O Máscara escrita por MileFer


Capítulo 23
O Preço




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Rafael acordou com um sobressalto.

Sua pele estava molhada de suor e seus olhos cegos.

Não havia vozes, não havia sangue, não havia Celine e muito menos Adélia o atormentando. Teve apenas um pesadelo.

Ele tocou o próprio peito, bem onde havia sido atingido. Tentou se levantar, mas a dor que sentiu foi forte o suficiente para arrancar dele um murmúrio de dor.

Depois de respirar fundo, ele conseguiu arrastar-se para fora da cama, tendo que se apoiar na mesma para não cair quando sua visão ficou turva e sua cabeça explodia em uma dor excruciante.

Um passo depois e Rafael estava no chão, ralhando por causa da dor em seu peito.

Parecia que seu coração estava diminuindo, apertando-se em seu peito, batendo cada vez mais rápido com o esforço, queimando.

Ele tentou gritar, mas sua voz saía rouca e baixa demais - embora fosse inútil, já que Fordy e mais ninguém poderia ouvi-lo.

Estava morrendo. Podia sentir. A dor era tão insuportável que Rafael desejou morrer, um tanto ansioso para que aquilo acabasse de uma vez.

Ele não conseguia pensar direito, não conseguia levantar-se ou arrastar-se até sua cabeceira, para alcançar o telefone e ligar para Fordy. Seu peito doía tanto que todos os seus outros membros paralisaram-se, nem mesmo sua voz parecia sair de sua garganta.

Iria morrer sozinho?

Rafael aceitou o próprio destino cedo demais, fechando os olhos e deixando que a dor tomasse sua respiração.

Quando fechou os olhos, sua mente foi expandida em um turbilhão de imagens e lembranças. Parecia que sua vida estava passando diante dos seus olhos, tão rápida que as imagens apareciam borradas, de modo que era quase impossível registrar apenas uma coisa.

Era um inferno. Aquela dor queimava-o de dentro para fora, como se seu coração houvesse explodido. Tudo em seu corpo parecia reagir de forma independente, como se cada membro seu quisesse fugir daquela dor. Mas Rafael tentou a todo custo manter-se consciente, lutando para manter os pensamentos em ordem – mesmo que aquilo parecesse intensificar a dor.

Ele tentou se concentrar no que sua mente queria lhe mostrar, acumulando suas energias nas imagens sem sentido que seu cérebro agora trabalhava para processar. 

A primeira coisa que viu foi uma cena de Adam ao seu lado, encarando-o com um olhar diferente. Percebeu rapidamente que o ambiente era também diferente do seu quarto. O lugar parecia irradiar luz, com alguns pontos azuis nos cantos.

Era um dos hospitais que seu pai costumava levá-lo para examiná-lo. Devia ter acabado de sair de algum laboratório, pois tinham agulhas em seus braços, despejando ali dentro um liquido transparente. Pelo olhar carrancudo de Adam, devia ter sido a ultima vez em que visitaram o lugar. Provavelmente fora logo depois de receber as más noticias.

Rafael fechou os olhos, gemendo para não gritar alto, enquanto agarrava o peito com força, na esperança de controlar a dor.

Vasculhou fundo em sua mente, procurando alguma lembrança boa para despedir-se. Para sua tristeza, não tinha nenhuma. Mas lembrou-se de Celine, da primeira vez em que a vira. A lembrança não era exatamente feliz, mas fazia-o se sentir... menos pesado. Estava diferente da garota que Rafael conhecera mais tarde, quando ambos foram de fato apresentados. Aquilo o fez se lembrar do pesadelo que teve e que resultou naquilo tudo.

Não lhe parecia digno morrer daquela forma – gritando, jogado no chão e cheio de lembranças ruins. Não havia outra forma, claro. Havia fracassado em vida; o que poderia esperar na morte?

Ele gritou.

Não agüentava mais aquilo. Era uma tortura para os seus sentidos e todo o resto. É claro que a morte não perdoava ninguém, e aquele era o seu preço. Mas Rafael não esperava sofrer tanto no processo.

Sua mente entrou em colapso novamente, trazendo-lhe as mais simples lembranças. Desta vez, viu Adélia, encarando-o com um olhar intenso, investigando-o.

A julgar pela surpresa em sua expressão, Rafael foi levado de volta para a primeira noite em que se viram. Embora enganosa, sua lembrança o levou até o momento em que ela o tocara, impedindo-o de partir. O motivo havia sido outro no momento, mas agora Rafael sentiu-o de outra maneira. Estava delirando, obviamente, mas em meio aquela dor insuportável ele a imaginou interceptando-o agora, tocando seu peito dolorido e o encarando com seus olhos claros e bonitos, impedindo-o de partir. Rafael queria que Adélia o salvasse, que aliviasse sua dor.

Estava sem forças, mas a pouca que lhe restou usou para se agarrar aquele delírio. Queria vê-la, subitamente. Talvez estivesse desesperado demais. Mas seu corpo pareceu aceitar aquela loucura de bom grado. Toda a euforia que antes o atacou pareceu responder ao seu desejo, pois ficava mais sonolento na medida em que a dor em seu peito ia desaparecendo, enquanto seus olhos ficavam mais embaçados, e suas pálpebras mais pesadas.

Estava cansado de lutar quando Adélia se aproximou dele, abraçando-o. Estava cansado demais para se afastar, para falar, para respirar. Apenas deixou que seu corpo respondesse como quisesse aquele ato gentil, em uma despedida dolorosamente doce.  


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