She Wasn't Brought Up That Way escrita por Bells


Capítulo 1
Piloto


Notas iniciais do capítulo

Música da rainha Taylor Swift



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Contava sete anos quando a mãe morreu. Contava 14 anos quando começou a lutar contra uma doença que tinha vantagem sobre ela. Contudo, isso não era nada, ao contar 16 anos ela conheceu os monstros que se escondiam de baixo de sua cama quando era pequena, mas que agora caminhavam lado a lado com ela na rua.

Havia sido uma garota popular e querida na escola, até que começou a perder seus cabelos, eles demoraram a crescer novamente e já não eram tão belos quanto antes. Ela já havia emagrecido demais, o corpo esbelto que ela tinha aos 14 anos foi sumindo simultaneamente com seu cabelo. Já não possuía mais tantos amigos quanto antes, já não se divertia como antes.

Havia passado grande parte dos anos entre os seus 14 e 16 anos em um hospital, recuperando-se e lutando. Havia perdido um ano e já não pertencia a uma turma de amigos, agora eram desconhecidos os rosto que a cercavam. Havia aprendido a passar de extrovertida a recatada. Não era um problema, não depois de tudo que havia enfrentado. Depois da escola Emily ia feliz para casa sabendo que os braços quentes de seu pai estariam a sua espera, de vez em quando ele a ajudava com os estudos, de vez em quando jogavam canastra, pife, banco imobiliário e uma vez ele até a ensinou a jogar poker. Nos dias chuvosos e frios ele fazia pipoca de melado para ela e eles viam filmes em preto e branco. Ela não tinha do que reclamar, até ai sua vida era perfeita e teria continuado sendo se não fosse pela escola, ou melhor, pelas pessoas que lá estavam.

–Hey Emily aposto que sua buceta tem mais cabelo que sua cabeça.

–Ei magricela, cuida para esse vento não te levar.

–Isso se chama sutiã Emily, e você vai economizar uma baita grana por nunca precisar comprar um.

–Ia te falar para sentar essa bunda na cadeira, mas eu não achei a bunda.

–Ei, Emily, você podia ajudar na nova campanha da revista local, estão entrevistando anoréxicas.

–A quimioterapia erradicou o câncer e o seu corpo todo também.

Comentários como esse a cercavam nas poucas horas que ela ficava na escola, na maioria das vezes ela não se abalava, mas algumas vezes já se pegara na frente do espelho, nua, procurando as curvas que um dia tivera, ou suspirando, tristemente, enquanto escovava o cabelo que não possuía mais longas ondas carameladas. Parecia uma rotina normal para ela, que logo acabaria, ela só precisava ignorar por mais um tempo.

Até que um dia a rotina se quebrou.

–Ei cuidado ao entrar no banheiro feminino Emily eles podem te confundir e você levará uma suspensão.

Dessa Emily riu e rolou os olhos, a piada havia sido tão ruim que a distraíra tempo o suficiente para bater em alguém e derrubar todos seus livros.

-Ah! - ela se assustou e se abaixou para juntar os materiais - Foi mal.

–Está tudo bem, Emily - ele disse sem nenhum nojo ou desdém na voz.

– Apenas "está tudo bem, Emily"? Nada de o câncer chegou ao seu cérebro? Sério? Essa me decepcionou.

Ele riu e pegou seus livros entregando a ela os dela.

– Eu acho que eles falam um monte de besteiras - ele sorriu para ela e estendeu a mão - Sou Kit e para constar não te acho uma magricela desengonçada.

Ela gargalhou e apertou sua mão.

–Como já sabe: Emily. Gentil de sua parte dizer isso logo depois de eu bater em você e derrubar todos seus livros.

–Sou um cara gentil.

–Fico feliz então. - ela deixou que o tempo voasse enquanto fitava o sorriso dele e sorria de volta - Ah, eu tenho que ir para aula.

– Ah, sim, é bom que eu vá também. Ei você quer... sei lá, sair?

–Sair?

–É, tipo tomar um café ou qualquer coisa. Se não quiser chamar de encontro pode dizer que vai me ensinar matemática ou qualquer dessas coisas ai.

Emily enrubesceu e sorriu.

–Tudo bem, eu adoraria ir tomar um café e estudar qualquer dessas coisas ai com você.

–Legal, então te vejo depois

–Beleza.

Emily sustentou o olhar dele por alguns segundos, mas deixou ir, virou-se para frente e seguiu seu caminho, estava vermelha e encolhida dentro do casaco. Não fazia ideia do que tinha feito, ela não saia com ninguém desde os 14 anos de idade e nem lembrava como era conviver com alguém que não seu pai ou o pessoal do hospital. Ela havia ficado tão grata e feliz que ao menos uma pessoa dessa escola a havia tratado como o que ela realmente era – uma garota, apenas uma garota – que isso deve tê-la feito aceitar o convite sem hesitação.

No final de seu último período ela pediu licença e foi ao banheiro, olhou-se no espelho e encontrou claramente uma magricela com jeans rasgados, uma blusa vermelha e um casaco de couro, encarou seu rosto e sentiu falta da maquiagem que costumava usar todo dia, passou um brilho labial e se sentiu boba ao dar tapinhas na bochecha para deixá-las coradas, por fim penteou seu cabelo curto com os dedos, ele não chegava nem aos ombros. Não havia muito mais o que fazer, voltou para a sala de aula e encarou o relógio até o fim do período.

-Hey - ela o cumprimentou na porta de saída.

–Oi, Emily! Meu carro está do lado daquela árvore.

–Wow, carro é?

–Claro, você precisa de um primeiro encontro com estilo.

Emily gargalhou enquanto entrava no carro.

–Primeiro: esse não é meu primeiro encontro. E segundo: estamos saindo para estudar uma daquelas coisas lá.

Kit riu e ligou o rádio.

–Tudo bem então, parece que você já teve vários encontros então.

–Eu era bem bonita há uns dois anos okay?

– Você é bonita, só não vê isso porque deixa que eles te influenciem.

–Obrigada, eu acho.

–De nada. Ei gosta desse lugar?

Kit apontou para o Hard Rock Cafe no centro da cidade.

–Eu não sou um E.T! eu amo o Hard Rock!

–Ótimo, porque eu amo os nachos deles.

Kit até abriu a porta para ela e isso estava deixando-a animada e esperançosa demais. Ele era um garoto bonito, popular, jogador de basquete e queria sair com ela.

–Você é mais legal do que parecia ser - Emily diz enquanto abre o livro de história sobre a mesa e diz para a garçonete que eles vão querer nachos e coca-cola.


–Obrigado, eu acho que é um elogio - Kit fechou o livro dela e sentou-se ao seu lado.


– Achei que íamos estudar qualquer coisa.

Ele riu e ela se sentiu encabulada.

–Eu sei tudo isso, Emily. Só queria sair com você. Você me parece ter um grande coração.

Emily ergueu uma sobrancelha cética.

–Essa cantada eu já conheço. Não seja tão esperançoso eu sou reta que nem uma tábua - ela tira jaqueta para dar ênfase - Está vendo?

Kit solta uma gargalhada alta e chama atenção de alguns clientes, Emily usou a mão para tapar sua boca.

–Shhhh!

–Okay, parei. Cara, você ainda me mata.

–Espero que não - Emily passou a cochichar para não chamar atenção -Homicídio é crime.

–E ser bonita assim não é?

Emily queria gargalhar tão alto quanto ele, mas tapou sua boca e deu uma risada baixa.

–Quando é seu aniversário?

–3 de março, por quê?

–Para eu te dar um livro de cantadas. Você é péssimo.

–Ai, você é má.

–Só um pouquinho - Emily usou o dedão e o dedo indicador para mostrar o quão má ela era.

–Então o que é uma cantada boa para você?

–Para mim cantadas são péssimas.

–Ta, mas o que o cara faz então?

–É direto.

–Então tá. Direto. Vamos ver. Eu posso te beijar?

Emily sorriu e os olhos brilharam por uma fração de segundo, ela estendeu o braço para pegar um nacho.

–Quem sabe quando você me levar para casa.

Se palavras fossem segundos digamos que eles as jogaram fora 3600 vezes antes que Kit, como um cavalheiro, estendesse a jaqueta de couro para Emily e a levasse para casa.

– E ai? - Kit levantou uma sobrancelha ao estacionar o carro na frente de uma casa simples de madeira.

Emily sorriu e pôs o cabelo para trás da orelha, inocentemente, fingiu não saber as intenções de Kit.

– O que foi?

–Será que ser direto funciona agora?

–Por que você não tenta?

Kit sorriu para ela, agora ele via, aqueles olhos bondosos escondiam malícia e um desejo de ser amada.

–Feche os olhos.

Ela obedeceu. Com os olhos fechados ela lembrou-se de estabilizar a respiração, como se um beijo fosse algo que a entediasse, mas lembrou-se, também, de manter um leve sorriso nos lábios. Isso era sempre o suficiente. Quando os lábios de Kit tocaram os seus ela deixou que fosse ele a se inclinar para beijá-la e não o contrário. Ele passou as mãos em seu cabelo e o pós de trás da orelha.

–Funcionou - ela disse ao se afastar buscando ar.

–E muito bem, eu diria.

Transgredindo suas regras ela se estendeu e deu a ele um rápido encostar de lábios.

–Tente de novo amanhã. Obrigada por hoje.

Havia aprendido a nunca dar tempo para eles responderem, talvez porque gostasse de fazer mistério, talvez porque isso havia funcionado com os outros rapazes ou porque, talvez, se um dia contasse a alguém, daria um ar mais sensual a história.

–Emily? É você? - o pai chamou da poltrona habitual, a mão eternamente recostada no braço da poltrona da mãe, esperando um leve tocar que não viria.


–Sim, papai.


–Chegou mais tarde do que o habitual - ele virou para encará-la e a pegou sorrindo - Está tudo bem?

–Tudo bem, papai - ela o beijou na bochecha e empurrou os óculos meia lua dele de volta para o lugar - Pronto para uma partida de canastra hoje?

–O chá e as cartas esperavam por você... Tudo bem na escola?

Ela serviu uma xícara de chá para ela e para o pai enquanto ambos se aconchegavam, frente a frente, prontos para a partida. Ela bebericou a bebida.

–Melhor do que o habitual.

–Vou querer saber por quê?

–Digamos, apenas, que devemos valorizar pequenas ações. Como atos de gentileza.

–Humm... ótimo, essa é minha garota. Tomou os remédios hoje?

–Tomei. Por quanto tempo acha que serão necessários? Estou sem resquícios há...

–Um ano, três meses e nove dias.

Ela sorriu para o pai enquanto colocava as cartas na mesa.

– Isso.

–Acho que serão necessários até o doutor interromper. Não quero ser precipitado, seu sistema imunológico ainda é frágil, sabe disso.

–Sei. Tudo bem, eles não são um empecilho.

O pai sorriu observando as cartas.

–Nada é um empecilho para você, Ems.


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Notas finais do capítulo

Meu sincero agradecimento a todos que leram



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