Noites de Luas Mortas escrita por Nikki Meyers


Capítulo 1
Prólogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/643134/chapter/1

FRANÇA, SÉCULO XVI

Primeiro, vieram os nomes. Cada qual chamado com um misto de prazer e ódio pelo impecável homem ao alto do palanque. O espetáculo já havia sido preparado por horas a fio, intensificado pouco a pouco pelos gritos de ódio dos presentes. As nuvens escuras pareciam pressentir o espetáculo que viria a seguir, tão distantes e ao mesmo tempo tão confortadoras. Muitos possuíam motivos para presenciarem a execrável execução, já outros, apenas pensavam que estavam limpando seu precioso mundo.

As três mulheres preparadas em fila vestiam-se com o mesmo modelo ultrajante do que poderia ser considerado um vestido, talvez houvesse sido branco em uma época longínqua, todavia apenas coloria-se com o vermelho nauseabundo de sangue, extraído de seus corpos jovens em horas em que desejaram morrer, até serem finalmente acusadas pela profanação de sua magia. Suas cabeças permaneciam baixas, cobrindo olhos dos quais não eram capazes de produzir uma única lágrima. Apenas uma mulher em especial havia os deixado vaguearem por entre a multidão, fitando um a um, os impiedosos rostos que em minutos sorririam ao ver seu corpo em meio às chamas.

Muitas outras antes delas haviam tentado suicídio, poucas possuíram coragem o suficiente para serem consumidas pelas chamas. Na maioria das vezes, apenas desafortunadas garotas encontraram a morte. Quando finalmente puderam provar sua inocência, seus corpos há muito já se encontravam sem vida. Os velhos se encontravam amparados pelas jovens, que por sua vez tentavam em vão calar os choros das crianças que nunca mais veriam o mundo com os mesmos olhos novamente. O ódio por tão belas criaturas era a única coisa que os prendia em seus lugares.

Depois, vieram os gritos. Dor e prazer intensificavam-se cada vez mais enquanto as labaredas, pouco a pouco, engoliam os corpos de suas mestras. Naqueles dias repulsivos muitas de sua espécie haviam sido dizimadas, seus clãs resumindo-se apenas a uma última resistência. Os seres humanos, a cada corpo reduzido a cinzas, apenas alimentavam o forte ódio que as grandes feiticeiras possuíram contra eles. Ninguém pode reconstituir o tempo, contudo, eles nem ao menos tentaram reparar seus profundos danos.

A última das mulheres sempre seria uma temerosa memória nas mentes tempestuosas dos presentes, seus sussurros iriam apenas assombrá-los para o resto de suas miseráveis vidas. Corajosa até seus últimos suspiros, quando finalmente as labaredas de fogo puderam envolvê-la por completo, seu último feitiço havia sido finalizado.

Sua última maldição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários são (muito) bem-vindos.