Ele mal abrira os olhos direito, e logo já jorrava dúvidas em sua cabeça. O branco predominava sua visão desfocada, e a dor parecia ser umas das poucas coisas que tinha razão de sentir naquele momento. Mexeu seu corpo dolorido, se endireitando no que parecia ser uma cama e soltou um resmungo baixo quando sentiu uma leve alfinetada nos quadris.

— Warren! — Assim que uma leve voz feminina disse aquele nome, o garoto demorou longos segundos para perceber que se referia a ele. Dolorosamente virou seu pescoço para onde imaginou que a voz tenha vindo, e a surpresa foi inevitável.

Vic... toria?

E era mesmo ela que estava lá. Embora seu cabelo tenha crescido o suficiente para os fios acariciarem seus ombros, as roupas chiques e olhar esnobe se mantiveram. Mas, afinal de contas, o que ela, Victoria Chase, estava fazendo ali, ao seu lado? Warren imaginava qualquer garota em seu lugar; Maxine, com certeza; Brooke, talvez. Mas Victoria, a garota que considerava todos fora de seu grupo pobres fracassados, estava lá, demonstrando total preocupação consigo.

— Onde é que eu estou? — Sua pergunta, embora proferida em um tom baixo, saiu rasgando sua garganta seca e provocou ainda mais desconforto. Ele precisava de algo para molhar a goela, e engolir a própria saliva não parecia ser uma solução permanente.

Victoria sorriu tênue, parecia estranhamente mais aliviada. Talvez por ouvir a voz de Warren depois de tanto tempo, o que assustava cada vez mais o garoto. Se sentia em um filme de drama, se colocando no papel do protagonista que acordou de um profundo coma e, quando vê, tudo a sua volta mudou. Abriu lentamente a boca, na tentativa de fazer mais perguntas para a garota, porém do jeito que estava era capaz de sair areia no lugar de palavras.

— Estou vendo que a pancada foi forte... — Victoria concluiu a si mesma, e riu nasalmente. Warren não achou aquilo nada engraçado — você não se lembra de nada do que aconteceu? Nada mesmo?

Warren soltou um grunhido. Estava tentando confirmar sua falta de memória, mas não saia nada coerente. A garota suspirou calmamente, pegando um pequeno copo que se encontrava no quarto e se retirou do mesmo, deixando Warren sozinho, mergulhado em questões que queria respostas.

Onde ele estava, afinal? As coisas a sua volta pareciam estar tão diferentes de antes, se é que existiu um “antes”. Ele se sentira confortável em ser domado pela ideia de ter realmente levado uma forte pancada e só ter alucinado coisas. Porém, quando decidiu finalmente por seus pés no chão ele percebeu que não estava se sentindo em casa.

— Não precisa falar, só... balance a cabeça, sim? — Ouviu a voz de Victoria preencher o quarto, enquanto ela se aproximava cada vez mais de Warren, lhe estendendo o copo que parecia estar preenchido com água e lentamente entornava o liquido na boca de Warren, o hidratando e depois deixou o copo em cima do criado mudo que havia ao lado da cama. O adolescente seguiu sua dica, acenando com a cabeça para esquerda e para a direita: não se lembrava do que tinha acontecido para que se encontrasse todo surrado daquele jeito.

Victoria se remexeu na cadeira aonde estava sentada e pegou uma das mãos de Warren, esta que se encontrava fria e cheia de pequenas manchas roxas, e a envolveu com seus dedos cálidos e femininos. Suspirou calmamente e ficou apenas fitando o encontro de suas mãos com as do garoto, hesitante. Warren começou a se sentir incomodado com toda aquela proximidade.

Sua mente ainda estava no universo em que Victoria estava pouco se importando com ele.

— Um garoto veio me cantar... você me achou... e começou a brigar com ele, — Começou a garota, com o olhar baixo — ele te deu uma pancada muito forte... e você veio parar no hospital — Levantou sua cabeça para olhar para o adolescente — foi tão bonito isso, Warren

A cabeça de Warren se endireitou no travesseiro, o que fez sua visão se virar para o teto branco. Ainda estava tentando digerir aquela história que Victoria estava lhe contando.

— M- Mas não fica assim, — Consolou — você também foi forte, com certeza ele nunca vai me perturbar mais...

Mas não era isso que preocupava Warren. Não. Muito longe disso. O que mais lhe incomodou não foi saber que um cara qualquer veio caçar briga consigo; e sim, sua participação nela.

Warren era seu primeiro nome; Daniel, o segundo e, Graham, seu sobrenome. Sabia que independente da ordem dos mesmos, ele nunca seria capaz de se meter em uma briga simplesmente para marcar quaisquer territórios ou simplesmente para se pagar de algo.

Mas conhecia alguém que faria isso muito bem...

— Nathan... — Balbuciou Warren, pensando alto, sendo este o primeiro nome próprio que tinha dito até então. Victoria estremeceu, se mexendo desconfortavelmente na cadeira, reações essas que Graham percebeu e hesitou levemente, afinal, desconfortar Victoria não estava nos seus planos — aconteceu alguma coisa?

— Não, nada, — Assegurou Victoria, sorrindo amarelo — não aconteceu nada, pode ter certeza disso

É claro que algo havia acontecido. Warren não tinha nascido ontem – de certo modo. A maneira como ela tentava esconder alguma coisa dele só o fez ficar ainda mais atiçado a descobrir o que estava acontecendo com Victoria a ponto de ela ficar tão incomodada. E ele mesmo sabia o quão curioso podia ser.

— Bom... — Dessa vez, quem começou a assunto foi Warren, que se sentia desconfortável perante o clima estranho que pairou depois — seu cabelo cresceu

— Você reparou é? — Perguntou Victoria, divertida, passando levemente os dedos pelos cabelos loiros.

— Por que você deixou crescer? — Warren percebeu que foi não foi uma boa pergunta assim que o semblante de Victoria, do feliz, trocou para um decepcionado.

— Você disse que se eu deixasse o cabelo crescer, ele iria ficar bonito... — Ela disse, com a cabeça abaixada, agindo de forma tímida.

Aquilo não estava simplesmente certo.

E o silêncio reinou novamente no quarto de hospital. Warren já havia ligado os pontos com Victoria, enquanto Victoria achava ter confundido a mente de Warren com sua mudança repentina de atitude. O adolescente não queria realmente pensar que Victoria tinha alguma espécie de queda por ele, já que isso lhe parecia impossível, pois também não se interessava nem um pouco por ela.

Mas também não queria machucá-la.

A porta do quarto lentamente se abriu, soltando um rangido incomodo e estridente para Warren, que se encontrava cheio de hematomas e em repouso numa cama de hospital. De lá, veio um homem de charme, com suas típicas vestes brancas de médico e com um tênue sorriso estampado no rosto.

— Com licença, senhorita Chase, — Chamou o médico, da forma mais educada que pôde — já terminou o seu horário de visita.

Victoria se levantou lentamente. Queria aproveitar um pouco mais da companhia de Warren, embora estivesse um pouco desconfortável. Acariciou levemente os cabelos do garoto e se despediu do mesmo, despedida que foi respondida.

— Victoria! — Warren exclamou assim que a garota já estava com a mão encostada na maçaneta da porta, pretendendo girá-la.

— Sim? — Disse, um pouco confusa. Afinal, o que Warren tinha algo mais para te dizer?

— Você pode... dizer para a Max vir me visitar? — Requisitou Warren, um pouco esperançoso de que Max finalmente poderia lhe dar explicações sobre o que estava acontecendo com Victoria, e até consigo mesmo.

— Quem diabos é Max? — Perguntou Victoria, um pouco irritada.

— Como assim? — Indagou Warren, demonstrando obviedade no seu tom de voz — Max, Maxine, a garota hipster que estuda com você, — a garota parecia cada vez mais confusa — você não se lembra? A que você odeia.

— Me desculpe Warren, mas — Soltou um riso nasal — eu não posso odiar uma pessoa que eu nunca vi na minha vida

E foi ver Victoria passando por aquela porta que Warren percebeu, mais que nunca, de que tinha perdido muita coisa enquanto estava fora.