrar na portaria na hora de ir e, bem, não pude deixar de ficar ansioso. De fato, ele era um amor platônico. Não que eu escondesse isso de alguém, apenas brincava de desentendido com meus amigos, mas todos eles sabiam de minha paixonite pelo estudante do outro instituto.

Ao fim da aula, recolhi minhas coisas e fui às pressas para a portaria. Levi ainda não estava lá. Será que havia se esquecido? Vasculhei os arredores com o olhar e o avistei de relance. Sorri e acenei, ele apenas veio até mim.

“Podemos ir.”

E assim o fizemos. Estava frio do lado de fora do prédio! A variação de temperatura naquele lugar era algo de valor sempre muito considerável.

“Estará congelando no ponto de ônibus.” Comentei enquanto caminhávamos.

Além de muito frio, o ponto estava lotado. “Você mora em que bloco?” Perguntei enquanto esperávamos o ônibus.

“Bloco A. E você?”

“Bloco E. Estamos um pouquinho longe, talvez seja um dos motivos para eu nunca tê-lo visto por lá.”

“O ônibus.” Ele avisou e nos preparamos para entrar quando o veículo parou.

Estava aquecido dentro do ônibus. Desceríamos no segundo ponto a partir dali e, nesse curtíssimo intervalo de tempo, descobri que ele não trabalhava, mas que, às vezes, dava aulas particulares de matemática para não ser totalmente dependente de sua mãe.

Chegamos ao alojamento e eu o deixei na portaria do Bloco A, já que este era o primeiro prédio. Nos despedimos e ele entrou. Eu rumei ao Bloco E.

“Vocês, infelizes, não vão acreditar no que tenho para contar.” Foi a primeira coisa que eu disse ao abrir a porta de casa, sequer me importei se havia alguém ainda acordado ou não. Felizmente, todos estavam ali.

“O que?” Mikasa perguntou.

“Lá vem.” Jean fingiu esnobar, dando atenção ao que comia.

“Adivinhem quem mora no Bloco A?”

“Hana mora lá.” Jean falou, me sacaneando. Eu o ignorei.

“Levi.”

“Sério?” A voz de Mikasa voltou ao ar. “Por isso ele estava tão cedo nas quadras.”

“Sim! Voltamos juntos para .”

“Que sorte a dele, no Bloco A tem internet descente.” Jean comentou.

“Ele me contou que dá aulas particulares de matemática, às vezes.”

“Nossa...” Novamente, Jean.

“O que?”

“Com aquela cara? Eu teria medo. Primeiro que é matemática e, depois, bem...”

“Está falando de Eren, Jean.” Armin juntou-se à conversa. “Ele sentiria outras coisas.” Ele disse e todos riram. Eu concordei, rindo junto com eles.

Ficamos acordados por mais algumas horas conversando sobre qualquer coisa.

-

No dia seguinte, pouco antes da aula, fiquei estudando à mesa junto com Levi novamente e fomos embora juntos também.

Na quinta-feira eu teria aula pela manhã e, na sexta, não a teria. Então, durante esses dias e, também, durante o fim de semana, apesar de estudarmos e morarmos no mesmo lugar, não vi Levi. Na terça-feira nos encontramos em frente à máquina de bebidas.

“Está sem chá novamente.” Ele me informou e então fomos até as mesas. "Não teve aula semana passada?”

“Não tenho aula nas segundas e sextas. Nas quintas, minha aula é pela manhã, que é, na verdade, meu horário original. Fui obrigado a cumprir matéria à noite aqui.” Ele nada disse. “Como funciona sua grade?”

“Aula nas terças, quartas e sextas.”

“Entendi.”

Nos sentamos e ele pegou o celular. Retirei meus livros da mochila e os descansei sobre a mesa. Ficamos em silêncio e logo a atenção dele se direcionou para as folhas xerocadas à sua frente.

Só voltamos a nos falar após uma hora e meia ou duas horas, quando ele me perguntou se eu iria almoçar. O respondi que ainda não havia comido e que, se quisesse, poderíamos fazer uma pausa. Ele concordou.

“Um amigo meu nos acompanhará. Se incomoda?”

Bem... “De maneira alguma.” Então fomos até o restaurante, encontrando com o loiro do outro dia na entrada do lugar. Nos apresentamos um ao outro, ele se chamava Eld.

Havia uma pequena fila, mas logo conseguimos nos servir.

“Comerá apenas isso?” Levi perguntou ao olhar para meu prato: arroz, feijão, salada e purê de batatas. Para mim, era bastante.

“Sim.”

“Você é vegetariano?” Eld me perguntou.

“Sou.”

“Dá para perceber pelo seu prato.”

“Ah, é?”

“Ah, eu queria muito aderir ao vegetarianismo, mas já fui muito anêmico e posso voltar a ser se não me cuidar.” Levi disse, parecendo um pouco irritado.

Nos sentamos e ficamos a comer e a conversar. Descobri que Eld e Levi moravam juntos e que o loiro havia feito algumas matérias no instituto em que eu estudava. Eu nunca o havia visto por lá. Conversamos, também, sobre a questão do vegetarianismo, pois Eld me perguntou o porquê de minha opção.

Terminamos de comer e o loiro precisava voltar para o instituto, pois estudava à tarde e, além disso, trabalhava por lá. Nos despedimos e, ao voltarmos para o prédio onde antes estávamos, eu e Levi levamos algum tempo no banheiro, escovando os dentes.

Algum tempo depois, compramos café preto para auxiliar no estudo, pois o chá ainda não havia sido reposto. O dia estava sendo ótimo e eu estava adorando a companhia de Levi.

Fomos embora juntos novamente após as aulas e não estava frio como nos dias anteriores. Ao descermos do ônibus, fui com ele até a portaria de seu prédio e interrompemos o assunto sobre o qual estávamos conversando. Levi olhou ao redor e eu segui seu olhar, havia muitos alunos transitando pelos corredores àquela hora.

“Eren.” Ele chamou minha atenção. “Me passe seu número de celular?”

Eu precisei de uns cinco segundos para processar o pedido e então respondi: “C-claro.” E me amaldiçoei por gaguejar. Esperei que ele pegasse seu celular e então comecei a ditar os números.

“Obrigado.” Ele disse após tê-lo anotado. “Então, até amanhã.”

“Até.”

Segui até o Bloco E e sentia-me idiotamente feliz pelo pedido de Levi.

-

A quarta-feira seguiu normalmente. Na verdade, passei metade do dia na companhia de Connie e apenas falei com Levi na última meia hora antes da aula e quando voltávamos para o alojamento.

Na quinta-feira, ao fim da minha aula pela manhã, fui até o instituto ao lado a fim de comprar chá e, após pegá-lo, resolvi dar uma olhava por lá, quem sabe Levi já não havia chegado. De fato, ele estava lá, na mesma mesa de sempre. Caminhei até ele e recebi seu olhar antes que pudesse dizer qualquer coisa.

Ele murmurou e apoiou um dos cotovelos sobre a mesa. “Olá.”

“Oi.”

“Que está fazendo por aqui?”

“Vim comprar chá.” Fiz um gesto com o copo. “Você chega muito cedo para estudar.” Tomei a liberdade de sentar-me à mesa.

“Vai ficar por aqui?”

“Não sei, ainda não almocei.”

“Podemos ir ao restaurante.” Ele propôs.

“É uma boa ideia.” Sorri com os lábios.

Acabei passando o dia todo junto com Levi e, como naquele dia ele não tinha aula, resolvemos ir embora uma hora antes da movimentação dos alunos tornar-se intensa por conta das aulas.

“Te mandei uma mensagem ontem. Você viu?” Ele me perguntou.

“Mandou? Não chegou nenhum sms.”

“Não foi por sms.”

“Ah! Então não, não vi. Não temos internet em nosso Bloco.”

“Ah, sim, me esqueci desse detalhe...”

“O que me mandou?” Quis saber.

“Só um oi.”

“Ah.”

Ao chegarmos à portaria do Bloco A, o convidei para ir à praça central da universidade, mas ele disse que precisava encontrar com um dos colegas de apartamento dentro de meia hora, então nos despedimos. Desta vez, porém, Levi veio me abraçar – um abraço rápido, como aqueles comuns em cumprimentos entre garotas. Após isso, ele entrou no prédio.

Cheguei em casa e Jean preparava algo para comermos.

“Demorou para chegar hoje.” Ele comentou.

“Fiquei estudando.” Disse antes de ir para o quarto.

Logo a comida estava pronta. Uma coisa eu sempre tinha de admitir: Jean cozinhava muito bem! E sempre levava em consideração a minha opção por não comer carnes e fazia algo para que pudesse me servir de mistura para o resto da comida. Isso era algo sobre o qual eu não podia reclamar.

Após jantarmos, tomamos algumas poucas cervejas que ainda estavam na geladeira – Armin era o único que não bebia e Mikasa, que prezava muito por sua saúde, bebia muito pouco.

Quando deitei em minha cama, depois do banho, peguei meu celular e vi que havia duas mensagens. Eram de um número que eu não tinha na agenda.

Oi.

Lembrei de que não tem internet, por isso o sms.

Eram de Levi, pude notar.

Salvei o número na agenda e o respondi: Oi. Fiquei um bom tempo esperando algo mais, mas nenhuma mensagem chegou.

No dia seguinte, como eu não teria aula, acompanhei Mikasa até o ginásio. A manhã estava maravilhosa: não estava um calor de matar, mas um clima muito agradável. Íamos conversando e, num momento, enquanto eu falava, Mikasa me interrompeu rindo.

“Olhe quem está ali de novo.” Ela disse e eu segui seu olhar: bem mais à frente, Levi estava sentado em um dos bancos, um livro sobre as pernas. O curioso era que ele estava voltado para o lado das árvores invés de o lado da rua e do ginásio.

“Vou entrar, Eren.” Mikasa anunciou.

“Ahn? Ah, ok. Tchau.”

Ela riu. “Você é muito tosco.”

Eu sorri para ela e esperei que sumisse pelas portas do ginásio, então caminhei até Levi. “Bom dia, senhor.” Me permiti à brincadeira e recebi a atenção do dele.

“Eren. Bom dia.”

Sentei-me ao seu lado. “Que faz tão cedo por aqui?” Perguntei, fitando as árvores à frente.

“Estou terminando este livro.”

Era um livro de capa branca. Não consegui ver o título. “E por que virado para o outro lado?”

“Vejo pessoas todos os dias, é bom aproveitar que temos tanta árvore por aqui.”

Era verdade...

“O que você está fazendo por aqui tão cedo e de chinelos?” Ele caçoou.

Eu ri breve. “Vim acompanhar minha amiga.”

“Ela estuda no ginásio?”

“Sim.”

Houve um silêncio que durou cerca de dez segundos e então ele disse, um dos olhos fechados devido a luz do Sol: “Com certeza já te disseram que seus olhos são lindos.”

Ri um pouco sem graça. “Muitas vezes.”

O assisti erguer uma sobrancelha e fazer uma expressão e gestos engraçados.

Não! Digo-“ Tentei dizer.

Eu sei. Estou brincando.”

Ficamos em silêncio por mais alguns segundos e foi a minha vez de falar. “Você tem aula hoje, hm?”

Ele suspirou. “Sim.” Então consultou a hora no celular, me fazendo lembrar das mensagens da noite anterior.

“Eu respondi à suas mensagens. Você viu?”

“Vi.”

“Pensei que não as tivesse visto, não respondeu.”

“Ah, não. Eu só não quis respondê-las.”

Entortei o lábio por um momento.

“Acho que já está na hora de eu voltar. Ficará no instituto hoje?”

“Não, não tenho aula. E prometi a meu amigo que iríamos ao mercado.”

Juro que o que vi, mesmo que muito rapidamente, foi um bico.

“Te acompanho até o alojamento.” Ofereci e então nos levantamos, começando a caminhar de volta aos prédios. “Você cortou o cabelo.” Comentei.

Ele passou a mão pela nuca. “Cortei.”

“Era isso que ia fazer com seu colega ontem?”

“Não. Corto meu cabelo em casa.”

“Nossa,” Juntei as sobrancelhas por um instante. “Eu gostaria de ter essa habilidade. Uma vez, Jean, um colega de apartamento, cortou para mim sob o argumento de que conseguiria simplesmente por cursar artes. Claro que estava brincando e, bem, não ficou muito bom afinal. Ele também corta o próprio cabelo, mas acho que não funciona quando é nos outros.”

“Eu corto o cabelo de muitos amigos meus. Se quiser, posso cortar o seu qualquer dia.”

“Verdade? Seria ótimo. Você cobra alguma coisa?”

“Quem sabe.”

Levei alguns dias para entender aquele quem sabe.

Havia uma padaria/loja de conveniências muito próxima ao alojamento e Levi pediu que passássemos lá, pois precisava comprar alguns produtos de limpeza.

“As coisas aqui são super caras...” Comentei. A gente não costumava comprar aquele tipo de coisa nesse lugar, preferíamos ir ao mercado, fora da universidade, ainda que fosse um pouco longe mesmo de ônibus.

Depois da compra, rumamos aos prédios do alojamento. Não demoramos a chegar à portaria do Bloco A. Antes que eu pudesse dizer tchau, Levi falou:

“Quer subir?”

E eu travei por um segundo. É claro que queria subir! “Não vou incomodar?”

Ele fez que não com a cabeça.

“Ok.”

Passamos pelo porteiro, que lia um jornal e escutava música por um radinho, e pegamos o elevador.

“Não temos elevador em nosso bloco.” Disse enquanto ele arrumava algumas mechas do cabelo no espelho.

“Nós só o temos porque este bloco serve para pessoas deficientes físicas também.” Explicou.

“Mas vocês têm sorte. A internet aqui é muito boa, no Bloco E ela simplesmente não existe.”

“Há muita gente reclamando sobre isso. Eu concordo que pelo menos a internet é algo que todos os prédios devem ter com qualidade.”

O elevador parou no quarto andar e nós saímos. Era o terceiro apartamento do corredor e, aparentemente, havia ninguém em casa. Levi deixou as sacolas sobre a pia e me ofereceu água. O apartamento era absolutamente impecável de limpo, um pouco diferente do meu... Não nos incomodávamos muito, por exemplo, em deixar louça na pia por um dia inteiro ou dois, nossas paredes e portas eram cheias de desenhos – culpa de Jean que sempre tinha ideia de pintar na parede e, bem, era muito divertido, realmente, então todos nós acabávamos nos juntando a ele. Todas as vezes.

“Onde está Eld?” Perguntei.

“No instituto, trabalhando.”

Havia um mural na parede do corredor do apartamento e, nele, várias fotos 3x4, inclusive uma do próprio Levi e de Eld. “Você está lindo nesta foto, como consegue? É simplesmente proibido sair bonito em fotos 3x4.” Ele se aproximou em silêncio, ainda bebia água. “Seu cabelo era grande e Eld, barbudo, wow.”

“Se quiser nos doar uma foto sua, aceitamos.”

“Para colocar aqui?”

Ele não respondeu, havia se afastado para depositar o copo agora vazio na pia.

“Quem mais mora aqui?”

Levi voltou a se aproximar e indicou com o dedo as fotos das outras duas pessoas que também viviam naquele apartamento. “Está é Hanji e, este, Gunter.”

“Apesar de serem fotos 3x4, é bem legal a ideia deste mural.”

Levi afastou-se novamente e eu o segui. “Estão todos em aula?”

“Gunter deve estar dormindo.” Ele sentou-se no sofá e eu fiz o mesmo. Observei-o a descansar o livro sobre a pequenina mesa de centro e a separar uma coisa ou outra que havia sobre ela.

“Você fuma?” Perguntei por conta de dois cinzeiros que avistei.

“Não. Os cinzeiros pertencem a Eld e Gunter, eles fumam.”

Fiquei em silêncio por algum tempo, mas me sentia muito ansioso, então tornei a falar: “Você não tem que ir ao instituto?”

Levi procurou pelo relógio e disse: “Droga, é verdade. Espere aqui um minuto, por favor, vou pegar minhas coisas.”

“Ok.”

Ele logo retornou. Me coloquei de pé e fui o primeiro a sair quando ele abriu a porta, mas logo parei.

“Eren.” Levi me chamou e eu virei para encará-lo. Tive o pulso agarrado e ele me trouxe novamente para dentro do apartamento. Eu mal pude reagir quando ele me beijou. Senti meu sangue esquentar e minhas mãos suarem por uma fração de segundos.

Ele não se incomodou em fechar a porta e eu, sem saber muito como reagir, a não ser em retribuir ao beijo, segurei em seus braços. O beijo de Levi era nenhum pouco delicado, ao contrário: era intrusivo e apressado. Mas os lábios eram bons de tocar, além de estarem frios.

Dei um passo muito curto para frente, melhor me posicionando, e levei uma das mãos ao rosto dele, passando a ter algum controle naquele ato. Levi não economizou contato entre nossas línguas e eu tinha de beijá-lo e pensar em uma maneira de não parecer um garoto virgem de 14 anos, ficando excitado com um beijo. E que beijo.

Quando nos separamos, eu não tive muito tempo para olhar em seus olhos, uma voz desconhecida tomou nossa atenção e eu, parecendo um idiota, me assustei.

“Bom dia!”

Era o cara chamado Gunter. Ele estava de pé à frente da pia, um copo d’água em mãos, e eu queria me enterrar vivo.

Levi riu devido ao meu susto e eu levei uma mão à testa.

“Não assuste o garoto assim, Gunter.”

Gunter riu breve. “Não foi minha intenção, desculpe, acabei de acordar.”

“Escove os dentes na pia do banheiro.”

“Eu sei!” O homem alto caminhou até nós. “Olá.” Ele estendeu a mão para me cumprimentar e eu fiz o mesmo. “Sou o Gunter, como você já deve ter percebido. Como se chama?”

“Eren...” Respondi ainda me sentindo muito sem graça.

“Já estamos saindo.” Levi anunciou e eu deixei maior espaço entre nossos corpos.

“Não, não, podem ficar.”

“Nós já estávamos de saída.”

Sem insistir mais, Gunter voltou para o quarto e eu e Levi deixamos o apartamento. Entramos no elevador e, até ali, não falamos nada. Eu mastigava a parte inferior do meu lábio e sentia-me esmagado pelo silêncio enquanto Levi continuava a mexer nas mechas de cabelo, olhando-se no espelho.

Estávamos no indo para o primeiro andar quando eu o puxei pela mão e o beijei, percebendo, antes do contato, o pequeno sorriso torto que ele esboçava no rosto. Logo tivemos que nos separar novamente.

Cobrimos os olhos com as mãos ao passarmos pela portaria.

“Até mais, Eren.” Ele disse, acenando. Me deu as costas e se afastou.

Fiquei um pouco confuso, mas ignorei. Eu o havia beijado – tudo bem que ele fora o primeira a fazê-lo, enfim – e foi muito bom.

Caminhei para meu apartamento. Estava vazio e eu aproveitaria para tirar um cochilo.

-

Eu havia contado a meus amigos sobre o acontecimento no apartamento de Levi. Houve aquela “tiração” de sarro básica e Mikasa me disse para tomar cuidado, me deixando mais confuso.

Já era terça-feira de novo e a matéria estava um inferno e eu queria morrer. Eu lia o conteúdo e pensava “Sério, Newton?

Comprei o chá de limão. Levi não estava no lugar costumeiro. Sentei à mesa e retirei da bolsa, junto com os livros e caderno, uma bolacha de maizena para acompanhar.

Uns 30 minutos se passaram e a voz de Levi chamou minha atenção. Nesse meio tempo, eu já havia comprado outro copo de chá.

“Oi, Levi.”

O observei a descansar a alça da mochila no encosto da cadeira e a sentar.

“Quer?” Eu não sabia muito bem o que dizer, então comecei oferecendo a bolacha a ele e o pacote foi tomado, devagar, de minha mão. “Eu não consigo entender isso.” Disse. “Sério, é um saco.”

Ele deu uma olhadela em meus papeis enquanto levava uma bolacha à boca. “Você vai entender.” Consolou após engolir.

“É o que espero...”

Levi puxou os papeis para poder melhor consultá-los e, após um minuto ou dois, disse: “Venha cá.”

Arrastei minha cadeira para o lado dele e cruzei os braços sobre a mesa. Ele pegou mais uma bolacha do pacote e eu puxei o copo de chá a fim de bebê-lo. “Você vai me explicar?” Perguntei em tom de brincadeira, uma vez que eu estava realmente brincando.

“Sim. Você não quer?”

Eu não esperava por aquela resposta. “S-sim, claro que quero!”

E assim ele o fez: começou a me explicar as partes que eu não havia entendido e só então eu me lembrei de que Levi dava aulas particulares, mesmo que sem grande frequência. De qualquer forma, ele explicava muitíssimo bem e era linda a forma como o fazia. O tornava ainda mais bonito.

Estudamos até o horário de início das aulas e ele disse que continuaria a me ajudar na matéria. Eu o agradeci repetidas vezes.

Não tocamos no assunto do beijo e também não o repetimos. Nos encontramos, depois, ao fim das aulas e voltamos ao alojamento. Por alguma razão que não sabíamos, o ônibus estava cheio naquela noite, o que tornava muito pior todas as curvas que o motorista fazia.

Quando descemos, Levi parecia irritado por conta da dificuldade em sair do transporte, ainda que metade das pessoas tenham descido no mesmo ponto que nós dois. Caminhamos até a portaria A e ele ainda parecia estressado.

“Relaxe.” Eu disse, apertando-lhe os ombros num ato brincalhão, chacoalhando-o um pouco, antes de tornar a apertar. Ele fechou os olhos por três segundos e voltou a me encarar. A expressão agora, mais suave. Ri de seu humor.

“Quer subir?” Ele me perguntou.

Não respondi de início, fiquei apenas a encará-lo. “Claro.” Disse, finalmente, e o segui até o apartamento. Sentia-me nervoso.

Levi abriu a porta e nós entramos, a pequenina sala estava ocupada por algumas pessoas e todas nos encararam.

“Boa noite.” Foi o que consegui dizer e, para mim, soei ridículo.

“Não acredito que estão fumando de porta fechada, eu detesto esse cheiro.” Levi reclamou.

Eld riu. “Relaxa, Levi, o cheiro some rápido.”

“E aí, Eren.” Gunter falou. “A gente não sabia que você viria para cá hoje.”

“Eu também não sabia.” Ri casualmente.

Levi estava do outro lado da sala, no que podia ser chamado de cozinha, e eu havia sido deixado ao lado da porta agora aberta.

“Eren,” Gunter voltou a chamar minha atenção. “Essa é Hanji, mora com a gente, também.” Ele apresentou e eu a reconheci por conta da foto 3x4. Ela me acenou muito animada e Gunter continuou: “Petra,” uma ruiva sentada no chão, ao lado do sofá. “Auruo,” um homem meio mal encarado sentado ao lado de Petra. “Nanaba e Mike.” Estes últimos pareciam namorados.

Acenei para todos.

“Aceita?” De novo, a voz de Gunter. Ele me oferecia um cigarro de maconha.

“Sim.” Estiquei a mão para pegar o cigarro, mas o braço de Levi me impediu que o fizesse.

“Eu odeio esse cheiro.”

“Ah, Levi, deixe o garoto fumar, ele quer.”

Eu encarei Levi.

“Você não vai fumar. Esse cheiro me enjoa.”

“Como sempre, nosso fresco Levi.” A voz de Nanaba cortou o ar.

“Quieta.” Levi falou e a loira fez um gesto de quem nada mais falaria, mas, ainda sim, não conteve o riso.

“E cigarro, Eren?” Eld chamou. “Você fuma?”

“Na verdade, não.”

“Deixem a porta aberta.” Levi pediu.

Alguns riram. “Está bem, está bem.” Gunter falou e Levi rolou os olhos.

“Venha cá, Eren.” Ele estendeu a mão para mim e eu a segurei.

Hmm, vão para o quarto.” Eld provocou, levando o cigarro à boca.

“Que vão fazer, hm?” Foi Hanji quem perguntou.

“Parem com isso, não veem que eles irão, claramente, estudar.” Petra ironizou, fazendo os outros rirem.

“É claro que sim.” Eld pingava as cinzas no cinzeiro.

Desta vez, Levi também riu. Ele abaixou-se e segurou o rosto da ruiva, beijando-o e então me puxou para dentro de um dos quartos, fechando a porta logo em seguida.

“Você não gosta que fumem?”

“Eu não me importo. Eu mesmo já fumei. Só não suporto o cheiro... Deixe sua mochila em qualquer lugar.”

O quarto não era espaçoso, como todos os outros quartos do alojamento, mas era muito bem organizado e limpo, o que tornava a falta de espaço algo aconchegante. O ouvi suspirar e puxou a cadeira da escrivaninha para se sentar.

Sério, eu não gosto do cheiro.”

Eu ri. “Tudo bem!” Me aproximei dele e suas mãos vieram para minha camisa antes de nos beijarmos. Confesso que aquela não era uma das melhores posições devido a altura que ele ganhava ao se sentar e, bem, eu estava de pé...

Ficamos a nos beijar por bons minutos e ele, ora ou outra, sugava meu lábio. Eu adorava. Então senti sua mão na região de meu pênis e arrepiei-me muito levemente. Eu estava, sim, ficando excitado e, aquela mão que agora massageava, apenas acelerava o processo.

“Me deixe te chupar.” Levi sussurrou contra minha boca e, novamente, estremeci. Aquela voz grave e rouca dizendo aquilo... Separei nossos lábios e passei a beijar-lhe a orelha e pescoço. Segurei sua mão contra meu pênis e a apertei ali, como um sim para o pedido.

Levi desfez-se de meu zíper e abaixou somente o necessário de minha calça, então pressionou a boca e o nariz em minha ereção. Gemi baixinho, tanto pela sensação do contato e pela visão quanto pelo que viria. Era possível escutar as vozes dos outros no outro cômodo e era estranho pensar que, muito provavelmente, eles sabiam o que estava acontecendo.

Levi puxou minha camisa e tomou meus lábios sem muita demora, me empurrando um pouco para que pudesse ter espaço suficiente, apoiando-se sobre os joelhos no chão. Eu o assistia abaixar minha cueca e, ao liberar meu membro, o vi puxar o ar e lamber os lábios. Parecia ter gostado do que viu. Suas mãos frias tocaram minha excitação e me fizeram gemer novamente, desta vez, um pouco mais alto. Ele passou a me masturbar e, ahn, como era bom.

“Levi...” O chamei em tom muito baixo, minhas mãos descansando ao lado de sua cabeça.

Levi abriu a boca e lambeu minha glande para logo sugá-la. Fechei os olhos e mordi o interior do lábio. Ele voltou a bombear uma, duas vezes minha ereção e então a colocou, lentamente, na boca. Era simplesmente incrível assistir àquilo tudo. Levi sugou toda minha extensão vigorosamente e, desta vez, não pude conter um gemido mais alto. Ele repetiu o ato mais duas ou três vezes antes de passar a atenção à glande novamente, lambendo-a e, ora ou outra, lambendo, também, o feixe contido nela.

Aquilo era simplesmente delicioso. Eu queria esconder meus dedos em seus cabelos e mover sua cabeça contra meu pênis, mas teria mais paciência. O que foi uma ótima decisão, pois a língua dele passeou por debaixo da pele que cuidava de proteger a glande quando não estava exposta como naquele momento e eu senti o ar me faltar.

“Levi...” Gemi seu nome e ele me lançou o olhar. Aquele olhar... Eu queria gozar em sua boca.

Levi voltou a chupar toda a extensão de meu pênis e eu agarrei seus cabelos, mas o deixei que fizesse os movimentos por si só. Logo sentia o orgasmo se aproximar. Eu queria, mas não ejacularia em sua boca se ele não o permitisse.

“Levi...” O chamei atenção. “Eu vou gozar.” Avisei, minha voz muito baixa e falha. Ele apenas continuou com o que fazia e, no segundo antes, segurei em seus ombros e o afastei, acabando por sujar um dos ombros e, também, o chão. O ritmo de minha respiração estava péssimo.

Ele passou as costas da mão pela boca, os olhos sobre o próprio ombro.

“Desculpe...”

Por sorte, Levi usava uma blusa de frio de zíper e não esperou nem mais um segundo para desfazer-se dela, colocando-se de pé logo em seguida. Arrumei minha cueca e minha calça.

“Vou buscar um pouco de papel para limpar isso.” Ele referia-se ao chão.

Pensei ter pronunciado um “ok”, mas, na verdade, apenas fiz que sim com a cabeça e fiquei a esperá-lo retornar.

-

Era 01h20 quando chegamos à portaria do Bloco E. Fora a vez de Levi a me acompanhar. Os arredores estavam desertos e estava um pouco frio, também. O único som era o dos insetos.

“Até amanhã.” Levi falou.

“Até.”

Puxei o ar para os pulmões e subi para o apartamento. Morava no segundo andar, o que era ótimo, uma vez que não tínhamos elevadores. Todos estavam dormindo e eu fui tomar banho.

No outro dia, como havia falado, Levi me ajudou novamente com a matéria. E eu havia, de novo, esquecido minha carteira em casa. Ele pagou o chá para mim.

Enquanto eu tentava resolver alguma coisa em relação ao conteúdo, Levi ficou a mexer no celular e a tomar o chá.

“No sábado da próxima semana terá uma reuniãozinha no apartamento de Petra. Quer ir?” Ele chamou minha atenção após minutos de silêncio.

“Huh?” Recebi seu olhar. “Não incomodaria? Eu mal a conheço.”

“Não. Na verdade, Eren, foi ela quem me disse para te convidar.”

Juntei as sobrancelhas. “Sério?”

“Veja.” Levi me mostrou seu celular e, de fato, o convite havia vindo primeiramente da ruiva.

“Que estranho.” Eu disse e Levi riu baixo e breve.

“Quer ir?”

“Pode ser.”

“Começa às 21h, no sábado.”

“Em que bloco ela mora?”

“No mesmo que o meu, mora mais para o fim do corredor.”

Hm.”

Mais tarde, quando estávamos prestes a nos despedir, o puxei para um beijo. Sobre o acontecimento da noite passada, contei para meus amigos e Jean, como sempre, fez mil piadas.

Em meu quarto, percebi que havia recebido um sms de Levi:

Apareça no instituto amanhã.

No outro dia, após minha aula, eu estava lá. Quando cheguei, Levi já ocupava a mesa.

“Olá.” Eu disse.

“Oi.”

Sentei-me ao seu lado e ele ficou a me encarar em silêncio, suas maçãs do rosto estavam sutilmente avantajadas devido ao pequeníssimo sorriso em seus lábios finos. Me inclinei e os capturei, sentindo-o sorrir contra o ato. Sua mão deslizou em meu rosto e, como era característico de seu beijo, eu havia descoberto, ele puxou meu lábio inferior entre os dentes ao fim do contato.

“Não paro de pensar no que me fez na terça-feira.” Disse em tom muito baixo. Ele riu breve e zombeteiro.

“Você é virgem?”

Fora minha vez de rir. “Não.”

“Tem certeza?”

“Absoluta.” Respondi, aproximando-me novamente para um novo beijo. Antes, porém, ele segurou meu rosto entre as mãos e sussurrou contra minha boca, exatamente no mesmo timbre de como havia feito há dois dias.

“Então me foda.”

Novamente, o arrepio. Não fui capaz de dizer qualquer coisa, pois nossos lábios se juntaram. Apoiei-me na mesa e em sua coxa. O beijo não foi longo.

“Ficará para estudar?” Ele perguntou como se o que tivesse falado segundos atrás fosse algo tão comum como um ordinário bom dia.

“Posso ficar.”

“Então fique.”

Por sorte – ou não –, Levi sabia separar a hora de fazer as coisas. Não deixou que as declarações íntimas atrapalhassem nosso estudo e isso foi ótimo.

Depois daquele dia, só voltamos a nos ver de novo na terça-feira. Estudamos, almoçamos, fomos para a aula, nos beijamos e nos despedimos. Na quarta, Levi estava estressado porque havia brigado com Eld por ter jogado fora, sem querer, a pequena caixinha de seda do companheiro. Na verdade, o tinha feito por culpa de Hanji, que, por alguma razão que Levi não conhecia, a amassou e deixou sobre a pia.

“Seus amigos, no apartamento, também fumam?”

“Jean fuma. Mas quando o faz em casa, fica dentro do quarto. Mikasa... Quase nunca e, Armin, jamais.”

Levi ergueu uma sobrancelha. “Esse seu amigo, Armin, parece ser bastante entediante.”

Eu ri. “Ele é legal.” O escutei suspirar e o observei a massagear as têmporas. Acariciei suas costas. “Quer chá?” Ele olhou para mim.

“Quero.”

“Vou pegar para você.” Levantei-me.

“Espere, o dinheiro.”

“Tudo bem, eu pago.”

Ele não reclamou. “Duas colheres de açúcar, por favor.”

“Ok.”

Não demorei a voltar com a bebida. Ele me agradeceu. Parecia mais tranquilo.

-

Na quinta-feira, resolvemos ir até à biblioteca do campus, só para variar. Como nenhum de nós teria mais alguma aula naquele dia, decidimos voltar mais cedo para o alojamento. No meio do caminho, porém, tomei a liberdade de puxar Levi para o meio de algumas árvores, muito próximas à praça principal da universidade. Já era noite e, apesar de certo movimento pelo lugar, onde estávamos era escuro suficiente para passarmos despercebidos.

Trocamos muitos beijos e eu aproveitou a ausência de pessoas, apesar do local, para masturbá-lo. Ele não se preocupou em avisar que gozaria e o fez em minha mão. Por muita sorte, Levi carregava em sua mochila alguns lenços umedecidos.

Voltamos, finalmente, ao alojamento.

-

No sábado, aproveitei para dormir até um pouco mais tarde. Levantei por volta das 11h20. Tomei café e lavei a roupa. Assisti a um filme sobre certo período da história junto com Armin. Jean e Mikasa não estavam em casa.

Havia marcado de encontrar com Levi às 21h, mesmo, e o dia passou devagar, mas a hora chegou. Tomei banho e me arrumei, não me preocupando muito em estar absolutamente apresentável. Quero dizer, não me preocupei em estar impecável.

Levi e eu nos encontramos e fomos para o apartamento da ruiva. Já havia muita gente lá. Uma garota, que eu não conhecia, ocupava-se em preparar o cigarro de maconha. Havia cerveja e mais algumas bebidas alcoólicas e nós dois nos servimos delas. Nos acomodamos no sofá e Hanji veio falar conosco.

“Que olhos lindos!” Ela elogiou e eu agradeci. “Não havia reparado neles naquele outro dia. Os olhos de Levi são lindos também.”

Sorri, sendo simpático. Levi não dava atenção à ela.

“Fume conosco hoje!” Ela disse.

“Ah, eu adoraria.”

“Quantos anos tem, Eren?”

“21.”

“Então pode fumar!”

Fiquei um pouco confuso, mas ignorei. Logo começaram a dividir o cigarro de maconha. Havia música – que não estava tão alta, mas num volume bem agradável – e todos conversavam. Em certo momento, o cigarro passou por mim e por Levi, mas não o aceitamos. Apesar de eu ter falado que adoraria fumá-lo – e eu adoraria mesmo –, preferi deixar para uma próxima, já que estava bebendo cerveja. Nunca gostei de misturar as duas coisas.

Num outro momento, Hanji e Petra sumiram do lugar. Era visível que todos já estavam em suas brisas, mas não deixávamos de conversar e rir. Eu sentia-me um pouco tonto. Não estava bêbado, não mesmo, apenas um pouquinho tonto. O mesmo valia para Levi.

“Sabe o que eu queria agora?” Ele chamou minha atenção.

“Hm?”

“Aquele chá de limão.”

Ri. “Será que seria uma boa? Misturado com álcool...”

Fora a vez de Levi rir. “Quem sabe...” E então ele sorveu a bebida em mãos. “Agora, sério, sabe de uma coisa que eu queria?” Seu tom de voz estava mais baixo desta vez e foi preciso que ele aproximasse a boca de meu ouvido para que eu pudesse entender.

“O que?”

“Te chupar de novo.”

Sorri. “Isso pode ser resolvido.”

Ele sorriu de volta para mim e seu sorriso era belíssimo. Nos beijamos e sua mão pousou em minha perna, apertando-a.

Wow, wow, wow!” Gunter nos interrompeu, sentando em nossos colos. “Sem sexo no sofá da .”

“Eles estão apenas se beijando.” A garota que eu não conhecia ria alto.

“Então pode.” E o homem livrou nossos colos, fazendo-me rir.

“Mas e se eu quiser sexo?” Levi interrogou.

“Hm,” Gunter pareceu pensar e, mesmo que eu não estivesse, de fato, bêbado, a pequena felicidade que a bebida me causara não me permitia sentir envergonhado diante da fala de Levi. “, não.”

A voz de Levi saiu em forma de risada e ele colocou-se de pé. “Venha, Eren.” Disse, puxando-me consigo e então deixamos o lugar.

“Eles não ficarão bravos?”

“Claro que não.”

Caminhamos até seu apartamento e, ao entrarmos, seguimos direto para seu quarto.

“É sério?” Eu perguntei.

“Por que não seria?” Foi a resposta dele antes de segurar meu rosto entre as mãos e me beijar. Caminhamos em passos cegos até sua cama e nos separamos para melhor nos posicionarmos sobre o colchão, os sapatos já largados em qualquer canto do quarto.

Ajeitei-me entre as pernas dele e me desfiz de minha camisa. Levi mordeu o lábio e murmurou algo. Inclinei-me e tomei-lhe os lábios num beijo urgente, aproveitando para fazer alguma pressão entre nossos ventres. Ele arfou. Passei meus beijos para seu pescoço e ele escondeu os dedos em meus cabelos.

“Eren...” Chamou por meu nome, num claro ato de provocação.

Voltei à uma posição mais ereta e, caramba, ele era lindo e eu, com certeza, quero tê-lo e fazê-lo gemer de verdade... Abri seu zíper e o massageei por cima do tecido da cueca. Levi arfou e moveu o quadril para cima, a fim de mais contato, acabando por definir uma ótima posição.

Ele abriu a boca e fomos surpreendidos pela porta, que foi aberta, permitindo a figura de Petra no quarto.

“Levi! Oh!” Ela pareceu se dar conta do que estava acontecendo. “Desculpe, desculpe...!” Petra dizia. “Levi, Eren, voltem para !”

“Petra, agora não.” Levi falou, impaciente.

“Não deixei que viessem embora.”

“Você não estava lá.”

“Levi!”

Levi rolou os olhos e bufou, ficando a encarar o teto do quarto.

“Levi!” Petra voltou a chamar, visivelmente alterada por efeito da maconha e do álcool.

“Vamos ter de voltar.” Ele disse, fitando-me.

“O que? Sério?”

“Sério! Não conseguiremos fazer nada se continuarmos aqui porque ela não nos deixará em paz.”

“Co- ma- coloque-a para fora.”

“Eu não vou sair.” A ruiva cantarolou.

Levi me puxou para um beijo e escutamos Petra dizer: “Se me deixarem assistir, podem ficar.”

Cortamos os contatos entre os lábios e Levi suspirou, remexendo-se todo debaixo de mim. Sentou-se à beira do colchão e passou a mão pelos cabelos. “Estamos indo.” Disse à ruiva, que demonstrou estar muito feliz com a decisão e saiu, finalmente.

“Levi, é sério?”

“É claro que não.” Ele disse em tom baixo, como se contasse um segredo. Levantou-se e saiu do quarto, mas não demorou a voltar. “Ela se foi, tranquei a porta.”

Não respondi. Levi veio até mim e montou em meu colo.

“Eu quero mui-“ Ele não deixou que eu terminasse: tomou minha boca e levou uma de minhas mãos até suas nádegas. Eu as apertei e ele forçou o peso do corpo contra minha ereção.


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Notas finais do capítulo

Review é sempre bem vindo e, de novo, me avisem sobre qualquer erro!



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