Sucubo Urbano escrita por Ana Shipp
Notas iniciais do capítulo
Bem vindo ao primeiro capitulo de Sucubo Urbano. Espero que gostem, essa será minha primeira Long Fic.
Fim e então recomeço.
Enquanto eu atravessava o parque sentia como se não houvesse nada dentro de mim. As folhas amareladas caiam ao chão, uma por uma, cada vez mais devagar. O tempo não parecia ter sentido, porque aqueles poucos minutos enquanto eu ia em direção a ela duravam mais que uma hora e ao mesmo tempo era como se cada passo fosse mais veloz que o outro. Tudo tinha nos levado aquele momento, a resolução do nosso amor.
Ela trajava um vestido branco que ia até seus joelhos. Um enorme chapéu e o batom vermelho que fazia seus lábios saltar aos meus olhos. Não parecia mais do que nervosa. Deveria estar. Se ergueu quando toquei a cadeira onde me sentaria. Naquele café não parecia haver mais ninguém. Apenas nós. Uma mesa perdida entre as arvores mortas de outono.
– L – Disse meu apelido voltando a tomar seu lugar. Meus olhos foram de encontro aos dela. Combinavam com as folhas secas. A luz alaranjada emitida pela despedida do sol os iluminava. Humedeceu os lábios e os abriu um pouco como tinha mania.
Tudo nela era sexy.
– Rose – a cumprimentei de volta. Sem nenhuma mesura como era de costume, pelo menos com os outros. Não importava mais, o amor te faz agir diferente. E ela sabia a maneira como eu a amava. – Aproveitou a chance? Imagino que não tenha feito outros planos – puxei conversa.
Notei em seu olhar como aquilo havia mexido com ela. Como era teatral. Mesmo um prender de cabelos tão simples como aquele me faria arfar. – Não – ela soltou – eu só... – hesitou desistindo por fim de falar.
– Não precisa dizer – continuei por ela. – O que você fez, – coloquei meus cotovelos sobre a mesa e apoiei meu rosto sobre minhas mãos entrelaçadas – eu já sei, ele me contou. – Tomou um gole da bebida na taça, eu não fazia ideia do que era. Ela nunca fora de beber. E talvez o pior fosse vê-la sequer tentar se defender. – Não há mais chances pra você e eu. Isso não te deixa triste?
Seu olhar me fazia sentir como sem roupas. – L, você sabe que sim – franziu o cenho transparecendo uma falsa repulsa ao comentário – te amei desde o momento em que nos conhecemos.
Meus lábios se arquearam, não havia como segurar o sorriso irônico em meio à frase tão hipócrita – suas ações não condizem com suas palavras. Agora somos só nós duas – lembrei tentando deixar o tom da minha voz o mais baixo possível. O controle queria me fugir – já podes parar de fingir.
– Lucy – sussurrou ou talvez apenas tenha movido os lábios, eu não conseguiria afirmar, – o que aconteceu... o que eu fiz...
– Eu consigo ver por trás dessa tua maquiagem – a interrompi elevando inevitavelmente o timbre da minha voz, – o que tanto se esforça pra esconder. Seu olhar me disse tudo no momento em que me sentei aqui. Eu não sabia quem era você até te reencontrar... – serrei meus punhos debaixo da mesa, agarrando com força a calça que usava deixando rugas no pano – eu não amo você.
Ela me olhava nos olhos, sem sequer pestanejar. E ela o fez, seus lábios tremeram ao dizer – eu não vivo sem você.
Senti como se gelo se formasse dentro de mim. Só podia ser o meu destino tentando me dar outra lição. Eu não podia cair naquela armadilha, não de novo. Arrastei a cadeira com força para trás e me levantei.
Todo o universo que havia se criado em torno de nós se dissipou e novamente todas as mesas em volta, casais amorosos e homens de negócios foram tomando foco. Até mesmo o tamisa que corria barulhento ao fundo tinha se feito perceber.
– Não tente voltar pra minha vida – pedi sem me importar com a coleção de olhares. – O dinheiro que conseguiu com ele não poderá comprar de volta nossa vida.
Ela cruzou os braços e me olhou sem expressão. Novamente a mesma garota fria e calculista voltava a aparecer. – O mau viver num lar perfeito e sem infiltração – minha memoria voltou aquele dia onde tudo desmoronou. Harry, Rose e Teddy. Nunca mais nos encontraríamos, nunca mais voltaríamos a estar os quatro juntos.
– Esqueça o dia em que me conheceu – disse enfim dando as costas a ela.
***
Enquanto voltava pelo parque soube que aquelas eram palavras vazias. Rose seria uma sombra na minha vida, uma lembrança constante de tudo o que vivemos naquele maldito verão. Essa não era uma historia sobre o romance entre duas garotas. Era historia sobre vingança, traição e morte. Era a historia de uma súcuba urbana.
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