Psycho escrita por Elina Wonder


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Noite




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Era uma quente noite de verão, por volta das duas horas da manhã. Todas as luzes apagadas, todas as pessoas envoltas em seus sonhos e pesadelos, usando o possível único momento para escapar das suas vidas. Mas nem todos estavam dormindo.

Em uma casa qualquer, sem muitos encantos, afinal, muito pelo contrário, parecia uma casa um pouco abaixo da classe mediana, vivia um casal e seu único filho.

A mãe, uma mulher forte, trabalhadora, sempre preocupada com o bem estar de seu filho e com a união da família, se encontrava agora na cozinha, tomando a segunda caneca de café.

O menino, embora deitado em sua cama, com a porta de seu quarto fechada, não conseguia dormir. Olhou pela janela entreaberta e observou as estrelas, antes de ouvir passos pelo corredor.

A porta do quarto emitiu um barulho ao se abrir, e, quase de imediato a esse barulho, uma voz calma e suave o chamou.

-Lince ? Ainda está acordado, meu bem ?

O menino olhou para a mãe, que estava encostada na porta. Sua aparência denunciava o cansaço excessivo, ainda que tentasse esboçar um sorriso no rosto e manter a voz calma.

-Onde está o papai ? -O menino perguntou.

A mãe suspirou e afastou o cabelo do rosto, antes de andar até a cama do menino, e se sentar na mesma. A mulher encarou o filho com ternura, acariciou seu rosto e sorriu de um jeito meigo.

-Não se preocupe com isso, está bem ? Só tente dormir...

-Não consigo dormir.

-Apenas...Não pense em nada e fique quietinho que o sono virá. Pode fazer isso pela mamãe ?

O garoto assentiu.

-Bom menino.

E então ela se aproximou e deu um beijo na testa do menino, que sorriu com o ato carinhoso materno. Olhou para o menino uma última vez, e então se levantou e foi embora. Minutos depois, o garoto se encontrava em um estado meio a meio. Sentia os pensamentos ficando cada vez mais abstratos, os músculos ficando parados, e a única coisa que ainda o ligava com o mundo real era sua audição.

Começou a se perder por uma imensidão azul, estrelas brilhavam em todos os lados, e ele percebeu que podia voar. Até que escuta um grito. E com isso ele olha para baixo. Abaixo dele, apenas existia um vácuo, um espaço tomado pela escuridão, de tal forma que não haviam estrelas lá. Não se via nada lá.

-Ah ! -Outro grito.

E agora o menino começou a cair. Involuntariamente, porque, quem iria querer cair em um abismo cheio de escuridão ?

E com um baque surdo, ele abriu os olhos, e se encontrou no chão do quarto.

-Para ! Por favor !

O menino dirigiu sua atenção para a porta do quarto, após finalmente reconhecer o grito. Era de sua mãe. Abriu a porta temeroso, olhando várias vezes para o corredor. E se alguém tivesse os assaltando ? O que faria ? E se estivessem machucando a sua mãe ? Medos e mais medos passaram pela cabeça do garotinho, que caminhava lentamente até o quarto de seus pais.

" Talvez não seja nada. Os gritos pararam..E se foi só um sonho ? " pensou.

Ao ficar em frente ao quarto dos pais, reparou que a porta estava entreaberta, então, sem pensar duas vezes, se encostou na porta, os pequenos olhos verde-água procurando por um sinal de sua mãe. Pôde reparar em um líquido estranho e vermelho escuro que se encontrava no chão, e aparentava ser bem recente. Até que, viu algo ser jogado contra a mesinha de cabeceira, derrubando a mesma, junto com um copo de vidro, que se partira imediatamente, e caiu no chão, imóvel. Mas o que fora jogado contra a mesinha, não fora um objeto qualquer.

Na verdade, nem era um objeto.

Era sua mãe.

Seu rosto e seus braços tinham manchas roxas, e na sua boca continha o mesmo líquido que estava no chão. Estava de olhos abertos e parados, e em seu rosto, reinava uma expressão assustadora.

O menino sentiu seu coração acelerar, e suas mãos começaram a tremer. Um bolo se formou em sua garganta, e seus olhos começaram a arder, alertando a necessidade das lágrimas começarem a cair. Pensava em se mover, correr para longe, mas não conseguia. Estava paralisado com a imagem de sua mãe. Caída. Largada.

Morta.

Quando as lágrimas já atingiam as suas bochechas, agora vermelhas, ouviu passos dentro do quarto. Viu mãos ensanguentadas, uma expressão de pura raiva, direcionada para a sua mãe. Imediatamente reconheceu os olhos avermelhados pela droga, a estatura alta, e o cabelo castanho que sempre era lembrado que era parecido com o seu.

Era o seu pai.

O menino queria gritar. Mas sentia o quanto era perigoso. Então, rapidamente, correu para o seu quarto, com as imagens recém vistas, informações recém adquiridas, um tanto pesadas para um menino de seis anos. Bateu a porta do quarto com toda a pouca força que tinha, e se jogou na sua cama, se cobrindo por inteiro e se encolhendo o máximo que podia.

Continuava chorando, mas se esforçava para fazer o mínimo de barulho possível. Quando ouviu passos pelo corredor, ficando cada vez mais próximos. Prendeu a respiração e fechou os olhos com força, o medo se tornando cada vez mais intenso. Ouviu a porta ranger, sinal de que estava sendo aberta, e que talvez esse seria o seu fim. Enterrou o rosto no travesseiro, somente esperando pelo pior. Será que acabaria como a mãe ?

Escutou passos se aproximando dele, porém, ao escutar seu pai bufar, os passos pararam, e ele escutou os mesmos se dirigindo ao corredor. A porta foi fechada com força, assustando ainda mais o menino, mas, pelo menos agora sabia que estava salvo. Por hora.

Deixou então as lágrimas caírem como nunca haviam caído antes, a dor machucar como nunca havia antes. Uma ferida lhe doía intensamente. Não era como um joelho ralado ao cair no chão, e muito menos física. Uma ferida sentimental pode ser muito maior que uma dessas. Nesse momento, várias lembranças dele com sua mãe voltaram a sua cabeça, principalmente dos beijos, dos abraços...

Doía saber que nunca mais iria ser beijado ou abraçado daquela maneira.

Ou amado.


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Notas finais do capítulo

Oi, eu sou a Deviline, prazer em conhece-los ♥

Obrigada por lerem, o que acharam do captulo ?