Sta. Helena - Maine

1992

Capítulo I

- Inferno -

Alguma coisa fazia com que a luz do sol refletisse no pálido rosto de Jared Willson. As quatorze pessoas ali presente o encaravam, em silêncio, esperando uma resposta que era meio óbvia devida a situação em que estavam, Ele respirou fundo e desviou o olhar para os papéis em sua frente. Uma folha cheia de letras pequenas, mas com um título em vermelho com a fonte maior que as outras palavras se destacava. Caso Ive. O suor frio escorreu por sua testa. Ele a enxugou com a mão.

- Temo que a garota tenha sido assassinada senhor. - disse uma voz meio tímida ao fundo da sala. Jared não tirou os olhos da foto da garota morta. Seus olhos estavam destruídos. Seu rosto coberto de sangue. Sua expressão de pânico era a coisa mais horrenda ali.

- Não posso fechar a escola. - disse Jared com incerteza. - É a única escola da região. A cidade mais próxima fica á duas horas daqui. Seria idiotice.
- Uma garota morreu Jared Willson. Não foi um cão, nem um gato. Foi uma garota. Uma pessoa! Como vou explicar aos pais que seus filhos estão estudando na cena de um crime? - falou Margaret Mars, uma mulher elegante, diretora da escola,

- A Academia Santa Helena não pode ser fechada Margaret! Não podemos arriscar algo tão impactante. Não quero problemas para a minha cabeça! - respondeu Jared, o prefeito.

- E o que a imprensa irá falar? Todos já sabem que algo aconteceu na escola! - perguntou Alexsander Evans, um jornalista amador que sonha em trabalhar em Nova York.

- Apenas que... Apenas que uma garota se acidentou. Só isso...

O murmúrio na sala foi inevitável. Todos sabiam que ela tinha sido assassinado. Jared se levantou e saiu da sala, direto para seu escritório, onde tomou mais uma taça de vinho.

...

Sta. Helena - Maine
2015

- Alisha não esqueça seu material querida!

- Sim mãe! - gritou a garota do andar de cima. Alisha Jhonson desceu as escadas as pressas, segurando sua mochila lilás, com os cabelos louros presos em um rabo de cavalo.

Sua mãe, de braços cruzados, apontou com a cabeça para o casaco amarelo, e com uma expressão de reprovação, fez Alisha ficar um pouco brava.

- O que? Eu gosto dele!

- Ele está velho! Não quero que pensem que somos pobres!

- Mãe, todos já me conhecem!

- Alisha você foi com esse casaco quase o inverno inteiro ano passado! Não esta na hora...

- Mãe. - ela se aproximou e pôs as mãos no ombro da mulher - Não sou criança! Não preciso ir arrumadinha para a escola! - ela se virou e caminhou em direção á porta de entrada. - Adeus! Até mais tarde!

A mulher deu uma risada descontraída.

O primeiro sinal tocou quando Alisha estacionava sua bicicleta vermelha em uma grade. A prendeu com uma corrente e correu, se misturando com a multidão de zumbis adolescentes, cansados, depressivos, e ansiosos para as férias de inverno. A neve começara a cair na noite anterior, então o dia estava frio. Coisa que em Sta. Helena era mais que normal. Uma cidade ao pé de uma montanha, cercada por árvores e um enorme lago chamado Lago Esperança.

Quando os fundadores de Sta. Helena, que eram rebeldes, fugiam do governo, acharam o lago e o atravessaram. Ninguém iria procurar por eles do outro lado. Muitos anos depois, o refúgio Esperança, se tornou a vila Helena, pra finalmente a cidade Sta. Helena.

O colégio Shellfield foi fundado por Nicholau Shellfield, logo após Sta. Helena se tornar uma cidade. O prédio original foi demolido depois de ser danificado por uma tempestade.
Alisha sentou em sua carteira e logo tratou de pegar seus livros.

- Alisha! - ela olhou rapidamente para o lado.

- Oh! Warren! - abriu um sorriso. - Pensei que estava doente!

- Eu estava! Passei o final de semana em casa! Aproveitei e fiz isso! - ele colocou uma folha de papel com um desenho dela na mesa. Alisha abriu outro sorriso. O abraçou.

Warren King, um admirador de Alisha, era um dos desenhistas mais talentosos do colégio Shellfield. Muitas vezes a professora de artes pedia sua ajuda. Alisha tinha uma coleção de desenhos que ele fizera dela.

- Obrigada Warren!

- Sentem-se alunos! - gritou a professora de sua mesa.

- Semana que vem irá fazer vinte e três anos... - a velha deu mais um trago em seu cigarro. - Vinte e três anos que a porra da minha vida se tornou um inferno!

- Oh madame não diga isso! A senhora...

- Senhora é o caralho! Eu sou jovem! - disse ela com arrogância.

- Desculpe diretora. Mas por que tu está tão enfurecida? - falou Denis March com medo,

- Vinte e três anos que a Academia Santa Helena virou Shellfield! Vinte e três anos contamos uma mentira pra encobrir a morte de uma garota! Vinte e três anos mentindo sobre... - alguém bateu a porta.

- Madame Mars, os alunos já estão no pátio!

- Obrigada professor Albert! - Margaret se levantou lentamente de sua poltrona de couro. Já estava na flor da idade, mas sempre andava bem arrumada. Sempre exibia seus elegantes vestidos e saltos altos. Nunca parecia abatida... Mas por dentro vivia num mundo sombrio.
Seu marido morreu jovem. Assim que sua primeira e única filha completou um ano, ele se afogou no lago Esperança. Ela o odeia por isso. Hoje, sua filha mora na Inglaterra, com os filhos e o marido. Abandonara a mãe naquela cidadezinha,

Margaret caminhou até a porta e desfilou pelos corredores. Agora exibia um sorriso falso no rosto. O pátio não ficara muito longe dali.

Subiu os degraus do palco e se posicionou a frente do microfone. Observou todos os alunos com desprezo, mas ainda com o sorriso falso.

- Queridos alunos. - começou ela. - Mais um ano está terminando. E mais um ano comemoramos a sorte de termos Shellfield para formar bons alunos como vocês. Semana que vem, nós teremos o feriado em homenagem á nossa cidade! Então, na segunda-feira não haverá aula!
Os alunos comemoraram. Três dias em casa era uma notícia muito boa.

- Continuando. - disse ela um pouco brava. - Tenham um bom final de semana! Obrigada! - ela saiu do palco e saiu do pátio, aos sons de comemorações e gritos de felicidades, não exibia mais o falso sorriso.
- Pegue meu casaco e as minhas chaves Denis... - disse ela já no corredor. - Vou direto para casa hoje.

- Parece que essa cidade está cada vez mais burra meu caro - repetiu pela milésima vez, Alexsander Evans para seu estagiário, Michael Finnigan. - A cada ano que passa, as coisas pioram por aqui. Essa cidade foi amaldiçoada. Escreva o que estou dizendo Michael.

- Senhor, isso são apenas histórias. Não acredita em fantasmas não é?

- Fantasmas são os menores problemas para mim meu caro.

- E então o que preocupa o senhor?
O velho jornalista fez uma pausa. Tragou novamente seu charuto. Alexsander já viu, ouviu e sentiu muita coisa em seus vários anos naquela cidade. Desaparecimentos estranhos. Criaturas horrendas vagando pelas ruas. Vozes sussurrando. Coisas se mexendo sozinhas. Esses fatos o prenderam ali. Era como se ele não pudesse mais sair de Sta. Helena.

- O próprio demônio.

- E o que o senhor irá fazer? Chamar um padre? Vamos lá! Esqueça essa bobagem de espíritos e blá blá blá! - debochou Michael.

- Hoje a noite garoto... Hoje a noite!

- E o que o senhor irá fazer?

(PROCURAR PELA CIDADE) (IR Á ESCOLA)