Uma claridade invadia o quarto naquela manhã de 3 de Julho. Um frio entrava sob as cobertas acordando Tenten, que não demorou a lembrar-se qual era a data naquela manhã. A jovem mulher sentou-se olhando com tristeza para o espaço vazio que havia ao seu lado na imensa cama de casal, o que provocou uma lágrima em um de seus olhos.

Haviam passado-se oito a anos desde o ocorrido que a fazia sofrer, mas Tenten sempre choraria por ele, pois aquele era o tipo de ferida que nunca se fecha. Ela rapidamente percebeu que precisava sair daquela cama e começar seu longo dia, ou ficaria ali chorando.
A mulher dirigiu-se ao banheiro e realizou sua higiene matinal. De volta ao quarto andou até seu armário separando um vestido de estilo chinês na cor preta junto de sapatos pretos e baixos, ela não demorou em vestir as peças. Depois sentou-se em sua penteadeira, prendeu os cabelos castanhos em um único coque e colocou nos lábios o batom vermelho que ele tanto gostava.

Tenten, saiu de seu quarto e dirigia-se a cozinha quando foi surpreendida por um abraço que envolvera suas pernas. A mulher olhou para baixo, e lá estava um garotinho encarando-a com seus grandes olhos castanhos e um sorriso travesso.

– Bom dia mamãe!
– Bom dia Hizashi! - Ela abaixou-se para dar um beijo no rosto de seu filho. - Eu estava indo preparar o café da manhã. Porque não acorda sua irmã enquanto isso?
– Humpf - Uma garotinha de longos cabelos castanho escuros e olhos perolados surgiu no corredor - Eu sou muito responsável, não preciso que me acordem - Ela cruzou os braços levantando a cabeça em pose de superioridade.
– Bom dia Homura - Tenten riu abraçando a filha - Crianças, tirem os pijamas e coloquem roupas, vamos sair.
– Vamos ver o papai, não é? - O garotinho perguntou
– Sim querido - A mãe deu um sorriso triste.

Tenten seguiu até a cozinha para preparar as panquecas que seus filhos tanto gostavam. As da filha acompahadas de mel, as mesmas que o pai gostava. Já as do menino eram acompanhadas de chocolate, as favoritas de Tenten.

Ela não demorou em arrumar a mesa com muito capricho e amor. A jovem mulher era uma excelente mãe, que não deixou se levar pela depressão para que pudesse cuidar de seus filhos, ainda que precisasse fazê-lo sozinha.

Enquanto as crianças não desciam, a jovem mãe ficou a observar as fotos que haviam na estante preta da sala de estar. Entre elas havia uma com a figura de um homem alto e pálido, seus cabelos eram compridos e lisos e seus olhos perolados como os de Homura, ele usava um uniforme do exército japonês. Aquele era Neji Hyuuga, pai das crianças e falecido marido de Tenten.

– Estamos prontos - Homura apareceu tirando a mãe de seus devaneios - Venha Hizash!
– Estou aqui! - O irmão desceu as escadas.

A jovem mulher abaixou-se e depositou um beijo na testa de cada um dos pequenos dizendo:

– Vamos comer.

Tenten e seus filhos sentaram-se diante de uma grande mesa.

– Itakimasu! - Os três disseram em uníssono.

Homura comia em silêncio, enquanto o irmão brincava com bonequinhos de super heróis e comia ao mesmo tempo. A mãe apenas observava imaginando, como os filhos eram diferentes. A garota era séria e centrada e apesar de ser irmã gêmea de Hizashi, estava uma série a frente dele na escola, pois foi considerada um prodígio. Em contraparte o menino apesar de inteligente, era bagunceiro e inquieto. Apesar das diferenças, não havia como negar que ambos eram filhos de Neji e Tenten.

– Pare de ser infantil Hizashi! - A garotinha repreendeu seu irmão - Largue os bonecos e coma.

"Típico de Neji" A mulher pensou.

– Credo! Você nunca se diverte? - O garoto rebateu.
Naquele momento a mais velha pousou seus olhos sobre o relógio que havia na parede da cozinha, e pediu que as crianças se apressassem.
– Não demorem muito, quero chegar lá cedo - Ela levantou-se da cadeira e retornou a sala de estar indo até a estante.

A viúva observou a foto de seu amado por mais alguns instantes antes de toma-lá em suas mãos e guarda-lá na bolsa. Ela gostava de levar a foto quando ia visitar o túmulo de Neji, assim sentia-se mais próxima dele. Tenten não demorou em retornar a cozinha para chamar os filhos.

– Precisamos ir. - Ela falou com ternura na voz.

Os filhos caminharam até a porta junto a mãe e chegaram a garagem onde entraram em um automóvel grande.

– Esperem um momento, vou ao jardim, não demorarei.

Hizashi e Homura aguardavam dentro do carro, enquanto Tenten ia colher as flores que plantara no jardim. Ela escolhia com cuidado, flores brancas e vermelhas. Não muito tempo depois voltou ao carro com o buquê.

– Vocês colocaram os cintos? - A mulher perguntou preocupada - Sim mamãe - Hizashi respondeu.

A adulta deu partida, e logo eles seguiram para o cemitério da cidade de Konoha. Era a primeira vez que a mulher levava os filhos até lá. Apesar de os japoneses encararem a morte de modo menos sombrio, Tenten não achava correto levar crianças muito pequenas até aquele lugar, então achou que seria prudente esperar que completassem oito anos. No caminho ela dava as instruções aos filhos:

– Quando descerem do carro, façam-no em silêncio, não atrapalhem as pessoas que estiverem por lá, sigam-me pois levarei vocês direto aos túmulos dos Hyuuga. Vocês poderão ver o túmulo de seu pai e de seu avó Hizashi.
– O vovô tinha meu nome? - O garoto se mostrou surpreso.
– Sim - A mãe sorriu - Quer dizer... Na verdade você possui o nome dele. Um pouco antes de ir para a guerra eu contei ao Neji que estava grávida, ele ficou muito feliz e me pediu apenas uma coisa. Se fosse um menino seu pai gostaria de homenagear o pai dele, dando ao filho o nome de Hizashi.

Aquela lembrança fez Tenten sentir o coração ficar mais apertado do que já estava. Tudo o que ela desejava era que seu falecido marido estivesse lá junto aos filhos.

– Mãe - Dessa vez foi a filha que a chamou com sua habitual seriedade na voz.
– Sim.
– E o meu nome mãe? Por que Homura?
– O seu nome foi escolhido por mim. - A adulta respopndeu - Quando descobri que estava grávida de gêmeos, e que um dos bebês era uma menina, eu decidi colocar Homura. Seu nome significa "chama", pois seu pai havia acabado de falecer, e quando soube que não teria um, mas sim dois filhos, a minha esperança de ser feliz novamente aumentou em meu coração, acendendo o que eu batizei de "Chama da Esperança".

Naquela hora a mais velha podia jurar ter visto uma lágrima escorrer de um dos olhos da filha, o que a surpreendeu um pouco. Homura era um iceberg inquebrável, mas por outro lado sentiu-se feliz em saber que a garota guardava sentimentos naquele coração frio.

– Igualzinha ao pai - Ela sussurou em tom quase inaudível.

O resto do caminho foi quieto, Tenten não pode deixar de notar que apesar de ser verão no Japão, o céu estava cinza e uma brisa fria alastrava-se nas ruas. Ela tinha certeza de que até os céus sabiam que aquele era um dia lúgubre para ela. Após mais alguns momentos de silêncio, o carro foi estacionado.

– Chegamos. - A mulher suspirou triste.

As crianças fizeram tudo da maneira que Tenten ordenara. Andavam em silêncio e seguiam-na sem contestar. Conforme foram chegando próximo aos túmulos dos Hyuuga, Homura avistou uma mulher de cabelos azul escuros e um homem de cabelos louros.

– Mãe - A garota chamou em voz baixa.
– Diga.
– Não são o Naruto e a Hinata?
– São sim - A mais velha respondeu - Vamos esperá-los aqui. Devemos respeitar o momento deles.

Não demorou muito, o casal virou-se para irem embora. Logo avistaram Tenten, Hizashi e Homura.

– Olá - Hinata cumprimentou os três com seu jeito calmo.
– Olá - A mulher de cabelos castanhos respondeu com simpatia.
– Oi Tenten - Naruto pronunciou-se - Tudo bem?
– Naruto! - Sua esposa o repreendeu - Pense bem se está tudo bem com ela?
– D-Desculpe Tenten.
– Não tem problema. - Ela se mostrou compreensiva
– Trouxe os meninos dessa vez! - Hinata surpreendeu-se - Que bom ver vocês.

Hizashi abriu um sorriso para a prima, enquanto Homura limitou-se a dar um aceno de cabeça.

– Esse jeito dela é tão familiar - A mulher de olhos claros falou.
– Nem me diga - Tenten respondeu.
– Ele se parece com você - O Louro comentou referindo-se a Hizashi.
– È - A mãe das crianças sorriu - Não há como negar que são nossos filhos.
– Eu não quis trazer Boruto e Himawari, eles ainda são muito novos. - A azulada comentou.
– Hoje é a primeira vez que trago os dois - A morena respondeu.
– Bem, nós vamos indo, não queremos mais atrapalhar vocês três.

Hinata e Naruto despediram-se do trio e seguiram seu caminho, equanto a viúva e seus pequenos seguiam para o túmulo de Neji. Ao se aproximarem a mais velha ajoelhou-se na grama, e seus filhos rapidamente ajoelharam-se também, copiando cada movimento dela.

–É aqui - Tenten avisou.
– O papai foi embora muito cedo - Hizashi mostrou-se triste.
– Sim, ele foi - A mãe o abraçou - Mas não foi culpa dele. Muitos foram cedo quando a guerra explodiu.
– Mamãe - O garotinho a chamou - Qual foi o motivo da Guerra.
– Bem... Naquela época havia uma organização terrorista chamada Akatsuki. Um de seus membros Uchiha Obito tentou dar um golpe de estado e se tornar ditador do Japão. Obviamente nós resistimos contra a seu exército que era a Akatsuki. Mas claro, apenas nosso poder bélico não era o suficiente para enfrentá-los, então civis foram convocados a se alistarem no exército. - Tenten suspirou - Eu me lembro como se fosse ontem. Seu pai e eu estavámos casados há quatro meses, quando um oficial bateu a nossa porta entregando a carta de convocação a ele. - A Jovem mulher começou a chorar - Ele embarcaria em duas semanas para Nagasaki onde encontrava-se o front de batalha.
"Dois dias antes de sua partida, fiz um teste de gravidez, pois eu estava com muitas tonturas e crises de enjoo. O resultado foi positivo - Ela deu um sorriso frouxo - Fui correndo até ele contar a novidade. Ficamos muito felizes e comemoramos muito. Na manhã de sua partida, eu o beijei pela última vez. Ele prometeu que voltaria, mas infelizmente algumas coisas não estão ao nosso alcançe. Dois meses depois outro oficial veio a nossa porta, com a notícia: "Hyuuga Neji foi morto em batalha"
– Mãe... - Homura a abraçou. Hizashi apenas observava, a irmã era muito mais madura para compreender o que acontecia.
– Na tarde seguinte, fui ao aeroporto de Konoha esperar o avião, eu sabia que ele estava morto - Tenten chorava - Porém eu alimentei uma falsa esperança de ver aqueles olhos perolados descerem do voo e virem de encontro aos meus. Mas tudo o que recebi foi um caixão coberto com a bandeira do Japão e uma medalha estúpida de honra ao mérito! Nós nos casamos muito cedo. Ele tinha apenas dezoito anos quando faleceu e eu faria dezenove dentro de um mês. A guerra ainda durou por mais quatro anos anos. Mas finalmente toda a Akatsuki foi destruída e aquele desgraçado que começou tudo foi morto.
– Pai.. - Homura já não controlava as lágrimas - Você foi um herói - Ela fitava o túmulo.
– Sim - Tenten secou as lágrimas da filha - ele foi - Aquele ali ao lado é túmulo do seu avô Hizashi. Porque não vão lá vê-lo?
– Está bem - Os dois concordaram.

A mulher ficou observando os filhos por um tempo e depois voltou-se para o local onde o corpo de seu falecido marido estava.

– Oi querido - Ela sorriu de forma fraca - Sei que você não pode me ouvir, mas eu posso fingir que você me escuta. Nossos filhos já estão com oito anos, Hizashi é um bagunceiro, tem um espírito de aventura incontrolável e uma cabeça cheia de ideias. Ele muito bom em artes marciais. Já a Homura... Ah Neji, ela é você por completo, os mesmos olhos, os mesmos cabelos e a mesma postura. Ela é uma garota prodígio, pulou uma série e as pessoas nunca cansam de repetir como ela se parece com você, e eu mesma não me canso de repetir isso a mim mesma.
"Hoje contei a eles toda a história da guerra, mas sinto muito, não pude contar que você morreu protegendo o Naruto. Sei que você pensou na Hinata que sempre amou aquele louro, também sei que Hizashi entenderia seu pensamento, mas conheço bem a Homura, ela cresceria com rancor do Naruto e provavelmente iria querer se vingar dele.

Tenten deu outra olhada em seus filhos que continuavam conversando em frente ao túmulo do avó, então a viúva prosseguiu.

– Mas a razão de eu estar aqui, é porque você estaria completando 26 anos hoje, e eu trouxe isto para você - Tenten pegou as flores - As brancas me lembram você, sempre calmo reservado e prudente. As vermelhas fazem com que eu pense em mim mesma, agitada, aventureira...Mas acima de tudo eu só quero dizer uma coisa - Ela suspirou - Feliz Aniversário Neji!