La vie nocturne escrita por ACunha


Capítulo 4
Capítulo 3




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Quando acordei já era de manhã e eu estava no meu quarto, na minha cama. Havia dois copos de água no meu criado mudo, e eu bebi os dois, sedenta. Meu pescoço doía. Olhei no espelho e vi o curativo que Dave provavelmente havia feito.

–Tio Dave? – gritei. Eu estava com vontade de chorar.

Ele não apareceu, então desci as escadas e o vi dormindo no sofá, de boca aberta, roncando um pouco. Isso fez as lágrimas descerem. Sentei no último degrau e abracei meus joelhos, chorando.

Depois de um tempo assim, voltei para meu quarto e vi que meu celular estava em cima da minha escrivaninha. Dave devia ter encontrado no beco. Ele não estava quebrado, então vi minhas mensagens. Três eram de Annie, perguntando onde eu estava, dizendo que ela estava preocupada, e então que Dave tinha ligado pra ela. O que ele dissera, eu não sabia. Havia duas mensagens de Rodrigo também, pedindo desculpas por ter ficado com a Rose a noite toda e pedindo para ir a casa deles no dia seguinte. Summer havia me mandado algumas fotos dela com os caras da festa. Erick perguntando onde eu estava, então dizendo “deixa pra lá, já falei com a Annie. Aliás, ela tá com raiva de mim ou algo assim?”

Apenas outra noite normal. Nada havia acontecido. Nada envolvendo vampiros.

Senti uma súbita vontade de falar com Anthony. Isso era novo. Mas eu precisava vê-lo, dizer que alguma louca chamada Rose tinha tentado me matar, perguntar quem exatamente era ela. Mas não tinha como encontrá-lo. Olhei para a luz do dia, tendo certeza de que enquanto o sol estivesse no céu, ele não apareceria.

Então fui para a casa de Annie. Dave provavelmente não acordaria nas próximas horas. Ele tinha acabado de chegar de viagem do outro lado do país. Deixei um bilhete, caso ele saísse do coma, e saí de casa.

Só que na casa de Annie ninguém tinha acordado ainda. Então continuei andando, até o parque no fim da rua. Sentei em um dos bancos e fiquei observando as crianças brincando por um tempo, até perceber que alguém tinha se sentado do meu lado. Um cara novo, da minha idade, bonito. Ele usava óculos escuros.

–E aí? – me cumprimentou. Tinha cabelos loiros e desalinhados e algo no seu jeito parecia familiar.

–Oi... – respondi, então o reconheci. - Espera. Eu conheço você.

–Difícil se esquecerem de mim, eu sei – ele sorriu. – Angel, não é? Eu realmente estou com raiva de você.

Suspirei.

–Olha, se vai tentar me matar, mate logo. Será a terceira tentativa em vinte e quatro horas. Acho que estou com sorte.

Incrivelmente, ele riu.

–Se Anthony não a matou, deve haver um bom motivo. Não sou eu quem vai contrariá-lo. Pode relaxar.

Não confiei muito nele, mas relaxei.

–E o que você está fazendo do lado de fora com esse sol? – perguntei.

–Insônia.

Ele ficou calado depois disso, e eu também não sentia vontade de falar mais nada. Ficamos olhando para um grupo de garotas de mais ou menos catorze anos tomando sorvete no banco da frente. Elas espiavam o vampiro do meu lado e sorriam umas com as outras.

–Se elas soubessem – suspirei.

–Provavelmente iam gostar ainda mais – ele sorriu.

–É triste, mas é verdade – balancei a cabeça. – O que aconteceu com o mundo?

Ele só riu mais ainda.

–Qual... O seu nome, afinal? – perguntei.

–Victor.

–Victor – assenti. E, sem pensar muito, perguntei: - Você por acaso sabe quem é Rose?

Ele tirou os olhos das garotas e me olhou com espanto.

–Rose? – perguntou com um tom totalmente diferente. – Como você sabe dela?

–Ela meio que também tentou me matar ontem. Mas disse para ela entrar na fila. – Dei de ombros. – Acho que estava com ciúme do Anthony, ou algo assim...

–Onde você a viu? Ela está aqui? – ele se levantou. – Preciso falar com ele. E você precisa ir para casa, e não sair nas próximas noites, de forma alguma. – Então ele fixou os olhos no meu pescoço. - Ela marcou você.

O jeito como ele disse isso, uma mistura de horror com aceitação, como se eu já tivesse morrido, foi o que me deixou com mais medo.

–Victor, quem é ela? – sussurrei. – E por que ela me... Marcou?

–Para rastrear você. Ela bebeu seu sangue, e isso ligou você a ela. Ela vai sempre saber onde você está. E você não bebeu o sangue dela, então não é recíproco...

–Trocar sangue... Você está dizendo... – Eu estava ligada ao Anthony, certo? Eu tinha bebido o sangue dele. Eu deveria saber, então, onde ele estava.

E, de repente, eu soube. A imagem brotou na minha mente como se só estivesse esperando o momento certo para ser solicitada. Anthony, de olhos fechados, numa cama enorme, perdido entre tantos lençóis azuis. Eu estava ligada a ele. Será que ele teria feito isso de propósito? É claro que sim, ele sabia.

–Bom, isso é uma droga. Além de saber onde eu estou, o que mais ela pode fazer estando ligada a mim? E, aliás, dá pra estar ligada a mais de uma pessoa?

–Quanto mais vampiros beberem seu sangue, pior. Ser constantemente monitorada não deve ser muito agradável. E ela pode controlar sua mente, se a quantidade for o bastante. Enviar pensamentos. Coisas do tipo. – Ele olhou no relógio. – Eu realmente preciso ir. E você também.

–Tudo bem – levantei. – Obrigada, Victor. De verdade.

Ele sorriu e começou a se afastar, mas então lembrei de uma coisa.

–Você ainda não disse quem é ela – gritei.

Victor se virou.

–Se ela voltou mesmo, então não preciso te dizer. Você vai descobrir da pior forma.

Quando estava voltando para a casa de Annie, a poucos metros de distância, ouvi um grito lá de dentro. Então saí correndo. A porta se abriu antes que eu pudesse bater, e Annie tinha os olhos vermelhos e assustados. Ela me abraçou.

–Rodrigo... – ela soluçava. – Ele...

Eu não me permiti ouvir mais nada.

Depois de subir as escadas correndo, tropeçar no corredor, passar por Catarina e Ricardo (eu não me permiti ver as expressões deles também) na porta do quarto onde ele estava, e finalmente ver o que tinha acontecido, meu corpo cedeu. Senti meus joelhos se dobrarem contra minha vontade, por isso fui meio que engatinhando até a cama, mas parei no meio do caminho, quando percebi que o lençol dele não devia ser vermelho, e sim branco, e que o sangue tinha encharcado tudo como se tivesse chovido e ninguém fechara as janelas. Tentei não notar sua palidez evidente, a falta de movimentos que indicavam sua respiração, o fato de que seus olhos castanhos estavam abertos e fixos no alto. Tentei muito não notar tudo isso.

Mas notei as feridas no seu pescoço. Até demais.


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Notas finais do capítulo

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