A tão conhecida pressão em meu peito torna a afligir-me, corroendo aos poucos o que ainda resta dos fragmentos de minha alma. Levo minha mão ao peito e agarro ali o tecido do terno de linho, suspirando pesadamente enquanto as memórias tortuosamente correm em minha mente.

Sorrio, com o único objetivo de mascarar as lágrimas que teimam em tentar escorrer por meus olhos. Lágrimas estas que acreditei há muito estarem secas, mas que se provaram ainda úmidas e abundantes conforme os acontecimentos se desenvolveram em minha vida. Um suspiro profundo deixa meus lábios e eu levanto, observando uma última vez o parque em que havia passado o dia.

Uma situação recorrente.

Uma atitude tola.

E que, ainda assim, insisto em repetir.

Jurei a mim mesmo que jamais me apaixonaria novamente, mas aqui estou, uma vez mais atado pelas correntes de um amor inalcançável.

Um amor que uma vez obtive, mas que deixei que me escorresse por entre os dedos. Não há nada que eu possa fazer para recuperá-lo, pois, como a água que toca o solo aquecido pelo sol, você já evaporou para um lugar distante. Completamente longe de meu alcance.

Tudo o que me resta agora são as lembranças que deixastes. As amargas lembranças. Lembranças de dias em que sorrimos juntos, perfurando meu coração como uma lâmina sedenta, assombrando meus sonhos e perturbando minha mente.

Um sofrimento abundante, pincelado pelo negrume do vazio.

No entanto, há muito optei por deixar isto a cargo do tempo. Aquele que por muito considerei meu algoz, ao me impedir de encontrar-te, agora cura lentamente as feridas que se abriram outra vez.

Ele as trata gentilmente, abraçando-me, me permitindo a dádiva do esquecimento. Traz consigo sua fiel companheira, a solidão, que docemente beija minhas feridas e, aos poucos, recolhe os fragmentos do que um dia chamei de alma.

E uma vez mais, sou capaz de prosseguir.

Uma vez mais, capaz de amar.

Uma vez mais, capaz de cair.

E no momento em que cair novamente, uma vez mais dependerei de meus dois companheiros, que se encarregarão de curar-me novamente.

Pois, diferente de minha mente, meu coração é um tolo incorrigível. Não importa quanto tempo leve, ele continuará em sua busca impossível pelo amor eterno. Por alguém que o valorize e que cuide de si, tão bem quanto o tempo e a solidão o fazem.

O sol já desponta no horizonte quando decido retornar ao lar que um dia chamei de nosso. As passadas lentas ecoam à medida em que a sola dos sapatos já desgastados entra em contato com o solo pavimentado. Afrouxo a gravata em meu pescoço e me permito respirar fundo, olhando para o céu tingido com nuances de vermelho e laranja, ainda pintado com algumas nuvens acinzentadas aqui e acolá.

E novamente, sorrio. Um sorriso amargo, entristecido, incapaz de transmitir tudo aquilo que sinto.

O silêncio é cortado unicamente pelo som de meus passos, meu olhar distante enquanto gradualmente me aproximo de minha morada; não há pressa, pois apenas a escuridão dos cômodos anseia pelo meu retorno.

Uma vez dentro do estreito apartamento, novamente serei engolido pelo inferno pessoal que é viver sem você. Mas não há problema, pois ainda tenho o tempo e a solidão como meus fiéis escudeiros.

Até o dia em que eu seja capaz de me reerguer, serão tudo aquilo que preciso.

Tudo aquilo que desejo.

Tudo o que necessito para mais uma vez trilhar o tortuoso caminho que é amar.