Hypnagogia escrita por 0 Ilimitado
Dos meus sonhos só me recordo da dor, carregando-a no pescoço, tombando meu torso, como se fosse uma medalha de honra, afinal eu estava muito longe de casa e só restara-me um vinho tinto dos anos 80, com gosto de Hollywood e uma tragada de Espinoza.
Os conselhos que recebia eram de um homem na esquina, que se me lembro bem, erguera um prostibulo e pusera suas filhas em eterna vigília e plantão. Filósofo da zona era como o chamava. O preço? Um barril de cerveja, afinal homens corruptíveis se vendem por um vício, nisto se inclui mulheres, álcool e ópio.
Viajei por áreas negativas, com cores adversas, vi sonhos espalhados por todo o lugar. Rebobinava inconscientemente as armas despostas no chão de giz, meu corpo enrolado em papel carton e um bardo tocando músicas de sua terra, um viking mascarado por um feitiço barato.
Um sacro-germânico me vendeu um troço estranho, chamou-o de Efeito Decaída, aliás, a minha vida se resumia naquilo, um abismo vertiginoso que me impossibilitara de enxergar o profundo poço dos meus desejos.
Naquela taberna com nome de sopa, naufraguei num uísque barato, um homem com barbas fúnebres e grossas, abordou-me, tocando meu ombro com um hálito que se igualava a essência do éter, era a primeira baforada doutro corpo ambulante em anos, desde a minha fuga. Ofegante, oscilando entre arrotos e indagações, lançou-me o estilete da palavra: “O nosso orgulho... Amigo... Tem a mesma utilidade da calcinha... Numa prostituta...”.
Desliguei o mundo e dormi.
FIM, 15/04/2015
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