“If everything could ever feel this real forever

If anything could ever be this good again”

A chuva caía lentamente.

Ele a amava.

Suspeitava que sempre amou. Não saberia dizer quando começou, só que aconteceu. Passara anos conversando, brincando, rindo, conquistando e se apegando. A amiga de infância se tornara a sua paixão da vida inteira, sem ele nem mesmo perceber.

Por isso estava ali.

Apreciava visitá-la em horários calmos. Não gostava da movimentação, não enquanto expressava seus mais profundos sentimentos. Irônico, pois, diferente dela, era inconsequente. Agia antes de pensar. Ele, hiperativo, ela, calma. Ele, despreocupado, ela, atenciosa. Completavam-se.

O buquê de rosas nas mãos suportava todas as lembranças vividas, todos os momentos divididos, todas as emoções sentidas. Todo o amor que duraria para sempre.

A chuva caía lentamente.

Sorriu timidamente, debaixo da expressão triste. Lembrou-se de seu sorriso, de seus olhos, de seu rosto. Lembrou-se dela, inteiramente.

Conseguiu fazê-la feliz por uma vida inteira.

Já estava velho. As rugas nas mãos denunciavam sua condição. Conseguira alcançar os oitenta e poucos anos, mas suspeitava que não iria tão mais longe.

E nem queria.

Lia na lápide o nome dela. Lia, ali, a saudade e, ao mesmo tempo, a gratidão. Não poderia ter tido uma vida melhor do que ela lhe proporcionou.

Abaixou-se, com um esforço hercúleo, e repousou o buquê à sua frente. Fechou os olhos e ouviu sua voz. “Você baba enquanto dorme”. “Cabeça-de-Alga, como você é lerdo”. “Percy, eu te amo”. Viu seu rosto, apreciou seu cheiro, sentiu seu toque.

Amou-a pura e intensamente.

A chuva cessou.

Fechou o guarda-chuva, que não tinha mais serventia, e encarou fixamente o túmulo. Por fim, sussurrou.

“Obrigado.”

E saiu, esperando o dia que fosse reencontrá-la.