Conferência Maldita escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Anjo


Notas iniciais do capítulo

Yooooo!

Mai uma one-shot para vocês e cara, tenho que falar isso para o mundo, "ooohhhh temazinho de se escrever hein minha gente!"

Mas desafio é desafio e eu adoro participar de um e entre conversas chegamos a esse lindozo envolvendo várias escritoras de Naruto! São mais de vinte minha gente!

O desafio consiste em ter que escrever um gênero que seja o meu Calcanhar de Áquiles e com toda a certeza, tenho problemas com terror hahahaha
Além do gênero, a autora que me "adotasse" e me desafiasse, escolheria a fanart da minha capa e também os casais que eu teria que usar e carambaaaa....
Carol você me fez bater com a minha cabeça na parede bolando uma história para a sua imagem hahahaha

Sim, sim minha gente! A autora diva que me desafiou foi a Carol (autora de Cuidado como o que você deseja, Rocket Queen, e tantas outras, que meu filho, se eu falar todas as fics delas, ficamos nas NI e não saímos hoje daqui hahaha).
Mas como a vida é justa, quem é desafiado, pode desafiar e eu desafiei a Hitari Amai (uma das autoras de Desafio dos 42, recomendo que leiam a one linda dela)...

Essa one é dedicada para todas as garotas participantes do desafio e principalmente para a minha Desafiante (Carol) e Desafiada (Hitari Amai)!

NORMAL: PRESENTE
ITÁLICO: PASSADO

Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642623/chapter/1

A chuva continuava a cair com força do lado de fora da casa completamente recoberta pelas cinzas e pela destruição que o fogo, que antes se alastrava, já havia se extinguido.

Meus ônix permaneciam presos na pequena elevação abaixo da cerejeira, denunciando que ali havia algo enterrado.

Era a minha amada esposa que eu havia matado e enterrado.

O frio era brutal e arrebatador.

Minhas vestes de luta, antes impecáveis, agora estavam deploráveis, revelando ao mundo como minha alma machucada estava por dentro...

Rasgada, queimada, encharcada de lágrimas e de gotas ferozes de chuva, com manchas de sangue, mas principalmente, cheirando à Morte!

Desviei meus olhos inchados e ardidos, pelas lágrimas que tanto expelir na noite anterior, para o homem loiro e impecavelmente vestido com seu kimono negro.

Seus olhos brilhavam de excitação diante da minha dor.

Um sorriso sádico desenhava a face incomum para um japonês, mas típico de um anjo.

No entanto, os celestes, vez ou outra, mudavam para o carmim, enquanto sua face tomava características animalescas.

Um anjo possuído pelo seu próprio demônio interno...

Não! Ele não é um anjo, é apenas um demônio que destruiu minha vida e tem satisfação de ver o que causou.

Não! Minha mulher era um anjo atormentado pelo seu demônio interno, não ele!

– Você parece péssimo Sasuke – riu sadicamente diante da minha desventura. O loiro se aproximou a passos lentos antes de se abaixar em frente do local onde estava jogado, remoendo silenciosamente as minhas mágoas internas. – Vamos, conte-me, o que aconteceu!

– Como se você não soubesse – ri sem humor para o shinigami. – A culpa é inteiramente sua!

– É claro que eu sei, passei a vida inteira de Sakura ao lado dela, mas o que eu quero escutar é a vida sob o seu ponto de vista – permaneci em silêncio encarando a face sádica à minha frente. – Vamos Sasuke! Você não quer tirar suas dúvidas sobre a sua querida e falecida esposa? – Instigou-me de maneira irresistível.

As dúvidas, os porquês, as cenas de nossa vida reverberavam e inundavam minhas lembranças de maneira tentadora...

Como se o próprio demônio estivesse as colocando, controlando e me tentando a falar...

Quando eu era apenas uma criança de cinco anos e morava em um pacato vilarejo ao Norte do Japão, rodeado de montanhas deformadas para a plantação tradicional de arroz, eu comecei a ser treinado para ser um Samurai, como era tradição da minha família.

O Império estava em seu auge e seus Samurais eram constantemente treinados e criados para que assim permanecesse e esse era o destino de todo Uchiha. Servir ao Imperador.

No entanto, a partir do momento em que comecei a sair de nossa residência para os locais de treinamento, eu pude finalmente descobrir o que tanto atormentava a população local.

Os adultos cochichavam e as crianças espalhavam em suas conversas "inocentes", que havia um demônio entre nós.

Como uma criança confusa e curiosa, pus-me a indagar minha amada mãe. Ela ficou indignada e disse que aquilo era mentira.

Como uma boa criança eu acreditei em minha mãe, já que era isso o que crianças deveriam fazer. Respeitar e acreditar em seus amados pais...

– Como eu fui tolo naquela época – confidenciei ao loiro que me olhava em expectativa. – Nem sempre devemos acreditar em nossos pais, mas eu era ingênuo e dominado demais para desacreditar nas palavras de minha mãe.

– Você se arrepende?

Desviei o meu olhar para o túmulo mal feito de minha esposa, sendo açoitado pela chuva cruel.

– Não – sussurrei.

Certo dia, enquanto caminhava de volta para a minha casa, eu vi algumas crianças xingando e batendo em uma criança maltrapilha que não se defendia, apenas chorava e sofria calada.

Permaneci escondido, observando enquanto eles expeliam palavras de baixo calão e a chamavam de "menina demônio" .

Como uma feiticeira, ela me atraiu.

Eu me aproximei da criança em prantos e machucada.

Ela me olhou com medo, pensando que eu faria a mesma coisa que os outros.

No entanto, assim que vi os orbes verdes, eu sabia que estava completamente perdido e a única coisa que eu conseguia fazer era ficar parado enquanto ela corria com medo.

Eu me perguntava: "Como um anjo como ela pode ser chamada de demônio?"

– Dois dias depois, eu vi as três crianças que a açoitavam, enforcadas em um fio, no centro do comércio do vilarejo. Seus corpos balançavam como pêndulos frios e sem vida.

– Aquelas mortes foram uma delícia de se presenciar – o shinigami umedeceu os lábios em satisfação com a lembrança.

Eu me aproximei aos poucos da garota de incríveis cabelos rosas. Ela sempre fugia, mas depois de alguns anos de insistência, ela me aceitou.

Não nos encontrávamos publicamente por decisão dela. Ela se preocupava e não queria que eu fosse julgado por andar com alguém como ela.

Eu não me importava com os outros, desde que eu ficasse ao seu lado.

Cansei de ouvir seus pedidos chorosos para que eu me afastasse dela, que ela não queria me fazer mal.

Eu sempre a acalentava e dizia que ela não era um demônio como a denominavam e que eu não tinha medo de ficar próximo a ela.

Tudo o que eu queria e necessitava era estar próximo dela. Estar próximo do meu...

– Anjo – murmurei tristemente desviando meu olhar para a minhas mãos calejadas pelos vários anos de treinamento e guerras, agora manchadas pela fuligem, terra e pelo sangue seco dela. – Esse foi o apelido que dei para ela naquela época. Sakura ficou sem reação quando a chamei de tal forma, pela primeira vez em voz alta. "Anjo", eu repeti, antes de selar meus lábios com os doces dela quando tínhamos apenas doze anos.

Nossos encontros eram secretos e logo não era apenas amizade que nos unia, mas sim uma paixão avassaladora que me deixava cada vez mais dependente de sua presença.

Um amor que me fazia amaldiçoar a população local, sempre que via a janela do quarto de Sakura, no Orfanato de Konoha, manchado de tomates e com ofensas escritas com sangue de porco.

"Demônio".

Era o que eu mais lia.

Estranhamente, as mortes aumentaram. Às vezes, os corpos apareciam pendurados, outras, mutiladas na floresta próxima, outros, nem explicação para a morte existia.

– Aposto que era você – acusei com um sorriso sôfrego, o demônio que apenas alargou mais seu sorriso de dentes perfeitamente brancos, alinhados e afiados.

– Eu apenas instigava, mas eram as delicadas mãos de Sakura que faziam o trabalho todo.

– Você a possuía, a obrigava a fazer coisas que ela não queria! – Gritei, sentindo a fúria me inundar.

– Como se você não se sentisse satisfeito, quando as pessoas que você amaldiçoava por terem feito mal ao seu querido "Anjo" apareciam mortas.

Não podia negar. Aquela era a verdade!

Desviei o meu olhar para a casa que um dia eu chamei de lar e dizia que seria feliz ao lado da mulher que eu amava. Porém, apenas as cinzas e os estalares da madeira, denunciavam que aquele local não era mais o mesmo.

Um mero borrão de felicidade, na minha mente cansada.

As guerras explodiram com intensidade. O Império começou a ser ameaçado por constantes ataques pelo rebelde clã Senju.

Os Uchihas eram os mais chamados e os que mais sofriam baixas, pelas lutas sangrentas que eram obrigadas a participar.

Aos poucos, o respeitável Clã Uchiha, foi se definhando. A cada dia que se passava, mais corpos chegavam na antes pacata Konoha.

Eu fui designado para muitas guerras, e delas sair vitorioso, mas com muitas perdas.

Vi meu pai ser capturado como refém. Vi meu irmão dar seus últimos suspiros de vida em meus braços enquanto gritava sozinho naquele mar de sangue. Vi a minha mãe se matar...

Em meio ao desespero daqueles tempos, após alguns membros mais velhos do clã descobrirem que eu me encontrava com a garota demônio, sempre que voltava para Konoha, proibiram-me de encontrá-la, dizendo que aquilo era uma maldição dela.

Eu neguei suas ordens e por isso fui punido...

– O que eles fizeram com você? – Perguntou com os olhos curiosos, que constantemente mudavam de cor, brilhando em expectativa.

– Eles me amarraram em um tronco no centro de um salão principal da casa. Rasgaram a minha camisa e me açoitaram durante horas na frente de todos os principais membros como uma nota de aviso. Perdi a minha voz de tanto gritar quando o chicote rasgava a minha pele, deixando-me em carne viva. Mesmo inconsciente, continuaram me açoitando. Acordei três dias depois em meu quarto. Fiquei um mês sem conseguir sair nem da minha cama. Até hoje as cicatrizes permanecem vivas em meu corpo, para que toda vez que eu as olhasse, eu me lembre da dor.

Sakura estranhou o meu sumiço e até pensou que eu havia a abandonado. Quando eu finalmente consegui sair da cama e voltar para a ativa, não perdi tempo, fui até o nosso local de encontro, encontrando-a aos prantos devido a dor de ser abandonada.

Eu a acalentei e dei uma desculpa, no entanto, durante nossos beijos, ela viu minhas ataduras e marcas.

Tive que contar a verdade, o que a desesperou. Ela quis fugir, terminar tudo comigo, mas eu disse que se ela fosse embora, eu iria atrás dela.

No fim, a cada dia que se passava, misteriosamente algum Uchiha aparecia morto. Retornei para mais algumas batalhas, até que um dia, ao retornar para Konoha, não havia mais nenhum Uchiha me esperando...

Olhei para o shinigami que me olhava com uma sobrancelha erguida. Eu já conseguia imaginar o que havia acontecido naquela época.

Naquele tempo, ao invés de luto, senti minha alma se libertar. Eu tinha 20 anos e desposei Sakura chocando toda a população local.

Retirei ela do Orfanato que a escravizava e a maltratava de todas as formas possíveis e a tornei a minha Senhora Uchiha.

Era apenas eu e ela em nossa residência. Não havia mais a grande família, que quando eu era criança costumava ver. Não havia mais ninguém e isso me alegrava.

Sakura cuidava de todas as tarefas domésticas com destreza e nunca reclamava. Muitas vezes a pedi que contratasse serviçais, só que ela dizia que não precisava.

Na verdade, eu sabia que ninguém queria trabalhar para a mulher demônio e muito menos, Sakura, queria ver os olhares reprovadores dentro de sua casa.

Permanecemos assim por alguns anos. Eu sempre tinha que ir para as batalhas, enquanto ela permanecia sozinha em casa.

– Apenas saber que ela me esperava era o suficiente para que eu lutasse pela minha própria vida.

No entanto, quando eu tinha 25 anos e voltei de uma batalha, um dia antes do esperado, flagrei uma cena que me tirou o ar. No meio do comércio, Sakura era arrastada pelos cabelos e em prantos pela população local.

Bruxa!

Demônio!

Shinigami!

Gritavam e a humilhavam enquanto jogavam tomates e até pedras nela.

Ei! – Corri para proteger a minha mulher que se encolhia no centro da roda. Segurei o pulso de um homem que se preparava para jogar uma pedra. – Machuca a minha mulher e eu te mato! – Ameacei em um sussurro capaz de assustar toda a população.

As pessoas correram e se trancaram em suas casas, mas não antes de dizerem que ela era amaldiçoada.

Meus olhos frios e raivosos caíram sobre a mulher trêmula e suja de tomates. A carreguei no colo para a nossa casa e lá nos tranquei.

Como uma criança, eu lavei e cuidei de Sakura. Ela apenas permanecia com o olhar no chão, ao mesmo tempo que penteava seus longos cabelos tentando tirar o excesso de extrato de tomate ali depositado.

Eu os odeio – confessou em um sussurro, enquanto seus olhos marejados olhavam um ponto qualquer com fúria.

Surpreendi-me com as suas palavras, ela nunca falara mal de ninguém, mas era compreensível que ela odiasse tais pessoas.

Vamos para um lugar melhor, onde não tenha ninguém para nos fazer mal. Vamos ser felizes, só eu e você, eu prometo!

– Ela não disse nada. Apenas permaneceu calada, enquanto limpava seus machucados causados pelas pedras. Eu mandei construir essa casa no meio de uma clareira, onde ninguém poderia nos encontrar. Sakura se assustou no início, parecia que havia visto algo, mas logo fingiu está empolgada com a bela casa de jardins bem cuidados.

– Ela me viu – disse calmamente o shinigami. – Antes, ela apenas me ouvia raras vezes e isso a enlouquecia – riu em prazer. – Sakura ficava linda em meio as suas crises de loucura. Você nunca estava por perto para ver, por isso não sabe sobre o que eu digo – encarei-o com fúria, mas meu corpo me traía deixando-me ao relento, no chão frio. Eu queria matá-lo, mas como se mata algo que nem está vivo? – Assim que ela me viu pela primeira vez, ela sabia que tudo pioraria dali por diante...

Dois meses depois, eu recebi a notícia que Konoha havia sido atacada. Eu estava em mais uma batalha à mando do Imperador, mesmo assim, não parava de pensar em minha amada esposa.

Assim que a batalha terminou, fui o mais depressa possível para perto de minha esposa, mas Konoha ficava no caminho e te confesso, a visão que eu tive foi pior do que a guerra...

Muitas das residências estavam destruídas. O fogo se alastrou pelas casas tipicamente japonesas de madeira.

Apenas poucas estruturas com perigo de desabar sustentavam-se tremulamente.

O chão estava tingido com uma mistura de sangue e cinzas.

O vento frio, daquele fim de tarde carregado de nuvens cinzentas, fazia as folhas de outono transitarem por aquela cidade fantasma.

Corpos mutilados, enforcados e envenenados estavam por todos os lados.

O suspiro sombrio da ventania que me acertava com força me fez correr.

Corri. Corri. Corri.

O desespero tomava conta de mim!

Sakura! – Gritava enquanto adentrava cada vez mais na floresta em busca de minha esposa.

Entrei desesperado em nossa residência. Gritei, mas nenhuma resposta eu tinha como retorno.

Minhas mãos tremiam com as possibilidades que poderiam ter ocorrido com o meu Anjo...

Caminhei lentamente pelo corredor estreito de nossa residência. Os galhos das árvores arranhavam o telhado, fazendo barulhos serem reverberados para o interior da residência.

Uma sensação de perigo se instaurou em mim.

Peguei a minha katana e voltei a caminhar lentamente, mas a madeira do assoalho, parecia ranger a cada passo que eu dava.

O som de um porta joias tocando assustou-me. O som parecia mais alto que o normal.

A penumbra e sombras fantasmagóricas das árvores na parede à minha esquerda, atrapalhavam a minha visão.

Sakura? – Chamei-a, mas apenas o som continuava.

Dobrei para a esquerda e segui para um quarto que pouco utilizávamos, mas era de onde o som vinha.

A canção parou, mas logo o som voltou a tocar denunciando que alguém estava com a caixinha de som.

Com a katana em punho e uma gota de suor escorrendo pelo meu pescoço, arrastei a porta, dando-me visão para o quarto tomado pelas sombras.

Desviei o meu olhar para o centro do quarto e vi Sakura sentada de joelhos com a pequena caixinha de joias – que dei de presente para ela durante nossa adolescência – tocando entre suas delicadas mãos.

Sakura? – Mas ela não me escutou, só quando balancei levemente seus ombros, minha mulher pareceu despertar e me olhar confusa.

Sasuke?

Você está bem? Eu te chamei e você não respondeu – ajoelhei-me ao seu lado.

Ah sim... claro que eu estou bem, querido – ela sorriu, mas eu sabia que era forçado.

Aconteceu um ataque em Konoha, fiquei com medo de que algo tivesse acontecido com você – a abracei, afundando meu rosto em seus cabelos com cheiro floral, mas o cheiro de sangue fresco, chamou a minha atenção.

– Os pulsos de Sakura estavam cortados – lembrei-me, antes de levantar meu olhar para o loiro. As sombras deixavam seu rosto com o sorriso largo, ainda mais sombrio.

– Ah! Eu me lembro desse dia. O dia em que brinquei com a mente de Sakura. Eu sussurrava continuamente, "Eles fizeram mal a você", "Eles merecem pagar". Você tinha que ver o sorriso que Sakura tinha em seu rosto enquanto matava pais, mães e crianças inocentes. Enquanto ela desmembrava as pessoas que a humilharam tanto. No fim, ela pôs fogo no vilarejo e assistiu até que tudo virasse cinzas – gargalhou alto caminhando em círculos pelo pequeno cômodo intacto. O maldito cômodo, na qual havia encontrado Sakura com os pulsos cortados. – Hm. Olha o que temos aqui – agachou-se no centro e tocou em uma pequena mancha escura. – Pelo visto, as marcas ainda continuam intactas – riu com prazer.

Eu cuidei de Sakura e prometi que ficaria com ela durante o máximo de tempo que pudesse. As guerras diminuíram de intensidade, porém, não haviam se extinguido.

Ela disse que havia se machucado sem querer, mas assim que eu encontrei a faca com manchas de sangue na gaveta do armário da cozinha, eu soube que havia algo de errado.

Não comentei, apenas cuidei de meu Anjo, acolhendo-a em meus braços durante aquelas noites chuvosas.

Sasuke, nós vamos ficar juntos para sempre? – Perguntou, certa vez, enquanto estávamos abraçados, prontos para dormir. Ela estava encolhida, mexendo inocentemente nas ataduras em seus pulsos.

Claro, meu Anjo – beijei sua testa. – Estou aqui, não estou?

Às vezes me sinto sozinha – confessou. – Sou melhor quando você está comigo – sorriu meiga.

Eu não entendia, mas hoje eu entendo à que ela se referia.

Os dias passaram tranquilamente, até que depois de fazer um trabalho pesado, cortando lenha, decidi tomar banho.

O banheiro tradicional, era espaçoso e feito com madeira nobre.

Assim que sentei no banco ao centro, apenas com uma fina toalha sobre o meu colo, senti um pano úmido acariciar minhas costas. Assustei-me, mas logo relaxei ao ver que era Sakura.

Deixe-me ajuda-lo querido – sorriu da maneira que eu amava e eu apenas assenti sentindo suas carícias, enquanto ela limpava minha pele cheia de cicatrizes.

Não me lembro ao certo como ocorreu, mas quando eu percebi já estávamos nos beijando de maneira ousada.

Nossos toques, mesmo depois de casados, não eram luxuriosos, eram apenas respeitosos, porém, naquele dia, foi diferente.

Aquela foi a primeira vez que beijei Sakura de verdade, da maneira que eu sempre quis e pensei que ela se ofenderia caso eu fizesse.

Não demorou muito, para que eu carregasse a mulher enrolada em uma fina toalha, em direção ao nosso quarto, sem ao menos me importar com a minha nudez.

Braços, pernas, beijos, pele contra pele. Uma batalha voraz em busca de nossa satisfação mútua.

Diferente do que a religião primava, nossa noite não foi casta e pela primeira vez nos sentimos plenos e realizados.

Não houve um canto sequer de Sakura que não tenha sentido os meus lábios...

– Ah, eu me lembro disso também. Ela estava diferente, não é Sasuke?

– Você não tinha mais nada para fazer ao invés de ficar nos olhando em nossa noite de amor? – Provoquei erguendo uma sobrancelha, o que fez o loiro sorrir com humor.

– Ora, Sasuke, se não fosse por mim, ela nem teria existido.

– Do que você está falando?

– Quem você acha que encheu a linda cabecinha de Sakura com pensamentos pecaminosos? – Sussurrou aproximando o rosto do meu. O sorriso perigoso e assassino se alargou ainda mais ao ver minha face confusa. – Levou tempo, tive que ficar muito tempo trabalhando nisso. Meus maiores progressos ocorriam quando você estava nas guerras. Era perfeito ver Sakura torturada com as imagens que eu colocava de você na cabeça dela. Ela pensava que estava virando uma pecadora, que Kami a castigaria por eles, mas como ela pode ser mais castigada, se tinha o próprio shinigami ao seu lado, desde a sua nascença? – Vangloriou-se. – Quando ela tomava banho, ela tinha tanta necessidade de você, que acabava se masturbando, no banheiro e até na cama de vocês. Ela se sentia péssima no dia seguinte, pegava um galho fino e "chicoteava" as palmas de suas mãos como punição.

– Você é doente – disse com desgosto. O "homem" apenas riu se afastando de mim.

– Ora, pelo menos você não pode dizer que eu não te dei alegrias – zombou.

– Para depois me tirar tudo? – Gritei.

– Nada é dado de graça, Sasuke! Você errou ao escolher a Sakura.

– Tsc.

Um mês depois, descobrimos que Sakura estava grávida. Ficamos felizes e ela nunca me pareceu tão bela do que naquela época.

Ela estava radiante e parecia que nenhuma tristeza poderia nos abalar.

Uma bela tolice minha...

Sakura escolheu o cômodo que eu havia a encontrado com os pulsos cortados para ser o quarto de nosso bebê. Estranhei no início e até fui contra pela péssima lembrança do local, mas a alegria e o entusiasmo dela me venceram.

Certo dia, percebi que Sakura estava demorando no banho. Resolvi entrar no banheiro, verificar se havia algum problema, mas a poça de sangue aos pés de Sakura fizeram meu corpo estagnar com a cena.

Ela sofreu um aborto e nem ao menos esboçava uma reação. Apenas encarava a poça indiferente.

Sakura? – Aproximei-me lentamente.

Agora ele não pode me machucar. Ele me disse.

– Ela provocou o próprio aborto porque você a obrigou a fazer – olhei com raiva para o shinigami. A lembrança de ter perdido o meu próprio filho, ainda era uma cicatriz aberta.

– Eu não vim à Terra pra fazer bondade. A maldade me alimenta e uma criança nascida de Sakura só me traria problemas – disse indiferente.

– ERA UMA CRIANÇA INOCENTE! – Berrei.

– Um estorvo aos meus olhos. Alguém ingênuo e puro demais. Odeio crianças, apenas Sakura me atraiu por ter sido feita pelo pecado e por ter tendência ao mal, por mais que a parte boa e ingênua dela quisesse ter vigência.

Tudo só piorou daquele dia em diante.

Certa noite, eu acordei e vi Sakura em pé ao lado da cama. Ela me observava e em sua mão direita caída ao lado de seu corpo, estava uma adaga.

Algum problema Sakura? – Indaguei, mas só de olhar nos olhos de minha esposa, eu sabia que a tinha perdido para sempre.

Claro, querido. Qual problema eu poderia ter? – Perguntou normalmente antes de depositar a adaga sobre o criado mudo e se aconchegar sobre o meu peito.

Eu a abracei, mas sabia que não era a minha Sakura.

– Você conseguiu levá-la para o mal naquela noite – deduzi.

– Sakura, foi procriada por um pai que estuprou a própria filha. Uma das formas mais abomináveis de pecado, logo sua tendência ao mal é maior. Ela foi abandonada em um beco qualquer, ainda com os restos do parto sobre ela. A mãe, uma adolescente, nem ao menos uma vez olhou para trás, apenas fugiu. Como eu não poderia achar encantadora uma criatura tão rejeitada, Sasuke? Como eu não poderia acompanhá-la em seu trajeto de vida, sabendo que pelo seu ódio e facilidade de dominação, eu poderia influenciá-la para conseguir mais almas para mim durante suas matanças e vinganças. Uma criatura adorável, você tem que admitir – provocou.

– Ela não era uma assassina! – Berrei.

– Ela matou, Sasuke – disse sério. – E com muito prazer. Sou o deus da Morte e estou atrás de influência no elo mais fraco e odiado na sociedade. Uma criança nascida de vocês com certeza influenciaria na bondade fragilizada de Sakura, lhe daria poder para lutar contra a minha influência. Por isso, disse para que ela matasse a maldita criança.

Trinquei meus dentes e sair correndo em direção ao "homem" que permanecia sorrindo, porém, apenas atravessei seu corpo, já que ele não era humano.

– Ai – resmunguei quando cair com força no chão.

– Continue a história – ordenou.

– Não – grunhi tentando me levantar.

– Sasuke, não tente resistir a mim. Você já perdeu muitas pessoas amadas e se corrompeu completamente quando matou sua esposa. Assim como ela, você está sob a minha influência. Você não consegue ver a felicidade, você já perdeu tudo, não tem como fugir da escuridão.

Segurou-me pela minha nuca e jogou-me com força contra a parede que antes eu estava encostado.

Inutilmente eu cedi...

Tive que ir para algumas poucas batalhas, mas a cada retorno para casa, eu via o quanto tudo estava piorando. Cansei de encontrar na trilha da floresta, gatos enforcados e pichações ofensivas escritas com sangue.

Um dia, eu cheguei na clareira e encontrei Sakura alegre, cuidando do jardim, mas eu sentia que não era mais ela.

No entanto, eu era incapaz de abandoná-la. Se havia uma pequena esperança de que tudo voltasse ao normal, eu me agarraria a ela.

– O problema, Sasuke. É que você é tolo o bastante para não perceber que nunca foi normal! – Debochou.

Assim que eu entrei em nossa casa, o cheiro podre da morte acertou as minhas narinas dando-me ânsia de vômito.

Sobre a mesa de mogno em nossa sala de jantar, um javali estava morto, suas vísceras estavam abertas e uma grande quantidade de moscas zuniam sobre o cadáver.

Corri para o banheiro com o intuito de vomitar, me perguntando quem era aquela pessoa no lugar da minha amada esposa.

Livrei-me do javali morto há dias e tentei agir o mais normal possível diante de Sakura.

Ela sorria constantemente como se nada tivesse acontecido e de madrugada acordei com o ranger de um berço.

– Nunca jogamos fora o berço, por uma opção minha. Disse que talvez tivéssemos outro filho – comentei olhando para o berço com marcas de destruição à minha direita. – Me arrependi da minha escolha naquela noite.

Sakura não estava ao meu lado na cama. Decidi ir procurá-la seguindo o barulho.

Olhei pela fresta da porta e vi Sakura balançando o berço, cantando uma canção incompreensível. Não havia palavras, apenas chiados e sons como se fosse uma canção de ninar de outro mundo.

Shh... – chiou quando eu abri um pouco a porta. – Não faça muito barulho querido, o bebê está dormindo.

– Minha mulher enlouqueceu, começou a achar que nosso filho que ela perdeu, estava vivo – suspirei cansado. As lágrimas brotaram novamente em meus olhos e não pude evitar a dor voltar.

Eu amava Sakura e isso fazia a dor ser ainda pior.

– A dor da culpa – explicou o shinigami encostado no berço. – Nada pior para uma mulher que provocou o próprio aborto, sentir culpa e se lembrar do seu filho que nem teve possibilidade de existir.

– Você a fez lembrar – balbuciei e o silêncio daquele ser foi suficiente para eu saber que sua resposta era "sim".

Dali para o fim de sua vida, foi apenas um mês.

Relutante eu fui para uma batalha a mando do Imperador. Não queria deixá-la sozinha, mas eu sou um Samurai e tenho uma honra para zelar.

Mas... assim que voltei para casa em uma madrugada fria, vi a fumaça de longe.

Eu estava passando pelos destroços da antiga Konoha, agora abandonada e escura, quando soube que vinha de minha casa.

Corri desesperado. O fogo já tomava conta da floresta que queimava em fúria.

Árvores tombavam, galhos arranhavam minha pele e feixes de fogo queimavam minhas vestes. Mesmo assim, continuava a correr em direção à minha casa.

Assim que transpassei as chamas para chegar na clareira, vi o jardim destruído e ao fundo, minha casa pegando fogo.

SAKURA! – Gritei desesperado.

A parte da sala e da cozinha desmoronou, fazendo-me entrar ainda mais em desespero.

Cof, cof, cof – tossia fortemente devido a fumaça que me fazia lagrimar e não enxergar direito.

Mais uma parede desmoronou e eu pude ver Sakura. Ela estava no quarto maldito, de frente para o berço vazio e de costa para mim. A parede na frente dela estava em chamas.

SAKURA! – Gritei mais alto e a mulher pareceu acordar para a realidade.

Ela virou-se para mim calmamente, como se as chamas não fossem importantes. Um sorriso calmo estava estampado em sua face de Anjo.

Sakura usava um kimono negro curto, com o obi e alguns detalhes rosas. Meias negras, iam até o meio de sua coxa. Seu cabelo estava com um rabo de cavalo baixo e braçadeiras de renda escondiam suas tradicionais cicatrizes nos pulsos.

Bem-vindo de volta querido – saldou-me com os braços abertos, movimentando também a katana que ela empunhava.

Sakura, saia daí, vamos embora!

Não! – Falou confusa. – Ele me disse que deveríamos destruir tudo. Tudo tem que acabar agora!

Ele? Ele quem?

Ele – apontou para a sua esquerda.

Não há ninguém aí, Sakura – tentei a convencer enquanto me aproximava transpassando alguns destroços.

Meu casaco já estava chamuscado e aberto deixando a mostra meu peitoral.

Não! Não! Não! Não! – Gritava e balançava em negação com a cabeça. – É claro que ele está aqui! Eu não sou louca!

Anjo – comecei com calma quando subi o degrau que separa a casa do jardim em chamas – por favor, me escuta – dei passos lentos pelo chão que rangia a cada passo. – Não existe ninguém, vem comigo, eu juro que eu vou cuidar de você e fazer o possível para te ajudar.

NÃO! – Gritou. – Até você, Sasuke? Até você acha que eu sou louca? – Perguntou ofendida, mas paralisou olhando atenta para um ponto qualquer como se estivesse escutando alguém. Seus olhos caíram para o chão, mas assim que se levantaram, vi o crepitar das chamas sendo refletidas nos orbes determinados. – Ele me disse. Ele me disse que devo matá-lo também. Você não é confiável.

– O quê? Não f...

Ela não me deixou terminar, avançou para cima de mim com a katana em punho. Armei-me com a minha e comecei a me defender.

Eu havia ensinado Sakura a lutar pelo menos o básico para que ela se defendesse quando eu estivesse longe, mas eu nunca pensei que ela usaria tal habilidade com o intuito de me matar.

Eu não queria machucá-la, por isso ela conseguia muitas vezes cortar superficialmente a pele dos meus braços.

As espadas cintilavam e catavam a cada golpe nosso em meio as chamas que destruíam tudo ao nosso redor.

Eu tentava a acordar, mas Sakura estava perdida.

Pelo quanto do olho eu vi uma sombra passar rápido. Não acreditei quando eu vi um vislumbre rápido de um homem loiro que sussurrava ao ouvido de minha mulher.

Ela estava perdida.

Estava sendo controlada.

Eu precisava salvar a Sakura.

Eu precisava libertar meu Anjo.

Rolei para a borda do cômodo e peguei um pedaço de madeira com uma kunai na ponta. Sakura vinha correndo em alta velocidade. Bloqueei seu ataque com a katana, ao mesmo tempo que enfiava a kunai em seu coração.

Sakura me olhou surpresa antes de baixar o olhar para o tecido que se manchava com o seu carmim.

Com dois passos trôpegos, ela se afastou de mim tentando balbuciar algo, ao mesmo tempo que seus olhos embargavam.

Eu queria gritar, mas tudo o que eu vi, foi a minha mulher. A minha companheira. O meu Anjo cair no chão, olhando para o teto enquanto lágrimas rolavam por sua face.

Caí de joelhos e me arrastei trêmulo até conseguir alcançar sua face.

Minhas lágrimas manchavam cada vez mais a face cheia de fuligem dela.

A-Ari-ga-to, Sasuke-kun – gaguejou sorrindo. Sorrindo da forma que meu Anjo sorria para mim.

Era a minha Sakura que estava se esvaindo e se libertando por entre os meus dedos que acariciavam sua face bela de porcelana.

Não – murmurei me arrastando cada vez mais ao perceber seu olhar petrificado e sem vida. – Não! – Gritei em desespero abraçando-a pelo pescoço. Tentando sentir seu cheiro floral que também ia embora com sua vida. – Volta pra mim! – Pedi entre soluços. – Por favor – murmurei começando a sentir a inconsciência me levar.

Depositei minha cabeça em seu peito, ainda a abraçando em posição fetal.

Por favor – supliquei vendo o desenho no teto, que ela morreu olhando.

Era um Falcão pousando nos braços de uma Cerejeira...

– Por que? Por que você fez tudo isso? Por que a tirou de mim e por que eu posso vê-lo agora? – Indaguei com a voz embargada pelo choro que eu não conseguia conter.

– Como eu disse, eu não sou do bem. Só estou atrás de subordinados para fazerem meu trabalho na Terra, já que em minha forma atual sou inofensivo. Uso mentes frágeis para controlar. Transporto a dor e a desilusão de uma pessoa para outra. Sakura foi minha preciosa ferramenta durante todos esses anos e até você mesmo, Sasuke, deu-me muitas almas durante a guerra. Quando o tempo está acabando, meus subordinados podem me ver e você se tornou um quando matou Sakura. Era minha intenção e você o fez, mesmo que também por um motivo pessoal – falou calmamente caminhando para fora do cômodo em cinzas.

A chuva lá fora já parava e os feixes de luz transpassavam preguiçosamente as nuvens antes carregadas.

Um novo dia surgia...

– Isso quer dizer que...

O loiro olhou por cima do ombro, antes de voltar o olhar para a cerejeira que sobrevivera às chamas e que agora abrigava o corpo de minha esposa.

– Você é a minha próxima vítima – disse laconicamente antes de sumir em uma nuvem de fumaça negra.

Levantei meu olhar para o teto e encarei o desenho com algumas manchas negras causadas pelas chamas.

Talvez agora eu possa, finalmente, voltar para os braços da minha cerejeira. Do meu Anjo...

FIM!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eita! Confusão hein gente! hahaha
Quero saber a opinião de vocês gente! Como foi que eu me sair nesse estilo? ^^'

OBS: Para quem quiser ler as outras ones participantes do Desafio já publicadas. Está no meu perfil na parte do "Estou Acompanhando", lá no final tem a tag Desafio de Ones! Beijinhos gente! Até a próxima =*