Nunca que Warren havia se sentido tão em pânico quanto agora. As mãos suavam e seu coração palpitava a cada segundo adicionado em que aquele olhar azul e gélido decidiu lhe desafiar para ver quem piscava primeiro. Porém, o que para o nerd pareceu durar horas, foram apenas alguns segundos, pois não demorou muito para que Nathan desviasse seu olhar e voltasse sua atenção para Joyce.

— Saia daqui, antes que eu chame a polícia! — Alertou Joyce à Nathan, olhando brevemente para os lados para ver se não havia nenhum policial tomando café no estabelecimento e, para sua infelicidade, não havia nenhum.

— Talvez eles estejam muito ocupados comendo rosquinhas para poder salvar essa merda — Rosnou o Prescott, batendo com força as mãos na bancada da mesa, assustando as pessoas no estabelecimento que já estavam apavoradas pela entrada rude do jovem importuno.

— Ei! Deixa ela em paz! — Impôs uma voz ao fundo, mesmo que vacilante. Nathan, se sentindo provocado por ter sido chamado a atenção, se virou ao local de onde se originava aquela voz.

Warren Graham estava de pé – com o apoio das muletas, é claro – e mantinha uma posição de seriedade, mesmo que sua face de medo demonstrasse o contrário. O delinquente riu com escárnio e terminou mostrando ao adversário uma face de sarcasmo ao ver o estado em que o adolescente tentava o enfrentar.

— Sério? — Perguntou Nathan, cuspindo ironia — o fag*-nerd quer mesmo enfrentar um Prescott se apoiando em uns pauzinhos? — O sobrenome do garoto não o fez estremecer, mas a realidade sim. Lembrou-se das vezes em que batera no Prescott, e também tentou lembrar quantas vezes havia feito aquilo debilitado, ou pensando nas consequências. Talvez seus sentimentos impediam ele de ver os fatos.

Mas agora ele conseguia enxergá-los claramente.

E os fatos com certeza viriam acompanhados de um roxo no olho.

Nathan deixou Joyce de lado para ir em direção à Warren. Embora estivesse praticamente andando, seus passos eram largos o suficiente para que a sensação que deixasse era que ele estivesse correndo, e Graham, em um ato de desespero, apontou um de seus apoios em direção à Prescott. Embora tenha acertado o estômago do garoto e tenha retardado seu ataque contra o nerd, Warren acabou perdendo o equilíbrio e caiu no chão frio.

Não restava duvidas ao geek que estava extremamente ferrado.

— Filho da puta… — Murmurou Nathan com uma das mãos sobre seu abdômen. Meio cambaleante, o Prescott tentou ignorar a dor e cuidar de um problema maior que se encontrava estirado no piso do Two Whales.

Ele foi para cima de Graham, ficando por cima do mesmo. Com uma perna de cada lado do corpo de nerd, ele segurou a gola da camisa azul estampada do garoto e a puxou, fazendo consequentemente a cabeça do geek se levantar e fazê-los ficar frente a frente. Assim que os olhos de Warren conseguiram ver com mais clareza os globos oculares do outro rapaz ele percebeu as pupilas dilatadas, as olheiras destacadas em seu rosto e os vasos sanguíneos de seus olhos estarem mais vermelhos e evidentes que o normal. Talvez fossem noites mal dormidas, ou até mesmo alguma complicação do adolescente, mas era óbvio demais que Nathan estava sob alguma substância ilícita.

— Escuta bem, seu merdinha, — Começou, com a voz em um tom rasgado e agressivo — você sabe muito bem quem eu sou. Eu sou um Prescott, e, por agora, seu pior pesadelo. Você não manda em mim, ninguém manda em mim, — Gritou a palavra “ninguém” ao rosto do adversário — se eu quiser colocar medo nesse lugar, eu coloco. Se eu quiser destruir esse caralho de lugar, eu destruo. Eu posso destruir até mesmo a sua vida miserável, não duvide disso, — Sorriu com escárnio antes de dizer — se não for para me respeitar por conta própria, eu faço você me respeitar.

Com um dos punhos cerrados, lentamente Nathan ia afastando sua mão do rosto do nerd, que já estava com essa possibilidade em mente, mas tudo que pôde fazer foi fechar os olhos com força e esperar o pior. Porém, quando ele menos esperou, uma estridente sirene tocava do lado de fora.

O carro da polícia.

— Merda! — Exclamou Prescott, enquanto mentalmente Warren agradecia por ser tão sortudo. Nathan se desvencilhou do garoto geek, enquanto olhava com velocidade para os lados para verificar se a polícia estava perto de o cercar — a gente se vê por aí, fag–nerd — Soltou com sarcasmo, antes de sair correndo porta a fora.

Warren soltou um suspiro de alivio tão forte, que sentiu todo o ar de seus pulmões indo embora. Sentindo seu coração palpitar com força, deixou-se olhar para o teto do estabelecimento para poder colocar tudo em ordem e tentar se acalmar perante ao acontecimento recente.

— Oh, meu Deus, Warren! Você está bem? — Perguntou Joyce, com a voz trêmula e apavorada.

O nerd deixou a questão no ar por algum tempo. Olhou para a garçonete e deixou um tênue sorriso pousar em seus lábios. Precisava parecer confortável, mesmo que não estivesse, para que Joyce parecesse confortável também.

— Eu só preciso de um pouco de gelo

Ƹ̴Ӂ̴Ʒ

O frio intenso que o gelo trazia para sua canela o fez gemer de desgosto. Conseguia sentir a fratura fazer sua perna pulsar, parecendo que seu coração não se encontrava mais no peito. Joyce olhava o sofrimento do adolescente com pesar, enquanto lavava um pequeno paninho para que Warren enxugasse o suor.

— Aqui — A garçonete entregou o pano para Graham, que aceitou de bom grado.

— Obrigado, Joyce — Agradeceu Warren, esfregando o pano com violência sobre o rosto e depois o torcendo para que todo o suor e água escorressem do utensilio.

— Olha, eu quero pedir muitas desculpas sobre o que aconteceu com você, — Suplicou Joyce, com dor — eu não queria que isso acontecesse, eu- você… você me salvou Warren, e o máximo que eu pude fazer foi ligar para a polícia. Eu sinto muito…

— Não! Tá tudo bem, — Assegurou o nerd — ligar para a polícia foi alguma coisa, tenha certeza disso

Joyce deu seu primeiro sorriso depois de tudo aquilo.

— Mas eu preciso te pagar isso de alguma forma… — Ela afirmou, pensativa — que tal waffles e café grátis por um mês?

— Não… — Disse Warren, manhoso e brincalhão — eu já enjoei de waffles

— Mas pode ser outra coisa! — Exclamou Joyce, sorrindo grande junto a Graham. Nem pareciam estar em um momento tenso a alguns minutos atrás — eu já sei!

A garçonete falou com animação. Warren ficou extremamente curioso sobre o que Joyce estaria reservando para ele naquele momento. Ela respirou fundo e disse:

— Venha almoçar na minha casa

Warren se espantou.

— Sério? M- mas não precisa…

— Não, não. Eu insisto — Assegurou, colocando a mão em um dos ombros do adolescente — não precisa ser agora, pode ser quando você quiser. Só não esquece, viu?

O adolescente riu docemente após a demonstração de afeto de Joyce. Fez uma careta pensativa apenas para brincar com a mulher, pois já estava decidido.

— Pode deixar que eu vou

— Maravilha! — Disse contente, enquanto se levantava para olhar as horas — Warren, já está um pouco tarde. Quer que eu ligue para sua mãe?

Só de falar a palavra “mãe”, sentiu a sensação de uma faca gelada roçar com delicadeza suas costas e as arrepiar.

— Não, não, não precisa… — Respondeu, mas como um pedido, com a voz um pouco alterada pelo pavor — e- eu vou para casa sozinho. Vai ser um pouco difícil encarar minha mãe depois de algumas coisas

— Espero que não tenha aprontado nada! — Falou brincalhona, embora a feição um pouco cabisbaixa de Warren não parecia permitir a brincadeira.

— É, — Disse o adolescente, com a voz em um tom de brincadeira também, porém mais desaminado — eu também espero que não…