"Há muito tempo atrás a vida e a morte se apaixonaram. Desde então a vida envia incontáveis presentes para a morte... E ela os guarda para sempre."

[...]

A moça andava atordoada pelas ruas escuras e vazias. Não tinha ninguém ali para presenciar seu sofrimento, apenas a solidão.

O vento frio soprava, causando um arrepio. Uma neblina densa era predominante na paisagem. Seu corpo tremia, mas não era por causa do frio que fazia às duas da manhã; um tsunami de pensamentos invadia a sua mente enquanto a bela moça enfrentava um conflito interno.

Enquanto isso, ele a olhava, o que não era uma novidade. O homem de vestes negras estava lá, olhando para a bela moça dos cabelos rosados como fazia todas as noites. A conhecera há muito tempo, desde então sentiu-se encantado por sua beleza.

Sua beleza única era encantadora desde sempre, o homem, embora sempre mantivera uma distância significativa, gostava de observá-la, admirá-la e sentir-se hipnotizado por cada gesto dela.

Mas, tamanha beleza encontrava-se ofuscada pelo sofrimento estampado no rosto da bela moça. As grossas lágrimas caíam enquanto ela vagava sozinha pelas ruas com pouquíssima iluminação.

Qual seria o motivo de tanto sofrimento ? O homem ficou triste, pela primeira vez estava vendo aquele rosto cheio de mágoa, rancor, raiva... Lágrimas...

As folhas secas se recolhiam aos seus pés, o som do seu choro podia ser nitidamente percebido. O homem dos cabelos negros se entristeceu mais ainda.

Ela podia simplesmente sorrir, não é mesmo ? A vida era tão bonita, a moça realmente conhecia a felicidade... Por que não recordar essa época ? Por que não resgatar essas lembranças felizes ? Por que não se alegrar pelo simples fato de estar... viva ?

O belo homem era alto, tinha os olhos e cabelos negros como a escuridão da noite, a pele pálida, alva como a neve. Ele se aproximou da menina, de maneira que jamais se aproximara antes, provocando um calafrio na mesma.

As luzes dos postes pareciam piscar, como um aviso fatal. Um murmúrio pôde ser percebido antes de todas as luzes se apagarem.

Uma completa escuridão tomava conta daquele lugar à medida que o homem se aproximava da moça.

Ela se assustou, alguém sussurrava coisas incompreensíveis em seu ouvido.

O frio pareceu aumentar, junto com ele veio o medo que consumia a bela moça dos cabelos rosados. Ela arregalou seus grandes olhos verdes, que antes eram cheios de alegria, procurando por alguém. Mas não viu nada... Estava sozinha...

Não, definitivamente ela não estava sozinha.

- Quem está aí ? - Ela perguntou com a voz embargada pelo choro, embora sua solidão fosse nítida, a moça sabia, ela sentia que tinha alguém ali. Vigiando...

Um pânico inexplicável tomou conta dela, a rosada saiu correndo sem rumo, ainda sentindo-se perseguida por alguém ou alguma coisa.

Ela parou quando viu uma ponte. Ainda trêmula, a garota, que possuía os cabelos róseos como as flores de cerejeira, colocou seu corpo para fora da grade, estava segura apenas pelos braços que tremiam como nunca.

A baixo de si encontrava-se um rio, as águas estavam agitadas pela correnteza.

A moça exitou e engoliu seco.

Logo um novo dia nasceria, junto com ele viria o brilho do sol e também novas oportunidades para fazer tudo diferente. Suas decisões foram certas ? Ela poderia encontrar aquela felicidade perdida ?

Não... Aquela criatura angelical estava desiludida, não tinha mais esperanças. O brilho em seus olhos havia sumido, assim como a sua vontade de viver.

Mas, uma única decisão poderia mudar o rumo da sua história para sempre. De uma vez por todas, colocando um fim em toda a sua angústia e sofrimento.

O desespero tomou conta do homem das vestes negras que a observava. Ele queria tomá-la para si, ele a amava muito e a desejava incondicionalmente... O homem estava apaixonado por ela, não podia negar seu sentimento.

Como ? Como ele pôde se apaixonar pela garota ? Talvez tivesse algo mais em seus olhos esmeraldinos... Vida...

A moça fechou os olhos e sentiu que alguém a abraçou no exato momento em que ela se soltou, colocando um fim na sua breve e significativa existência assim que seu corpo, já sem vida, foi parar no fundo daquele rio.

Agora, o homem das veste negras a teria. Para sempre...

[...]

"Pois, o que a vida poderia dar de tão precioso para a morte, se não a própria vida ?"