Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 12
Hora da pipoca


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo... Estamos de volta!

Boa leitura! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/643925/chapter/12

***

 

Madrugada.

Depois de alguns olhares furiosos do youkai branco, que aparecera na casa de Kaede com InuYasha ainda inconsciente, Miroku e a velha sacerdotisa acharam por bem não perguntar nada. Os demais acabaram dormindo, cansados de esperar pelo retorno dos irmãos. Kikyou havia ido embora, consideravelmente mais bem humorada, abraçada a um Kohaku vermelhíssimo; ambos se foram levando uma caixinha de bombons. Sesshoumaru, após empurrar InuYasha para o monge, deu as costas e saiu, mais sombrio que o habitual.

Miroku e Kaede se entreolharam confusos. InuYasha ainda estava em sua forma humana e estava bastante ferido; o monge viu o estrago no abdômen do hanyou e se assustou. Kaede, em silêncio e também assustada, foi reunir ervas para fazer um emplastro. Miroku achou melhor chamar Kagome. Entrou pé ante pé no cômodo onde ela dormia com Sango e Shippou, abaixando-se para tocar seu ombro. Antes, porém, se deteve para admirar as curvas da bela exterminadora, que estava dormindo placidamente de bruços ao lado da colegial.

Diversos pensamentos impuros povoaram a mente do rapaz, que, com expressão vitoriosa, se ajoelhou para ficar mais à vontade enquanto pousava as duas mãos nas nádegas da jovem. Todavia, mesmo estando em sono profundo, Sango ergueu subitamente o pé e chutou o estômago de Miroku, que caiu sufocando um grito estrangulado. A bulha despertou Kagome.

— Miroku...? — fez ela, sonolenta, enquanto ele tossia.

— K-Kagome, por favor, v-venha comigo. Temos problemas — murmurou o monge, ainda lutando por ar depois daquele ataque.

A garota se levantou com certa dificuldade devido à dor no pé e ambos se foram. Ela ficou perplexa com a situação de InuYasha, mas resolveu ser prática e colocou a mão sobre o abdome ferido do hanyou, emitindo poder espiritual que aceleraria a cicatrização daquele ferimento. Miroku ficou impressionado.

— Kagome, como você faz isso? Não sabia que tinha poderes de cura.

— Kikyou me ensinou. Não é muito forte, mas vai ajudar o pobrezinho... O que Sesshoumaru te disse, Miroku? O que aconteceu de verdade?

— Aí é que está, ele não me disse nada. Simplesmente chegou, me entregou o InuYasha nesse estado, e saiu. Será que Naraku...

— Não, Miroku — replicou ela, resoluta, enxugando o suor do rosto devido ao esforço da habilidade recém-aprendida. Seria eternamente grata a Kikyou por aquilo. — Não foi Naraku. Sinto que não foi.

— Desde quando você confia nele? — indagou o monge. — Kagome, é com Naraku que estamos lidando, você se esqueceu?

— Ele poderia ter me matado facilmente ontem, e não o fez. Desta vez, ele é inocente. Eu sinto. Ele havia me prometido...

Ainda não muito convencido, Miroku aquiesceu, enquanto erguia uma das mãos e fazia uma pequena prece pelo amigo desmaiado.

Do lado de fora, no alto de uma árvore, Sesshoumaru ouvia atentamente todos os ruídos e conversas da casa.

 

***

 

Naraku e Kagura saíram em silêncio do quarto dele, deixando Kanna repousar em paz. Nas mãos dele, o Microsystem. A Mestra dos ventos olhava curiosa para o vilão que, depois de chegarem ao quarto que ela dividia com a miúda, se pôs a revirar uma das sacolas. O cômodo estava mal iluminado, mas isso não impedia Naraku de enxergar perfeitamente o conteúdo adquirido.

— O que você tanto procura aí? — indagou Kagura.

— Milho.

— Milho? — repetiu ela, estranhando, já que não via muita lógica na hipótese de seu mestre ter trazido espigas da era moderna. Afinal, o que não faltava naquela região eram lavouras de milho. — Você trouxe milho da era de Kagome, Naraku? Por quê?

— Isso! — fez o hanyou, erguendo na mão um pacote colorido de milho para pipoca. — Eu tinha certeza de que ele estava a salvo!

— Mas, Naraku, isso não me parece uma espiga de milho... — comentou Kagura, observando a embalagem plástica.

— E não é uma espiga de milho, Kagura, são os grãos debulhados. Isto se come.

— Nossa... — fez ela, franzindo o nariz. — Eu achava que quem comia grãos de milho debulhados eram apenas as galinhas. Você vai deixar de ser youkai aracnídeo? Se for, nem adianta me convencer a te acompanhar, porque não vou quebrar meus dentes comendo isso aí.

O hanyou revirou os olhos.

— Prefiro ignorar esse sarcasmo, Kagura. Enfim... Quer me ajudar? — indagou ele, se levantando do chão. — Quero que separe todos esses itens por categoria.

— E você, onde vai?

Naraku sorriu, desafiador, e encarou a cria.

— Você irá ver como seu chichi-ue lhe convence a comer grãos de milho, querida.

— Ah, conta outra! — rebateu a Mestra dos ventos. — Se você pretende virar um youkai galinha, me deixe fora disso!

— Quer apostar?

— Aposto!

— Pois bem. Se eu não convencê-la a comer os grãos de milho da forma como irei prepará-los, todos os meus bombons Debauve & Gallais serão seus. E, se for o contrário... — estreitou os olhos. — Quero todos os Pringles de cebola.

— Feito! — respondeu Kagura, determinada. O hanyou lhe deu as costas, se afastando em direção à cozinha, levando o pacote de milho e o Microsystem. Silenciosamente, Kagura foi até a porta do quarto, ainda a tempo de ver o vilão sacudindo o ombro enquanto andava, cantarolando baixinho algo como “deeeeeeeingerous!”.

Esse feitiço deixa Naraku com um comportamento muito bizarro”, pensou ela, segurando o riso.

 

***

 

— Kohaku...

— Pois não, senhorita.

— De que cor está o miasma agora?

O garoto, meio envergonhado, analisou a rachadura presente na clavícula do corpo de cerâmica de Kikyou. Ambos estavam se aproximando de outro vilarejo. O sol começava a raiar; o humor da moça ainda não havia voltado ao normal, mas no momento ela estava mais serena.

— Verde, senhorita Kikyou — afirmou Kohaku.

A sacerdotisa franziu a testa, olhando para as sandálias, pensativa. Os dois retomavam a caminhada, até que a voz de Kohaku a tirou de seus devaneios.

— Senhorita Kikyou... Posso lhe perguntar uma coisa?

— Pode, Kohaku.

— Sobre o Naraku... — a moça olhou ressabiada para o garoto. — Err... Por que ele lhe trata diferente?

— Diferente, como? — volveu Kikyou, com uma sobrancelha erguida, e Kohaku estava agora muito corado. — Ele tem procurado matar a todos nós, onde há a diferença de tratamento?

— Eu s-sei... Mas, com a senhorita, ele fala de um jeito estranho... — apressou-se ele em explicar. — Parece até... Que ele está, sei lá, te paquerando...

Kikyou respirou fundo, aborrecida, seu bom humor desaparecendo — a última coisa que queria recordar era da postura nada convencional do maligno hanyou em sua presença, bem como a antiga história de uma paixão que ele nutrira por ela enquanto era somente o bandido Onigumo. Kohaku gaguejou uma enxurrada de pedidos de desculpas, nervoso.

— Tá, tá bom, meu filho. Esqueça isso e vamos seguindo. Devo conseguir comida para você aqui nesse vilarejo.

— Só para mim, senhorita Kikyou? A senhorita não vai comer?

— Eu não sinto fome, como às vezes por costume.

— Mas e todos aqueles abacates de anteontem e ontem que a senhorita comeu?

— Já basta! Você está fazendo perguntas demais — rebateu a moça, irritada, mas logo se recompondo. — Desculpe. Não quis ser rude, meu filho.

— Tudo bem, eu também exagerei e também lhe peço perdão, senhorit-

— Não pise nisso! — exclamou ela, estendendo o braço e impedindo Kohaku de dar um passo à frente. O pé do garoto estava prestes a pisar em uma pedrinha preta do tamanho de uma noz.

— Não pisar em quê? Nessa pedrinha? — indagou ele, curioso ao ver a sacerdotisa agachada no chão, segurando o objeto e o estudando de todos os ângulos, muito séria.

— Não é uma simples pedrinha. É um pedaço de youkai pedra, Kohaku.

— Youkai pedra? — repetiu o jovem taijiya.

— Sim. São muito raros, mas existem. Os antigos contam que tais youkais vieram da China e habitam à beira de fontes místicas. Eles têm o poder de realizar desejos, desde que sejam feitos por criaturas de coração puro. No caso, atendem mais às crianças.

— Então podemos fazer um pedido para esse pedacinho de pedra, senhorita Kikyou?

— Não, isso é apenas um fragmento. Alguém deve ter encontrado esse tipo de youkai por aqui e o levado consigo. Mas como foi se quebrar?

— Alguém na vila deve saber alguma coisa, senhorita! — afirmou Kohaku, já andando determinado em direção aos casebres. — Vem, vamos!

— Por que a pressa, menino?

Kohaku baixou a cabeça.

— É que, se a gente encontrasse esse tal youkai pedra, eu iria pedir a ele que trouxesse minha família e meu clã de volta para mim e Sango...

Aquelas palavras calaram fundo no coração da sacerdotisa Kikyou, que envolveu o garoto num abraço amoroso.

— Kohaku... Sinto muito... — murmurou ela, vendo que o jovem chorava baixinho.

— Eu sinto tanta falta dos meus pais, senhorita Kikyou! Minha aneue e eu éramos felizes em nossa vila, com nossos amigos, e olhe para nós hoje! Aquele hanyou infeliz desgraçou a nossa vida.

— Não só a de vocês, meu querido. Mas deixe estar... Ainda vou descobrir o que ele tem tramado e vou selá-lo. Ele vai nos pagar caro por ter feito tantas maldades contra todos nós.

— Faça ele pagar, senhorita! — exclamou Kohaku. — Ele tem medo do seu poder. A senhorita pode derrotá-lo! E não se deixe enganar, caso ele fique te paquerando.

— Kohaku! Onigumo não me paquera! — reclamou a moça.

— Paquera, sim, nada me tira isso da cabeça. E, por favor, senhorita, não caia na lábia dele. Sei que vocês já foram muito próximos no passado, mas...

— Não fomos próximos no passado! Você está ficando louco?! — explodiu ela.

— Me desculpe, senhorita, mas é o que parece, já que a senhorita sempre o chama de Onigumo... A impressão que dá é que vocês são, ou já foram íntimos, sei lá.

Suspirando profundamente, Kikyou pôs as mãos nos dois ombros do garoto, enquanto lhe afirmava convicta:

— Esqueça essas bobagens, certo? E com certeza eu o farei pagar, filho. Eu prometo — a moça estranhou a expressão confusa de Kohaku, que olhava ostensivamente para as mãos dela. — Mas por que me olha assim?

— É que a senhorita está quentinha agora... — respondeu ele, vermelho.

— Como é?!

— As mãos da senhorita geralmente são frias e duras, mas hoje não...

A sacerdotisa olhou as próprias mãos; estavam realmente macias ao toque e quentes.

O que está acontecendo com o barro que compõe meu corpo?”, pensou ela, inquieta.

— Ah... E a senhorita está meio vermelha também.

— Vamos indo, Kohaku — fez ela, sem graça, seguindo em frente.

 

***

 

O dia amanheceu no vilarejo; InuYasha recuperou sua forma youkai, mas demorou a acordar. Quando abriu os olhos, a pequena Rin estava sentada ao seu lado, provando um pirulito. Ele estava sobre um futon, sem a parte de cima do quimono, e com o tronco enfaixado. Muito fraco ainda e confuso, só se lembrava do irmão.

— S-Sesshoumaru...

— InuYasha! — exclamou a pequena, alegre. — Você acordou! Que bom!

A vozinha de Rin foi ouvida pelo youkai branco que, apesar de bem longe da casa de Kaede, manteve-se alerta. O hanyou tentou se levantar, mas sentiu dores no ventre e voltou a deitar no futon, gemendo. A protegida de Sesshoumaru se ergueu, apressadamente, e encheu um copo com água, voltando-se para InuYasha e oferecendo-o a ele, que bebeu sedento enquanto ela o ajudava a manter a cabeça erguida. O hanyou olhou agradecido para a pequena, que sorriu e ia se afastando:

— Espere aí que eu vou procurar alguém para trocar seu curativo...

— Não, molequinha, espera. Cadê todo mundo?

— O senhor Jaken foi procurar um quimono para mim. Kagome, vovó Kaede e Shippou foram rezar pelo senhor Rikichi, que ficou doente, e hoje é dia de Sango lavar roupas.

— E o Miroku?

— O senhor monge foi atrás dela. Ele me explicou que o rio anda perigoso, cheio de youkais, e que precisava estar com Sango para protegê-la.

— Keh... Perigo ela corre com ele ao lado — resmungou InuYasha, ao que Rin não compreendeu e coçou a cabeça, confusa. O hanyou achou por bem mudar de assunto: — Enfim, vamos deixar Miroku para lá. Não é possível que esses idiotas tenham me deixado desmaiado com apenas uma criança dentro dessa tapera velha...

— Mas não estamos sozinhos, InuYasha — replicou a garotinha, despreocupada. — O senhor Sesshoumaru está no vilarejo.

InuYasha se forçou a ficar sentado.

— Onde, Rin? Eu tenho contas a acertar com aquele maldito!

— Contas a acertar com este Sesshoumaru? Ei-lo aqui — reverberou a voz do youkai dentro da casa, assustando Rin. InuYasha, surpreso, viu o irmão assomar à porta do cômodo onde estava em repouso. Olhava-o com rancor.

— Senhor Sesshoumaru, que bom que chegou! Olhe, InuYasha está melhor, o senhor não precisa mais se preocupar com ele daquela maneira.

— Hein? — fez InuYasha, enquanto o youkai branco fechava os olhos com força, aborrecido pelo comentário. Rin, contudo, não pareceu notar o fato.

— Como o senhor pediu hoje de manhã, eu cuidei dele direitinho depois que todo mundo saiu. Não fiz nem um barulho para não atrapalhar o sono dele e não deixei nem um pernilongo tentar picá-lo — disse ela, orgulhosa. O youkai pareceu constrangido por alguns momentos. — Nem foi preciso chamar o senhor para socorrê-lo se ele piorasse!

— Obrigado, Rin. Agora quero que nos deixe a sós.

— Mas não tem nada para eu fazer...

— Vá brincar.

— Então eu vou esperar o senhor para brincar comigo lá fora de batatinha de novo!

— Rin... — alertou-a Sesshoumaru, não gostando nada do comentário da criança que, inocente, não parou de falar, sob o olhar dúbio de InuYasha.

Batatinha? — indagou o hanyou.

— É muito legal, InuYasha! Eu sou a batatinha e o senhor Sesshoumaru deve pegar em meu ombro enquanto eu estiver olhando para a frente. Quando eu disser “um, dois, três” e virar para trás, ele deve ficar parado igual a uma estátua.

— Certo, Rin, ele já entendeu... — rosnou o youkai, lívido, vendo os olhos do hanyou cada vez mais abertos em sua direção.

— O chato é que o senhor Sesshoumaru só aceita brincar quando estamos sozinhos ou com Ah-Un e diz que não devo contar para ninguém. É uma pena, pois eu adoro essa brincadeira! O senhor Sesshoumaru fica tão divertido de estátua! Cada pose engraçada!

Ele-já-entendeu — sibilou Sesshoumaru, irritado. — Agora vá brincar lá fora!

A menina piscou, confusa, sem entender o motivo da zanga.

— Certo, eu já vou... InuYasha, fique bom logo. Você está muito vermelho.

— S-sim, Rin, eu vou ficar ÓTIMO... — respondeu InuYasha, contendo a gargalhada a duras penas, já que seu ventre estava dolorido ainda.

— Quando você sarar, venha brincar de batatinha com a gente — disse ela, saindo do cômodo.

— Vou, sim, Rin. Pode contar comigo! Eu vou achar o máximo brincar de batatinha com você e Sesshoumaru! — respondeu o hanyou, à beira das lágrimas, olhando zombeteiro para o irmão, que, depois de notar que Rin já estava bem distante da casa, se virou olhando de forma letal para InuYasha, que no momento ria a valer, desconsiderando o perigo que corria.

— Agora nós, hanyou...

***

— Não valeu, Naraku! — queixou-se Kagura. — Você não disse que era para a gente comer o milho desse jeito estranho, que pode ser mastigado sem problemas. Seu trapaceiro!

Os dois estavam sentados no quarto dela, se deleitando com uma bacia de pipoca e chás enlatados. Ele, além de comer com gosto as pipocas recém-estouradas, cujo cheiro apetitoso se espalhou pelo castelo, comia também os Pringles de uma inconformada Mestra dos ventos.

— Eu, Naraku, trapaceiro? Você é que é má perdedora, Kagura.

— Não sou não...

— É, querida. E, admita... É tão ruim assim comer grãos de milho debulhados?

— Tá, tá, não é! — replicou ela, aborrecida. — Mas continuo achando que você me engambelou!

— Menos, Kagura. A propósito, você parece estar com fome, comendo desse jeito.

A youkai devorava as pipocas como se não houvesse amanhã.

— Já que perdi minhas batatas, o que me resta é comer essas papocas. Como li em uma dessas revistas que você trouxe, ‘a realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife’ ¹.

Naraku olhou impressionado para Kagura.

— Que cara é essa, hein?

— Eu não sabia que você gostava de ler.

— Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, Naraku.

Uma sobrancelha do hanyou se ergueu, enquanto ele levava a latinha de chá à boca.

— Por que não me conta tais coisas, Kagura? Acho que vou gostar de ouvi-las.

— Eu tenho certeza de que não.

— Só vai descobrir me dizendo, Kagura.

— Eu me apaixonei pelo Sesshoumaru.

Ao ouvir essas palavras, Naraku se engasgou com o chá e teve uma violenta crise de tosse.

 

***

 

Após surrar o irmão caçula e deixá-lo desmaiado de novo, Sesshoumaru agora acudia Rin que, durante uma brincadeira de trepar no galho mais baixo da mangueira do quintal de Kaede, havia caído e ralado o cotovelo. Munido de uma cumbuca com água e sentado no chão, o youkai branco lavava o ferimento, ignorando os grunhidos chorosos da criança.

— Tá doendo...

— Isto é o resultado de sua desobediência — rebateu Sesshoumaru, severo. — Já lhe proibi de subir em árvores, mas você não acatou minhas ordens, Rin. Espero que agora entenda.

Ela olhou para o outro lado, fazendo bico. O youkai puxou-lhe o rosto para si, devagar, procurando ser gentil ao falar.

— O que este Sesshoumaru deseja é a sua total segurança, Rin. Não é o seu mal.

— Mas eu só queria brincar... — murmurou a menina, com uma lágrima descendo pelo rosto sujo de terra.

O youkai deu uma olhada atenta a seu redor, para ver se não estava sendo ouvido por mais alguém, antes de cochichar junto à orelha de Rin:

— Se você não fosse tão afobada, teria me esperado. Eu estava ocupado lá dentro, mas iria conseguir um local agradável para brincarmos juntos, de preferência com privacidade, o que não é possível aqui neste vilarejo de humanos plebeus.

— Ah, então o senhor iria... — ia dizendo ela, em voz alta, silenciada por um urgente “shhhhhhh!” de Sesshoumaru. O jeito seria continuar a falar no mesmo tom sigiloso de seu mestre. — O senhor iria brincar debatatinha comigo?

Ele concordou com um gesto de cabeça. Rin sorriu, satisfeita, e surpreendeu-o com um abraço apertado.

— Eu te adoro, senhor Sesshoumaru!

O youkai deu um beijo estalado na testa da garota antes de se erguer do chão e responder que a adorava também. Sem olhar para trás, disse em voz alta, ironicamente:

— Está querendo um abraço também, InuYasha?

Parado à porta da casa, o hanyou, cujo rosto estava bem arranhado, despejou uma série de impropérios contra o irmão mais velho. O que os dois irmãos não esperavam é que a pequena Rin corresse até InuYasha e o puxasse pela mão, em direção a Sesshoumaru, que ficara intrigado e estupefato pelo que ela diria a seguir:

— Ora, é claro que ele quer um abraço, senhor Sesshoumaru. Irmãos se abraçam. Abrace ele também!

— Você tá maluca, pirralha?! — gritou o hanyou, soltando-se da mão dela.

— Rin, que ideia bizarra! De onde tirou isso? — indagou o youkai branco.

— O senhor sempre me disse que quem se ama, se abraça, ora. O senhor não ama InuYasha?

— NÃO! — exclamou Sesshoumaru. — Ele é um inútil!

— Eu? Inútil é você, seu grande retardado!

— Híbrido nojento!

— Arrogante maldito!

— Já entendeu de vez o que acontece entre nós, Rin? — perguntou o youkai, com raiva. — Como quer que eu o abrace, por todos os diabos?!

— Ah... — fez ela, um tanto desapontada. — O senhor parecia tão preocupado com ele hoje de manhã... Pensei que o senhor havia aprendido a gostar dele, porque eu já ando cansada de ver vocês brigando como se fossem inimigos.

— E o que você acha que somos, Rin?! — questionou um InuYasha carrancudo. — Amiguinhos de infância?

— Mais do que amigos, são irmãos, ora.

Sesshoumaru parecia muito irritado e impaciente quando, inesperadamente, caminhou até o caçula.

— Já chega, Rin! É isto que você tanto deseja ver? — e puxou InuYasha de qualquer jeito para si com seu único braço, apertando-o. — Quer que eu abrace o meu... irmão?

O hanyou, catatônico dentro do abraço de Sesshoumaru, estava sem palavras. Afinal, não lhe parecia que o mais velho havia feito aquilo somente para agradar Rin que, agora, sorria e dava pulinhos. Meio reticente, abraçou o outro de volta que, de repente, se deu conta de que InuYasha lhe era, sem sombra de dúvida, importante.

Contudo, Sesshoumaru não esperava que o hanyou iria aproveitar de sua momentânea distração para, agilmente, dar-lhe uma rasteira. O youkai branco tombou com estrépito na terra, já se levantando de novo e avançando contra InuYasha e lhe dando outra surra, diante dos olhos de uma confusa Rin.

Kagome ia chegando com Shippou e os três se quedaram ali, observando a briga dos dois inuyoukais.

— Puxa, Kagome, e agora? — perguntou ela, sem graça. — E por que você está rindo?

— Ora, Rin... — respondeu a colegial, emocionada. — Até que enfim eles fizeram as pazes!

 

***

¹ — Frase de Woody Allen.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que significa o mistério da Kikyou?
Naraku, o que fará depois dessa revelação de Kagura?
InuYasha e Sesshoumaru, será que fizeram as pazes realmente? hehe

Obrigada a vocês que não desistiram desta história! Abraço pr'ocês tudo! ♥

~Okaasan



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu paizinho Naraku" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.