Capítulo Três

Assim que as portas se fecharam Lety olhou furiosa para ele, e por mais que quisesse ficar com raiva dele o olhar de adoração que ele tinha na face e que era direcionado para ela a fez sorrir. Principalmente quando ele balbuciou: Ela em chamou de Fernando.

– Não se engane, Seu Fernando, não é porque eu estou sorrindo que eu não esteja com raiva. – Disse ela. – Você tem noção da gravidade do que fez lá fora?ssim que as portas se fecharam Lety olhou furiosa para ele, e por mais que quisesse ficar com raiva dele o olhar de adoração que ele tinha na face e que era direcionado para ela a fez sorrir. Principalmente quando ele balbuciou: Ela em chamou de Fernando.

– Desculpe, Lety, eu não queria te deixar envergonhada, mas é que o animal do Omar estava lhe insultando. – Disse Fernando e começou a andar de um lado a outro. –Ele não entende o que eu sinto, o quanto eu te amo, ele acha que eu estou mentindo ou fazendo isso só para te enrolar, mas eu juro que não.

– Por favor, Seu Fernando, não vamos começar com isso, Ok?

– Ok, Lety. Eu prometi te deixar em paz para pensar sobre tudo isso, tudo o que eu já te falei. – Disse ele e a encarou, seu coração estava agitado, mas ele se segurou para não tocá-la e afastá-la ainda mais.

– Vamos! Estão nos esperando na sala de juntas, precisamos ser fortes agora. – Disse ela e suspirou. – Eu sei que prometi não abandoná-lo, esperar que a dívida fosse paga, mas... depois de tudo isso, e da carta...

Lety começou a balbuciar e sabia que se continuasse a falar iria voltar a chorar. Respirando fundo ela se atreveu a olhá-lo e viu tristeza nos olhos dele, assim como sabia que estava no seu. Sem dizer mais nada eles se dirigiram para a sala de juntas.

Assim que entraram a atenção de todos se voltou para eles, Lety não tinha coragem de olhar na cara de ninguém, mas discretamente sentou ao lado de Carolina e Eduardo que estavam no outro lado da mesa. Fernando não disse nada, sabia que ela estava ali para assumir sua parcela de culpa, que tinha sido por sua causa que ela foi contra seus princípios.

– Ok, eu preciso perguntar o que houve ali fora? – Perguntou Humberto.

– Desculpa, Papá, mas o que aconteceu lá fora só é entre eu e Omar. – Disse Fernando e fechou a cara.

– Entre você, Omar e Letícia. – Disse Márcia com sarcasmo e encarou Lety que ficou vermelha de vergonha.

– Márcia, esse assunto está encerrado. – Falou Fernando com os olhos queimando em fúria.

Humberto percebendo que o ambiente ficou totalmente tenso resolveu começar a reunião.

1 hora e 30 minutos depois...

Humberto mantinha a face chocada, sem acreditar no que tinha ouvido. Ariel estava em estado de fúria, andava de um lado a outro xingando e ameaçando Fernando. Luigi estava a um passo de ter um chilique. E Márcia olhava para o nada, totalmente decepcionada.

Fernando tinha a cabeça baixa e o olhar perdido de quem fracassou. Lety tinha lágrimas manchando seu rosto, totalmente envergonhada pelo que fez. Ela sabia que seria demitida e tinha consciência que iria embora por justa causa, mas o que mais a deixava desolada era saber que por um erro seu e de Fernando todos pagariam.

Depois do que pareceu ser horas Humberto falou:

– Acredito que vocês tenham um plano?

– Sim. – Falou Fernando desanimado. – Se continuarmos com os projetos que a Conceptos conseguiu depois do prêmio de Cannes, conseguiremos quitar as dívidas com os bancos em cinco meses.

– E as ações da Filmes & Imagens estão em alta na bolsa. Conseguimos bons investimentos, e isso ajudará a Conceptos a se manter até o fechamento da dívida. – Falou Lety e se levantou. – Agora se me derem licença, aqui está minha carta de demissão e os documentos necessário para Seu Fernando ficar com a Filmes & Imagens.

E antes que qualquer um pudesse falar ou refutar sua decisão, Lety saiu como um furacão da sala. Carolina saiu em seguida, pois sabia que ela precisaria de uma amiga.

Fernando saiu do transe logo depois e se levantou saindo da sala e chamando por ela deixando todos na sala chocados com a atitude dele. Eduardo se levantou também, precisava impedir que Fernando fizesse uma besteira, mas antes de sair encarou Márcia e fez um pedido silencioso de que ela não falasse nada.

– O que está acontecendo com essa empresa? – Falou Ariel com fúria. – Se você tivesse me dado a presidência nada disso estaria acontecendo.

– Oh, por favor, Ariel. – Falou Márcia. – Eu sou sua irmã, mas se a empresa fosse sua não existiria mais, você daria um jeito de vendê-la.

– A Márcia tem razão, Ariel. – Disse Humberto triste. – Você nunca ficaria com uma empresa que não retribuísse sua ambição de forma necessária.

Ariel pensou em retrucar, mas sabia que isso era verdade, quando ele percebesse que a empresa não desse tanto lucro investiria em outra coisa.

– Bem, já que Fernando e Letícia saíram sem se preocupar com o fim da reunião, eu mesmo encerrarei. – Disse Humberto. – Márcia, informe a Fernando que de hoje a duas semanas estarem aqui novamente para saber como iremos resolver esse problema.

– Eu estou aqui, Papá, então daqui a duas semanas resolveremos melhor isso. – Disse Fernando cansado, lágrimas marcavam seu rosto e ninguém pensou em questioná-lo.

Porém, antes que todos pudessem sair da sala Teresinha falou, a primeira frase em toda a reunião.

– Qual o problema entre você e a Lety, filho? – Perguntou preocupada e desconfiada da resposta que teria.

– O problema é que... eu a amo. – Disse Fernando e saiu deixando a todos chocados, seu rosto em dor e seu peito queimando pela rejeição de Lety.

~.~

Lety saiu da Conceptos em prantos deixando todas as meninas do quartel em alvoroço e querendo ajudá-la. Carolina passou em seguida dizendo que cuidaria de Lety, deixando-as mais tranquilas.

– LETY. – Gritou ela. – Me espere.

Lety parou e sentou num banco que tinha ali perto, ela subiu suas pernas e as abraçou, de longe parecia uma menininha. Carolina sentiu seu peito se apertar, tinha se apegado a Lety, a considerava uma grande amiga e vê-la sofrer a deixava triste.

Lety agora chorava copiosamente, tudo que segurou na manhã saiu de uma vez, ela queria tirar essa dor do peito, porém por mais que tentasse não conseguia, ela queria acreditar que Fernando a amava e que falava a verdade, mas toda vez que pensava nisso lembrava das palavras na carta.

– Lety, minha amiga, eu sinto tanto. – Falou Carolina e a abraçou. E ficaram assim durante um tempo, até que perceberam a aproximação de Eduardo.

– Lety, você está bem? – Perguntou preocupado.

– Não. – Disse ela com a voz embargada. – Mas vou ficar.

– Que bom. Olhe, eu sei que não será fácil, mas tudo isso irá se resolver. – Disse ele e limpou uma lágrima que estava em seu rosto. – Fiquei sabendo que a Carol lhe convidou para um novo projeto em Acapulco, não foi?

– Sim, viajarei amanhã. – Disse Lety agora mais calma.

– Você vai ver, Lety. O mar te ajudará a superar tudo isso.

– Espero que sim. – Sussurra ela e suspira.

– Lety, você pegou sua coisas antes de descer? - Pergunta Eduardo e olha para o portão da Conceptos.

– Por quê? – Pergunta Carolina.

– Porque seria uma boa vocês irem embora agora. – Disse ele e apontou para Teresinha e Humberto que vinha em direção a eles.

– O que houve, Edu? – Pergunta Carolina preocupada.

Eduardo a encarou e suspirou abrindo um sorriso.

– Teresinha perguntou a Fernando o que estava acontecendo entre ele e Lety.

Nesse momento Lety ficou branca, não queria nem imaginar a desculpa que ele tinha inventado. Sabia que eles desconfiariam de alguma coisa, pois havia um motivo para Fernando deixar a empresa no nome dela, mas não estava preparada para uma confrontação, ainda.

– O que ele disse? –Perguntou Lety temerosa.

– Que te ama. – Disse Eduardo e sorriu divertido. – Quando você tiver pensando em tudo isso e entender melhor o que ocorreu entre vocês. Você verá que é verdade, Lety. Agora vão embora, eu os distraio.

E antes que Teresinha e Humberto se aproximassem demais, Lety e Carolina foram embora.

~.~

Fernando estava na sua sala, tinha trancado tudo e pedido que não fosse incomodado, e pela primeira vez Alice não disse nada inconveniente, apenas afirmou e voltou para sua mesa. Ele tinha ficado intrigado com a quietude dela, mas talvez Marcia tenha dito alguma coisa.

Suspirando Fernando pediu a Deus que Lety entendesse que ele a amava, sabia que seria difícil convencê-la, principalmente despois da maldita carta. Mas tinha confiança que ela entenderia, ele orava por isso. Ele então ligou o computador e passou a admirar a foto dela, e só se deu conta que estava chorando quando uma lágrima molhou seu braço. Ele a amava tanto que isso o assustava, era um sentimento novo, nunca tinha sentido isso antes, nem com Marcia. Lety o fazia se sentir completo, o fazia querer ser uma pessoa melhor e o respeito que sentia por ela aumentou ainda mais nessas últimas vinte e quatro horas. Talvez Eduardo tivesse razão, ele precisava dar um pouco de espaço para ela, a deixar pensar e entender o amor que sentiam um pelo outro.

Sabendo que não conseguiria mais trabalhar ele pegou suas coisas e saiu da sala, ele iria para casa e esperaria que no dia seguinte conseguisse falar com Lety e talvez a fizesse desistir de se demitir. Além do mais ela era agora dona da empresa e não tinha ninguém melhor que ela para administrar aquele local.

~.~

Chegando em casa Lety ligou para Tomás e o chamou para conversarem com seu Erasmo, sabia que teria que contar qual era a verdadeira função da Filmes & Imagens. Assim que os três se sentaram Lety respirou fundo e encarou o pai:

– Papá, eu preciso que lhe contar sobre a Filmes & Imagens. – Começou ela temerosa pela reação do pai.

– O que você fez Letícia Padilha Solís? – Perguntou ele furioso.

Lety engoliu em seco e pediu a Deus que seu pai não tivesse um infarto, mas reunindo coragem ela começou a explicar o que realmente estava por trás da empresa.

Quase trinta minutos depois Erasmo a olhava indignado, não podia acreditar que sua filha, uma pessoa tão íntegra pudesse ter se enganado e feito uma coisa tão desonrosa como essa.

– Letícia, você sabe a gravidade da sua atitude? – Perguntou ele.

– Sei sim, Papá, por isso pedi demissão. – Disse ela triste. – E eu sei que o senhor não vai concordar, mas dona Carolina me ofereceu um emprego durante as próximas semanas.

– E você já aceitou pelo que eu vejo. – Disse ele ainda mais furioso. – Como você pode tomar uma decisão como essa sem consultar a mim ou sua mãe?

– Erasmo. – Disse Julieta finalmente se metendo na conversa. Ela tinha percebido que a filha estava muito triste para ter sido só uma demissão e sabia que Lety tinha omitido boa parte da história. – Meu velho, acho que a Lety sabe o que faz, deixe-a ir. Vai ser bom para ela.

– Julieta, você ouviu toda a conversa? O que ela fez junto com Seu Fernando foi imperdoável. – Disse ele a esposa, indignado. – E ainda colocou o Tomás no meio.

Ao ouvir o nome de Fernando, Lety se encolheu e sentiu uma vontade imensa de chorar, mas se fizesse isso teria que dizer o verdadeiro motivo dessa confusão e não queria isso. Julieta viu como desconfortável ficou a filha e resolveu falar em favor dela, sabia que essa viagem faria bem para sua menina.

– Erasmo, eu sei que a Lety errou, mas ela começou a consertar seus erros e agora nós devemos apoiá-la. – Disse ela e sorriu para ele, tentando acalmá-lo. – Ela precisa se afastar de tudo isso e pensar no que fez.

– Eu não sei, ela tem que resolver tudo isso. – Comentou inconformado.

– Papá, eu já resolvi tudo. – Falou Lety e suspirou. – Todos os planos que tínhamos para quitar a dívida estão nas mãos de Seu Humberto. A Filmes & Imagens já está no nome de seu Fernando e eu não tenho qualquer ligação com a empresa.

– Mas e se precisarem de você, Lety? – Perguntou Tomás falando pela primeira vez. – O diretor financeiro foi demitido e só havia você lá que entendesse de números.

– O Seu Ariel deixou bem claro que faria os balancetes. – Lety falou e suspirou cansada. – Papá, por favor. Eu preciso desse tempo, eu voltarei em duas semanas. Estarei com Dona Carolina, ela é uma boa amiga.

Erasmo não falou nada, estava pensando os prós e contras daquela viagem, mas percebeu que Letícia era uma mulher adulta e que ele não podia mais protegê-la, sua garotinha tinha crescido.

– Ok, Lety. Você pode ir, mas tome cuidado, minha filha. Não quero que se machuque.

– Eu não irei, Papá.

– Que bom que pensou melhor, meu velho. – Julieta falou sorrindo. – Agora vamos ajudá-la com as malas.

– Isso mesmo. – Lety falou já se levantando do sofá, estava bem mais animada. – Eu nem acredito que vou conhecer o mar.

– Lety, você vai trazer uma concha do mar para mim, não é? – Perguntou Tomás divertido. Lety soltou uma de suas risadinhas e afirmou.

Depois de tanta turbulência nesses últimos dias, ela se permitiu sorri com sua família, sabia que precisava ser forte. E, mesmo sem saberem o que estava acontecendo, Lety tirou força deles.

Entraram no quarto dela e juntos, em meio a risadas e brincadeiras arrumaram a mala dela. Pois a partir dali a nova vida de Letícia Padilha Solís começaria.

Continua...