Kilian escrita por Dessa_Soliman


Capítulo 11
Kilian e Ana




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A autorização para a expedição foi conseguida com muito esforço. Se não fosse a ajuda de alguns contatos que adquirira, Kilian tinha certeza que ela nunca sairia. E assim sua equipe se viu dentro da nave a eles destinada, viajando entre túneis de minhoca pelo espaço na viagem mais longa que fariam em suas vidas.

Eles finalmente tinham privacidade e total liberdade, já que a distância impedia o controle da base de observá-los.

Pela primeira vez, Kilian mostrou os arquivos para seus companheiros. Assim como ele, todos ficaram com aquela duvida do que tudo aquilo significava, com uma missão que, pela primeira vez, não tinha objetivo nenhum.

Pelo menos que eles conseguissem ver.

— Por que não nos contou antes que tinha esses arquivos? — Ana ainda estava com raiva dele. Ele a entendia. Iria odiar se ela tivesse escondido algo de si sobre Dilian.

— Não ia fazer diferença. — Ele ainda se debruçava sobre a tela central da cabine. A tela transparente se erguia a sua frente, em uma visão 3D para onde quer que se movesse. As mãos estavam sobre o painel, enquanto ele analisava tudo pela vigésima vez. — Tem uma série de códigos que eu não consigo quebrar, não importa o que eu faça. A mesma série de códigos... — Ele demorou para assimilar aqueles códigos com o SIAA inquebrável de seu irmão, abandonado em seu antigo quarto sob os cuidados de seus pais.

Ele nunca pensou que ia se encontrar com códigos inquebráveis, e ali estava ele.

Por isso seu irmão era o melhor.

— Não importa se ia fazer diferença, Kilian. Você não entende que isso deixou de ser sobre sua vingança há muito tempo? Não é mais pessoal, seu egoísta idiota. — Ana se tornava cada vez mais instável. Seus picos de descontroles ficaram ainda mais frequentes depois que a missão foi anunciada. Isso deixava Kilian entre o desconforto e a desconfiança.

Encarou-a, o cenho franzido e aquela expressão que todos odiavam. Uma expressão que analisava a pessoa como uma máquina, como ele fazia quando tinha um brinquedo novo em mãos.

E ao mesmo tempo era autoritária e fria. Distante.

— Cartas em mesa. O que você está me escondendo? — O resto da tripulação era um fantasma naquela sala. Sumir parara de conversar com Jora para prestar atenção na discussão do casal. Eram discussões frequentes, mas pela primeira vez realmente reparou na coisa, que parecia séria. — O que você sabe dessa missão e não está me contando, Ana?

Kilian cruzou os braços em frente ao corpo, os olhos faiscando em desafio a outra contrariá-lo. Era a postura de um líder, a mesma postura que lhe rendeu aquele cargo.

— Você é um babaca. — Mas era uma postura que não funcionava com Ana. Não mais. Não desde que a toxina quebrou com seu cérebro e ela passou a depender de medicamentos para não ser dominada por algo que ninguém entendia realmente. Algo que infectava sua nanotecnologia, e não importava o que fizesse, não tinha como impedir que os novos nanochips fossem infectados. Eles sempre o eram. — Eu já tinha te dito para não se meter nisso. Há anos, Kilian. E eu pensei que tinha finalmente abandonado essa merda. — Kilian se viu quebrar mais uma vez perante a hostilidade de Ana. Aquele rancor guardado retornava, lentamente, deixando sua expressão facial e corporal mais dura, menos aberta, demonstrando o quanto aquela mulher o machucava. — Você é tão idiota quanto Dilian. Ele também se metia no que não devia. Eles sabem que você é como ele. Que você não pode ser controlado, Kilian. Eles estão te usando como cobaia e você não notou isso. Nunca notou. Por isso ainda está vivo.

Kilian não segurou sua raiva, puxando a outra pelo colarinho do uniforme, colando seus corpos o suficiente para que ela sentisse a energia do outro, instável, beirando a explosão, como já acontecera.

E ela tremeu. Porque aquela primeira explosão quase fodera com seu Condutor de Pulso Elétrico, assim como seu sistema nervoso.

— O que você está escondendo, Ana? Por que esse lugar te causa tanto medo? O que tem aqui? — Ela encarou-o, deixando o medo no fundo da sua mente e deixando seus instintos a guiarem. Instintos esses que desde o evento traumatizante de sua vida, deixara-os primitivos. Animais.

Ela cuspiu na cara de Kilian.

E ele só não perdeu o controle porque em questão de segundos não mais segurava Ana. Sumir estava a sua frente, impedindo-o de ver a humana, enquanto Pierail segurava-o discretamente pelos ombros e Jora levava Ana embora.

Antes, porém, de ir, ela se desvencilhou de Jora, voltando para perto de Kilian, tão perto quando Sumir permitira, claro.

— Não é o que tem lá, seu babaca. É o que Dilian deixou lá. Dilian descobriu aquele planeta. Dilian fez o primeiro contato com a vida inteligente de lá. Era a terceira vez que ele ia praquela merda. Dilian quase começou uma guerra intergaláctica por causa de um garoto daquele planeta. Um espécime do gênero masculino. Esse garoto tem todos os segredos do seu irmão e a chave para destruir toda a forma de vida que nós conhecemos. Para mudar tudo.

E saiu bufando, impedindo que fosse tocada ou que alguém chegasse perto dela. Kilian sentiu toda a raiva dentro de si desvanecer com aquela notícia. Demais para si mesmo, ele tinha que dizer. Se não fosse por Pierail o segurando, talvez caísse.

Seu irmão tinha alguém, e nunca contara nada para sua família.

Ele sentiu a raiva por seu irmão ser tão babaca, por ter tantos segredos. Ele criara uma vida para os pais, para ele próprio. Ele desenvolvera histórias e ocultara boa parte da verdade. Quem realmente era seu irmão? Seria tão mais fácil se ele tivesse lhe contado as coisas.

Se afastou do primo, ignorando qualquer chamado que viesse de sua tripulação, sentindo que iria explodir a qualquer momento. Implodir, seria a palavra mais exata, porque sua energia estava estável novamente, enquanto sua mente entrava em um conflito com a imagem do irmão e aquelas novas palavras.

Caiu em sua cama, e ali permaneceu até estar calmo o suficiente para conversar com Ana.

E eles nunca conversaram, porque naquela noite a única coisa que fizeram foi transar, enquanto sabiam que no dia seguinte estariam pousando no início de tudo.

Kilian sentia que as respostas estavam próximas, e isso encheu-o de pavor. Ele não queria mais saber quem era Dilian.

Ele queria sua antiga vida de volta.

...

— Eu ainda não consigo entender como perdemos tantos dos sinais que meu irmão deixou para nós. Estava tudo na cara, minha família e eu que não queríamos ver. Nós erámos os imbecis, não Dilian. — A voz de Kilian baixara diversos tons. Seu olhar não era mais determinado e Emir sentiu até mesmo seu controle sobre aquela projeção mental vacilar.

Kilian mantinha seu controle na história, envolvendo-se emocionalmente com cada momento, como se fosse um livro, uma história contínua.

Emir se impressionara com o controle do garoto, mas isso beirava ao sobrehumano.

A agora podia ver o peso que era a sombra de Dilian sobre o irmão mais novo.


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