Faltando um Pedaço escrita por Sereny Kyle


Capítulo 1
one-shot


Notas iniciais do capítulo

Essa é a segunda fanfic da minha série, a anterior a ela se chama "Cassis"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/643825/chapter/1

Takanori

Eu estava sozinho em minha casa, pouco antes do almoço, mas estava completamente sem fome. Estava angustiado. Não, não era angústia. Como se chama o sentimento em que você sabe que falta uma parte de você? Era o que eu tinha naquele dia.

Eu tinha acordado muito cedo, mas não me sentia cansado. Era cinco, seis horas da manhã, não sei ao certo, estava sem óculos e minha vista ainda estava embaçada pelo sono. Sei que acordei com uma sensação desconhecida de felicidade e fui olhar meu myspace como se fosse uma coisa que eu sempre fizesse. Fazia algum tempo que eu não o olhava, na verdade. Tinha trocado a frase do meu perfil e só, mas algo daquela felicidade repentina tinha a ver com ele. E com a frase em especial.

Não tinha trabalho a fazer, por isso, tomei uma ducha e fui preparar meu café da manhã. Eram raras às vezes em que eu acordava com fome. Normalmente tomava uma xícara de café preto e já estava bem. Hoje não era um desses dias. Comi frutas pães, ovos, tomei leite e me sentia num filme americano. Até ri com esse pensamento.

Mas, quando se aproximou às 10hs, a sensação de felicidade foi se esvaindo e dando lugar àquela sensação crescente de vazio. Não, não era vazio! Era mais... Falta... Saudade... Nem pra mim mesmo eu sabia explicar o que estava sentindo!

Andei pela casa silenciosa, como um animal preso em uma jaula. Subia e descia as escadas, entrando em todos os cômodos, como se procurasse por algo.

Parei quando ouvi meu celular tocando sobre a mesa da sala. Desci correndo as escadas antes eu o toque ficasse mais alto. Era o número do Yutaka no visor.

- Moshi moshi – atendi, me jogando na poltrona. – Ohayo, Kai-kun!

- Ohayo, Ruki-kun! Está em casa? – Yutaka me perguntou, alegre como sempre.

- Hai – eu respondi.

- Vou passar ai então, okay?

- Esta bem. Pode vir.

- Ja ne.

- Ja! – desliguei e fiquei olhando o aparelho negro em minha mão. Depois de um tempo, fechei os olhos, recostando a cabeça no espaldar da poltrona enquanto guardava o celular no bolso da calça.

Meu bom humor e minha felicidade repentina tinham me abandonado completamente e deixaram uma nuvem negra pairando sobre minha cabeça.

Caminhei alguns passos tímidos pelo cômodo, prestando atenção a minha respiração irregular e meu coração estranhamente acelerado e fui me sentar à poltrona do piano de calda que há pouco tempo eu tinha adquirido. Era lindo, de mogno negro bem entalhado como uma escultura. Toquei algumas das teclas aleatórias, combinando os sons e inventando uma doce melodia nova, triste e atraente, como meu estado de espírito.

Não sei dizer exatamente quanto tempo eu passei ali sentado, brincando de compor no piano os fios de minha tristeza e de meu vazio, só me dei conta de mim quando me assustei com a campainha tocando. Levantei e fui correndo abrir a porta, encontrando um Yutaka muito, muito sorridente.

- Onde está o arco-íris? – eu brinquei, quando ele passou pela porta e entrou, se virando pra me encarar enquanto eu fechava a porta.

- Desculpe? – ele riu, sem entender.

- Está alegre como se tivesse passado debaixo de um arco-íris – eu lhe expliquei rindo.

- Saberia se eu tivesse passado debaixo de um arco-íris. Eu teria virado mulher se isso acontecesse! – ele riu e se jogou no meu sofá, com os braços atrás do encosto.

- Como é que é? – foi minha vez de rir sem entender o que ele quisera dizer com aquilo e o encarei, sentando-me ao seu lado no sofá.

- Tem uma lenda ou história... Uma crendice de que, se você passa debaixo de um arco-íris... Ah quer saber? Esquece isso – ele riu mais uma vez. – Onde está a nuvem negra?

Eu franzi o cenho, mas apontei pra minha cabeça.

- O que houve? – ele perguntou sério.

Yutaka sempre se preocupava muito com as pessoas ao seu redor, em especial nós quatro. Quando ele parou com as brincadeiras foi como se me dissesse que não importava o problema, ele estava disposto a me ajudar.

- Nada – eu respondi com simplicidade. Não era mentira, realmente não acontecera nada, mas ele franziu o cenho descrente pra mim. – É sério. Eu acordei assim...

Eu lhe contei tudo o que eu fizera naquela manhã e ele me pediu muitas explicações sobre minha felicidade repentina “as cinco ou seis horas da manhã” e sobre o aparecimento desse mal súbito. Depois de terminar todo o meu relato, admirei-o refletindo, como costumava fazer quando estávamos em turnê e tínhamos um problema com umas das músicas ou dos equipamentos. Era a cara que eu conhecia bem de Yutaka procurando uma solução.

- Estava tocando uma música quando eu cheguei aqui... Não consegui identificar pela melodia qual era... – ele disse depois de minutos em silêncio.

- Não era nenhuma – eu ri. – “Autoconhecimento” – ri novamente e percebi que era fácil com Yutaka por perto, eu quase me via livre de minha depressão. – Estava só brincando de combinar sons...

- Pode tocar de novo? – ele pediu e eu assenti.

Fui até o piano e me sentei novamente, voltando a tocar a mesma melodia de antes, derramando cada gota da tristeza de meu peito naquelas notas. Senti Yutaka tocar meu ombro e só então eu percebi que estava chorando.

- Tem alguma coisa incomodando você? – ele perguntou, sentando ao meu lado no banco de couro do piano e olhando fundo em meus olhos com muita preocupação.

- Eu não sei explicar, Kai-kun... É como se eu tivesse a minha vida inteira vivido com um enorme buraco em mim, mas só agora eu passei a senti-lo... Como se toda a dor viesse de uma vez agora porque, por algum motivo, ele está reclamando a falta desse pedaço... – abaixei o rosto e enxuguei as lágrimas que continuaram saindo com as costas da mão. – Desculpe... Não faz nenhum sentido... – eu ri.

- Ele esta reclamando? – Yutaka confirmou e eu assenti. – Como uma voz te chamando? Ou... Alguma coisa que você não tem mais?

- Uma voz me chamando... Mas não que eu não tenho mais... Eu... Ainda... Não tenho... – terminei com a voz morrendo aos poucos, um novo nó na garganta se formando.

Ele assentiu e depois de mais um tempo e silêncio apertou meu ombro sorrindo.

- Vamos fazer compras... Você vai se sentir melhor...

Camila

O quarto estava escuro, mas assim mesmo eu me levantei e olhei pra cama de minha irmã, puxando seu braço para acordá-la. Sereny se virou e me olhou espantada.

- Qual o problema, Cami? – ela olhou o relógio. – São 23hs...

- Não consigo dormir... – choraminguei.

- Sem sono? – ela perguntou bocejando.

- Morrendo! Mas...

- O que foi? – ela perguntou preocupada.

- Eu fico escutando uma música na minha cabeça!

- Que música? – ela estranhou.

- No piano. Nunca ouvi essa melodia antes...

- Tente se concentrar em outra música que você vai conseguir dormir, Camila – ela me deu as costas e voltou a dormir. Voltei pra minha cama e me deitei, colocando o cobertor até o queixo e encarando a escuridão.

Que música era aquela? Era tão triste e tão bonita... Mas por que estava na minha cabeça? E por que tinha que vir tão tarde da noite?

Fiquei virando na cama, tentando fazer o que minha irmã dissera, mas só fui adormecer às 3hs da manhã, por estar exausta de tanto me mexer tentando dormir, ainda embalada por aquela melodia que parecia me procurar e que eu também estava buscando. A melodia que me completava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

mereço reviews?
a próxima fanfic se chama "Predestinados"



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Faltando um Pedaço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.