2026

Lílian Potter olhou a mesa de jantar, ansiosa.

Ela tinha algo a contar, mas não sabia nem como começar. Olhou a mãe e tentou imaginar como ela reagiria a isso, então olhou seu pai, seu maior alvo de medo. Eles sempre foram melhores amigos, e ela temia que houvesse um afastamento diante da notícia. Sentia vontade de chorar só com a possibilidade. Olhou James, receosa, também com um pouco de medo da reação do irmão. Desejou que Teddy estivesse ali para entende-la, mas ela teria que contar com Albus, que já sabia, e a olhava com um olhar de uma metralhadora, ansiando por seu pronunciamento.

A garota olhou suas unhas pretas e respirou fundo, sentindo seu coração bater mais forte. Perguntava-se como ninguém estava ouvindo a batida violenta de seu peito ou a bagunça em sua mente.

— Pessoal... Eu... Eu preciso falar uma coisa. — sua voz saiu trêmula, o que preocupou James, sempre tão apegado a irmã. Ela morria de medo de estar estragando sua vida para sempre. Seus olhos estavam ameaçando traí-la enquanto ela tentava juntar coragem o suficiente para olhar seus pais. Continuou com os olhos na mesa, tremendo. — Isso é algo que... Que eu venho escondendo há mais tempo que posso lembrar...

— Lily? — Com o chamado de seu pai, ela acabou levantando os olhos, sem perceber. Diante dos olhos verdes, ela acabou falando, sem preparar-se:

— Eu não gosto dos...

2016

— Ok, mas Chris está tão bonito na quarta temporada, não acha?

— Não mais que o Mark. — as bochechas de Rose ficaram vermelhas. — Ele tem as mãos mais lindas do mundo!

— Mãos? Eu não tiro os olhos da bunda dele! — esganiçou Dominique, arrancando gargalhadas gerais. Lucy apertou as mãos das primas, vermelha.

— Não vamos nos esquecer do deus grego Dean. — as meninas deram gemidos e suspiros coletivos, deixando Lílian desconfortável. Ela nunca reparou nos meninos. Estava muito concentrada no enredo da série, na verdade, achava desnecessário os closes excessivos nos garotos sem camisa, sentia-se entediada e desconfortável. Pensou que talvez fosse nova demais para ver os meninos da mesma forma que as primas, mas Lucy tinha sua idade e lá estava ela, falando sobre Dean como se fosse o grande amor de sua vida.

Na verdade, Lílian também sentia uma quentura inegável com um personagem.

Ela gostava quando Anabelle colocava uma camisa com decote. Lily sentia algo estranho aconteceu em sua barriga. Ela gostava dos lábios e do decote.

Mas ficou em silêncio, pois nenhuma das meninas comentou sobre as mulheres da série dessa forma, mas sobre suas roupas e cabelos. Lílian olhou as primas, sentindo-se um extraterrestre.

Fez um elogio a Mark, forçando um sorriso.

2018

Seu primeiro ano em Hogwarts só poderia ter sido melhor se tivesse caído na Grifinória, mas foi a primeira Potter a ir para a Lufa Lufa.

Ela gostava de sua Casa, de seus novos amigos, das aulas e dos quadros, mas havia algo que ela detestou com todas as suas forças: Seu dormitório.

Com mais quatro garotas, ela era forçada a vê-las seminuas todas as vezes que entrava no local. Sentia raiva, sentia um multirão de sentimentos inexplicáveis. Perguntava porque não podiam trocar-se no banheiro ou algo do gênero, o que deixava as meninas olhando-a de uma forma estranha. Lily não tinha problemas com nudez, até porque, ela sempre nadava em lagos e rios com seus primos com muita tranquilidade.

Entretanto, ela sempre sentia uma inegável esquiva ao ver Lucy de biquíni.

Essas coisas nunca fizeram sentido para ela.

2020

Sentiu-se adequada ao beijar George da Corvinal.

Todas as meninas estavam fazendo isso, então ela também devia fazer. Ela gostava de George, mas não da mesma forma que ele gostava dela. Ele queria beijá-la, abraça-la e pegar sua mão. Mas Lily queria conversar sobre vídeo games, apostar corridas pelo jardim e subir em árvores. Entretanto eles se davam bem, apesar dele não entendê-la muito bem.

Lílian gostava de observar as colegas no vestiário de Quadribol, e gostava mais ainda quando estava na ducha. Sentia um calor insuportável e a vermelhidão tomava conta de seu corpo. Era um riso frouxo e desproposital que causava um embaraço capaz de engoli-la por completo.

Havia muitas coisas sobre ela que Lily preferia empurrar para frente e agir com naturalidade.

“Não está na hora ainda”.

“Talvez ninguém fale sobre isso”.

“É normal”.

Ela tinha certeza de que era normal. Gostava das mesmas coisas que todas as meninas gostavam, e gostava dos meninos, por mais que não quisesse beijá-los. Mas a noite, quando sua consciência sentava-se para conversar com ela, Lily sentia-se uma completa farsa.

Mentiu o dia inteiro.

365 dias de mentira.

2022

Get Lucy - Daugther

Lílian sentia-se bêbada de amor.

Ela podia passar dias e dias apenas olhando os cachos grossos, quase crespos, de Florence Welch. Ela era alta e tinha feições aristocratas que faziam ela tornar-se uma deusa humana para Lílian Potter. Tudo que ela queria em sua vida era tocá-la. Passava as aulas de Trato de Criaturas Mágicas e Defesa Contra as Artes das Trevas observando a Grifinória gargalhar com seus amigos, amostrando seus feitos habilidosos, enchendo Lily de sensações que ela reprimiu durante anos de sua vida, antes mesmo de compreender o que estava acontecendo.

Ela não conseguia parar de imaginar momentos fictícios onde as duas se encontravam e conversavam, se tocavam, ela ousava até mesmo imaginar um beijo. Então abria os olhos, apavorada. Suas mãos tremiam e algo entre suas pernas havia se molhado.

Tinha pavor em contar para alguém o que ela sentia, preferia reprimir o suficiente como se fosse voltar para dentro de si e desaparecer entre mil desejos jamais realizados.

— Me empresta aquele seu livro sobre a Malala Yousafzai? — Lílian olhou os olhos escuros de Florence, extasiada. Ela sorriu e Lily teve a oportunidade de ver seus perfeitos dentes tortos, um completo charme com seu nariz curvo e a leve penugem abaixo dele. Lily Potter assentiu lentamente, ainda encantada com a beleza estonteante da garota a sua frente, dez centímetros mais alta.

Não era uma garota, era um monumento, um prêmio mundial.

— Meu nome é Florence, você nem perguntou. — sorriu ela, tocando o braço de Lily. — E o seu nem preciso perguntar. Escuto seu nome por todo esse Castelo.

Lílian não conseguia falar.

— Vamos sair um dia desses, eu e minhas amigas gostamos de ir em um bar perto de Cokeworth. Amanhã eu te dou o endereço se você quiser... — Ela colocou sua bolsa cor de rosa nas costas e sorriu para Lílian indo embora, juntando-se ao seu grupo de amigas. Ela reconheceu a garota careca, Alisha, do último ano, namorada de seu irmão Albus. A garota ficou ali parada no meio do corredor, sentindo-se entrelaçada entre estrelas.

Tocou o braço que Florence tocou, sorrindo.

2026

— Eu não gosto dos... — a campainha fora tocada.

Ginny Potter levantou-se, indo até a porta enquanto Harry lembrou-se de compartilhar com o filho mais velho novidades sobre o a série de TV que acompanhavam. Ginny levou até a sala de jantar Florence Welch, atrasada para o jantar. A garota olhou para Lily, em busca de respostas, mas Lílian levantou-se, ainda trêmula, e posicionou-se ao lado da namorada, cruzando seus dedos nos dela:

— Pessoal, está é minha namorada, Florence. — apresentou Lílian.

O silêncio na sala de jantar foi devastadora. Ginny estava congelada em seu lugar até Harry levantar-se, lentamente, indo até Florence e Lílian. Ele olhou os olhos castanhos da filha como se procurasse o bebê que pegou no colo dezessete anos atrás. Engoliu seco, apresentando um sorriso com os olhos molhados.

— Seja bem vinda. — sorriu ele, apertando a mão de Florence Welch. Ginny vinha logo atrás, parecendo atordoada, mas não surpresa. Apertou a mão de Florence, tocando seu ombro. Todos se sentaram para jantar, e Albus sorria para a amiga, mas James a olhava de forma desconfiada e para Lílian como se tivesse sofrido uma traição imperdoável.

Ela não gosta dos meninos, devia ter dito. Mas ela gosta de Florence e isso basta. Também é o suficiente. As duas cruzaram suas mãos por debaixo da mesa e Lílian olhou seu pai, em busca de aprovação. Harry sorriu para ela de uma forma que a garota não conseguiu entender.

Orgulho.