Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 14
Um sorriso de criança


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal. Depois de duzentos anos, "Meu Paizinho, Naraku" recebe um update! o/

Sem mais, vamos ao pequeno capítulo, que contém grandes emoções! Um abraço à @CrystalTsukino pelo incentivo imenso!

Boa leitura!



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Haviam se passado algumas horas desde que a youkai dos ventos saíra magoada do castelo, furiosa com seu mestre hanyou e com a pequena Kanna, que, em sua opinião, piorara demais as coisas com aquela ideia idiota de transformar Naraku em um pai para ambas.

A bem da verdade, o que Kagura temia era aceitar uma aproximação entre ela e Naraku e a corda se partir do lado mais fraco — o seu — após o término do período ativo do encantamento do youkai pedra. Kanna, evidentemente, não sentiria nada quando o hanyou recuperasse sua natural malignidade, já que não tinha alma. Já ela sofreria todas as agruras sozinha. Tinha razão de estar reticente.

Lembrou-se do abraço que recebera de Naraku na noite anterior. Era tão confortável... Ele parecia tão amoroso, tão disposto a zelar pelas duas. Até parecia que Naraku era realmente seu pai. Enfim, não era bem isso. Ele era apenas um controlador possessivo, como ela havia suposto quando Kanna lhe comunicou a ideia do encantamento.

Mais lágrimas desceram de seus olhos. Tão distraída estava em sua pena que não notara que estava sobrevoando a floresta de InuYasha... E que estava sendo seguida. Mal teve tempo de se desviar quando ouvir um brado atrás de si:

— MORRA, CRIA DE NARAKU!

O temível e admirado daiyoukai Sesshoumaru apareceu repentinamente com Toukijin, atacando-a e fazendo com que Kagura se desequilibrasse por milésimos de segundo; contudo, por milagre ela pôde escapar.

A Mestra dos ventos olhava encantada para o youkai branco, que a atacou de novo. Era difícil se desvencilhar da mortífera espada, mas Kagura não era uma youkai qualquer. O embate se prolongou por alguns minutos, até que Sesshoumaru quebrasse o silêncio:

— Vai me dizer onde está o seu pérfido mestre imediatamente, se não quiser morrer por minhas mãos, Kagura.

Nossa, ele me chamou pelo nome com essa voz tão viril...! Que emoção!, suspirou ela, mal prestando atenção na ameaça.

Grave erro. Os segundos de distração foram aproveitados por Sesshoumaru, que se aproximou velozmente da jovem youkai e apontou Toukijin diretamente para seu pescoço. Kagura pensou estar sonhando; era a primeira que ele se aproximava tanto. Era possível sentir o aroma dos cabelos prateados; tinha um toque de sândalo misturado com...

— Mas que cheiro de pirulito...?

— Pirulito?! — repetiu ele, incrédulo. Seria possível que aquela youkai estivesse ficando louca?

— Tem pedaços de pirulito pelo seu cabelo, parece que é de tutti-frutti — murmurou Kagura, recobrando o sangue frio e um tanto ressabiada agora. Em milésimos de segundo, ela já estava distante do youkai branco, planando no ar com sua pena. — Não sabia que você permitia sua criança humana chegar a esse ponto com você: enrolou um pirulito no seu cabelo... Caramba!

— Não... Não é da sua conta se Rin enrola pirulitos em meus cabelos, sua aranha desprezível. Onde está Naraku? — retrucou ele, irritado, avançando contra Kagura mais uma vez.

— Droga, você veio atrás de mim para me perguntar onde está Naraku? — volveu Kagura, aborrecida. — Eu não sou babá dele.

— É melhor não minar o resto da minha paciência, maldita — cuspiu ele, enfurecido. — EXIJO o paradeiro dele.

Kagura acabou explodindo.

— Dança das Lâminas do Vento! — gritou ela. — Se o seu interesse por ele é tão grande assim, saiba que hoje à meia-noite ele estará totalmente fragilizado e...

As narinas do youkai tremelicaram e ele agora mirava a espada para o lado direito. Subitamente, uma horda de youkais grotescos e gigantes brotou no ar, indo diretamente contra o youkai branco, que os reduzia a pó com Toukijin. A Mestra dos ventos estava confusa, até que sentiu sua cintura sendo agarrada e seu corpo sendo lançado sobre o ombro de um estranho. Sesshoumaru, surpreso, viu que havia sido distraído facilmente pelo desconhecido que surgira naquele local. Kagura tentava se soltar, mas, apesar de sua notória rapidez, não estava conseguindo.

— Me solta! — berrou ela. — ME SOLTA!

— Quem ousou interromper meu ataque? — disse o youkai branco, altivo. Byakuya o olhava irritado, mas conservava um sorriso irônico nos lábios, ignorando as pancadas de Kagura em suas costas.

— Oh, prazer em conhecê-lo, famoso dai-youkai Sesshoumaru. Pena que não posso me demorar em sua adorável presença.

— Você tem o cheiro de Naraku! É mais uma cria dele?

— Mais uma cria?! — repetiu Kagura, aturdida. — Será possível? Quem é você? Me solta!

— Eu sou Byakuya das Ilusões — afirmou ele, imperturbável, e agora com meiguice para a youkai revoltada sobre seu ombro. — Vim te buscar, Kagura. Vamos para casa.

Sesshoumaru agora também sorria sarcasticamente.

— Ora. Então Naraku tem tanto zelo pela Mestra dos ventos que até lhe providenciou um escudeiro?

— EU NÃO PRECISO DE UMA BABÁ!

— Adeus, senhor Sesshoumaru — afirmou Byakuya, se afastando. Sesshoumaru, porém, voou até eles, atacando-os.

— MORRAM! — exclamou o dai-youkai. Entretanto, outra horda de youkais, bem como a imagem triplicada do youkai das ilusões com Kagura, surgiram ali, confundindo momentaneamente o youkai branco. A voz calma, porém estranhamente assustadora de Byakuya ressoou nos céus:

— Não se meta com Kagura novamente, ou eu farei de tudo para destruí-lo, Sesshoumaru.

Toukijin disparou rajadas de youki para todos os lados, mas Sesshoumaru o fez apenas por fazer. Intrigado, ele resolveu voltar para o vilarejo, pensando naqueles dois.

O youkai branco teve a claríssima impressão de que a nova cria do hanyou Naraku tinha ciúmes de Kagura.

 

***

 

Keep on with the force, don't stop, don't stop 'till you get enough... Keep on with the force, don't stop... — cantava o Rei do Pop no Microsystem, enquanto Naraku buscava fazer os passos que aprendera no vídeo.

Kanna, sentada com as pernas cruzadas, apoiou o queixo nas mãozinhas. Se ela tivesse alma, poder-se-ia afirmar que estava um pouco entediada. Ficar parada observando seu pai dançar não era algo que ela compreendia. “Parece até que ele veio mais enfeitiçado da era de Kagome”, pensava a pequena.

Naraku, subitamente, deixou de dançar e se aproximou de sua criança youkai, indagando:

— Está tão quieta, filhinha. O que você tem?

— Nada, papai.

— Ah, não, eu quero saber — e o vilão se sentou ao lado de Kanna, no chão, colocando o braço sobre os ombros dela. — Você está entediada? Chateada com alguma coisa?

— Não, senhor.

— Triste?

— Não.

— Irritada?

— Não.

— Então por que está tão calada?

Kanna olhou para Naraku com seus olhos negros e sem emoção. Que raio de pergunta era aquela?

— Papai, eu sou assim.

— Mas não está certo! Você... Você deveria sentir alguma coisa, Kanna.

— Ué... Deveria?

— Claro!

— Como vou sentir alguma coisa, se não tenho alma, Naraku?

O hanyou piscou algumas vezes, aturdido.

— É... De fato, estou sendo tolo em insistir nisso — comentou ele, cabisbaixo, lembrando-se das palavras de Kagura. Ergueu-se e desligou o som. A pequena notou a melancolia no olhar dele e se levantou também, interrompendo a saída do hanyou ao segurar em seu quimono.

Chichi-ue...

Naraku olhou para Kanna e se surpreendeu: ela estava tentando sorrir. Os cantos de sua pequena boca se erguiam, mas o sorriso era totalmente artificial. Afinal, Kanna não tinha costume de sorrir em hipótese alguma, por ser uma criaturinha privada de emoções. Uma lágrima rolou pelo rosto comovido do vilão; imediatamente o minúsculo sorriso da criança youkai se desfez.

— Por que está chorando? Eu fiz algo de errado?

— Chorando?! Eu?! Está enganada — retrucou Naraku, correndo para enxugar a lágrima que não conseguiu conter. — Um youkai como eu, Naraku, não chora! Isso foi um cisco que caiu no meu olho!

— Mas estamos dentro do castelo e não está ventando!

— Deixe para lá, Kanna. Eu... Acho que estou ansioso. Byakuya não deve demorar a voltar com Kagura.

O vilão pegou Kanna e a colocou sentada sobre seus ombros, dirigindo-se para o alpendre do castelo e olhando para o céu. A pequena pegou uma das mechas de cabelo de seu mestre e a observou, atentamente. Lembrou-se de que o prazo do encantamento estava próximo de se encerrar e imaginou como seria a vida deles depois disso. A vida voltaria a ser o que era antes, com Naraku as tratando como crias descartáveis e inúteis.

Mesmo que Kanna não sentisse nada, ela entendia que aquilo não era bom. Fazia mais sentido obter todos os fragmentos da Joia de Quatro Almas e dominar o mundo se eles todos fossem como uma família.

— Seus cabelos estão mais macios — comentou ela, baixinho. — E têm um cheiro que parece de chiclete.

— Ah, é por causa do produto místico que Kagome aplicou neles para desembaraçá-los.

— Kagome penteou seus cabelos?! Não gostei. Quem penteia seus cabelos sou eu.

O hanyou riu, achando graça nos ciúmes de Kanna.

— Filha, esqueceu que eu estava à mercê dela? Aquela garota não me destruiu simplesmente porque não quis. Eu estava fraco, totalmente fraco.

— Da próxima vez que você for, leve-me que eu o protejo.

Os dois começaram a flutuar enquanto o vilão criava uma barreira; logo estavam sentados sobre o telhado da propriedade. Kanna quis descer e se sentou ao lado de seu mestre. Ele, enfiando a mão na roupa, retirou dali dois objetos coloridos, que eram dois chicletes.

— Você gosta, Kanna? — indagou Naraku, oferecendo um a ela e ingerindo o seu. — Vamos ver quem faz a bola maior?

— Eu faço — respondeu ela, serena, pegando o chiclete e o colocando na boca. — Sei fazer bolas bem grandes, pai.

— Ah, é? — volveu ele, logo criando uma bola do tamanho de um abacate. Kanna tratou de encher a sua, que ficou mais ou menos do mesmo tamanho. As duas estouraram.

— A minha foi maior — afirmou Kanna.

— Não, não foi. Vamos mais uma vez.

Os dois sopraram e sopraram: a bola criada pelo hanyou estava do tamanho de um melão. Kanna apurou os sentidos e apontou um dedo acusatório para Naraku:

— Ei! Não vale usar energia sinistra para encher a bola!

— Quem disse? — soou a voz zombeteira dele através do chiclete. — Huhuhuhuhuhu!

— E não me venha com essa risada de youkai do mal! Você trapaceou!

A bola de chiclete continuou aumentando ao ser impulsionada pelo ar que Naraku soprava e por seu youki, que impedia sua explosão. Kanna acabou meneando a cabeça, enquanto o hanyou finalmente estourava sua bola, já quase do tamanho de uma melancia grande, e gargalhava, puxando a pequena para um abraço afetuoso.

Ele é trapaceiro, mas eu queria muito que ele continuasse assim, se importando conosco... pensou Kanna, retribuindo o abraço com mais empenho. Talvez fosse o último abraço que Naraku permitisse a ela. Logo recostou a cabeça na coxa do hanyou, querendo um chamego, que veio rápido.

E, mais uma vez, o coração do vilão se aqueceu por dentro, enquanto ele levava a mão aos cabelos brancos de sua menininha e os afagava sem pressa.

 

***

 

— Me solta, cara, ME SOLTA! JÁ DISSE PARA ME SOLTAR!

— Prazer em conhecê-la também, Kagura. Bem seu pai me disse que você era uma criatura bela e geniosa. Agora, vamos indo. Há algo importante que ele quer dizer a você.

— E daí?! Eu não quero nada com ele! Não quero ouvi-lo!

— Por que não?

Kagura continuava batendo nas costas de Byakuya, mas, para sua revolta, o youkai era forte e não parecia abalado. Ambos voavam em um tsuru de papel; logo avistavam o castelo e seus moradores, sentados na extrema ponta do telhado. Naraku e Kanna estavam rodeados de bolhas de sabão e a Mestra dos Ventos sentiu uma súbita angústia — sua pequena companheira, mesmo que totalmente apática, brincava com as bolhas que o hanyou produzia.

A youkai sentiu vontade de chorar, antevendo o quanto seria triste quando o efeito do encantamento de Ishiteimei, o youkai pedra, fosse encerrado. Byakuya, notando sua inquietação, resolveu parar um pouco e soltar Kagura.

— O que é agora? — indagou ela, rispidamente.

— Eu espero você extravasar um pouco sua raiva antes de entrarmos, se quiser — afirmou o youkai ilusionista, serenamente. — Você parece frustrada. Quer falar sobre isso?

— Não. Isso não é da sua conta.

— Tudo bem — volveu ele, tranquilo. — Em todo caso, eu...

— Morra! — e a youkai o atacou com seu leque. Porém, em vão; Byakuya criou uma segunda barreira protetora, de forma que as rajadas de youkai de Kagura feneceram ali mesmo. Enfurecida, ela se jogou contra ele, tentando golpeá-lo com um soco. O jovem youkai se deixou ser acertado diversas vezes.

Kagura deu um grito de frustração, vendo que nada incomodava seu mais novo companheiro. O rosto de Byakuya era pálido como o seu; seus olhos tinham um tom azulado e seus lábios eram vermelhos. Pelo menos agora ele não parecia disposto a fazer gracejos.

— Não vai revidar? — inquiriu ela, intrigada.

— Claro que não. Fui criado por sua causa. Devo proteger você com minha vida.

— Tudo culpa do maldito Naraku! Não consigo acreditar que ele fez um youkai apenas para ficar me vigiando!

Byakuya coçou a cabeça.

— Na verdade eu devo cuidar da segurança de Kanna também, mas minha responsabilidade maior é você, Kagura. Minha função é fazer tudo pelo seu bem estar.

— Se sua função é fazer tudo pelo meu bem estar, me deixe fugir! Qualquer lugar onde aquele hanyou aranha não esteja será bom para mim.

— Não é verdade, mocinha. Ele é seu pai e...

— UUUURGH! Ele NÃO é meu pai! Você não sabe de nada, mas assim que se passar o efeito do feitiço...

— Depois você me conta, ok? — interrompeu-a ele. — Naraku está olhando para nós.

De fato, lá de longe o hanyou os observava, carrancudo. Kanna não estava mais ali, possivelmente já havia entrado no castelo. A Mestra dos Ventos revirou os olhos, irada.

— Já que não há remédio... — resmungou ela, vencida. — Vamos ver o que ele quer.

Assim os dois se foram e entraram no castelo. Kanna e o vilão estavam no quarto dele; a pequena agora estava com o brinquedo de fazer bolhas de sabão, enchendo o ar com aquele suave cheiro de detergente. Naraku, por sua vez, estava de costas para todos, ligeiramente debruçado na janela, com seu corpo em forma youkai.

— Kagura? — chamou ele, em voz baixa. — Precisamos conversar.

— É mesmo? — disparou a youkai, com raiva. — Sobre o que, por acaso?

O hanyou se virou para a serva, devagar. Kagura ficou surpresa ao ver que ele parecia um pouco melancólico.

— Estive pensando sobre o que você me disse — afirmou Naraku, andando em sua direção. — Sobre vocês serem forçadas a me obedecer.

A pequena youkai acabou deixando de lado o brinquedo e voltou sua atenção total para o temido vilão, que se aproximava lentamente de Kagura. Esta se sentiu encurralada e pensou que seria punida. Contudo, Naraku teve uma atitude inusitada: se abaixou para ficar à mesma altura que Kanna, que não pensou duas vezes e o abraçou.

— Você não deveria ter dito isso, Kagura. Eu prefiro ficar ao lado dele — acusou a pequena, com sua voz inexpressiva. O hanyou, entretanto, colocou a mão nas costas de Kanna, num pedido mudo para que ficasse quieta.

— Está tudo bem, filhinha — objetou ele, olhando profundamente para os olhos negros da criança. — Sua irmã estava certa.

— O que está tramando agora, Naraku? — perguntou Kagura, cada vez mais confusa. Naraku ergueu os olhos vermelhos para ela.

— Vou fazer algo que já deveria ter feito há muito tempo. Kanna...

— Pois não?

— Continue aqui ao meu lado — disse ele, olhando agora para Byakuya, quieto perto da porta, observando a tudo. — Byakuya, fique atento e cuide de nossa segurança. Preciso me dedicar exclusivamente às minhas filhas agora.

— Sim, senhor — e o youkai se postou à janela. Kagura continuava confusa:

— Naraku, o que você está pretendendo fazer?

— Eu também não entendi, papai — comentou Kanna, agarrada à perna dele. Com um pequeno sorriso, o hanyou pousou delicadamente a mão sobre a cabeça da youkai albina, enquanto seu corpo reluzia com luzes roxo-azuladas. Um dos tentáculos de Naraku rodeou ligeiramente o tronco de Kanna, ao passo que ele murmurava para ela:

— Você primeiro, querida.

Houve, então, um aumento considerável de energia sinistra no quarto e Kanna sentiu seu corpo ficar estranhamente dormente. Um suspiro longo e seu corpinho tombou inerte, mas não caiu, por estar firmemente preso pelo tentáculo do hanyou. Kagura, apavorada, deu um grito:

— KANNA! O que você fez com ela, seu...

— Vamos deixá-la descansar um pouco. Sua vez, Kagura.

Um olhar profundo de Naraku se encontrou com o olhar amedrontado e furioso da Mestra dos ventos, que já não sabia mais o que esperar dele. Kanna foi colocada com cuidado no chão. Súbito, eis que o vilão estende a mão e pega a da youkai, sem aviso, e ele diz ternamente:

— Eu vou entender se você quiser partir para sempre, minha querida Kagura. Contudo...

Algo se revolveu fortemente no interior do corpo dela, que suou frio; seus olhos cresceram nas órbitas ao sentir o pulsar vigoroso do seu coração dentro de seu tórax. O queixo de Kagura caiu.

— Se você for embora, vou sentir saudades — completou o hanyou, com um nó na garganta. — Está livre de mim. Não precisa mais me servir.

— O que... O que você fez com Kanna?!

— Dei uma alma para ela. E devolvi o seu coração.

Enfim, a tão sonhada liberdade chegava para Kagura, que ainda tremia muito devido ao extremo nervosismo. Puxando a mão, pousou as duas sobre seu peito, sentindo com que vigor seu coração batia. Ouviu um bocejo; era Kanna que se sentava devagar no chão, coçando os dois olhos. Quando os abriu, Naraku e Kagura notaram que eles eram castanho-escuros e brilhantes, vivos. Devagar, o hanyou se ajoelhou ao lado de sua pequena, perguntando preocupado:

— Querida, como você está se sentindo?

— Ah... Papai?

— Sim, sou eu.

A pequena se pôs de pé. Sua primeira reação ao ouvir os batimentos cardíacos de sua companheira foi franzir o cenho com força e inclinar a cabeça para o lado, enquanto olhava ostensivamente para Kagura.

— Kagura, papai te deu o coração?

— D-Deu.

— Estranho... Eu me sinto diferente... — afirmou Kanna, olhando para si mesma com seu jeito infantil.

Kagura engoliu em seco. Senta que o quadro ficaria ainda pior, pois, se Kanna agora tinha alma, quando o efeito do encantamento acabasse, ela passaria a sentir inúmeras emoções negativas quando Naraku recuperasse sua total malignidade.

— Kanna! — chamou-a a Mestra dos ventos, com o rosto duro. — Naraku me deu meu coração, então posso partir. Você vem comigo ou fica aí? Sabe do que pode acontecer se continuar com ele, não é?

— Tem certeza de que não quer me dar uma chance, Kagura? — indagou Naraku, ainda de joelhos. Kanna deu um passinho à frente, exclamando:

— Deixar meu chichi-ue? Nunca! Vou ficar com ele até o fim.

A youkai sacou a pena dos cabelos, transformando-a e planando sobre ela, indo em direção à janela. Deu mais uma olhada para Naraku e viu, estupefata, que ele não esboçava reação alguma para impedi-la. Os olhos do hanyou nunca estiveram tão tristes antes.

— Kagura, eu vou esperar por você — comentou ele, comovido. — Você é e sempre será a minha filha.

— Não espere por isso, Naraku. E... — a youkai soluçou, sentindo uma angústia gigantesca comprimindo seu coração recém-adquirido. Será que estava fazendo a coisa certa? — Adeus, K-Kanna.

— Kagura, fique — ia pedindo a pequena, sendo que Kagura já havia sumido no ar.

Só restavam ela e seu mestre, que desenhava círculos na perna da calça do quimono.

— Deixe-a, filhinha, ela queria ser livre. E vai ser. Provavelmente ela será mais feliz sem mim.

— Eu duvido — comentou Kanna, se voltando para ele e o abraçando. As lágrimas de Naraku nublavam-lhe os olhos, mas ele, teimoso, não as deixava descer. — Mas não fique tão triste assim, pai. Eu fiquei.

— Sabe que pode ir também, se quiser. Você não é obrigada a ficar, Kanna.

— Mas eu quero ficar com você, Naraku. Você é meu pai. Eu te amo.

O hanyou ergueu a cabeça de chofre e olhou para a pequena albina, que agora sorria abertamente para ele enquanto tocava de leve seu rosto. Um sorriso infantil, puro, que mostrava uma emoção nova que ela ainda não conhecia — o bem-querer.

Aquilo foi o cúmulo para o vilão, que começou a soluçar e agarrou sua pequena Kanna com braços e tentáculos.

— Filha... Ah, minha filhinha! Eu... Nem sei direito como funciona isso, mas... Eu também te amo! Me perdoe por ter ignorado isso por tanto tempo...!

Confusa com aquela choradeira, a criança youkai indagou:

— Agora caíram vários ciscos nos seus olhos, não foi, papai?

 

***


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Notas finais do capítulo

Kagura, sua doida! Contou o segredo do divo aranha para o Sesshoumaru! =X

Até eu me emocionei com o Naraku no final :') Deu a liberdade para as duas filhas! Que meigo! *-*
Mas quais serão as consequências?

Abraços da Mamãe a quem tem acompanhado até aqui!

~Okaasan



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