A Bailarina Manchada De Sangue escrita por Sweet Girl


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Não estou incentivando ninguém a fazer o que a personagem faz nem nada do tipo, tudo aqui é ficção, cada um faz o que quer.
Boa leitura!



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Louise sempre fora vista pela família como uma garota com a vida perfeita: bonita, magra, talentosa, sem preocupações com nada. Eles estavam errados, mal sabiam que por baixo daquele collant e daquele tutu se escondia uma garota quase esquelética, triste e cheia de problemas no colégio.

Todos achavam que Louise era bailarina porque gostava de dançar e de se apresentar, estavam errados mais uma vez. A garota havia sim desenvolvido uma paixão pela arte, mas isso foi só depois de um tempo, o verdadeiro motivo de ter começado a frequentar aquela academia de ballet foi o desejo insano de emagrecer, ela queria emagrecer de qualquer jeito, de qualquer jeito que fosse rápido. Por isso buscou métodos na internet, encontrou vários sites interessantes, porém se interessou pelos piores. Eles eram rígidos, exigiam que o leitor comesse poucas calorias e fizesse exercícios, quanto mais, melhor, então Louise encontrou o ballet, como era o sonho de sua mãe que ela se tornasse bailarina, foi uma ótima escolha.

Aos poucos a garota foi parando de comer e dançando, assim emagreceu rapidamente e não queria parar, passou a amar a dança e a sensação de leveza que era trazida ao seu corpo. A causa disso era os julgamentos. A família e os colegas de classe sempre julgaram a pobre Louise, por ela ser “cheinha” e não magra como as outras meninas de sua idade, então a mesma resolveu mudar, até ela começou a se julgar e achou que tinha encontrado a solução para seus problemas: seria perfeita como as garotas de seu colégio. E como chegaria a essa perfeição? Emagrecendo o máximo que pudesse. Era apenas o que ela pensava, não estava certa.

Agora no colégio era julgada por ser magra demais, ela não entendia, afinal não era isso que eles queriam? Que ela fosse magra? A mesma não enxergava as mudanças em seu corpo e por isso continuava com seus hábitos, nunca estava boa o suficiente. Em casa a magreza passava despercebida pelas roupas largas ou então de dança, que todos acreditavam ser o motivo do emagrecimento da menina, nunca desconfiaram de nada, ou se desconfiaram preferiram ignorar, afinal emagrecer dessa forma era apenas uma moda entre as adolescentes, que mal tinha?

Com seus 15 anos e seus poucos quilos, Louise foi mais uma vez até a academia de dança. Faria um teste importantíssimo e sua mãe estava na expectativa, queria muito que a filha ganhasse o papel, seria um sonho realizado. A morena também queria o papel, havia desenvolvido um amor indescritível pela dança e era nela que se refugiava quando tinha dias ruins.

Logo chegou a academia e foi recebida com indagações.

— Lou! O que aconteceu? Está doente? – Perguntou Megan, sua única amiga, que fazia aulas na mesma academia que ela.

— Não, claro que não Meg, por que acha isso? – Respondeu-a com outra pergunta, queria fugir do assunto mas ao mesmo tempo queria saber o motivo daquela pergunta para disfarçar melhor.

— Está tão pálida, Lou, e parece fraca. – Megan tinha razão, Louise não comia há dias e isso estava acabando com ela. A garota estava fraca e sua pele morena estava mais clara, seus lábios estavam apagados e seus olhos fundos, precisava comer ou passar uma maquiagem.

— Credo Meg, eu estou bem, falando assim parece que estou morta.

— Mas é sério, está meio pálida.

— É impressão sua, talvez seja porque não passei maquiagem hoje.

— Se você diz, tudo bem. Mas se quiser conversar sobre isso...

— Chega Megan, já disse que estou bem! – Exclamou nervosa.

— Ok então, só queria ajudar, ingrata! – Louise bufou, odiava brigar com a amiga, ainda mais por esse motivo. Mas sempre acontecia, Megan a estressava. Seguiu para a sala onde aconteceria o teste batendo os pés, deixando sua amiga loira sozinha.

A professora já esperava pelas alunas que se apresentariam naquele dia. Louise estava nervosa, suas pernas tremiam e não sabia exatamente o que estava acontecendo, sabia que não era apenas nervosismo.

— Louise, querida, pode se apresentar. – A professora disse, com sua voz doce.

— Mas as outras ainda não chegaram.

— Vocês vão se apresentar separadamente, e como você já está aqui pode começar.

— Mas... Mas... – Ela não se sentia preparada, como dançaria com suas pernas tremendo?

— Vamos, querida. Sua mãe disse que você andou ensaiando muito e estou ansiosa para ver. – Ela assentiu e subiu no palco, a música então começou a tocar e ela a dançar, porém no momento mais importante, na hora de dar a sua pirueta no auge da canção, suas pernas falharam e ela caiu. — Oh não, Louise! O que houve? – A professora levantou-se rapidamente de sua cadeira e foi ajudar a menina a se levantar, mas a mesma estava desmaiada. Buscou ajuda e ligou para a senhora Spark quando estavam a caminho do hospital, já que Louise não acordava de forma alguma. Senhora Spark, mãe da garota se desesperou, ela sempre foi exagerada porém agora tinha um motivo, saiu de seu serviço e foi para o hospital rapidamente.

Louise logo foi atendida, já que não sabiam o motivo do desmaio e em seguida o doutor chamou sua mãe para conversar e dar o diagnóstico.

— Receio que já tenha desconfiado de algo, senhora Spark. – O doutor disse, encarando a mulher sentada a sua frente.

— Desconfiado de algo? Do que eu deveria desconfiar? – A mulher ficou confusa, o que estava acontecendo ali?

— A sua filha está doente, achei que tivesse percebido alguma mudança nela. – Ele explicou o que pensava ser óbvio.

— DOENTE? – Ela gritou, desesperada. — O que eu deveria ter percebido? O que Louise tem?

— A magreza extrema, a preocupação, os cortes escondidos... – O doutor começou a listar os problemas de Louise.

— Ela é magra porque dança. Louise não tem preocupações na vida, e... O QUE? CORTES? – Só aí a mulher se deu conta do que estava falando.

— Sua filha não é magra porque dança, ela ultrapassa a magreza das dançarinas. A senhora pode não ter percebido, mas ela tem preocupações, todos nós temos, talvez ela tenha até mais que nós dois. E sim, cortes, eu percebi que Louise se automutila, ela tem várias cicatrizes nas pernas.

— Co- como assim? Eu não posso ter uma filha louca, NÃO POSSO! – Ela gritou precipitada.

— Louise não é louca, senhora Spark. Ela só precisa de ajuda e melhorará, ela está doente. – O doutor tentou acalmá-la.

— Além de louca ainda está doente, você ainda não me disse o que ela tem. – Ela rebateu estressada.

— Louise tem anorexia. Esse é o diagnóstico dela: anorexia nervosa.

— O QUE?

— Sim, senhora. Louise tem anorexia e o quadro dela já está bem avançado, precisamos iniciar um tratamento logo, antes que seja tarde demais.

— Minha filha não tem isso, esse diagnóstico está errado!

— Não, senhora, o diagnóstico está certíssimo e ela precisava se tratar.

— NÃO! ISSO NÃO É UMA DOENÇA, É UMA BOBAGEM! ELA SÓ QUER CHAMAR ATENÇÃO!

— Ninguém fica doente para chamar atenção, anorexia mata.

— Não me interessa, a minha filha não tem isso, ela está bem assim.

— A senhora tem certeza? A menina está fraca, está magra, ela vai morrer se continuar assim.

— ELA ESTÁ LINDA, NÃO ESTÁ DOENTE!

— Tenho que pedir para a senhora parar de gritar, estamos em um hospital e eu só quero conversar.

— Então o senhor pare de dizer que minha filha está doente, ela não está!

— Senhora, por favor...

— Eu já disse que ela está bem assim, está linda, está maravilhosa!

— Então talvez quem precise se tratar seja você.

— O QUE?

— Se a senhora acha bonito que a sua filha esteja doente, talvez precise de um médico.

— Eu não vou ficar aqui ouvindo bobagens de um doutorzinho como você, com licença! – E ela saiu do consultório, batendo a porta.

Alguns minutos depois Louise acordou, a professora já havia ido embora e sua mãe a tirou do hospital contra a vontade do médico.

— O que aconteceu, Louise? – Ela perguntou, após chegarem em casa.

— Eu não sei, mãe. Só me lembro de ter chegado na academia e começado a me apresentar, depois disso acordei no hospital.

— Então você não terminou de se apresentar, Louise? – A mãe perguntou brava.

— Não, mamãe, acho que desmaiei antes.

— EU NÃO ACREDITO! VOCÊ NÃO FAZ NADA DA VIDA PARA PODER DANÇAR E QUANDO TEM UMA OPORTUNIDADE DESSAS NÃO FAZ O TESTE?!

— Não foi culpa minha, mãe, eu não queria ter desmaiado.

— MAS DESMAIOU! NÃO PODIA TER TERMINADO DE SE APRESENTAR PRIMEIRO? ERA IMPORTANTE!

— E VOCÊ ACHA QUE EU ESCOLHI DESMAIAR? EU SEI QUE ERA IMPORTANTE, EU QUERIA TER PASSADO NO TESTE, EU QUERIA CONSEGUIR FAZER ALGUMA COISA CERTA!

— MAS NÃO FEZ! VOCÊ NUNCA FAZ NADA CERTO, LOUISE, SÓ SERVE PARA ME TRAZER GASTOS, EU NÃO TE CRIO PARA SER UMA FRACASSADA.

— Só isso que você quer dizer? Só esses elogios? Eu já sei de tudo isso, mãe, obrigada. Licença, eu vou pro meu quarto. – A garota disse, com algumas lágrimas rolando por suas bochechas enquanto caminhava até a escada. Ela já se sentia péssima, depois de ouvir aquilo tudo de sua mãe as coisas só pioraram.

— LOUISE, VOLTA AQUI, EU AINDA NÃO ACABEI! – Sua mãe continuava a gritar, como se a mesma estivesse a quilômetros de distância.

— PARA DE GRITAR, CARAMBA, EU ESTOU BEM AQUI! – Ela se virou com raiva.

— Além de fracassada e doente é malcriada? Olha o jeito que fala comigo, garota, eu sou sua mãe!

— Depois de ter dito isso tudo pode ter certeza que não é mais, eu sinto ódio de você, ÓDIO!

— E você acha que eu gosto de ter uma filha doente e louca? Doente e louca não, na verdade você só quer chamar atenção.

— O que?

— Isso mesmo, você só quer chamar atenção. O médico me disse que você corta as pernas e tem anorexia, isso é tão feio, filinha, não precisa fazer isso para ter atenção, você é talentosa.

— Anorexia?

— Sim, querida, mas eu sei que não é verdade.

— VOCÊ ACHA MESMO QUE ISSO É PRA CHAMAR ATENÇÃO? ISSO É UMA DOENÇA, MÃE! OS DOIS SÃO UMA DOENÇA, BELEZA E TALENTO NÃO SÃO TUDO NA VIDA, AS PESSOAS TEM PROBLEMAS QUE AS LEVAM A ISSO!

- Ah, claro, e quais são os problemas que você tem? É SÓ UMA GAROTA MIMADA QUE TEM TUDO O QUE QUER, NÃO TEM PROBLEMA ALGUM!

— SE VOCÊ ACOMPANHASSE A MINHA VIDA E NÃO SÓ ME MIMASSE SABERIA DOS MEUS PROBLEMAS.

— DEIXE DE SER INGRATA, GAROTA, O QUE SERIA DE VOCÊ SEM MIM?

— MUITA COISA, EU PREFERIA MIL VEZES MORAR COM O PAPAI!

— AÉ? ENTÃO VAI, VAI MORAR COM ELE.

— É ISSO MESMO QUE EU VOU FAZER, TCHAU! – E então subiu as escadas, chorando descontroladamente.

— VÁ MESMO, IMPRESTÁVEL! NÃO SEI O QUE CONTINUA FAZENDO AQUI, EU NÃO TE QUERO MAIS, NUNCA QUIS. – Louise a ignorou e continuou subindo até seu quarto. As lágrimas desciam de forma descontrolada por seu rosto, ela não podia acreditar que sua mãe havia lhe dito tudo aquilo, aliás, aquela era a mãe dela? Ela não a reconhecia, ela não reconhecia nem ela mesma depois de ter dito tudo aquilo, finalmente havia reagido.

Anorexia? Louise sabia que o que fazia não era certo, mas não imaginava que havia ido tão longe assim, devia ter percebido que era hora de parar, devia ter percebido como estava, devia estar terrível, feia e magrela, mas como pararia agora? Parecia não ter como parar, ela estava fraca e deprimida, estava doente e pelo visto não tinha como melhorar.

Sua mãe estava certa, ela era uma fracassada, não servia para nada, nem para perceber que estava doente ou para passar em um teste que estava se preparando há muito tempo. O que ela estava fazendo ali? Se não prestava para nada, se sua mãe não a queria, se não passou no teste e se estava morrendo por que continuava ali? Não merecia mais viver, não queria mais viver, não suportava mais aquilo tudo. O bullying, sua mãe a maltratando, ela mesma a maltratando, não podia mais suportar, então tomou uma decisão.

Louise caminhou até sua penteadeira e pegou uma caixinha que se encontrava em cima da mesma. A abriu e encontrou tudo o que precisaria ali dentro: remédios, lâminas, cacos de vidro e mais alguns objetos cortantes.

Foi até seu armário e pegou a roupa que sua mãe havia comprado para a apresentação. Parou na frente do espelho e arrumou seu coque, em seguida trocou a roupa, vestiu aquela que deveria usar se passasse no teste.

Caminhou até a janela de seu quarto e sentou-se no parapeito, o céu já estava escurecendo e a lua começando a aparecer. Despejou os remédios em sua mão e engoliu todos eles em seco, desceram machucando sua garganta mas ela não se importou.

Observou mais uma vez o céu e em seguida olhou para baixo, não havia ninguém por ali naquela hora. Voltou a olhar para a caixinha e escolheu o que usaria, sua lâmina favorita, a que considerava melhor. A pegou e começou a fazer leves cortes em seu pulso, eles arderam mas não estavam adiantando muita coisa, a dor interior continuava lá, então Louise começou a aprofundar mais a lâmina e encontrou uma veia pulsante, sorriu com aquilo e então cortou em cima dela, soltando um grito agudo ao fazer isso.

O sangue escorria incontrolavelmente, como se pedisse para ser estancado e Louise sorri a como se fosse uma psicopata enquanto observava. A dor foi sumindo e sua força também, ela já não sentia mais nada, apenas uma calma que não tinha há algum tempo, sua visão embaçou e a última coisa que ouviu foi o baque de uma porta, se jogou do parapeito pouco antes de seus olhos fecharem e sua mãe gritar, ela chegou tarde demais, a única coisa que encontrou foi uma bailarina manchada de sangue, Louise já não existia mais.


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