Vivendo sentimentos, sentindo emoções-Temporada 1 escrita por Rachelroth


Capítulo 3
Capítulo 3 - Azarath - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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E lá se foi Ravena para Azarath. Sentia um misto de ansiedade, medo, expectativa, dúvida… não sabia como seriam seus dias lá. Na verdade não sabe nem se seriam dias. Talvez meses. Anos? E se decide não voltar?

Ravena: Azarath! *olhando em volta de si*

Azarath é uma pequena cidade-templo, assim digamos, em outra dimensão. Havia poucos habitantes. No geral monges. Era um local pacífico, sempre coberto de neblina, silencioso – “bem diferente de casa” pensou. Segurou seu colar com a mão direita. Não estava lá a passeio. Precisava de respostas, mesmo sem ter muita certeza das perguntas. Mas a principal coisa que precisava saber é se ela traria perigo para as pessoas que tanto gostava, e que a tinham salvado.

Caminhou até o Templo. Podia abrir um portal, mas preferiu caminhar, calma e serena. Queria admirar a paisagem, digamos, sob outro ponto de vista. Algumas pessoas que a cruzavam no caminho a reconheciam, mas ninguém chegara a falar com ela. Ela simplesmente sentia-se reconhecida.

“Nunca reparei que haviam muitas escadas para chegar ao Templo”

No topo olhou aquele grandioso casarão, atrás uma floresta. Chegara ao Templo. Sem dizer uma palavra entrou. Quatro monges que meditavam:

Monge 1: Esperávamos que viesse.

Ravena: Então sabem porque estou aqui?

Monge 2: Era de se esperar que viesse. Você foi responsável por um feito incrível. Interrompeu uma profecia.

Os monges falavam com ela sem expressão na voz. Mantinham-se centrados e se não fosse por ouvir a voz deles, ela poderia jurar que eles ainda estavam meditando.

Monge 1: Jamais um ser existente no Universo poderia imaginar que a Grande Profecia não seria proferida.

Ravena: E agora?

Monge 3: Agora? Não sabemos.

“Como não sabem?” – A empata foi tomada por um sentimento de desespero. Eles sempre sabiam. Sempre tinham as respostas.

Monge 2: Não se desespere. Concentre-se em seu chakra.

Ravena: Mas… eu esperava…

Monge 4: Ravena você sempre desejou respostas, mas poucas vezes buscou em você mesma as respostas.

Ravena: Estou confusa. *abaixa a cabeça, olhando para o próprio pé” “Eu sempre tento procurar respostas, eu tento”

Monge 1: *olha para a garota* Quer meditar?

Meditam por algumas horas. Tempo suficiente para que a empata se acalmasse. Agora os cinco de olhos abertos se olhavam. O Monge mais velho apontou para a porta dos fundos com a cabeça. Todos entenderam e se levantaram em silencio e caminharam para fora. Do lado de fora Ravena pode contemplar a visão da floresta já faz tanto tempo”, pensou.

Monge 1: Diga-me Ravena quais dúvidas te trouxeram aqui.

Ravena: *pensativa* A primeira vocês já não puderam responder.

Monge 3: Entenda, para nós esse acontecimento também é inexplicável. Nossos livros acabavam quando a Gema completasse 16 anos.

Ravena: E… *fica receosa* quanto aos meus sentimentos?

Monge 2: O que há com eles?

Ravena: Bom… posso senti-los? Quer dizer, um dia serei capaz de sentir, como as outras pessoas? Como posso controla-los agora?

Os monges se entreolharam.

Monge 1: Sente-se querida *aponta para uma pedra*

Lentamente se senta. Sabia que sempre que alguém mandava outra pessoa sentar é por que as notícias não seriam nada boas.

Ravena: Quer dizer… agora… como eu poderei controlar? Isso ainda é necessário?

Monge 2: Ravena lembre-se que só se poder controlar aquilo que possuímos. Se você não os sente, não pode controla-los.

Aquilo não fazia sentido. Sempre ouvira deles que ela deveria controlar, controlar para não sentir. Apertou os olhos.

Monge 3: A verdade é que para aprender a controlar seus sentimentos, terá primeiro que sentir.

Ravena: Mas vocês mandavam eu controlar meus sentimentos para não senti-los… como?

Monge 1: Querida, acontece que… *pausa* acontece que nós não ensinamos exatamente tudo.

Ravena: Como assim?

Monge 4: Pense.

Ravena: Mas, como?

Sentia-se estranha. Não conseguia entender o rumo que aquela conversa estava levando.

Monge 2: Recebemos você muito pequena. Sabíamos de seu futuro, de seu destino, de sua marca de nascença.

Monge 1: Poderíamos simplesmente tentar lhe destruir para atrasar os planos de Trigon, seu pai.

Monge 3: Mas acabamos nos afeiçoando a você. Afinal, apesar de tudo, você era apenas uma criança.

Ravena já não estava entendendo o porque desta triste retrospectiva da sua vida. Porque queriam relembrar das partes dolorosas, as partes que a lembravam que havia sido rejeitada por sua mãe e amaldiçoada por seu… pai.

Monge 3: Ao mesmo tempo que a temíamos.

Monge 4: Se queríamos salvar Azarath e você por mais 16 anos, precisávamos manter suas emoções sucumbidas.

Ravena: O que?

Monge 1: Não tínhamos escolha.

Ravena: O que? *estava assustada*

Monge 3: Não podíamos permitir que você tivesse livre acesso às suas emoções. O risco de se unir à Trigon seria maior.

Ravena: Vocês… *colocando a capa* me… *olhos lacrimejando* usaram?

Monge 1: Não sabíamos que a Profecia seria quebrada. E se você ia ser o portal, não queríamos que você se afeiçoasse, não queríamos que sofresse durante o seu dest… *sente um tapa no rosto*

Ravena começara a rir histericamente, de desespero, olhando fixamente para a imagem daqueles que julgou ser sua família. Respirava rápida e fortemente, os espaços entre inspiração e expiração eram muito curtos e logo o a risada maníaca dava espaço para uma raiva imensurável.

Ravena estava irada, tentáculos negros saiam por debaixo de sua capa, deixando visível apenas quatro olhos vermelhos. Gritou “vocês me usaram” e saiu em disparada para o meio da floresta.

Estava enfurecida. Andou direto em direção da floresta. Segurou sua corrente e lançou brutalmente em direção da floresta, com uma força incrível. Por onde passava deixava a marca da destruição por aquela floresta densa e pouco explorada. Árvores eram brutalmente arrancadas e arremessadas para o alto e quando chegavam o mais longe que podiam, explodiam, virando farelos no ar. Mas não eram apenas árvores que se despedaçavam… a vida simplesmente acabava.

Conforme andava tudo ao seu redor flutuava, escurecia. A floresta parecia se defender, ficando cada vez mais densa e fechada, como se dissesse que ela não era bem vinda naquele local. Mas não importava. A empata estava destinada a não respeitar os limites da Natureza. Abria o caminho com sua fúria.

Ravena estava dominada pelo ódio. Seus tentáculos ficavam cada vez mais espessos e rebeldes. Tocavam e matavam tudo o que podiam, fauna e flora, não importava, o que entrasse em seu caminho iria desfrutar do gosto de sua frustração. Estava irracional, poucos pensamentos de calma que se atreviam a surgir na mente eram tão brutalmente assassinados quanto todo o resto que ela tocava. Estava surda. Estava cega. Estava experimentando o gosto da loucura e do desespero. Da falta de controle. E em meio sua raiva descomunal, algo lhe chamou a atenção.

Em uma árvore a frente uma ave, um pardal, segurava em seu bico a corrente que outrora jogara para dentro da floresta. A corrente que tinha como pingente a moeda da sorte. Naquele instante parou e fitou o objeto no bico do pássaro que emana sentimentos de medo e coragem. Neste momento decidiu olhar para atrás e encontrou o fruto de seu ódio… a devastação. Era isso que ela fazia? Devastava tudo que tocava? O pardal voou pousando em seu ombro.

Ravena: Mutano! *pegando o colar do bico do pássaro*

Lembrou-se de como o amigo, mesmo com medo de sua fúria sempre se aproximava, tentando acalma-la, mesmo sabendo que poderia ser arremessado para longe ou enviado temporariamente para outra dimensão. Como ele poderia ter tanta paciência com ela?

Olhando ao redor viu a destruição. Sentiu-se envergonhada. Aos poucos foi se acalmando. O que havia feito? Mutano representava a Natureza? Se fosse também haveria uma parte densa e estreita, de difícil acesso? Assim como ela?

“Mas? Minha raiva, minha ira, meu ódio… destruiu tudo, tudo que é importante pro meu amigo *lacrimejou* eu machuquei vida inocente… indefesa e inocente”, pensou arrependida. Sobrevoando lentamente pelo caminho de sua destruição retornou ao Templo.

Monge 2: Que bom que retornou. Acredito que temos muito o que conversar.

Ravena: Eu destruí aquilo que é muito importante para uma pessoa especial…

Monge 3: A natureza é enigmática e misteriosa, Ravena. Possui desde a fragilidade das flores até a força dos predadores. É selvagem, assim como a Raiva que vive em você. Aprender a lidar com a natureza é uma tarefa muito árdua.

Ravena: Estou muito confusa. Porque vocês me enganaram?

Monge 1: Querida, não queríamos ter lhe enganado, mas foi preciso.

Monge 4: Acreditei que nunca iria chegar o dia que seria necessário ter esta conversa.

Ravena: Por que? Porque não sou uma pessoa normal?

Os monges se entreolham e sentam-se calmamente. Eles sabiam que precisariam conversar com a empata sobre sua vida, nascimento e destino. O monge 2 preparou chá verde enquanto todos se acomodavam na sala de meditação. Como uma cerimônia, nada foi dito até que todos tivessem suas xícaras de chá, no entanto Ravena ainda estava irritada, jogou sua xícara no chão.

Monge 1: É uma pena que não queira, está delicioso! *pausa* Bom querida. Nunca ensaiamos esta conversa, afinal nenhum de nós deveria estar aqui agora.

Monge 3: Há 17 anos atrás sua mãe Arella muito desiludida com a vida resolveu procurar uma seita, uma seita demoníaca, a seita dos Irmãos Sangue. Acreditou que conseguiria respostas por meio de magia negra. Mas no fundo, sabemos que ela já era uma peça para a profecia.

Monge 1: Nesta seita conheceu Jack. Na época ele era o Alto Sacerdote da seita, e se apaixonou por ele, mas ao mesmo tempo o temia, ele tinha pacto com o maior demônio de todos, Trigon. Eles saíram algumas vezes, mas em determinado momento Arella começou a se sentir mal pelos rituais da seita. E assim decidiu sair.

Monge 3: Mas existem alguns caminhos que escolhemos que a volta é mais perigosa do que seguir em frente. E foi em 31 de Outubro que você foi concebida Ravena.

Ravena estava prestando atenção em todas as palavras que saíam da boca dos monges. Tinha uma estranha sensação ao ouvir a história, como se pudesse viver aquelas emoções.

Monge 2: Nesta data sua mãe Arella foi sequestrada e estuprada por Jack, que estava possuído por Trigon, em um ritual, no Templo dos Irmãos Sangue. Jack precisava fecunda-la. E assim foi feito.

Monge 1: Sua mãe ficou em cativeiro porque eles sabiam que ela tentaria lhe abortar se pudesse.

Monge 4: Você nasceria em Agosto. Aqui em Azarath todos tinham conhecimento que a Gema estava para nascer.

Monge 3: Então nós nos arriscamos. Fomos à Terra e sequestramos Arella. Isso foi em Junho. Houve mortos, destruição… acho que Trigon não poderia ficar mais feliz. Sua Gema nem nascera e já causara tanta desordem.

Monge 4: Cuidamos de Arella até o seu nascimento. Ao nascer, ela não quis ter contato com você. Porém você precisava de cuidados maternos e então fizemos um acordo. Ela permaneceria em Azarath até termos condições de seguir com seus cuidados sem a necessidade da presença dela e depois deste período cuidaríamos de você, sem que ela precisasse se preocupar mais.

Ravena: Então ela realmente não me quis. – Foi tomada por uma avalanche de sentimentos tristes. Estava desamparada, decepcionada. Por sua causa uma mulher havia sido estuprada, sequestrada e mantida em cativeiro. Se sentiu responsável pelas mortes do dia do resgate de Arella. Se sentiu responsável pela morte da inocente Natureza que destruíra a pouco.

Monge 1: Não se sinta mal, querida. Isso tudo já estava previsto. Sabíamos que no seu 16º aniversário seria convocada a abrir o portal para Trigon. Não havia muita escapatória. Nos responsabilizamos pela sua educação.

Monge 2: Sabíamos também que estes 16 anos poderiam passar de várias maneiras, tanto positivas quanto negativas. Havia uma escolha a ser feita.

Monge 4: Veja hoje. Com todo o seu treinamento. Depois de ter findado uma profecia… olhe *aponta para a janela que traz a vista de uma floresta acabada* mesmo com tudo que lhe ensinamos, você foi capaz de destruir tudo. Não tínhamos escolha a não ser suprimir seus sentimentos, suas emoções.

Ravena: Mas porque não me disseram isso? Que eu poderia sentir, mas teria que ter extremo controle de tudo?

Monge 1: *leve sorriso* Já tentou explicar isso para uma criança hiperativa, brincalhona e teimosa?

Ravena não lembrava muito de sua infância. Mas lembrava-se dos monges. O primeiro, sempre mais calmo e paciente. O segundo louco por chás, fora ele que a ensinou ter gosto pelas ervas. O terceiro tinha um gosto exagerado por livros… todos, desde os que traziam mais conhecimento até aqueles que serviam apenas para diversão. Agora o quarto monge, ele era a sua disciplina. Todos os castigos vinham dele.

Monge 4: Eu diria uma criança indisciplinada, mandona… e eu concordo com teimosa.

Monge 2: Não sabíamos a extensão de seus poderes. Não sabíamos o que poderia acontecer. Foi mais fácil e lógico lhe ensinar a suprimir suas emoções.

Monge 1: Se algo não saísse bem, era a vida em Azarath que seria extinguida primeiro. E tínhamos esperança de encontrar uma forma de interromper a profecia antes dela ser realizada.

Monge 2: Mas quando você completou 14 anos, as esperanças já estavam mais fracas.

Ravena: E ai eu quis ir embora de Azarath *abaixa os olhos*

Monge 2: Sim, e permitimos. Fomos egoístas e deixamos.

Monge 4: Não é uma questão de egoísmo. É uma questão de sobrevivência. Permitimos porque com você aqui, correríamos mais perigo. Azarath seria a primeira a ser dominada.

Monge 1: Mas sabíamos que você já tinha adquirido conhecimento suficiente para sobreviver. E sinceramente, você acabou encontrando o melhor lar de todos.

Ravena: Melhor do que aqui *olhava fixamente o Monge 4, com feição de raiva e decepção*.

Monge 4: Admito que nos surpreendemos ao saber que a Profecia havia sido rompida. Trigon até conseguiu emergir do Inferno, mas não conseguiu completar a Profecia de acabar com a vida no Universo. Não esperávamos por isso.

Monge 2: Tínhamos em mente que nestes dois anos que você ficasse na Terra poderíamos conseguir proteger Azarath.

Ravena estava chateada. Um dor inexplicável atingiu seu peito. Não sabia descrever o que estava sentindo. E como poderia descrever? Afinal sua capacidade de sentir havia sido roubada por um bem maior, a segurança de Azarath, dos monges e do Universo. Como sempre. “É para isso que eu nasci. Para destruir ou salvar o mundo, não para sentir coisas como pessoas normais, não para ter uma vida normal”. Havia um gosto amargo na boca que não sabia descrever.

Ravena: Ainda existe um quarto onde eu possa repousar?

Monge 1: O seu quarto ainda está aqui. Eu te acompanho até lá.

Ravena: Não precisa. Eu sei o caminho. – e saiu da sala de meditação.

Os monges se olharam. Havia certa perplexidade no olhar, não sabiam identificar o que cada um estava sentindo. “Acho que fomos rápido demais”, hesitou o Monge 1; “Nunca haveria um momento certo, nem a velocidade certa”, afirmou o Monge 4.

Entrou no seu antigo quarto. As coisas estavam ainda como quando saiu de Azarath. Uma cama baixa. Uma janela com vista para sua devastação. Uma estante com livros. Havia nostalgia naquele local. Não sabia identificar se aquilo era bom ou ruim. Estava pensativa, mas ao mesmo tempo sua cabeça estava vazia. Muitas perguntas, nenhuma resposta.

“Fruto de um estupro. Fui desejava morta pela minha mãe. Metade demônio. Porque Robin acreditou em mim? Não há motivos. *olhou para o colar feito com a moeda* Porque eles se importam tanto?”.

Em meio aos livros encontrou um objeto que não via há muito tempo. Um pequeno diário que fora dela até uns oito anos, nem se lembrava dele. Por uns instantes sorriu, “que bobeira” pensou. Com seu diário nas mãos sentou-se na sua cama.

Folheando as páginas foi vendo sua história em meio a desenhos coloridos e palavras escritas erradas. Havia desenhos que mostravam suas caretas ao experimentar chás. Havia representações de suas descobertas feitas em livros de história. E aquele monge, o mais amigável de todos, sempre estava com ela.

Um desenho, porém, lhe chamou mais atenção. Nele o monge mais “barvo” de todos era abraçado por ela, que sorria. “Onde eu fui parar? Cadê essa menina?”.

Passou a noite vendo e relembrando de sua infância. Das broncas, das brincadeiras. Enfim um dia já se assemelhou à Estelar. Quem diria! O último desenho que fizera encontrava-se entre os quatros monges, e enquanto eles meditavam, ela parecia dançar. Uma lágrima surgiu em seu rosto.

A porta abriu. O monge 2, Jason, entrou. Em suas mãos trazia toda a maquinaria para um bom chá. Fitou-a da porta.

Jason: Parece que não consegue dormir. *sentando-se no chão em posição de Lótus ao lado de Ravena*.

Ravena nada disse, apenas o olhou.

Jason: Não prepararei um chá hoje. Farei uma infusão. Você sabe a diferença? *Ravena negou com a cabeça* Oh sim, *com um pequeno sorriso e com uma voz muito serena* passamos tanto tempo nos preocupando a lhe ensinar a não sentir, que acabamos esquecendo de ensinar coisas tão simples e úteis. *enquanto explica começa a preparar os utensílios* Chás são derivados da Camellia sinensis, um belo e alto arbusto. Destas folhas podemos retirar pelos menos três tipos de chás: o verde, o preto e o de Oolong, meu preferido, e era o seu também quando você tinha uns cinco anos. Outras folhas ou frutos quando misturadas à água fervente chamam-se infusão, mas por uma questão cultural e de praticidade, chama-se usualmente tudo de chá. *pequeno silêncio* Farei uma infusão de casca de laranja, muito boa para insônia e ansiedade. Quanto mais cristalina a água melhor. Coloque-a para ferver e apenas depois de fervida acrescente as cascas de laranja, não se esqueça de lava-las antes. É só deixar as cascas imersas por uns quinze minutos e está pronto para servir.

Aguardaram o chá ficar pronto. Ravena não dissera nenhuma palavra. Desta vez aceitou o chá, hum, a infusão. Bebia em pequenos goles.

Jason: Sentimentos são como chás e infusões *silêncio, toma um gole*. As propriedades medicinais dependem de muitos fatores, desde a oxidação, a água, a fervura… nunca uma bebida será igual a outra, porque nunca os ingredientes serão idênticos. Por isso cada vez que tiver uma xícara nas mãos, deve-se apreciar com cuidado e carinho aquele líquido, porque nunca se sabe quando poderá beber outra vez um parecido. *mais um gole, enquanto olha pela janela* Alguns serão mais amargos… outros mais adocicados, mas todos eles têm suas propriedades únicas e importantes. Não se pode ignorar nenhum, ou olhá-lo como ruim. *pausa longa* E no fim das contas os que são chamados especialistas são aqueles que conseguem realmente gostar do gosto amargo de alguns chás e infusões… estes são os maiores apreciadores. É fácil, Ravena, gostar dos adocicados, isto é fácil. O que diferencia o especialista do amador são os amargos…

Ravena não entendia direito o que ele queria dizer com aquilo. Mas ouvia atentamente e deliciava-se, é verdade, com a infusão preparada pelo querido monge. Ao fechar os olhos se lembrou de uma cena quando era muito nova. Estava com Jason na sala de chás e decidirá fazer o chá “mais gostoso” colocando tudo o que via na frente dentro da água fervida. Bom o resultado não foi nada gostoso e rendeu a todos uma bela dor de barriga. Ainda de olhos fechados, sorriu timidamente.

Ravena: Não há como eu aproveitar minha raiva.

Jason: *deliciando-se com o chá, demora a responder* Olhe lá fora. Sua raiva causou aquela destruição, é certo. Mas ela faz parte da vida Ravena. Faz parte da sua parte humana, muito mais do que da sua metade demônio. É a sua propriedade, a mais amarga, porém útil nos momentos certos. Olhe melhor para fora *aponta para o rastro de sua destruição*, agora poderemos criar uma trilha, ou um espaço para meditação ao ar livre. *pausa* Há algum tempo eu desejava abrir uma clareira, um espaço para a conexão mais profunda sabe?! E agora eu posso aproveitar o que você já começou.

Ravena: Eu destruí tudo.

Jason: Destruiu mais a si mesma do que à Floresta. Mas foi necessário. Se não fosse a sua raiva talvez não estaríamos tomando esta deliciosa infusão. *terminando a bebida e levantando-se* E no mais, existe muita coisa a se aprender com aquilo que é natural… *pensativo* se não mexermos mais naquilo que foi derrubado e destruído, logo a própria natureza de encarregará de ressignificar o que foi perdido. Agora durma. Você não veio à Azarath apenas para se chatear, imagino. Agora está na hora de aprender a sentir e aprender a controlar o que sente, não acha?!

Ravena assentiu com a cabeça. De fato a infusão havia lhe ajudado à sentir sono. Se deitou olhando para a devastação de sua raiva. Adormeceu.

CONTINUA…


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