O Príncipe Purplet e a Plebeia de Iogree escrita por Diana Lihn


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Depois de mais uma boa noitada no coreto de Iogree, Noel voltara pra casa ainda com a fresca lembrança de Tarsila. O rei ainda doente, ficara pior conforme o tempo passava e não notava nenhuma mudança no comportamento de seu filho. Decidiu por em prática um plano que, consistia mais ou menos em atiçar a mínima preocupação em Noel, se é que isso ele tinha.



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–Papai, me disseram que você estava me chamando. O que deseja?

–Meu filho... Quero me desculpar por ontem, acho que passei do meu limite.

–Eu já estou acostumado com as suas atitudes para com as minhas.

–Bem... Não sei o que quer dizer com isso mas, hoje, quero conversar de pai parar filho, como homens de verdade.

–Ótimo, precisamos mesmo disso.

–Que bom que concorda. Sente-se aqui, filho. - E Isaac, com certa dificuldade, deu espaço para que Noel se sentasse ao seu lado na cama, de frente com ele. - Me responda com toda a tua franqueza, Noel: Se eu morresse amanhã, qual seria o seu primeiro ato como rei de Iogree?

–Pai! Não diga essas coisas...

–Não seja imaturo, responda o que eu lhe perguntei.

–Bem... Eu, acho que cuidaria primeiro de nosso exército, pensando na proteção do nosso estado pois, certamente pensariam na vulnerabilidade de perder um velho rei e, nessa brecha, poderiam pensar em nos atacar, para nos roubar, achando que eu, o novo rei, estaria indefeso.

–E depois?

–Ah, pai... Talvez pensaria em tomar a frente das administrações financeiras, fazer uma modificação aqui e ali, para os impostos, sabe? Mudar algo na cidade, fazer alguma diferença pra marcar o início do meu reinado.

–E você não pensa em se casar? Você precisa de uma esposa, precisa de um herdeiro... Não vai deixar que um forasteiro lute e roube o seu trono, a menos que você tenha uma filha tão bela quanto sua mãe... - E riu.

–Não, pai... - Respondeu Noel, não contendo muito o riso. - A esposa é a última coisa com a qual me preocupo. Posso arrumar qualquer mulher, afinal, qualquer uma aceitaria ser da realeza. Todas elas tem sonhos com vestidos melhores, mais riquezas e mais festas pra irem... Nada além. Que seja alguma bonita, mas eu tenho um reino e quem ficará no comando sou eu, e somente isso importa.

–Mas Noel! Você é maluco?

–Por que me diz com esse tom? Falei algo insano?

–Totalmente! Tratas uma mulher assim e se esquece de sua mãe? Sua mãe, não só pelo sangue e nome que me deu, ela fora pivô de muitas decisões no meu reinado.

–Mas eu duvido muito que encontre uma mulher de mente tão brilhante quanto minha mãe. Acredito que são raridades.

–Um homem não pensa nunca, sozinho, meu rapaz. Você pode saber como conseguir muitas coisas, pode saber como bradar um espada, ou como invadir um castelo, mas as mulheres tem uma astúcia... Desconhecida. Mulheres conseguem coisas apenas com a mente, parece incrível e realmente é.

–Não é isso o que vejo quando ponho os pés pra fora e caminho na vila.

–Pois andas em lugares insalubres, Noel! O que uma mulher procura à noite? Tu frequentas adegas e vielas esperando encontrar uma donzela?

–Eu sei, logo logo mamãe me fará frequentar almoços beneficentes para conhecer as ricas pretendentes do príncipe pois, não é só a nossa família e nossos criados que sabem da sua doença.

–Então o faça, mas faça não somente para encontrar uma bela moça. Apesar do rei ter a sua autoridade, a rainha deve ser marcante, deve ter sim, essa mente brilhante que você vê em sua mãe, que eu também noto e admiro.

–Bem, eu prefiro expandir o comércio, fazer tratos com Maneva e Almatar, exterminar essa maldita dívida com Lieet e explorar novas terras, para mais contratos.

–E você vai tomar a frente dessas explorações?

–Pretendo... Tenho muitos homens dispostos a lutar por mim, tenho boas recompensas aos bravos, tenho muitas ideias...

–Ah, Noel... Nem só de ideias vivemos.

–Pai, se quer novamente insistir em conflitar com o que aprendo nos estudos, eu prefiro não discuti-lo. Não vou convencê-lo nunca...

–Aí está.

–O que??

–Você nem se quer tenta "me convencer" de que essas coisas vale algo.

–E você lá escuta?!

–Noel! Já que é tão bom com ideias, convença-me. Vamos!

–Não são só ideias. São fatos e tenho papéis, com aumento de verbas, controle de impostos... Não adianta, você não vai descansar até eu me sujar de sangue.

–E se eu morrer amanhã, e teu exército não for páreo pro inimigo?

Noel o enfrentou com certa fúria nos olhos que, fora apagando conforme a dúvida e o medo tomaram seus pensamentos, sem saber o que responder.

–Saia.

–Mas eu...

–SAIA, agora. Se eu morrer, você vai assistir o exército lutar sem sequer desejar estar ali... Um rei luta, meu filho. Luta.

–EU NÃO SOU VOCÊ! TIRE ISSO DA SUA CABEÇA!

–NUNCA!!! AH, COMO OUSA COMPARAR? - e tossiu. - SEM ANSEIO DE GUERRA, SEM SEDE DE SANGUE, NÃO SE DERRUBA UM IMPÉRIO, SEU IMPOTENTE! - E sua tosse piorou. Citado o sangue, o mesmo apareceu sobre os claros lençóis desenhados de Isaac. Houve uma agitação também do lado de fora, após ouvir os berros seguidos de tosse.

–Noel? Isaac? O que você fez?! - Graeta entrara como um furacão no quarto, logo atrás, duas criadas.

–Eu fiz? Eu desisto de qualquer coisa com esse velho louco, antes que quem enlouqueça, seja eu!

–Noel! Não fale do seu pai desse jeito, quem você pensa que é?! - Graeta socorria Isaac com furor nos olhos em Noel, como nunca antes.

–Até você, mãe. Até você...

–Não se vitimize, eu não lhe dei essa educação para tratar teu pai dessa forma, e nada lhe faltara até hoje, que não fosse juízo.

–Ah, obrigado. - E Noel dera as costas para deixar o quarto. Ignorou Graeta chamando seu nome e cruzou o corredor, sem muita pressa e sem pensar, direto aos portões.

Se pegou indo pra praça, sem parada ou atalho. Certamente, era mais cedo e encontraria Tarsila na sua primeira hora de estudo. Queria conversar, não sabia exatamente o quê mas precisava alguém para compreendê-lo. O calor repentino de Iogree o incomodava embaixo do capuz, até que o fez tirá-lo, já impaciente. Ao chegar, ela não estava. O piano estava frio, sem sinais de que alguém havia estado ali, tocado ali.

"Será possível que ela não vem? Ela não pode ser tão displicente com sua rotina de estudos, ou tão mentirosa pra dizer que eu voltaria a vê-la outras vezes..." - Pensou ele, totalmente frustrado. Olhou de um lado e do outro, esfregando as mãos e estralando os dedos, quatro por vez.

–Acho que não vou estudar hoje, não é, majestade? - Tarsila lhe dera um susto que o deixara com cara de bobo, desmanchando por alguns segundos a carranca. Mas só por alguns segundos.

–Acha que eu vim te atrapalhar?

–Tenho certeza que algo lhe incomoda, e você não veio aqui ouvir piano mais ou menos desafinado.

–És muito pretensiosa, garota. - Olhara-a com desdém.

–Sou sensível à beça, majestade. Me desculpe.

Noel não conseguia sustentar a birra por muito tempo. A sutileza sem desinteressada de Tarsila o desarmava. - Meu pai está doente.

–Eu sei. Leve meus desejos de melhora.

–Não é só isso, menina. Ele não acredita na minha capacidade em governar Iogree.

–E por quê não?

–Eu não sou nada parecido com ele. Acho que ele quer que eu derrame sangue, que eu já pra guerra.

–Olha... - Disse enquanto jogava suas coisas no chão e se aconchegava na grama baixa da praça. - As guerras são incitadas quando não há mais nenhum meio de se requisitar alguma coisa. Sabe, sangue derramado não pode ser por pouca coisa.

–Eu concordo... Na verdade, nem sinto vontade de guerrilhar, derramar esse sangue.

–Lógico. Você não tem porquê.

–Como não? E se invadirem Iogree?

–Você iria lá lutar com seu exército?

–Não quero, mas acho que iria.

–Achismos não são respostas nas quais devemos confiar.

–Como assim? - E se ajeitou pra se sentar de frente com Tarsila. - Está querendo dizer que não confia em mim?

–E nem em qualquer frase que tenha "acho" no meio. Se você acha coisas, é porque ainda tem dúvidas, então se as tem, deve aniquilá-las. Você não quer derramar sangue mas, o faria por um capricho do seu pai, pelo seu capricho ou pela defesa de Iogree? Aliás, majestade... Você sabe lutar?

–Eu?

–Sim, quem mais...?

–Bem... Lutar o que?

–Majestade... Não gosta de espadas, ou pancadarias?

–Nunca tive que brigar por nada.

–Aí é que está.

–Como? - Noel franziu a testa, ficara nervoso com o jogo de persuasão da moça.

–São motivos, os motivos são como gatilhos. Se não houver uma razão realmente genuína pela qual queremos lutar, nada vale as ações, os caprichos, as guerras. É pouca pouca, pela qual não vale a pena derramar sangue e nem suor. Você pode até se imaginar como um grande guerreiro, bradar uma espada... - Essas palavras congelaram Noel, até parecia que Tarsila assistia sua cabeça ontem mesmo, antes de se conhecerem. - ... Mas, pelo o quê lutaria? Pela sua cidade, pelo coração de uma donzela, pelo patrimônio roubado? Motivos, majestade, há sempre motivos.

Um longo tempo se passara em silêncio, o que era uma hora para Noel, na verdade foram cinco segundos para Tarsila.

–Ele não entende que eu posso governar pacificamente?

–Depende.

–Do que? Eu não quero mais terras, quero só acordos, acertar dívidas, ganhar dinheiro, arrecadar impostos...

–É só isso que um rei faz? - Agora o desdém apoderou-se nos olhos de Tarsila.

–Como assim "é só isso"? Acha pouco??!

–O que seu pai fez?

–Você vai me comparar com ele também?

–Noel, eu não conheço seu pai... Estou lhe perguntando.

Ele se sentira um pateta arrogante ao provocar um olhar tristonho nela, e vejam só... O nome dele saindo da boca dela. Não era isso que você queria, Noel, alguém que lhe compreendesse? Tarsila estava disposta á isso.

–Ah... Ele não é um Puplet de sangue. É um marechal, um guerreiro que dedicou a vida toda às conquistas de estado, posses, como um pirata. Até achar Graeta Purplet e seu império em ruínas. Ela se tornou viúva e inevitavelmente vulnerável... Atacaram Iogree, o que levou seus três longos anos e trevas, até tirarem o que parecia ser a última moeda de ouro, e escravizar até o último camponês. Eis que chega o Marechal Isaac Dupoir com seus cavalos, armaduras invencíveis, banhadas de bronze e sangue, disposto a acabar com a tirania dos Lieetavs. Ele derrotou com louvor, recuperou parte do que foi roubado e Graeta não pensou duas vezes... Era o homem que precisava na hierarquia... Lógico que houve uma certa relutância, ele por querer continuar a guerrilha sem fim e ela que teve uma perda recente, mas que abriu mão de tudo o que sentia para dar rumo à seu legítimo estado. Foi e casou-se com o marechal troglodita e deu seu nome, seu trono, seu poder à ele. De pouco em pouco, Iogree foi sendo reerguida, passou Almatar, Maneva, manteve distância do que sobrou de Lieetav mas a dívida história e econômica foi inevitável. Ainda trocamos farpas... Moeda a mais, moeda a menos, uma grande diferença. Continuou, Isaac, defendendo bravamente aos ataques menores, nunca sequer ousou deixar Iogree perder nada. Agora está velho, quer me dar o trono e toda sua dinastia, até brincou comigo a respeito de ser "forasteiro"... Bobagem. É um bravo, merece o que tem.

Noel pensou na tosse, no sangue expelido, no trono, em tudo o que disse.

–Agradeço a aula de história, são dados importantes e incríveis, contados da boca do próprio príncipe à uma mera plebéia. Agora, e você, majestade? Aonde você quer entrar nisso?

–Eu nasci um pouco antes de Maneva unir forçar à Iogree...

–Acho que você não entendeu o que eu disse.

Ele a fitou, deprimido. - O que você disse, então?

–Aonde você quer entrar nisso? Nessa história, quem será Noel Purplet? Um herdeiro que será lembrado pelo ótimo planejamento no papel, ou alguém ousado o suficiente para mudar a história de Iogree, sem manter o padrão sanguinário, o padrão sossegado, o padrão? O senhor que almeja coisas como um visionário ou um acomodado que servirá de notas de rodapé nos livros?

–EU NÃO SEI! - Levando as mãos na cabeça, Noel desabou, desabafou a dúvida que lhe consumira. Tarsila, discretamente, se levantou. Após bater as poucas barras do vestidos, tirando a grama seca que se apegara, sentou-se ao piano para tocar.

Noel escorreu as mãos pelo rosto, deixando os olhos entre o indicador e médio de cada, tentou se recompor ouvindo a melodia esquisita mas, confortante.

–"Conservai-me puro como o lírio de vosso brasão...
Vós que mantínheis vossa palavra mesmo dada ao infiel,
Fazei que jamais mentira passe
Por minha boca,
Ainda que a franqueza devesse me custar...
A vida.
Homem de proezas, incapaz de recuos,
Cortai as pontes para os meus fingimentos
E que eu caminhe sempre para o ponto
Mais duro... do combate.**"

Tarsila cantarolou um hino, acho que podia encorajá-lo. Ficou tocando por mais alguns instantes até notar o sumiço de Noel. Ficou confusa de imediato, mas compreendeu que ele precisava arejar a mente. Continuou a tocar, até seu horário ao entardecer.

O príncipe voltou para o centro, tinha mais ou menos o lugar certo para ir.

–Procuro o Senhor Nosilant, diga que...

–É da parte do príncipe, eu já sei. - Revirou os olhos, o franzino receptor.

–Estais insano? Quem pensas que és pra se dirigir desta maneira? Volte aqui, moleque! - E Noel fora ignorado. "Mal educado"– pensou.

–Noel.

–Olá, Senhor Nosilant. Acho que você devia trocar esse bastardinho que lhe ajuda na recepção.

–Esse bastardinho, é meu filho, majestade. - O respondeu, nada satisfeito.

–... Enfim. Quero sua melhor espada.

E o velho se pôs a rir, debochado.

–Seu pai está velho demais, está doente...

–Me conte uma novidade! A espada não é para ele, é para mim.

–O QUE? - E gargalhou. Noel se pegou furioso.

–Como ousa rir, nem tentar sequer disfarçar seu deboche? Agora não tenho dúvidas que essa garoto seja seu filho.

–Pare de falar do meu filho, príncipe mimado! Vai fazer o que com a espada? Enfiar na própria cabeça, suponho, isso se puder levantá-la para parar de olhar pro seu próprio umbigo.

–Você será punido, isto é um desaforo, ou melhor, desacato!

–Pois eu não ligo, é até melhor ir preso do que suportar essa sua cara de pamonha, seu fiador de uma figa. Estou farto da sua falta de consideração para com o meu trabalho e minha pessoa. Sempre vens pedindo e pedindo, mas paga-me uma mixaria, me cobra impostos e sequer agradece. E sempre voltas, e pede, pede, pede! Só sabes pedir.

Noel perde a compostura e esmurra o balcão que os separa. - Vai me dar a espada ou não? Quer um bom pagamento, eu lhe dou, agora mesmo. - E tirou um saco de moedas de ouro, fez questão de desatar seu nó e espalhar moedas pelo atelier todo. - Quer mais? Terá, mas faça a maldita espada, como nunca antes. Eu volto quando puder, mas volto logo.

O Senhor Nosilant se assustou com o tom e o murro de Noel, mas ficou de certa forma, animado pelos níquéis reluzentes jogados no chão. Apesar de tudo, também sentiu-se aliviado pois, falara tudo da boca pra fora... Odiava a prepotência do príncipe mas ir preso não seria nada agradável para o mesmo e sua família. Recolheu as moedas com a ajuda de seu filho e foi atrás da melhor matéria prima para começar seu trabalho.

–Por favor, o Senhor Parrena.

–Só um instante... - Disse a moça que se movimentava com certa lerdeza até a porta de madeira. Noel saíra do atelier para procurar Miguel Parrena, o melhor instrutor de esgrima em Iogree.

–Majestade... Há que devo a honra?

–Não precisa de sala, Parrena... Preciso de um grande favor.

–Pois diga, o servirei.

–Eu quero aprender a usar espadas, quero lutar.

–Bem... Esgrima é um lado de glamour e não casa muito bem com o que eu supostamente ouso pensar que você quer.

–Parrena, quero ao menos manejar uma espada, nunca sequer toquei em uma. Por favor, não hesite, não me faça "mandar".

–Não... Claro... Se você acha que estou apto para fazer isso, é uma honra pra mim.

–Eu vou lhe recompensar muito bem, tenha certeza.

–Não se preocupe com isso.

–Amanhã começamos?

–Mas, eu nem sei se tenho...

–Amanhã.? - Noel o persuadiu com um sorriso não muito convincente, mas que bastou para manisfestar sua ordem.

–Amanhã... Certo. Esperarei pelo senhor.

–Grato, Parrena. - E saiu ligeiramente, cruzando a tal porta. Notou meio com o rabo de olho, a moça que o recepcionara e mais outra cochichando, e não se deram ao luxo de parar de falar e nem de olhar pra ele enquanto ele passava pela saída. Noel sentiu uma pontinha de preocupação... Será possível que seu pai estava certo no que disse "procurar saber o que os outros acham de mim"? Não havia tempo pra perguntas.

Razoavelmente satisfeito pelas decisões tomadas, permitiu-se chegar no palácio com um sorriso modesto, mas confiante. Dirigiu-se ao criado que o aguardava na porta.

–Como está meu pai?

–Não tenho boas notícias, majestade.

–O que houve?

–Logo quando o senhor saiu, um médico foi chamado para atendê-lo e, a situação do rei se agravou muito mais. Pensam em operá-lo, mas a indução ao coma seria arriscado, porém, o único jeito de saber o que ele tem.

–Como podem querer operá-lo sem ao menos saber o que se passa? - Bufou ele após entregar seu casaco ao criado. Saiu em disparado para o quarto de seus pais até trombar violentamente com uma criada no caminho.

–Distraída! Não olha por onde anda?

–Senhor! Já chegou! Sua mãe está desmaiada no seu quarto!

–O que? - E Noel sentiu o coração sair pela boca. "Piedade, Deus... O que aconteceu com a minha família?"– Pensou.

Ofegante com os lances de escada, Noel se atirou no chão de encontro a mãe, estirada no tapete. Abraçou-a e sacudiu-a levemente para tentar acordá-la.

–Onde está essa médico imbecil? Por que não atenderam minha mãe também? Incompetentes maltrapilhos! - Berrou.

–Noel?

–Mãe... Sim, eu. Calma, o que houve? Por que você desmaiou?

–O seu pai... - Graeta resistia para não apagar outra vez.

–O que tem ele, mamãe?

–Três semanas de vida. - E mais uma vez, fechou os olhos, fraca demais.

Noel e os criados ficaram em silêncio. Parecia o dia certo, a hora certo para que as piores coisas fossem ditas e pior, fizessem sentido.

Os malditos motivos, motivações, gatilhos dos quais Tarsila falou tanto, estavam todos dispostos à frente do príncipe mimado. Três semanas, uma medicina fraca e imprecisa, o pai doente, a mãe abatida. O herdeiro que não havia planejado herdar trono algum, perdido em partituras e vinho. Noel tinha todas as armas na mão e não sabia como usá-las.

Uma espécie de contagem regressiva se iniciara ali. Três semanas: Noel tinha aproximadamente três semanas para se tornar digno de ser o novo rei Purplet em Iogree.


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos mil ao álbum novo do Foo Fighters, à insonia persistente, e minha inspiração rechonchuda, Leon.
** "Oração a São Luiz Rei", de Bertrand du Guesclin.



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