O sol nascia no horizonte, iluminando o mundo mais uma vez. O seu calor aquecia meu corpo, que estava encostado no Pip. Wei ainda estava comigo, apesar de eu não saber o motivo.

Tudo aconteceu muito rápido ontem. Mundo espiritual, Iroh, Wei, Nazai... como isso foi acontecer? Quem era aquele homem, e o que ele queria? Como era de se esperar, o mundo continua cheio de perguntas sem respostas.

Olho para o lado e vejo Wei abrindo os olhos. Seus olhos eram intensos, típicos de alguém vindo da Nação do Fogo. Wei levantou-se, espreguiçou-se, e olhou para mim, como se me analisasse. Em seguida, perguntou:

– Você está melhor?

– Acho que sim. – Suspirei – Não consegui dormir.

Depois da visão com os dois últimos Avatares, passei a noite em claro tentando entender tudo aquilo. Foi a noite mais longa de toda a minha vida.

– Me desculpa por ter te tirado do seu amigo, mas o Templo estava desmoronando e... – Wei dizia com um olhar triste.

– Não sei preocupe, eu sei que você quis apenas ajudar. – Forcei um sorriso. – Eu não quero ser rude, mas eu ainda estou tentando entender o porquê de você estar me ajudando, você nem ao menos me conhece. Você não tem um lar, ou algum lugar para voltar?

Wei me encarou por alguns instantes antes de abaixar a cabeça.

– Eu vivo por aí, sabe, desde que eu descobri meu poder de dominação, passei minha vida aperfeiçoando-a através de lutas ilegais. Nunca tive um mestre. Meu lar são os ringues.

– Isso é bem... surpreendente. Tenho que concordar que você domina muito bem o fogo. Porém você não me respondeu o porquê de continuar me ajudando.

Ela levantou e passou a olhar para o horizonte.

– Eu não consigo ficar parada quando alguém precisa da minha ajuda, às vezes considero isso como um ponto fraco meu, porque é como se eu não conseguisse dizer “não” para ninguém. – Ela riu.

Era fácil perceber que ela não estava mentindo. Wei estava falando com o coração.

– Se é assim, não vou reclamar, certo? Afinal, só tenho a agradecer por tudo que você tem feito por mim. Acredito que você queira uma carona de volta para a cidade?

Wei me olhou, confusa.

– Eu pensei que iríamos para o Polo Sul?

Ela quer ir comigo?

– Eu não tenho nada para fazer em Zion, então pensei em ir com você, sabe, desvendar toda essa parada de Avatar, e tudo mais.

– Como você sabe sobre essa história do Avatar?! – Perguntei, recuando devido à surpresa.

– Não sei se você lembra, mas eu estava lá no Templo com você e o seu amigo. Logo eu ouvi a conversa de vocês sobre o Avatar, e pelo que você disse, você é o Avatar.

Não tenho mais como negar, não posso mais continuar me enganando. Eu sou a Avatar, até mesmo Korra e Soushiro me confirmaram isso. Eles eram os verdadeiros, não eram ilusões.

Toda minha realidade irá mudar a partir da decisão que eu fizer agora. Eu posso ignorar isso e tentar seguir a minha vida, ou aceitar o inacreditável, e assim trazer o equilíbrio que foi roubado do mundo.

– Sim, Wei. Eu sou a Avatar.

*

– Certo, Yuuki, vamos começar! Você precisa respirar fundo, concentre-se.

– Tudo bem... – Inspirei e expirei o ar.

Ainda estávamos no mesmo lugar da noite passada. Após eu ter explicado toda a história para Wei, ela mesma se ofereceu como mestre da dominação do fogo.

Mesmo sem nunca ter conseguido fazer uma faísca, preciso tentar.

– Lembre-se que a dominação de fogo depende muito da sua respiração, qualquer deslize pode alterar drasticamente o resultado final. Vamos lá, tente fazer isso – uma chama acendeu na palma da mão dela – aqui.

A chama dançava na mão dela, com um charme irresistível. Era como se ela me chamasse.

– Certo, vou tentar.

Inspirei mais uma vez, e então concentrei meu chi na palma da minha mão. Pude sentir o chi fluindo até o ponto desejado, mas nada acontecia.

– Não funciona, eu sinto o meu chi fluindo, mas ele não se manifesta. Eu desisto, eu nem sei se sou realmente a Avatar! Não faz sentido eu continuar com isso. Passei a maior parte da minha infância tentando aprender a dominar o fogo e nunca funcionou.

– Você é muito negativa... é por isso que esse tal de Vaatu te bloqueia. Se você pensasse positivo, e perdesse o medo de tentar, conseguiria fazer qualquer coisa, tipo isso aqui.

Fazendo movimentos que pareciam com uma dança, Wei lançava fogo para o ar, formando um desenho. Era um dragão.

– Incrível, não é? Olha esse.

Com mais movimentos, um novo desenho formava-se no céu. Na verdade, era uma frase.

– “Pare de reclamar e tente outra vez”? Você não entende, Wei. Eu já tento a minha vida inteira, e-

De repente sinto uma dor forte no peito, falta de ar. É difícil de respirar.

– Ei! Yuuki, você está bem? – Wei veio correndo até mim, me segurando em seus braços para eu não cair no chão. – Ei! Yuuki! Yu...

Minha consciência está se esvaindo, é como se eu estivesse... morrendo?

– Você não está morrendo, eu só precisava que você desmaiasse para que ficássemos à sós.

Uma voz sinistra chegava aos meus ouvidos, ela carregava um ódio imensurável. Está tudo escuro, não dá para enxergar nada.

Só existe um ser assim: Vaatu.

– O que você quer, Vaatu?

– Não se preocupe, só quero agradecer a você por me tornar mais forte. Faz bastante tempo desde a última vez em que estive tão poderoso. Hahaha!

Maldito, ele está caçoando de mim.

– Onde você está? Eu vou acabar com você aqui e agora! – A raiva tomava conta de mim.

– Isso! Sim! Fique mais raivosa, e me faça mais forte!

Subitamente uma minúscula partícula de luz surgiu na frente dos meus olhos, e passou a rodear minha cabeça. A mesma partícula falou:

– Você precisa se acalmar. Se você ficar com raiva, medo ou qualquer outro sentimento ruim, Vaatu continuará ficando mais forte...

A luz continuava a me rodear, seu movimento me hipnotizava e me deixava mais calma. Aquilo que me rodeava era a esperança, a minha coragem, a minha paz, o meu equilíbrio; era a minha luz, era a Raava.

Sentei em meio à toda a escuridão que me rodeava, fechei meus olhos e comecei a me livrar de todos os pensamentos ruins. Eu me sentia mais leve a cada minuto que se passava.

– Você acha que ficar parada aqui, no meu domínio irá lhe ajudar? Irei fazer o que devia ter feito há tempos!

A escuridão tomou a forma de tentáculos, os quais vieram na minha direção.

– Esse não é o seu domínio Vaatu, isso é a minha mente, é o meu corpo!

Ao afirmar isso, senti uma força descomunal tomar conta de mim. A luz que antes era uma mísera partícula tornou-se um brilho intenso, que engolia toda e qualquer escuridão.

– Argh!!

Era possível sentir a dor que Vaatu sentia. O desgosto que ele sentia.

– Isso! Estamos controlando a sua escuridão, Yuuki!

Vaatu diminuía de tamanho, e Raava, que antes era uma mísera partícula, tornou-se um enorme corpo luminoso.

– Você não irá mais bloquear a minha conexão com ela, Vaatu.

Raava enrolou-se em Vaatu e, como se fosse mágica, a entidade maligna sumiu. Minha mente agora estava em paz, e eu me sentia uma outra pessoa.

– Eu consigo sentir. Eu sinto o fogo queimar dentro de mim; O ar me rodear; A água me trazer a vida; A terra me proteger. E.… eu sinto você, Raava. – Sorri.

Sim, agora eu sinto a luz dentro de mim.

– Nossa conexão foi finalmente refeita, e agora você poderá dominar os quatro elementos. Entretanto, tome cuidado, Yuuki, se você cair em desespero, deixar o medo tomar conta de você, eu não conseguirei conter Vaatu, e ele tentará escapar. Se ele escapar... o mundo perderá mais um Avatar, e temo que não existirá outro para continuar o legado. Agora você precisa voltar, Yuuki. Seu mundo acaba de mudar, queira você ou não.

Ao dizer isso, Raava desapareceu, e tudo ficou escuro por alguns instantes.

[...]

Abri meus olhos lentamente, e a primeira coisa que vi foi o rosto da Wei. Sua preocupação era aparente. Quando me dei conta, percebi que estava em seus braços. Wei exclamou enquanto me abraçava:

– Você desmaiou de repente, e-e daí você... seus olhos começaram a brilhar e...

– Se acalma e explica direito, não dá para entender nada do que você está falando. – Disse a ela enquanto tentava me levantar.

Wei me ajudou a levantar e em seguida, respirou fundo. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, levantei a mão em direção a ela, como se pedisse para ela não falar.

Por que? Simples.

Tudo em nossa volta estava destruído. A terra estava desregulada, como se algum dobrador de terra tivesse lutado ali. Em outra parte, havia grama queimada. Entre as pedras, água escorria.

– Eu... fiz isso? – Perguntei, surpresa, porém alegre.

Wei olhou para mim e apenas acenou com a cabeça, confirmando.

– Wei.

– O que foi, Yuuki.

O mundo entrará em uma nova era de paz, e quem a trará será eu porquê...

– Eu sou a Avatar!