Meus olhos brilhavam junto com os deles. Estávamos grudados um no outro, extremamente perto. Conseguia sentir sua respiração, e sua voz soava como melodia em meus ouvidos. Sorria, deixando todos os meus dentes á mostra.

“Estamos bem.” Minha mente dizia para mim mesma. “Ele me perdoou.”

Acompanhava seus pés enquanto giravamos e giravamos em torno de nós mesmos. Eu apenas o desejava. Eu apenas me contraia para não tocar meus lábios nos dele naquele exato momento. Passei a tagarelas, a falar do meu futuro, do nosso futuro, juntos.
- A vida é para os vivos, minha querida. - Ele me respondeu, suavemente. - Então vamos continuar vivendo.
- Continuar vivendo. - Dissemos juntos.
- Realmente vivendo! - Ele gritou.

Eu me sentia totalmente viva, com ar em meus pulmões e com o coração pulsante. Até aquele exato momento.

Tudo passou como uma lentidão para meus olhos e cabeça. Ele me empurrou, grosseiramente contra o fogão aberto, que permanecia exatamente atrás de mim.

As chamas do fogo começaram a queimar minha pele pálida. E a dor parecia ser até mais forte que os gritos que saiam de minhas cordas vocais. Meus olhos passaram a arder, e o meu pulmão a se intoxicar.

Por questão de segundos, Sweeney me retirou de lá, do mesmo lugar onde ele havia me deixado. Puxou-me pelo braço e jogou-me contra o chão.

Minha visão estava completamente embaçada, e eu tremia de angústia e de dor no chão, como se eu não passasse se um animal em caça, estrangulado, morto. Choramingava, enquanto saia lágrimas pesadas em meu rosto.

Sentia a presença de Sweeney ao meu lado, imóvel, sem mexer um dedo ou um de seus fios de cabelo grisalhos e escurecidos. Sentia a presença do verdadeiro mal, e logo podia enxergar isso.

Logo então, ouvi passos, e tudo escureceu de vez.
- Mãe? - Ouvi uma voz fina e doce perto de meus ouvidos. - Mrs. Lovett?

Logo reconheci a pureza perto de meu ser. Era toby, meu pequeno e único Toby.

Tentei abrir meus olhos, mas não pude conseguir, sentindo um peso em meu olho direito. Uma dor extrema passou a surgir em meu corpo, não conseguindo me mover.
- Toby… - Ofeguei, tentando falar sem dificuldade - sendo impossível.- O que… onde estou?
- Em seu quarto. - Ele respondeu. - Eu a carreguei para cá.

Dei um pequeno sorriso, esticando meu braço para acareciá-lo. Mas acabei soltando um grito de dor. Meu corpo parecia uma bomba.
-Não se mexa mãe. Você tem de se recuperar. - “ Recuperar?” Pensei sozinha. - Eu lhe cuidei para não se sentir tão mal, usei a manteiga da sua cozinha para curar suas feridas… E cobri seu olho com uma toalha úmida.

Me recordei, inseperadamente da noite passada. Da dor, dos berros, do fogo, da dança, do Sweeney. Abri meu olho olho esquerdo rapidamente - Sem conseguindo movimentar o direito com a toalha encostada em minhas pálpebras.- E observei Toby, encarando-me, com as feições do seu rosto assustada, e até mesmo com dó, dó de meu ser, dó de meu sofrimento, dó de minha dor e angústia. Ele estava com pena de mim.

Lágrimas sairam sem eu querer de meus olhos, enquanto o direito ardia mais que as chamas em fogo, e eu ofegava de dor.

- Mãe… - Ele disse, se aproximando mais perto de mim.

- Está tudo bem. - Menti. - Eu.. estou bem.

Passei a me posicionar lentamente em meu colchão, tentando sentar-me sem sofrer - falhando na tentativa. Segurei a toalha úmida contra meu olho para não cair, e passei a observar cada ferimento de meu corpo. As feridas estavam extremamente profundas, principalmente em meus braços, pernas e mãos. De inúmeras cores: vermelhas, escurecidas ao preto. A aba de meu vestido estava chamuscada e o tecido do mesmo destruído. Havia rasgos no meu veste por toda a parte.

- Querido… - Eu disse, retirando a toalha de meu olho direito e entrgando-o. - Você poderia umedecer um pouco mais a toalha?

Toby assentiu com a cabeça, agarrou a toalha com suas mãos magras e pequenas. Sai de meu quarto, deixando-me só.

Enquanto Toby estava ocupado, atrevi a sair de minha cama. Botei os dois pés descalços no chão com dificuldade, ofeguei com força e dei-me impulso, ficando de pé. Minhas pernas tremiam a cada passo que eu dava devagarmente, enquanto me dirigia ao espelho decorado que havia sob meu criado mudo.

Ao chegar ao meu destino, encarei-me cara-a-cara, pregando-me a mim mesma um enorme susto. Havia ferimentos em meu rosto, não tão profundos quanto aos do meu corpo, mas ainda sim, rodeados de carne-viva. Atrevi-me a abrir o olho direito, e não pude enxergar nada com o mesmo. Meu olho esquerdo pode analisar ao espelho, o estado de meu globo ocular. Minhas mãos passaram a tremer, enquanto eu engolia o choro.

O meu amor por Mr. Todd era cego. O amor era suficiente para eu mesma não perceber o monstro que eu havia recebido em minha casa, o monstro que eu alimentava, o monstro que eu amava. Passei os dedos delicadamente em minhas feridas da face, sentindo o calor das chamas. Minhas pernas voltaram a tremer. Eu não me sentia viva, apenas uma metade de mim estava.
- Mãe? - Toby disse, encostado sobre a porta do meu quarto. Uma tontura passou pela minha mente, enquanto eu olhava fixamente pro espelho. Meu corpo inteiro tornou-se dormente, e tremia. Tudo se apagou, enquanto ainda ouvia os gritos do querido Toby.