A Pianista escrita por Ice Queen


Capítulo 1
Capítulo Unico


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos! Bem, espero que gostem desse pequeno conto que criei num momento de tédio, baseado em uma lenda que uma amiga me contou- Apesar de eu não me recordar de onde ela a tirou.



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Für Elise- Beethoven

Numa sala empoeirada repousa um singelo piano, anteriormente lustroso mas agora coberto por uma grossa camada de poeira. Nada além do velho instrumento repousa naquela sala esquecida por todos, evitada por qualquer ser com o mínimo de senso de perigo. Mas o piano não é realmente a única coisa naquela sala, apesar de sua fiel companheira não ser mais do nosso mundo.

A suave melodia nunca para. A pianista sentada em seu instrumento nunca para de repetir a mesma melodia melancólica, seus dedos pressionando as teclas com suavidade, sua cabeça abaixada com os longos cabelos cor de ébano encobrindo seu rosto, ombros curvados e vestido formal alvo como neve. A pianista sozinha em sua sala sem ser incomodada por mais ninguém está presa nessas ações pela eternidade, afinal o que mais pode ela fazer? As janelas da sala que antes permaneciam sempre abertas hoje repousam lacradas lançando o aposento nas sombras, as lâmpadas á muito foram quebradas e seus cacos ainda repousam sobre o chão num tapete de vidro, a única iluminação provém da introspectiva pianista, uma figura levemente translúcida emitindo um brilho frio e pálido destacando-se nas sombras do aposento entregue á escuridão.

Se alguém por algum motivo ousar se aproximar da sala poderá facilmente escutar a melodia interrupta e será acometido por um desejo avassalador de adentrar aquele cômodo e ver com seus próprios olhos quem produz tal melodia angelical e realmente muitos costumavam cruzar aquela porta e se deparar com a solitária pianista. Nenhum deles nunca retornou. Ao passar por aquelas portas eles se condenam á um destino sombrio do qual não tinham ideia ou nada fizeram para provocar. Nos cantos da sala repousam incontáveis corpos em diferentes estágios de decomposição, as paredes que costumavam ser de um singelo tom de azul celeste estão quase completamente cobertas por vermelho, o tipo de cor que só pode ser obtida através de sangue seco. O cheiro é terrível e companheiro constante da funesta melodia.

A pianista, entretanto, se mantém imperturbável por qualquer elemento esterno que não seja seu amado instrumento. Ela á muito foi deixada sozinha somente com os cadáveres e o piano como companhia, o prédio onde a sua sala é localizada foi abandonado e condenado á anos por culpa dos desparecimentos misteriosos, aqueles que cruzaram aquela porta nunca mais retornaram numa rotina que durou até o prédio ser oficialmente considerado perigoso e fechado, mas mesmo com todas as precauções tomadas volte e meia alguma inocente alma é atraída para a sala da pianista.

A jovem que nunca para de tocar um dia foi muito parecida com aquelas que encontraram seu descanso final nos cantos da sala abandonada. Como eles ela um dia adentrou aquela sala porém somente seu corpo mutilado saiu, mas aqueles eram tempos de glória para a própria e para o prédio, a pianista era somente uma menina sonhadora com esperanças de um futuro brilhante, mas a crueldade do destino a transformou num espírito de ódio cujo prazer provem somente das notas amargas e do sangue que ela espalha pelas paredes e faz jorrar para o chão. Como suas vítimas ela é apenas outro rosto esquecido, um nome apagado da história, nada além de um espírito de quem ninguém se recorda mais, abandonada naquela sala escura assim como seu corpo abandonado numa cova qualquer num cemitério decrépito, nenhuma flor adornando sua lápide, ninguém pranteando sua partida precoce ou ao menos alguém que se lembre dela. A pianista como seu instrumento é apenas uma lembrança perdida no turbilhão do mundo, mas por mais que os outros tenham esquecido ela não o fez. A jovem artista não consegue se esquecer do que lhe foi feito e muito menos perdoar aqueles responsáveis por ceifar sua jovem vida, almas escuras e egoístas se passando por pessoas normais que saíram impunes. O mundo pode murchar e renascer, mas o ódio da pianista vai perdurar por toda eternidade juntamente com sua melodia funesta.

No primeiro andar uma garota com seus 17 anos adentra o ambiente empoeirado e decrépito amaldiçoando em voz baixa os amigos e o desafio estúpido, seus passos cambaleantes por conta do álcool ingerido por ela mais cedo, na sala sombria a pianista sem nunca deixar de tocar ri baixinho, seu rosto ainda abaixado e escondido pela cortina de cabelos negros, os ombros sacudindo suavemente conforme ela sente a aproximação da adolescente, o coração da mesma pulsando em ritmo acelerado e seu cérebro entorpecido incapaz de processar corretamente a total estranheza daquela situação, mas mesmo que ela não estivesse intoxicada a pianista já a teria encantado e a fuga não seria mais viável, a jovem ruiva se perdeu no instante que seus pés tocaram o prédio amaldiçoado.

A porta da sala se abriu com um ranger agourento e a adolescente se viu forçada a cobrir o nariz pelo odor repugnante, mas sem se dar conta ela já estava dentro da sala e a porta se fechara atrás dela, a pianista calmamente tocava sua melodia o riso morrera, mas escondido da adolescente agora aterrorizada ela sorria malignamente. E pela primeira vez desde seu último visitante a jovem fantasmagórica cessou o tocar, mas a melodia prosseguiu mesmo que os dedos dela não mais encostassem às teclas e lentamente ela se levantou virando-se na direção da sua visitante com um sorriso psicótico enfeitando suas feições e a adolescente nada pode fazer além de gritar de pavor e inutilmente tentar sair do lugar, mas seu corpo não mais a obedecia, paralisado em terror, enfeitiçado pela música e a solitária pianista já fazia seu caminho em direção á ela.

Quando os gritos femininos finalmente cessaram outro corpo mutilado se encontrava no canto da sala e a pianista fazia uma reverência para o nada antes de enfim se encaminhar para seu piano, um único raio de sol anunciando a vinda da manhã conseguiu penetrar pelo aposento e iluminou a jovem solitária deixando ainda mais visível o horror que faz suas vítimas gritarem em primeiro lugar.

Ela já havia sido linda, tão pura e imaculada como um botão de rosa recém-desabrochado, mas agora tanto seu corpo quanto espírito estão deformados. Os cabelos cor de ébano caem lisos até o meio de suas costas e normalmente são usados para encobrir sua face, a pele mortalmente pálida de um modo que apenas uma excessiva perda de sangue pode gerar, seus dedos estão eternamente maculados por seu próprio sangue que mancha as pontas, suas unhas quebradas numa tentativa de lutar contra seus agressores nunca pararam de sangrar, seu rosto também está eternamente jorrando as gotas avermelhadas por mais que ela não tenha mais um corpo, seus olhos eram de um tom de azul profundo, mas o tom nunca será visto por alguém. Seus olhos foram costurados fechados com pontos rústicos e o sangue que escorre deles faz parecer com que ela chora sangue, o vestido branco delicado profanado por uma mancha de sangue na região de seu abdômen, um golpe de misericórdia de seus assassinos e a causa de sua morte, sua garganta eternamente danificada por seus gritos, ela não fala e quando o faz sua voz é rouca e a dor causada para isso era facilmente notável. A jovem pianista tivera sua vida ceifada de modo cruel por sentimentos mesquinhos de inveja.

Há muito tempo ela fora uma jovem feliz e estável, estudante de música naquele prédio que costumava ser uma escola, aquela sala era reservada para a prática do piano o instrumento favorito dela e era ali que estava quando foi morta. Treinando para uma competição cujo prêmio era uma bolsa integral numa escola de renome mundial, uma competição que ela nunca teve a chance de participar. A jovem era uma das mais fortes candidatas e a inveja motivou sua morte, uma garota cujo instrumento de escolha também era o piano era sua maior adversária e com a ajuda do namorado sua rival, á quem ela nunca desejou mal, brutalmente assassinou-a ali naquela sala na frente de seu amado piano e os dois escaparam impunes, justiça nunca foi feita pela jovem pianista e seu espírito prendeu-se aquele lugar retirando satisfação de tocar eternamente a melodia que pretendia apresentar naquela noite e macular aquela sala com sangue de estranhos tentando apagar o seu próprio.

De volta á seu lugar na frente do seu piano ela voltou a tocar mesmo sabendo que a melodia nunca para mesmo que ninguém esteja tocando-a. E assim a pianista seguirá, tocando sua melodia funesta e matando até que seu espírito fique satisfeito e ela encontre a paz, mas enquanto isso não acontecer à melodia fantasmagórica continuará a atrair vítimas e qualquer um que adentre aquele prédio se juntará aos corpos que fazem companhia a solitária pianista em sua sala escura.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por sua atenção~