I will protect you escrita por StardustWink


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

EEEEE AQUI ESTOU EU, DEPOIS DE MAIS DE UM ANO, TRAZENDO ESSA FIC PRO NYAH! Isso foi parcialmente porque estava com preguiça de pedir para adicionar a tag de fodr aqui (obrigada por isso, Miya sua linda) e também porque eu sei que fodr não é um rpg horror tão famoso.... Quer dizer, não era até o Cry jogar. Agora o fandom tá maior, então eu resolvi criar coragem. :v

São 5 drabbles e um extra, porque eu não consigo fazer pouca coisa pro meu otp aparentemente /gota Para quem quiser ler mais coisas deles, sugiro dar uma passada pela parte de fics do meu blog, eu sou tipo a rainha de drabbles de sugashio, sério. Talvez eu crie saco para escrever uma fic mesmo deles, quem sabe. uvu

Enfim, espero que gostem!



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"Suga-kun, eu vou proteger você."

"Shii-chan, eu vou proteger você."

~o~

{flores / visita / solidão / memos / pedras} + extra.

1.flores.

Shiori correu pelo canteiro com os olhos cintilando, uma risada borbulhando em sua garganta. De todos os lugares da pequena vila Azakawa, esse era um dos que ela mais se arrependera de ter esquecido.

Ela se lembrava de achar que as flores silvestres continuavam até uma longa distância quando era pequena; e, voltando depois de tantos anos, sua extensão era muito menor. Ainda assim, não deixava de ser maravilhoso com todas aquelas flores espalhadas como uma manta por cima da grama verdinha.

- E eu nem gostava muito de ficar aqui antes... - Ela comentou para si mesma com um sorriso no rosto. Fora uma menininha bem encrenqueira em sua infância, sempre preferindo as coisas mais perigosas a ficar por ali pegando flores.

Não, ela não era delicada a esse ponto - isso era algo que ele gostava de fazer.

- Suga-kun! - A garota chamou por ele ao se virar, avistando-o um pouco atrás com um sorriso no rosto. O olhar cálido que ele tinha voltado para ela fez seu pulso acelerar, e vermelho coloriu suas bochechas ao perceber que o mesmo provavelmente tinha a visto correr animada pelas flores como uma criança de oito anos.

Ela esperou até que ele a alcançasse, abrindo um sorriso sem graça.

- Desculpa, eu acabei me animando demais...

Koutarou apenas negou com a cabeça, ainda sorrindo. A garota voltou seus olhos para as flores de cores claras em seguida, suspirando.

- Aah, mas faz tanto tempo que eu não venho a esse lugar...! - Shiori sorriu novamente para ele, - Obrigada por me trazer aqui.

- Hm. - Ele murmurou de volta. Ela aumentou o sorriso; ele provavelmente não estava acostumado a usar sua voz de novo.

- Bom, agora que estamos aqui, eu tenho um favor a te pedir. - Isso pareceu chamar sua atenção, pois o garoto piscou e seu sorriso se desfez. Ela agachou em seguida por entre as flores, as pétalas pequenas e delicadas fazendo cócegas em sua pele. - Você lembra a vez que tentou me ensinar a fazer coroas?

Ela lembrava-se daquele dia. Ambos passaram a tarde inteira pelo canteiro e as coroas que ela fizera eram desleixadas comparadas às dele, mas quando Shiori colocara uma delas na cabeça do garoto e ele sorrira para ela, a mesma decidira naquele momento que o protegeria de tudo que poderia haver de mal no mundo.

E pensar que, todos esses anos, ele estava fazendo justamente o contrário.

- ...Sim. - Suga respondeu enfim, abaixando-se à frente dela ainda mantendo a pouca distância que tinham um do outro.

- Pode me ensinar outra vez? Eu acho que esqueci. - A garota sorriu, apanhando um lírio. Ele assentiu, olhos voltados para baixo e rosto vermelho, e os dois puseram-se a trabalhar juntos, Koutarou silenciosamente guiando suas mãos com as dele.

Ah. Ela sentiu seu coração bater mais rápido, observando o movimento contínuo que faziam. Como eu pensei, elas são grandes... Comparadas às minhas então...

- Shii-chan...? - A garota levantou os olhos para ele, que a fitava ainda com o rosto levemente vermelho. Piscando, percebeu que acabara unir as pontas da coroa.

- Ah! - Ela abriu um sorriso, trazendo o objeto mais para perto e examinando-o com os olhos. - Está perfeita! Você continua sendo ótimo nisso...

Ele corou mais com essa afirmação, mas um sorriso tímido abriu caminho entre seus lábios em seguida.

Shiori o encarou por uns segundos, seus olhos brilhando.

Sim, ela sentira falta disso. Deles no canteiro de flores, dele sorrindo desse jeito para ela. Seu coração doeu ao pensar em todos os anos perdidos em que não pudera ver essa cena. Ele tinha que sorrir desse jeito mais vezes...

Mas, o que está faltando é... As mãos da garota subiram com a coroa, quase que por instinto, e o jovem só percebeu o que ela pretendia quando as flores já estavam depositadas no seu cabelo.

Ele abriu a boca em surpresa, mas não murmurou uma palavra sequer.

- Isso. Agora está perfeito, Suga-kun! - Ela sorriu, olhando para o mesmo. - Eu... Não consegui pensar em algo melhor que isso, então vai ter que bastar. Considere isso um presente... Por tudo que você vez por mim.

A garota pegou nas mãos dele e entrelaçou seus dedos, descendo os olhos para olhá-las.

- Obrigada. Por ter cuidado do meu avô todos esses anos, por ter mantido sua promessa... - Ela pausou, apertando mais as mãos grandes que segurava. - Por tudo.

Shiori esperou, mas ele não disse nada. Foi quando ela ia levantar seus orbes avelãs para encará-lo que sentiu algo quente tocando sua testa.

- Você não precisa agradecer por isso. - A voz grave e levemente rouca dele foi ouvida em um murmúrio em seguida, e a garota viu que o mesmo agora desviava os olhos para o chão, rosto pintado de vermelho. - Eu... Gostava do ojii-san. Gostava de cuidar mansão, e...

Ele a encarou mais uma vez, soltando das mãos dela para colocá-las nos dois lados de seu rosto, se aproximando instintivamente até que o espaço entre eles não passasse de poucos centímetros.

- Eu queria... Eu quero proteger você, Shii-chan.

Os olhos dela se arregalaram, e eles se encararam por alguns segundos antes que o garoto percebesse o que estava fazendo e se afastasse com um pulo, rosto corando num tom vivo de escarlate e a coroa de flores ficando caída para um dos lados de sua cabeça.

Shiori piscou, levando uma das mãos até seu peito enquanto ele se apressava em escrever algo em seu bloco e estender o bilhete para ela pegar. A garota o apanhou em silêncio, os olhos percorrendo distraidamente o “Desculpa” escrito em letras garrafais enquanto ainda se ocupava com seus próprios pensamentos.

Borboletas invadiam seu estômago e... tinha quase certeza que seu coração falhara uma batida quando ele estava tão perto.

Ela engoliu em seco, rosto assumindo um tom leve de vermelho assim como a cor das flores que adornavam a coroa do garoto à sua frente.

Agora, com esses sentimentos aflorando em seu peito, as coisas estavam definitivamente como eram antes.

2. visita.

A garota segurou o riso ao ver seu amigo de infância olhar incessantemente para os lados, vendo todos os prédios altos e as pessoas andando com uma animação que não lhe era característica.

Essa deveria ser a primeira vez que ele saía da vila Azakawa - e para ir até uma cidade grande, o pobre jovem deveria estar estupefato com aquele contraste. Quer dizer, a pequena vila em que nasceram tinha árvores e árvores e montanhas e umas duas pessoas na rua no máximo; enquanto lá era um oceano de arranha céus, pessoas andando para todos os lados quase te empurrando do caminho e nenhum traço de natureza à vista.

Shiori sorriu para o brilho nas piscinas de ônix dele enquanto tentava assimilar a visão que se passava em frente aos seus olhos, e pensou que poderia chamá-lo para passar um tempo em sua casa mais vezes.

Ele não estava lá para só passear, no entanto. Suga a pedira um favor muito especial num dia de chuva enquanto sentavam no sofá da recepção, um que ela não pudera negar.

E, assim, ela encontrou-se tomando um ônibus junto dele até o cemitério nos arredores da cidade.

O trajeto foi tranquilo, salvo as pequenas perguntas escritas num bloquinho que ela respondia sobre sua rotina naquela selva de prédios. O céu estendia-se num azul intenso por cima das lápides quando chegaram, o sol radiando como uma luz por entre as sombras que invadiam seu peito toda vez que se dirigia ao túmulo de seus pais.

Porém, o garoto esguio de poucas palavras ao seu lado que carregava lírios nas mãos já tinha se tornado sua fonte de luz particular, sua lua cálida e brilhante num céu sem estrelas, então ela não precisava da ajuda de uma bola gigante de fogo para atenuar a dor presente dentro de si mesma.

A garota o guiou com passos calmos até uma lápide grande - tinham sido postos lado a lado, juntos, como seu pai sempre quis que ficassem. Nada além de seus nomes e datas escritas, junto a alguns cravos rosas quase murchos de sua última visita ao cemitério.

- É aqui. - Ela murmurou, vendo quando Koutarou abaixou-se e depositou os lírios, parando por um momento para examinar a lápide. Shiori tentou espiar o que ele estava fazendo para demorar tanto, mas aí ele levantou de novo e ela por um momento esqueceu-se de ver.

- Você está chorando? - A garota murmurou, vendo o traço molhado que riscava uma de suas bochechas. O garoto corou um pouco, limpando o rosto e voltando a olhar brevemente para a lápide.

Depois de alguns segundos, ele começou a falar com sua voz baixa de sempre.

-... Eles vinham ver seu avô, de vez em quando. - O garoto começou, e os olhos dela arregalaram. -... Sempre me falavam de você. Acho que eles se sentiam culpados por ter nos afastado tão bruscamente, mas...

Suga deu uma pausa, seu olhar amolecendo enquanto encarava o túmulo como se fosse um enigma que não sabia como resolver.

- Eles nunca me culparam de nada. Nenhuma só vez, e... - Ele engoliu em seco, - Eu nunca... consegui agradecer por isso.

- Suga-kun... - Shiori o fitou com um brilho suave em seus orbes aveloados, e segurou uma de suas mãos. Ela sabia, depois de ter recobrado as memórias, que ele não tivera realmente uma família depois do acidente com seu pai. Provavelmente, ela e seus parentes teriam servido por um tempo como um substituto para isso.

Mesmo assim, deve ter sido incrivelmente solitário.

Ela sentiu vontade de chorar outra vez, mas não por que estava em frente ao túmulo de seus pais. O peso do tempo que os separara e arrancara suas memórias dele a deixaram com falta de ar, e Shiori desejou por um segundo que aquela mulher da floresta nunca tivesse existido, que ela nunca tivesse saído de Azakawa e que pudesse ter ficado ao lado dele e o apoiado e sido a segunda família de que ele tanto precisara todos esses anos.

Não, pensar assim não adianta de nada. Shiori apertou a mão que segurava levemente. Se eu não pude ser parte da vida dele até agora, é sempre uma boa hora para começar.

- Eles provavelmente sabiam. - Ela sorriu para ele, gentilmente. - E, também, nós acabamos com a maldição da floresta, não é mesmo? Eles devem estar orgulhosos de nós dois.

O garoto arregalou os olhos para ela por um momento, para depois abaixar sua cabeça até que ficassem escondidos por trás de sua franja. A garota sorriu, voltando seus próprios olhos para o chão, sentindo sua garganta se constringir e sua visão borrar por um momento.

Os dois jovens ficaram em silêncio, mãos entrelaçadas e lágrimas caindo silenciosamente. Por agora, estava tudo bem lamentar a perda - se perguntar brevemente o que poderia ter sido. Mas, depois, eles seguiriam em frente com suas vidas. Eles começariam de novo, e ela passaria a se apoiar na pequena família que achara nele e em seus outros amigos daquela pequena vila.

E não o deixaria sozinho de novo, nunca.

O pequeno papel escondido entre os lírios, uma carta pequenina que terminava com a frase “Eu prometo que cuidarei dela”, apenas serviu para fortificar sua resolução.

3. solidão.

Ele sempre fora sozinho, desde criança.

Sua mãe costumava dizer, nas poucas partes claras dos borrões de memória que restavam de seus dois anos, que ele ‘era seu milagre particular’. Koutarou nascera de um parto complicado, com o corpo frágil e magro, e continuara assim pela maior parte de sua infância. E, depois que sua mãe morrera por uma doença um pouco depois, ele fechara-se completamente do mundo, escondendo sua voz e preferindo permanecer sozinho enquanto todas as outras crianças se divertiam juntas.

Não demorou muito até as implicações começarem.

Começou com um “estranho” murmurado por uma garota de marias-chiquinhas num dia no parquinho da vila, e cresceu com o “fraco”, “magricelo”, “chorão”, “covarde” cuspidos das bocas de todas as crianças por quem passava - chegando um dia, enfim, a “sem amigos”.

Suga odiava aquele apelido mais do que todos os outros. Pois ele sabia o que ele era, sabia todos os dias quando via os outros meninos de sua idade trocando socos e correndo por aí enquanto ele preferia assistir de longe, mas o último não era algo que ele queria ser. Ele odiava ficar sozinho, odiava ter de passar os dias recriminando a si mesmo por ter se fechado para os outros.

Foi aí que ela apareceu.

Como a luz do sol iluminando o céu da manhã, Shiori surgira um dia no canteiro de flores que ele costumava ficar em toda sua graça de cinco anos de idade com o rosto sujo e pernas lotadas de arranhões. Ele a conhecia de vista, a única garota que se metia nas brigas dos meninos da vila, mas nunca chegara a vê-la de tão perto.

- O que você tá fazendo? - Ela perguntara, piscando quando o garoto se encolhera de susto e escondia as margaridas que havia colhido por trás de seu corpo pequeno. Koutarou tinha experiência o suficiente para saber que não se devia confiar em crianças daquela vila, principalmente do tipo que se metia em brigas e parecia ser o completo oposto de si mesmo.

- Ei, vamos! Eu não mordo, ok? - A menina insistira, um bico adorável em seus lábios rosados. - Que é isso? - Ela espiara as pétalas brancas por trás dele, e Suga tentara em vão fazê-la não se aproximar e ver o que ele escondia.

- Ah...! - Ele murmurara quando ela finalmente puxou uma de suas mãos, revelando o buquê de flores. Era tarde demais agora, ela provavelmente o chamaria de estranho e sairia rindo e contando para todos da vila que ele estava de novo fazendo isso...

- Então você tá pegando flores? - Seus pensamentos tinham sido interrompidos quando a garota tombara a cabeça para o lado, encarando as margaridas. Sem acidez, sem risadas, nada - só curiosidade. - Ehh... Você não acha muito chato passar o dia inteiro fazendo isso?

O garoto piscara honestamente confuso antes de balançar a cabeça para os lados com timidez.

- Sério? - Ela rira levemente, seu riso soando como sinos tintilando ao invés do som excruciante que ele normalmente ouvia dos outros. E, depois, fizera algo que ele nunca tinha visto antes em toda sua vida, algo que nunca pensaria ver.

Shiori sorrira para ele, rosto reluzente em animação, e perguntara com sua inocência determinada que ele descobriria depois ser característica de si mesma:

- Eu não sei por que você gosta tanto disso, mas, posso brincar com você?

Naquela tarde de quinta feira, ele chegara à conclusão de que Shiori era o sol em si.

A garota tornara-se rapidamente sua outra metade - chamando-o todos os dias, sempre ao seu lado, até agindo como seu escudo. Ela o dava broncas de vez em quando, também; mas ele achava a irritação inocente de sua melhor amiga refrescante em comparação às palavras ríspidas dos outros da vila.

E ele amava; desde aquele fatídico dia no canteiro de flores, desde que ela o protegera de ir até a floresta e o fizera aquela promessa, ele a amava mais do que tudo no mundo.

Mas, é claro, isso não durou para sempre.

A promessa que ela fizera para salvá-lo - a que arrancara não só sua voz, mas também sua melhor amiga de si mesmo naquele dia de chuva fraca - passara a acompanhá-lo todos os dias em sua nova vida. Ele tentara ao máximo compensar pelos seus erros, administrando a casa dela (ou melhor, museu) e se esforçando ao máximo para fazer com que ninguém mais nunca tivesse de passar por isso de novo.

Koutarou passara de fraco a medonho, de estranho a louco, mas ele não se importava mais. A solidão que viria com isso seria para sempre sua compensação por ter tirado o Sol da vida de todos daquela vila. E ele planejava viver assim para o resto de sua vida, a única lembrança de Shiori presente nas pedras que esculpia e fotos escondidas em álbuns de estantes do terceiro piso.

Isso é, até que ela voltou outra vez, linda e radiante como sempre fora, e conseguiu desobedecer todas as ordens que ele desesperadamente a mandara fazer. E ela lembrou-se da promessa, de sua infância, deles dois.

Apesar de saber as consequências para aquilo, ele não pôde evitar as lágrimas que derramou de seus olhos ao ouvi-la chamá-lo de ‘Suga-kun’ outra vez.

Shiori era mesmo o sol; insistente em iluminar tudo à sua volta, mesmo quando a escuridão parecia ser grande o suficiente para engoli-lo de vez para sempre. Ela o dera forças para que ele não salvasse só a ela, mas também a si mesmo.

E, de repente, ele não estava mais sozinho.

4. memos.

Shiori parou em frente à porta, comprimindo o bilhete contra o peito.

Era agora, ela tinha de fazer isso. Ela passaria aquele maldito memo pela fresta da porta e, amanhã, quando Suga acordasse e o lesse, o encararia de frente sem nenhuma vergonha.

A garota suspirou mais uma vez, comprimindo os lábios. Ela abaixou, passando o bilhete pelo buraco entre o chão e a porta e prontamente se levantou, correndo para fora do escritório e em direção ao seu quarto.

Shiori sabia que Suga fora seu primeiro amor - o menino tímido que vivia perto das flores, que guardava sua voz suave só para ela ouvir. As memórias que ela recuperara a lembraram do calor confortável que sentira perto dele, a vontade implacável de protegê-lo.

Ela não esperava, porém, que pudesse ter se apaixonado de novo por ele tão rápido.

Começou lentamente após os acontecimentos da floresta proibida, como o primeiro floco de neve do inverno. Nos toques acidentais enquanto organizavam livros, no rosto vermelho adorável que ele tinha no rosto enquanto tentava chamá-la pelo apelido, na leve nostalgia atrelada a tranquilidade que ela tinha quando estava ao seu lado.

Mas, assim como no inverno, a neve se acumula. E, se você não tomar cuidado, ela vira uma avalanche.

Agora, na segunda visita que fazia à Azakawa, ela não podia evitar que seu pulso acelerasse toda vez que estavam sozinhos num mesmo lugar - que era, para variar, várias vezes - e só vê-lo sorrindo ou agindo normalmente fazia seu coração palpitar inquieto.

E ela sabia que ele mudara desde aquele tempo - o homem que cuidava de sua antiga mansão era bem maior que antes, bem mais forte que antes, mesmo tendo os mesmos costumes de quando criança. Ela também mudara. Mas Shiori nunca tivera uma queda tão grande como aquela em toda sua vida, e já desconfiava saber o motivo.

É como minha mãe dizia, afinal... A garota encontrou-se pensando enquanto subia para o terceiro andar, tendo parado sua correria na metade do caminho. O coração nunca esquece as coisas que tentamos apagar das nossas memórias.

- Eu sempre achei que isso era uma frase de motivação, tipo “aceite sua dor e continue em frente!”, mas... - A garota falou para si mesma, chegando a fazer pose quando citou sua mãe. Depois, seu tom de voz se tornou suave. - Eles... Provavelmente estavam se referindo à minha infância, certo...

Pai, mãe... Ela fechou os olhos, uma das mãos descendo para o colar de pedra brilhante que Suga a presenteara há alguns meses atrás. Vocês não precisam mais se preocupar, ok? Está tudo bem agora...

Eu achei minha casa novamente, afinal. A garota sorriu, olhando brevemente em volta. Mesmo sem sua família ali, ela encontrara pessoas com quem podia confiar - e, bom, aquela vila sempre fora sua casa, de alguma forma.

- Eu me pergunto o que ele vai dizer amanhã... - Shiori falou para si mesma, e sorriu para o chão. - Espero que ele me corresponda...

Girando seus pés para frente, ela retomou o passo em direção ao seu quarto...

...Para parar quando ouviu um barulho alto vindo do primeiro andar.

O que... foi isso? A garota encarou a escada, olhos arregalados comicamente. Seu pulso acelerou e ela sentiu um frio percorrer sua espinha, para depois balançar o rosto para os lados. Não, não, Shiori! Tudo já acabou um ano atrás, não precisa ter medo disso agora!

- Então o que... - Ela murmurou, para depois ouvir outro barulho.

Passos. Passos bem rápidos. Passos bem rápidos que estavam definitivamente subindo a escada do primeiro andar-!

A garota soltou um gritinho, correndo em direção à porta de seu quarto que estava até bem perto no corredor do terceiro andar. Droga, ela não tinha pensado na possibilidade de que ele podia ainda estar acordado!

Ai não, ai não, ai não...! Ela repetia essa frase em loop em sua mente enquanto suas mãos trêmulas giravam a maçaneta e a mesma finalmente abriu a porta, prestes a dar um passo à frente-

- S-SHIORI!

Ah, droga.

A jovem arriscou olhar para o lado, onde um garoto estava apoiado na parede do corredor, ofegante e segurando um papel em uma das mãos. Ele levantou o rosto para encará-la, e foi aí que ela percebeu o vermelho que parecia se espalhar de seu rosto até suas orelhas.

Que... fofo. Ele podia mesmo parar de ser fofo nas piores horas quando ela deveria estar com raiva dele.

Espera- Com raiva de que, mesmo? Fora ela que desistira de falar que gostava dele em voz alta da última vez, então meio que merecia tê-lo ler aquilo antes da hora.

O garoto se aproximou com passos pequenos e rápidos, quase deslizando até ela e parando a alguns passos de distância. Suga abriu a boca, corou mais - sim, isso era possível -,

fechou-a outra vez e por fim começou a gaguejar.

- I-i-isso é... - Ele estendeu o papel na frente do rosto da jovem, olhos arregalados e rosto se assemelhando a um tomate. - Isso é v-verdade...?

Shiori encarou o garoto à sua frente, trêmulo e levemente ofegante só por causa de um mero bilhete que ela escreveu, e todas as duas dúvidas esvaíram-se de seu corpo como mágica. Ele era, realmente...

- Você acha mesmo que eu escreveria uma mentira num bilhete e te entregaria assim? - Apesar de seu tom de voz ter saído meio aborrecido, ela abriu um sorriso largo. - É claro que é.

O garoto congelou outra vez com o rosto surpreso, depois fechando a boca com força. Foi aí que ela viu os indícios de lágrimas se acumulando no canto de seus olhos.

- S-suga-kun, não precisa chorar por isso! - Ela falou, uma risada escapando de seus lábios, mas parou quando ele se moveu rápido demais e dois braços grandes a abraçaram apertado.

Ela piscou para a o tecido preto da camisa dele à sua frente e sentiu seu rosto esquentar, decidindo retribuir o gesto envolvendo-o pela cintura. O garoto a puxou para baixo, e ambos acabaram ajoelhados no chão do corredor do terceiro andar, o corpo esguio dele parecendo se encaixar perfeitamente contra a silhueta pequena dela.

Shiori levantou o rosto do peito do rapaz para tentar achar seus olhos, mas ele aproveitou isso para afundar o seu próprio no pescoço dela. Ela riu, sentindo as lágrimas dele caírem sobre sua pele, e levantou uma das mãos para acariciar seu cabelo.

- Ora, vamos... Não era óbvio? - A garota murmurou, com um sorriso cálido no rosto. - Eu sempre te amei, Suga-kun. Desde o começo.

A garota esperou ele se acalmar - por algum motivo, a última frase dela tinha o feito chorar mais - e virou um pouco seu rosto, tentando olhá-lo de soslaio. Shiori suspirou, envolvendo-o por cima dos ombros com seus braços.

- Sabe... Você ainda não me respondeu. - Ela comentou, sentindo-o enrijecer com isso. - Sobre seus sentimentos, quer dizer.

Ao ouvir silêncio, ela bufou levemente.

- Vamos, Suga-kun, você não pode-

E parou, ao sentir uma das mãos grandes dele subir de encontro ao seu rosto e um papelzinho ser mostrado na frente de seus olhos.

- Ah...! Eu não quis dizer assim! - Ela tentou olhar para ele, mas só conseguia ver as orelhas vermelhas do garoto em contraste com seu cabelo negro. Fazendo bico, voltou-se para o papel e pegou-o com uma das mãos.

Bom, acho que eu mereço uma resposta como essa, não é. Shiori suspirou, sorrindo por fim.

No papel, um ‘eu te amo’ escrito em letra cursiva.

5. pedras.

Ela gostava de observá-lo esculpindo coisas das pedras brilhantes.

O rosto sério e concentrado de Koutarou era um contraste refrescante com o seu tímido e corado que via todos os dias, e a lembrava da vez há anos atrás em que quase perderam suas vidas naquela floresta. Era algo raro de se ver, e ela sabia estimar aqueles pequenos momentos.

Shiori fora pega de surpresa, porém, no dia em que ele não ficara aborrecido por ela ter tentado espiar o que ele estava fazendo antes de ficar pronto. Ao invés disso, o mesmo tinha corado - adoravelmente, como sempre - e levantado em silêncio para procurar algo numa das caixinhas da escrivaninha.

- O que foi, Suga-kun? - Ela perguntara com curiosidade estampada em seus olhos castanhos, observando enquanto ele alternava seu peso entre os pés em nervosismo.

O jovem olhara para ela por um momento, antes de engolir em seco e estender algo na altura de seus olhos.

Era um anel completamente feito de pedra brilhante.

Não é como se ele já não tivesse feito coisas para ela antes - um colar em forma de gota, uma pulseira de pequenas pedras que suas amigas de faculdade morreram de inveja ao ver - mas nada assim.

Aquele anel era... único, para resumir em uma palavra. Olhar para ele fazia seu coração apetar quase que dolorosamente e faíscas dançarem por sua pele, e a garota de repente sentiu vontade de chorar - o que era incrivelmente irônico, visto que ele era o que normalmente fazia isso sem mais nem menos.

Mas, de frente ao olhar tímido do garoto à sua frente que se tornara a pessoa mais importante de sua vida, ela não chorou. Não, como dissera, isso era algo que ele costumava fazer.

Ela pulou em cima dele, derrubando-os no chão de madeira, e passou a repetir um amontoado de “sim”s até que ele começou a derramar lágrimas e mais lágrimas e ela teve de parar de beijar seu rosto para esperá-lo se acalmar um pouco.

E ela nunca esteve tão feliz em toda sua vida.

extra. nomes.

Foi enquanto estavam debaixo de cobertas no quarto dele num dia de chuva. Ele distribuía beijos leves e desleixados pela extensão de seu pescoço e a garota estava prestes a soltar um suspiro de felicidade quando o ouviu murmurar seu nome baixinho, seus lábios se movendo contra sua pele.

De repente, ela percebeu uma coisa.

- Eu nunca te chamei pelo nome, não é mesmo? - Ela murmurou mais para si mesma do que para ele, mas o garoto afastou-se o suficiente dela para encará-la em confusão. Shiori corou um pouco com o cabelo meio bagunçado do mesmo, que ela mesma bagunçara momentos antes, seu coração acelerando novamente com a visão adorável que via. Depois, ela tossiu, voltando a se concentrar.

- Pelo primeiro nome, quer dizer. - Com isso, o garoto ficou com o rosto colorido de vermelho, abrindo a boca em surpresa. Ela viu seu silêncio como uma brecha para continuar falando. - Eu sempre te chamei de Suga-kun, mas você me chama de Shii-chan ou Shiori quase sempre agora. É um pouco estranho.

Ele franziu a testa levemente, parecendo não concordar muito com isso, e ela riu.

- Não, eu sei que você não se importa com isso, mas... - A garota sentiu seu rosto esquentar mais. - Nós somos próximos o suficiente há algum tempo, e... Eu gosto do seu nome.

O garoto corou mais, piscando umas cinco vezes seguidas. Shiori levantou uma das mãos para tocá-lo levemente na bochecha, acariciando-a.

- Koutarou. - Ela sussurrou, e aumentou seu sorriso ao vê-lo ficar ainda mais vermelho. -... Kou-kun. Hm, não, acho que só Koutarou é melhor.

Ele estava com o rosto se assemelhando a um tomate agora, e Shiori teve de se controlar para não rir. Com um sorriso malicioso, ela continuou, não percebendo a boca comprimida do garoto por cima dela nem o rosto dele que se aproximava cada vez mais.

- O que você me diz, Koutaro-!

Sua pergunta foi engolida pelos lábios dele, urgentes por cima dos seus diferentemente dos beijos tímidos que ele normalmente começava. A garota sentiu um choque de eletricidade percorrer os fios de seu cabelo até a ponta de seus pés com a mudança repentina, mas foi rápida para puxá-lo mais para perto e deslizar uma mão por entre as mechas negras de sua cabeça.

Ele não se afastou dela de uma vez - dando mais beijos curtos e distanciando seus lábios quase que relutantemente dos dela - e deixou a jovem ofegante e extremamente confusa enquanto olhava para o rosto do garoto escondido parcialmente por sua franja.

- ...Desculpa. Eu não... - Ele sussurrou depois de uns segundos, voz rouca, e ela sentiu os fios de cabelo de sua nuca se arrepiarem. Ah, isso era algo que ela não via todo dia. Para ele reagir desse jeito por uma coisa tão simples...

- Não tem problema, Suga-kun. - Shiori respondeu, seu sorriso doce escondendo o brilho traiçoeiro de seus olhos castanhos.

Tinha acabado de descobrir algo muito interessante.


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Notas finais do capítulo

Eu sinto que poetizei um pouco demais nesses drabbles, mas eles são da época em que eu tinha acabado de jogar fodr e tava morrendo por alguma coisa desses dois então é, eu meio que me entendo. Também não me culpo pelo extra, se alguém quer saber :v

Bom, espero que vocês tenham gostado! Caso eu necessite provar meu amor por esse ship em palavras outra vez, aparecerei pela tag!

Até mais~