Harry.

Na segunda semana de agosto, alguns dias após o término oficial do noivado, o cacheado se encontrava em frente ao computador tentando se concentrar. Sua cabeça girava conforme a luz adentrava o quarto pela persiana, dando um ar monótono para o ambiente.

Quatro meses.

Fazia quatro meses que não se viam. Trocaram algumas mensagens depois de tudo, mas dificilmente fora algo caloroso. Zayn estivera em parceria com Naughty Boy, e fora visto em estúdio, até lançara uma música. Dizia-se feliz em frente as câmeras, confortável com sua situação atual. Parecia estar aproveitando seu tempo livre, saindo com amigos quase toda noite. Talvez Los Angeles estivesse lhe fazendo bem, no fim das contas.

Harry às vezes podia sentir o peso da máscara que o amigo carregava. Uma máscara para esconder do mundo o quão próximo do abismo ele estava. Uma máscara para evitar o desespero generalizado e a polêmica que jogaria longe o pouco de estabilidade que tentava juntar para si. Uma máscara para limitar sua visão, impedindo que seus olhos se desviassem e perdessem o foco. Zayn criara uma fantasia ao tentar facilitar as coisas, mas aquilo só o enevoava mais.

“E ele nem se dá conta”, pensou.

Ajeitou o notebook sobre a perna e começou a digitar antes que se confundisse com os próprios pensamentos.

Seria legal se soubesse que nunca te julguei, e eu tenho consciência de que nunca poderei fazê-lo. Não julguei antes, não julgo agora, e nunca irei.

Tinha vontade de gritar para que todos se calassem. Ninguém nunca entendeu o que realmente acontecia com Zayn, nem ele mesmo, e o moreno não deveria ter que de lidar com toda a especulação sobre sua vida pessoal, ou ainda os julgamentos.

Eles eram a pior parte, na opinião de Harry. Afastavam-no a troco de nada e magoavam-no sem precedentes. Não era justo, mas infelizmente conforme os meses passavam ninguém parecia se importar.

E agora o término. Mais notícias, mais perguntas sem de fato buscarem por uma resposta. Mais pressão sobre os ombros do outro.

Claro que eu soube sobre a Perrie e sinto muito que as coisas tenham chegado a esse ponto, mas não é essa a razão da mensagem.

Lembrava nitidamente dos sorrisos do mais velho: contidos, na maioria das vezes, e simples. Nem sempre frequentes. No entanto, antes de mais nada, eram sinceros e aquilo sempre foi o mais importante, para os quatro. Tão sinceros e significativos que faziam Harry se perguntar se não era essa a razão para Zayn guarda-los para si. Sua risada infantil, quase como a de um bebê, preenchia o vazio que os abatia devido a vida agitada e sem sossego que levavam. Em momentos de desespero ela os condicionava de volta a normalidade, porque se ele ria então realmente deveria haver uma razão para tal. Para o cacheado ela era como um colete salva-vidas.

Mas o que fazer quando não reconhecia um rastro de seu sorriso a muito tempo, bem antes do fim do noivado ou mesmo do rompimento com a banda? Era quase desesperador. Antes se tornara um fantasma em frente as câmeras, um fantasma movido pelo pensamento alheio; Harry não aguentava a ideia de que ele agora era um fantasma em sua essência. Sua magreza e palidez só acentuavam sua aura cadavérica. A única esperança em toda aquela figuração depressiva era o brilho de seu sorriso; o conhecimento de que ainda havia uma razão para o que quer que fosse, uma centelha de luz em meio a escuridão que o rodeava.

Porém a única expressão que atualmente cobria seu rosto era o desespero e o pessimismo, enquanto sua cabeça estava abaixada em vergonha e expirava a fumaça do cigarro.

Harry só queria vê-lo sorrir novamente.

Onde está o seu sorriso, Zayn?

Encostou a nuca na cabeceira da cama e encarou o teto sem enxergá-lo de verdade. Depois de digita-la a pergunta ficou rodando por sua mente.

A banda se formara a 5 anos e esses foram sem dúvida os melhores de sua vida. Zayn fazia parte disso. O moreno representava uma enorme porcentagem de momentos fantásticos que teve a oportunidade de viver. O moreno proporcionara inúmeros desses momentos. Não era possível que as coisas fossem acabar daquela forma.

Eu lembro da sua gargalhada estranha; ela soava como um pássaro sendo engolido por um gato e o deixando engasgado. Niall a chamava de “crime contra risadas”.

Ela era fantástica, bad-boy, de verdade.

Então me diz, onde você a escondeu? Sei que ainda está ai em algum lugar, só não consegue alcançar. E é por isso que estou aqui, para ajuda-lo a encontra-la.

O que acha, hein?

Uma vez disse que conhecia o verdadeiro Harry Styles. Que apesar de toda polêmica e jogo de mídia, realmente me conhecia. Então deve saber o quanto me preocupo com você e o quanto vê-lo mal está acabando comigo. E você precisa entender que eu também conheço o Zayn Malik por trás dos flashes e que nenhuma fofoca mal falada ou uma briga idiota vai mudar isso. Eu o conheço fora da vista das câmeras, e acredito no que tem escondido por trás de toda essa energia negativa.

Esse não é você, Zayn. Espero que veja isso. Esse não é o seu “normal” e você realmente não deveria passar por esse momento sozinho.

Sentia as lágrimas vindo, tempestuosamente como a dor pelo amigo, mas não se preocupou em impedi-las. Apesar de ter tentado se postar de maneira confiante e mostrar que a banda estava mais forte que nunca, simplesmente não conseguia acreditar nisso. Zayn deixara um vazio impreenchível e com o qual nenhum dos quatro sabia como lidar, e a pior parte fora descobrir que o outro sentia esse mesmo vazio a muito tempo.

Harry não se importava com a saída do moreno na banda. Não se importava que tivesse largado a turnê pela metade para depois voltar aos estúdios com outro cantor. Não se importava que tivesse dispensado sua noiva por mensagem de texto e causado um drama irremediável. Acreditava que Zayn deveria fazer o melhor para si mesmo, independente do que os outros pensariam. Ele tinha o direito de escolher o rumo de sua vida, para variar. Mas não suportava ver o amigo naquele estado deprimente. E milhões de vozes desgostosas resmungando em seu ouvido não iriam ajudar em nada.

Eu sempre estarei disponível para o que precisar, assim como você sempre esteve para mim durante os tempos difíceis. Independente do que digam, eu o apoiarei. Eu vou ser aquele cara no aeroporto segurando uma plaquinha escrito o seu nome e um buquê de flores, apesar de achar que motoristas geralmente não carregam buquês e que não faria o mínimo sentido. Talvez eu até dance. Deveríamos dançar, DJ Malik. Hein, hein?

Suas bochechas estavam molhadas quando levantou a mão para secar o rosto. Inspirou pesadamente. Provavelmente perdera a linha de raciocínio, mas não queria ler o que escrevera. Não ligava se as palavras estivessem confusas contanto que Zayn as visse; ele iria entender, de qualquer forma.

Conseguia ver a figura temerosa e desesperançada do amigo, ofuscado pela sombra que o cercava, e riu, choroso. Apesar da falta que sentia de sua companhia torcia de dedos cruzados para que Zayn tivesse feito a escolha certa, ainda mais porque àquela altura do campeonato dificilmente haveria um retorno.

Esperava que Zayn fosse forte o suficiente e aguentasse a noite que se estendia, fosca e sem estrelas. Mas de qualquer forma Harry estava mais que disposto a persegui-lo com uma lanterna se fosse preciso.

Sei que as coisas estão difíceis agora, mais que nunca. Talvez tudo pareça sem sentido ou em vão. Mas não se desespere; mesmo que você grite ou esperneie isso vai voltar para si. E eu estarei aqui por ti.

Se deixar, nós encontraremos um caminho pela escuridão.

All the love,

–H.