Mary escrita por Elysian Fanfics


Capítulo 1
Capítulo Único - Você está preparado para a morte?


Notas iniciais do capítulo

Musica para ouvir enquanto ler: Skinny Love Instrumental ou Try - Instrumental.
Não sei se vocês ouvem musica enquanto leem, mas se ouvirem, ai estão duas que combinariam.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642969/chapter/1

Morte. A única coisa inevitável na vida é a morte.

Ela vagava pelas ruas em seu vestido branco; não sei de onde tiraram a idéia que a morte representava o preto. Duas trancinhas loiras, uma em cada ombro balançavam com o vento conforme andava.

A morte é apenas a segunda parte da vida.

As crianças a chamavam de Mary. Não lembrava se tinha outro nome, mas gostava desse. Mary também gostava de crianças, até porque era uma.

As crianças eram infinitamente mais compreensivas que os adultos. Elas a aceitavam como uma amiga que sugaria toda a dor.

Mary gostava de pensar assim.

As pessoas não gostam de falar sobre a morte porque isso as deixa tristes...

Mary nem sempre concordava com seu destino; mas o que podia fazer? Era seu destino. Alguns, a temiam mais do que tudo. Era triste não poder fazer nada por eles. Não é como se ela pudesse esquecê-los.

...Elas não querem pensar que a vida vai continuar sem elas...

Mary não podia fazer absolutamente nada. Só cumprir seu destino.

Hoje tinha dois para buscar. Uma mulher com muito sofrimento, e uma alma podre.

Que os filhos irão crescer do mesmo jeito, casar, envelhecer e continuar o ciclo...

18h00min

Crianças, idosos, balões rosa por toda parte, era o que “enfeitava” o oitavo andar do hospital.

Mary arrastava os passos. Sorria; se ficasse receosa as pessoas saberiam, e um hospital já é um local extremamente triste, não precisava de algo a mais.

Antes de chegar ao quarto tinha um corredor. Um corredor com luzes fracas. Um... Dois... Três portas de bronze dos dois lados. Coincidentemente ou não, as duas ultimas lâmpadas do corredor estavam apagadas. A Vida tinha se preparado para a chegada dela.

Em vez de lidar com isso diretamente, evita-se o assunto inteiramente.

Os aparelhos de batimento cardíaco apitavam com mais freqüência agora. As pessoas choravam. Mary não entendia isso, deveriam ficar feliz porque quem eles amam cumpriu sua missão, era hora de devolver a parte de Deus. Duas meninas soluçavam. Mary ainda sorria. No meio de tantas lágrimas ela tinha que ser o poço de alegria.

A moça virou e a olhos nos olhos, olheiras fundas ao redor deles, lábios secos e rachados, cabelo... Não, ela não tinha mais cabelo. É, realmente essa era a hora dela.

— Pronto! – sussurrou.

Mary entrelaçou seus dedos, enquanto sua amiga fechava os olhos à espera do fim de sua dor.

Nel nome del padre , il figlio e lo spirito santo.

Mary murmurou esticando as mãozinhas e colocando sobre o coração de mais uma.

Elas não querem pensar que as coisas materiais serão vendidas, que seus nomes um dia serão apenas uma lembrança na mente dos que ficaram.

O primeiro floco de neve caiu. Mais uma alma tinha sido coletada, faltava só uma para conectar os fios e o ciclo reiniciar. Essa ia dar mais trabalho.

Não se deve confiar na morte, em hipótese nenhuma.O som do silencio. Você já ouviu?

Poucos conseguem. É preciso muito mais do que apenas um ouvido apurado. Tem que escutar a voz interior primeiro.

Está ouvindo isso?

São gritos de socorro. Vem do último andar. O lugar era umido e cheirava mal. Uma espécie de andar do Inferno, para os mortais, um hospicio. Gritos de desilusões de quem ainda não quer aceitar que já é à hora.

Sente esse cheiro?

É o cheiro do adeus. De desapegar de coisas suas e de coisas que não te pertencem. Cheiro de carne viva, cheiro de sangue... Cheiro de Morte.

Ele quase não tinha cabelo, apenas alguns fiapos negros espetavam em sua cabeça. Quase nenhum dente na boca; sangue... Muito sangue. Mary sentia o cheiro da vingança, da sua vingança.

O nome dele era Hans.

Pessoas não merecem tanta maldade. Mas Hans sim. Hans matara criancinhas e Mary era uma criancinha não era? Era sim, Hans se satisfazia com o sofrimento delas.

Você sabe o que ele fazia não sabe?

Eu vi o que ele fez há um tempo, mas não pude agir. Porque crianças não agem, não tem forças pra lutar contra braços fortes e maus. Por isso não agi. E então meu pai me levou e me guardou junto a ele até que pudesse voltar e fazer algum trabalho digno. Ele sabia que precisava me vingar. Crianças não se vingam...

Mas Mary não era só uma criança.

A vingança só é bem sucedida se agirmos conforme o tempo.

— Ola Hans, lembra de mim?

A voz melodiosa de Mary preencheu o quarto escuro. Hans fechou os olhos e se pôs de joelhos. “Por favor... tenha piedade, por favor...” pedia enquanto batia sua testa nas rachaduras da parede descascada e úmida. Quer dizer que agora ele se arrependia?

Mary gargalhou.

Ela não.

— Não está pronto para morrer Hans? Não lembra tudo de ruim que já fez?

Atravessou o único móvel presente no quarto. Uma mesa redonda de pedra... Mary se lembrava daquela mesa. Lembrava de estar deitada nela, lembrava das lagrimas e da dor que sentiu... Lembrava da ultima vez que fez nove anos.

Agachou-se atrás do homem.

— Está preparado Hans? Acredita que terei piedade de você? Acha que ainda sou aquela garotinha indefesa Hans? – sorriu. – Eu não sou. Eu aprendi agora, eu tive a chance de escolher seguir em frente, mas voltei Hans, voltei por você... Para me vingar de você.

O homem se encolheu ainda mais.

— Vamos lá Hans – virou ele de frente para ela. – Sou uma criança, você não gosta de crianças? Vamos ver o que ainda sabe fazer...

Mary arremessou o homem contra a mesa; retirou uma estaca de pedra que há muito tempo era o brinquedo favorito dele. Mary cravou ela no ombro dele.

Urros de dor.

Mary sorriu.

— Está doendo Hans? Eu não sinto nada. – gargalhou.

Mary retirou a estaca e enfiou em seu pé dessa vez, mais gritos. Jatos de Sangue respigavam a parede. A mesma parede que anos atrás fora respingada pelo sangue dela e de muitas outras almas inocentes. A parede que nunca mais seria respingada depois de hoje.

A morte é pouco para aqueles em que o pecado é insaciável.

...

Você esta ouvindo isso?

São gritos de silencio. De dor na alma, de tortura, gritos... Que ninguém nunca mais os ouvirá. Mas sabe quando eles irão cessar?

Nunca.

E eu sou a culpada por todos eles.

Mary. Espírito de vingança, mensageira da morte, ou a própria morte. No que você acreditar é o suficiente.

Mary saiu dali. Seu pai a aguardava. O ciclo estava completo. Agora poderia devolver a sua alma. E o Amor voltaria a ser o comando de tudo. Seu pai agora poderia cuidar dos presentes da Vida e observaria de perto a beleza de sua amada e um dia quem sabe ficariam juntos...

Afinal, quem é que vive sem o tempo?

...

Tic tac

Tic tac

É por isso que o Anjos caem. O Desejo de experimentar as coisas que há na terra são maiores que o Amor pelo Céu. E é por isso que suas almas são aprisionadas em todas as vidas mortais. 

A três séculos... Eu era apenas uma garotinha, de verdade. Mas a três séculos minha vida foi interrompida antes mesmo de eu entender a grandeza do que era a Vida. A três séculos...Celestiais começaram a se mostrar nenhum um pouco arrependidos e causar caos e sofrimento na Terra. A três séculos...Deixei de ser criança. E quando o Tempo para mim parou...Ele me resgatou e até hoje eu não poderia ser mais do que uma alma perdida.

Até hoje. Três séculos depois a minha morte foi vingada. E a dor e o sofrimento dos mortais, por ora, extinguidos. Por minha causa.

Uma alma ruim por uma boa. 

As vezes um sofre para milhares não sofrer.

Hoje. Após três séculos eu finalmente posso me juntar ao Tempo. Lá acima das estrelas. Num lugar chamado: Infinito. Onde a dor e a Morte não ousam chegar perto. Um lugar onde posso ser feliz. 

Você que ainda não vai se juntar a mim agora...Só peço que por favor: Viva enquanto isso!

Com amor, Mary.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ja que a esperança é a ultima que morre, aguardo comentários. Essa one eu fiz em uma aula de português (juro que eu tava prestando atenção). Basicamente não tem a ver com nada, foi apenas uma ideia que surgiu na minha cabeça e eu escrevi ela. A vontade de postar foi mais forte do que eu, então postei. Pero, como tenho que me dedicar as outras estórias, essa aqui é só um brindezinho. Espero você nas minhas notificações :)L. Winchester