Nada demais havia acontecido na Tailândia, então embarcamos para a Inglaterra.

Ficamos em um apartamento fuleiro que Hunt sempre tratava de se instalar quando tinha que ir para lá. A entrada no Palácio de Buckingham não seria um problema, afinal, alguns agentes da IMF trabalhavam na segurança da família real.

Cameron Jonhson iria visitar os irmãos Harry e William para falar de negócios. Negócios esses, que eu sabia que no fim seria para persuadi-los a investir parte de seu dinheiro na Monkelling Company e em troca disso, sua família e toda a população ficaria a salvo. Claro, que eles iriam fazer qualquer coisa que esse sujeito quisesse.

Aos poucos fui entendendo como as coisas estavam funcionando. Josh Thompson era o cara da grana, conhecido no mundo empresarial e do crime, porém, nunca sujou as mãos, sempre teve alguém para fazer isso por ele. Cameron Johnson era sócio de Thompson em uma das empresas mais poderosas do mundo, a Monkelling Company, ou seja, ele tinha os contatos necessários e a reputação limpa para conseguir tudo o que queria. Juntos, ambos estavam fazendo estragos.

– Segundo o Hunt, você não é tão quieto assim. Me diz logo, o que tá te incomodando?

Encarei Sally, que sentou ao meu lado no sofá e ofereceu uma caneca de café para mim.

– Mente cheia com essa missão. Não consigo parar de pensar no quanto eu quero acabar logo com isso. - Suspirei.

– Sabe que não é tão simples.

Ela me olhou e eu me perdi por completo em seus olhos castanhos. Ela me prendia e não sabia explicar o porque. Então, ela se arrumou no sofá e disse:

– Vamos mudar de assunto. Me fala mais de você.

– Eu?

Ela assentiu com a cabeça.

– Vamos Brandt! Você tem muita coisa pra contar que eu sei.

– Certo. - Eu ri. - Moro sozinho, não sei cozinhar, mas sei comer. Tenho uma coleção vergonhosa de cuecas. Passei a vida toda prendendo gente do mal ou correndo de gente do mal. Adoro jogar um baralho, sou um mestre na sinuca. Adoro altura, sou um cara legal e bonito. Todo mundo gosta de mim e como pode ver não me acho nem um pouco.

– Aham! Claro, Brandt. Percebi isso claramente. - Ela riu.

– Eu estava zoando.

– Eu sei. Você é do tipo que não leva a vida muito a sério. - Falou ela bebendo um gole de seu café.

– E você, Walker? Caiu de paraquedas na minha equipe e tudo o que sei sobre você é que é uma agente sensacional. Aposto que há mais coisas por trás disso, certo?

– Sim. Eu sou uma mulher incrível! - Brincou. - Certo. Eu sou filha de agentes secretos, então, cresci nesse mundo. Sempre me escondendo, sempre viajando e nunca ficando tempo demais em um lugar para que eu pudesse criar raízes. Então, desde a minha adolescencia, eu trabalho em missões para a IMF. Já sobre mim, bem... Eu gosto de vinho, amo vinho! Adoro esportes radicais, meu sonho é escalar o Monte Everest. Sou péssima no baralho, mas me garanto na sinuca. Sou ótima para acessar softwares e quebrar códigos. Ah, eu moro sozinha, sei cozinhar e tenho um cachorro chamado Lucky.

– Eu definitivamente PRECISO te enfrentar na sinuca.

– A qualquer hora e em qualquer lugar, meu caro Will! - Disse ela, bebericando seu café sem tirar os olhos de mim, me desafiando.

E eu estava perdendo a noção.

– Ah, e saiba que você não é o único nas coisas vergonhosas. Eu tenho uma coleção de pijamas infantis. - Confessou Sally, ficando vermelha em seguida.

– Não brinca! - Eu ri. - E eu achando que era o único com problemas na vida.

– Deixa de ser idiota, Brandt. - Ela riu da cara que eu fazia.

Foi então que notei a presença de Ethan na sala.

– Ao que parece, vocês estão se dando bem.

– Digamos que eu tenha encontrado a minha alma gêmea no assunto "pagar micão".

Rimos de novo.

Sim, eu estava rindo feito um panaca e sem um motivo certo. Apenas ria.

Clint Barton, você já foi um ser humano melhor. Recomponha-se.

– Eu falei com a Jane.

Pronto. Bastou essa fala de Hunt para que eu voltasse a focar na missão, afinal, se ele entrou em contato com Jane e Dunn e veio falar comigo, é porque temos novidades.

– Ela me passou 3 nomes que podemos usar para acessar o Palácio e mandou os cartões de acesso. Temos que ficar espertos.

Ethan entregou os cartões para eu e Sally e disse:

– Mas e aí? Quem tá com fome? Ouvi falar de um restaurante ótimo a três quarteirões daqui.

–--

Museu. Museu. Museu.

Isso era tudo o que eu conseguia pensar enquanto caminhava pelo Palácio de Buckingham fingindo ser mais um segurança da realeza britânica. Ok, eu admito. Era bacana sim alguns móveis e tinha até umas pilastras boas onde minhas flechas poderiam ricochetear e acertar o lustre de valor incalculável no outro lado do salão. Mas, tirando isso, os quadros com os monarcas que já viveram ali há milhões de anos me davam arrepios.

Na boa, ainda bem que não nasci pra ser rei, porque vai que o Palácio de Buckingham era assombrado.

Devia ser.

Eu, Ethan e Sally estávamos separados. Então, subi até a parte onde era para estar localizados os quartos. Fui abrindo porta a porta sem pedir licença e rezando pra achar logo algum dos príncipes. E achei.

Harry deu um pulo quando abri a porta com tudo e ele estava arrumando sua gravata.

– Meu nome é William Brandt, sou agente da IMF e preciso falar sério com você. - Direto ao ponto, no melhor estilo Clint Barton.

Mostrei meu distintivo e ele me encarou estranhando toda a situação.

– Não tenho muito tempo para explicar, mas quero que me ouça. Hoje, vão vir te visitar...

– Sim. O Cameron Johnson da Monkelling Company, vamos falar de negócios. - Falou o príncipe, me interrompendo.

– É o que ele quer fazer vocês pensarem. Esse cara é um psicopata! Ele faz parte de uma organização criminosa, eles estão indo em diversas empresas mundiais e governos querendo que invistam dinheiro neles.

– Nós temos a opção de não investir.

– Aí ele explode a Inglaterra.

Harry deu um passo para trás, assustado, depois balançou a cabeça como se negasse tudo o que eu estava lhe dizendo.

– É sério isso? Porque está difícil acreditar em você.

Suspirei. Que garoto difícil!

Mas, eu entendia. Harry desde novo teve que aprender a se defender do mundo e eu respeitava muito o cara. Serviu o exército e até embarcou escondido para missões no Afegastistão em plena guerra e foi para os lugares mais remotos do Alaska e outras partes gélidas do planeta só para contribuir no salvamento de animais e em pesquisas científicas. Além de continuar com o Sentebale, um projeto que sua mãe Diana iniciou quando estava viva e que ele retomou depois que cresceu. O Sentebale ajuda pessoas pobres em todo o mundo e ele sempre viaja para esses lugares para prestar auxílio.

Depois de passar todos esses dados mentais, resolvi abrir meu terno e retirar um envelope que estava grudado na minha barriga. Eram cópias de dados da IMF, da época em que Diana foi agente.

– Segure isso. É da sua mãe. Ela foi uma agente da IMF.

Harry pegou o envelope com as mãos trêmulas e começou a retirar o conteúdo que estava dentro enquanto me ouvia.

– Diana era incrível. Todos falam que foi uma das melhores agentes que a IMF já teve. No mundo da espionagem era conhecida como Madison. Ela foi a primeira a descobrir sobre a "Aliança" e a ligar dados entre eles. Porém, acabaram descobrindo que ela estava investigando, então...

– Causaram o acidente que ela sofreu, fazendo parecer que era uma perseguição incessante da imprensa. - Disse Harry. - Sabe, eu nunca engoli essa história. Nunca!

Ele se levantou e começou a andar de um lado pro outro. Depois se enfiou em seu closet para guardar o envelope em um lugar seguro.

– O que quer que eu faça? - Perguntou quando voltou.

– Siga as instruções dele, mas mantenha a IMF informada. Entre em contato e peça pra falar comigo. Faço parte da equipe que está tentando derrubar de uma vez por todas a Aliança.

Harry concordou em ajudar e disse que iria falar com seu irmão. Então, dali em diante eu só precisava disfarçar e continuar andando por aquele Palácio monumental fingindo não saber de nada.

Cameron Johnson já havia chegado à aquela altura e deveria estar proseando com os membros da realeza. Tudo estava calmo, muito calmo. Sally e Ethan não resmungavam no meu ouvido fazia minutos. Tinha algo estranho.

Foi então que eu ouvi passos rápidos no andar de cima e o som de algo quebrando. O que devia ser uma das estátuas de mulheres nuas com o seios para fora, algo, que aliás, era realmente uma obra de arte incrível.

Eu peguei a minha arma pronto para atirar no primeiro infeliz que quisesse jogar um quadro ou um jarro na minha cabeça, quando Ethan gritou no meu ouvido através do comunicador.

– Eles tem uma bomba aqui! - Falou. - Sabem quem nós somos e sabem que estamos atrás deles.

Isso foi o estopim para uma série de acontecimentos malucos. Vi Sally lutando com três brutamontes, sai no soco com alguns outros caras e ouvi som de tiros no andar de cima. Ethan estava quieto, então, logo pensei no pior. Corri para tentar ajudar, mas fui surpreendido por um outro capaganga que me golpeou na cabeça.

– Ah seu filho da puta! - Me levantei como um louco e lhe golpei com um chute no estomago e apliquei minha sequencia infalível de socos na cara do cidadão, que adivinha? Caiu no chão.

Pulando a parte em que, ao subir no andar de cima, eu voltei rolando escada abaixo após ser acertado com um chute. Eu consegui subir a tempo de ver o príncipe Harry lutando com um dos capangas ao lado de Ethan.

– Eu vou para fora! O Cameron está fugindo para o helicóptero dele! - Sally avisou.

– Não! Você vai estar sozinha. - Disse através do comunicador.

– Eu sei, Brandt. Confia em mim.

"Confia em mim". Essa frase ficou na minha cabeça enquanto via ela ir para a porta arrebentando com a bunda de todo mundo que cruzava seu caminho. Aquela mulher era simplesmente foda em ação!

– Will! Joga a arma! - Ethan pediu e lancei uma de minhas armas a ele. - Temos que chegar na bomba, deve estar no subsolo.

– Eu vou lá! - Disse.

Desci com tudo para a parte do subsolo do Palácio de Buckingham e fiquei muito surpreso ao descobrir que realmente por lá tinha um. Jamais imaginei que houvessem subsolos em palácios. Nota mental: Clint Francis Barton devia parar de pensar em detalhes idiotas enquanto está em missão.

Quando cheguei próximo da caixa de força que estava com um "tic tac" irritante, fui agarrado por uma força do além, que me jogou contra uma parede. Então, eu morri...

De susto, primeiramente, depois dei um suspiro de alívio ao ver uma cabeleira vermelha que eu tanto conhecia.

– Nat? Como...

– Você disse para Kate coordenadas do nosso código, não disse?

– É, você não dá ponto sem nó, Romanoff.

Ela sorriu, deu as costas para mim e abriu o painel desativando a bomba em questão de segundos.

Eu falo, cara. Mulheres são seres de outro mundo! Como ela fez isso tão rápido?

– Tenho uma notícia para você, Clint. E é sobre o Ikarus.

Me aproximei dela atento as próximas palavras.

– Eu me infiltrei por lá, no grupo de mutantes, pra saber qual é a deles. Fiz algumas amizades e comecei a seguir o Daniel, ou melhor, Ikarus. Sabe porque vim parar aqui?

Balancei a cabeça negando.

– Eu segui as pistas dele nesses últimos 2 dias e fui conduzida até aqui. Se você correr lá para cima, acho que consegue ver ele escapando no helicóptero junto com o tal de Cameron que vocês da IMF estão caçando.

– O Ikarus está trabalhando para a Aliança?

– Eu diria mais meu caro, Barton. Eu diria que todos esses anos da Aliança, esse dinheiro investido em crime, armas nucleares e tecnologia, também serviu para pesquisas com mutantes e pessoas com habilidades específicas como nós.

Natasha olhou para mim, sumindo entre as sombras. Não poderia ficar ali por muito tempo.

Eu nunca pensei que isso poderia acontecer, mas meus dois mundos, estavam se misturando.