Capítulo Seis

Lety encara Carolina à procura de ajuda, mas seus planos vão por água a baixo quando vê um sorriso de divertimento no rosto da amiga. Naquele momento ela estava sozinha em sua defesa.

– O que foi que houve? – Perguntou cautelosa. – Por que estão olhando para mim desse jeito?

– Lety, eu quero perguntar uma coisa a você. – Começou Renata. – Eu sei que você não aceitou a intervenção de Carolina assim que vocês chegaram. Mas... depois desses dias aqui você tem que assumir que mudou.

– Sim, eu me sinto bem melhor e diferente. – Disse ela sorrindo. “Tirando algumas tonturas e enjoos que tive por causa da comida”, pensou ela.

– Pois bem, eu quero propor a você uma transformação. – Disse Renata empolgada.

Lety a encarou boquiaberta e começou a gargalhar, depois do que pareceu minutos ela respirou fundo:

– Transformar? Você quer me transformar? Eu sou feia, Renata, isso não dá para se transformar de um dia para outro.

– Lety, eu não entendo você. – Falou Carolina. – Você sempre vê a beleza interior e exterior dos outros. Por que não consegue enxergar que é tão bela quanto qualquer outra?

– Porque eu não tenho esse tipo de beleza, Carolina. Eu nasci feia e vou continuar assim.

– Mas e se tentássemos? – Perguntou Renata. – Vamos fazer um acordo. Eu só continuo no concurso se você prometer ir às compras comigo e Carolina. A gente vai lhe ajudar a escolher algumas roupas, arrumar o seu cabelo, trocar a armação dos seus óculos e entre outras coisas. Se depois você não gostar pode voltar a ser a Lety de antes.

– Mas isso é chantagem. Você sabe que eu não vou deixar você desistir do concurso. – Falou Lety desolada.

– Então amanhã nos encontramos às 7hs da manhã para irmos às compras. – Renata falou e deu um pulinho empolgado.

Lety abriu e fechou a boca sem argumentos, se ela se recusasse a ir Renata desistiria de tudo, e nem adiantava pedir ajuda a Carolina, ela parecia estar bem convencida de ajudar em toda a loucura. Suspirando ela se deixou levar, se isso era importante para sua mudança emocional ela faria.

– Ok, às 7hs no encontramos na mesa do café da manhã. – Disse desistindo de lutar.

– Ótimo, você não vai se arrepender, Lety. – Disse Carolina empolgada também.

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Lety levantou às 6hs, tinha dormido bem à noite, dessa vez não tinha sonhado com Fernando e sim com o mar. Ela levantou com um sorriso no rosto, mesmo sabendo que não daria certo essa mudança, ela estava disposta a tentar. Porém, assim que saiu da cama a maldita tontura a pegou novamente, ela estava ficando preocupada, talvez a rinite alérgica que tinha quando criança tivesse voltado.

Depois de alguns minutos ela sentiu-se melhor. Respirando fundo se arrumou do melhor jeito que pôde e ela saiu à procura de comida, estava faminta.

Ao chegar ao salão ela encontrou Carolina que já comia algumas frutas, e conversava com Aldo.

– Bom dia, Lety. – Disseram eles em uníssono.

– Bom dia!

– Dormiu bem? Está preparada para o passeio? – Perguntou Carolina com um sorriso de orelha a orelha.

– Na verdade eu estava na esperança de vocês terem desistido. – Falou ela numa de suas risadinhas característica.

– Com certeza não desistirei, Lety. Você me ensinou isso. – Falou Renata entrando no salão também.

– Vocês vão levar a Lety para uma expedição? – Perguntou Aldo sorrindo.

– Está mais para compras, iremos nos divertir. – Falou Carolina e gargalhou. – Você sabe, não é? Coisas de mulheres.

Lety e Renata sentaram-se à mesa e os quatros continuaram a conversar.

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Fernando acordou com um sorriso no rosto aquela manhã, tinha sonhado com Lety mais uma vez, mas naquele sonho eles estavam juntos. Porém, a felicidade dele não se resumia apenas a isso, mas sim ao fato de saber que faltavam poucos dias para Lety voltar para casa. Levantando-se ele foi se aprontar para ir ao trabalho, esses dias tinham sidos corridos.

Por mais que não admitisse Fernando estava gostando dessa nova rotina, mesmo que Lety não estivesse nela... ainda. Humberto tinha decidido esperar Lety voltar para acertar as coisas, pois ela era legalmente a presidente da empresa, e por enquanto Tomás e Erasmo compareciam todos os dias para ajudar com as finanças. No começo todos estranharam os dois lá, mas ninguém se atreveu a perguntar o motivo, principalmente quando perceberam que a amizade entre Humberto e Erasmo crescia a cada dia.

Fernando sorriu quando lembrou do almoço que tiveram no dia anterior, o pai dele e o de Lety se davam cada dia melhor e tornaram-se bons amigos. Ele e Tomás também estavam se entendendo mesmo ele ainda tendo um pouco de ciúmes do outro homem. Omar apareceu no começo daquela semana e pediu desculpas entendendo finalmente que o amor que Fernando sentia por Lety não era nenhuma mentira e só por esse motivo Fernando o perdoou.

Eduardo era o único que se comunicava com Lety e Carolina – Além da família de Lety, claro. – Ele mantinha a amiga por dentro de todos os assuntos, e ficou mais do que feliz em saber sobre a nova tentativa de transformar Lety. E mais ansioso do que nunca de que as duas voltassem para que todos se acertassem e a vida se ajustasse

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Carolina e Renata desceram primeiro do carro, Lety seguia atrás delas, não tinha falado durante todo o caminho, não por falta de assunto, mas porque seu aparelho resolveu quebrar no meio da refeição. Então a primeira parada do dia foi no consultório do dentista:

– Bom dia. – Falou a simpática recepcionista.

– Bom dia, Rosa. Eu vim saber se Juan pode nos atender? – Carolina sorriu entrando no campo de visão da mulher.

– Oh, Dona Carolina, que bom vê-la. Claro, irei perguntar, estamos sem cliente até às 11hs da manhã.

– Ótimo, ele está ai?

– Sim, vou chamá-lo.

A recepcionista saiu e deixou as três na sala de espera. Pouco depois um homem muito boa pinta apareceu e sorriu para Carolina, não antes de disfarçar o susto em ver Lety. Mas com educação cumprimentou a todas e indicou o caminho para a sua sala.

– Então... o que temos hoje? – Se dirigiu para Lety.

– Meu aparelho quebrou. – As palavras saíram meio emboladas já que ela tinha uma mão na boca.

– Vamos olhar então. – Ele se aproximou e começou o trabalho.

Cinco minutos depois ele encarou Lety e sorriu, o que fazia muito diga-se de passagem.

– Lety, seus dentes estão perfeitos. Acredito que seu dentista lhe sugeriu continuar o tratamento com parelhos móveis, não foi?

– Sim. Mas eu não quis, estava acostumada com esses.

– Pois bem, você tem duas opções. Continuar com eles, o que eu não aconselho ou usar os removíveis.

– Juan, se ela continuar usando esses ela pode se prejudicar? – Carolina perguntou preocupada.

– Na verdade, você não precisa desses aparelhos dentários, Lety.

– Mas...

– Lety. – Começou Renata falando pela primeira vez no consultório. – Se for para mudar que seja por completo. Eu sei que está acostumada a eles, mas se não precisa mais, não vejo motivos para continuar usando-os.

– Mas é que eles me fazem quem eu sou, a Lety.

– Você vai continuar sendo a Lety. – Falou Carolina e foi até ela. – Você é desse jeito pela pessoa maravilhosa que vive aqui. - E com um gesto tocou o coração de Lety.

Ela se emocionou e entendeu o que a amiga quis dizer. Sabia que seria a Lety de sempre, com ou sem aparelhos. Suspirando ela apenas afirmou com a cabeça. Ela tiraria o aparelho.

Sorrindo Dr. Monteiro recomeçou seu trabalho, tinha gostado de Lety e a encarando de perto podia perceber a beleza escondida dela. Parecia que ela fazia questão de ficar feia. Mas quem sabe com a ajuda daquelas duas ela não se descobria para o mundo.

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Eduardo entrou no escritório de Fernando, mas ele estava distraído olhando alguma coisa na carteira e quando se aproximou viu uma foto de Lety ali. Sorrindo ele pensou em como apaixonado Fernando estava, mas por enquanto ele teria que distraí-lo. Sabia que naquele dia o trabalho na empresa estava tranquilo.

– Fernando? Você vai almoçar comigo hoje?

Quase caindo da cadeira por causa do susto que levou, ele se voltou para Eduardo e em uma cena totalmente dramática colocou a mão no peito e suspirou alto:

– Você quer me matar do coração, Du?

– Deixe de drama, Fernando. Eu perguntei se quer almoçar comigo.

– Vou sim. Preciso de algumas opiniões suas sobre aquele projeto aqui na empresa, suas ideias foram muito boas.

– Podemos conversar no Le Noir, a Márcia e o Omar também vão.

– Márcia aceitou almoçar comigo? Mas ela não quer nem ver a minha cara. – Surpreso Fernando encarou Eduardo e aos poucos seus olhos se estreitaram desconfiados. – Ela sabe que eu vou?

– Claro que sabe. Eu não gosto de mentir, Fernando. – Falou Eduardo chateado.

– Desculpe, Du, não quis te ofender. Vamos nos organizar para o almoço. - Sorrindo Fernando guardou a foto de Lety, não antes de dar um beijo no retrato.

Sorrindo Eduardo deu espaço para o amigo passar e balançou a cabeça incrédulo, pelo visto Fernando estava perdidamente apaixonado.

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Com um sorriso leve e sem aparelhos, Lety saiu do consultório do dentista e foi arrastada para duas ruas adiante onde pararam em frente a uma ótica. Era uma loja grande e tinha uma grande variedade de óculos e ela se viu fascinada por todos, nunca tinha pensado em mudar e essa seria a primeira vez que trocaria a armação sem a interferência dos pais.

– Escolha algumas armações Lety, temos que te deixar bonita. – Sorriu Carolina.

– Hihihihi, me deixar bonita? Isso será uma missão e tanto, Carolina. Eu não tenho mais jeito. – Disse divertida.

– Claro que tem, ou acha que eu estou aqui por nada? – Perguntou Renata dramática. – Você vai ver que é bonita, Lety. Enxergará como é, como nós a enxergamos.

– Isso eu concordo com Renata. – Disse Carolina e sorriu, mas de repente ficou séria demais. – Eu sei que não devia dizer isso, mas imagino que pensou em tudo o que te aconteceu, em tudo que viveu com Fernando, não foi?

– Sim. Pensei muito nisso. – Falou Lety um pouco triste. – Eu não queria acreditar nele, mas... eu acho que ele não conseguiria fingir tudo aquilo.

– Eu também acho que não. E se você quiser saber, Lety. Foi a primeira vez que eu vi o Fernando chorar daquele jeito por uma mulher. Ele te ama, e acredito que nunca amará outra. – Suspirando Carolina foi até Lety e segurou em suas mãos. – O Fernando se apaixonou por você desde o primeiro momento que te viu, ele não pode ter percebido isso, ter recusado esse sentimento, mas admita que ele era o único que lhe defendia, independente de qualquer pessoa.

– Isso é verdade, principalmente de seu Ariel.

– Pois é, se isso não for amor, não sei mais o que é. E acredito que ele te disse muitas vezes que te achava bonita, estou certa? – Lety confirmou com apenas um aceno de cabeça. – Então agora nos vamos te fazer enxergar como você é aos olhos de Fernando.

Com um sorriso sincero elas se abraçaram, Renata estava há alguns metros de distância conversando com uma vendedora animadamente. As duas se aproximaram e escutaram um último comentário...

– Então podemos voltar às 4hs e já estará pronta?

– Sim senhora. Temos um laboratório aqui mesmo e entregamos as encomendas o mais rápido possível.

– Então está resolvido. – Renata bateu palma feliz.

– O que está resolvido? – Curiosa Lety se meteu na conversa.

– Voltaremos aqui às 4hs da tarde e pegaremos suas lentes de contato. – Falou ela e tirou os óculos de Lety. – Ela vai fazer o exame para saber o seu grau.

– Você entende muito sobre isso. - Observou Carolina.

– Usei óculos por um tempo. Mas depois que eu conheci as lentes de contato... isso me deu uma visão nova do mundo, literalmente.

Gargalhando elas viram a vendedora voltar com os óculos em mãos e a confirmação de que estaria com as lentes no final do dia. Então com mais uma coisa resolvida passaram para o próximo passo... as roupas.

Assim que pararam em frente a uma loja Lety travou, não sabia se conseguiria vestir roupas tão ousadas como a de Carolina ou de Renata e por um momento ela se viu fraquejar. Mas antes que dissesse para elas isso uma vozinha surgiu em sua mente, muito parecida com a de Fernando, e ela podia ouvir claramente o elogio dele na segunda vez que fizeram amor: Eu amo seu corpo, Letícia, ele é lindo e perfeito. Uma pena que você o esconde dos outros.

Sem se conter ela sentiu a pele se arrepiar, assim como naquela noite. E por meros segundos ela pode jurar que sentiu o roçar dos lábios dele em seu pescoço.

Continua...