Outubro Despedaçado escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642147/chapter/1

não discuto

com o destino

o que pintar

eu assino

Paulo Leminski

05 de outubro de 1981

Sinto a necessidade de ter algo para mim mesma.

Não sei se suporto James se transformando em um veado na minha frente por muito tempo. Ando tão irritada que quero gritar e azará-lo o tempo inteiro, mesmo ele não fazendo nada. Estar presa nessa casa me trás uma sensação terrível e em vez de me tranquilizar só piora as coisas.

Tenho muita saudade de minhas aulas da Escola de Enfermagem, já li e reli todos os livros e peço para que Sirius me traga novos, mas é tudo em vão, pedir algo a ele é a mesma coisa que pedir algo a Peter: melhor desistir.

O ponto alto de hoje foi mudar os móveis de lugar no quarto de Harry. James, que nunca teve paciência, parecia outra pessoa. Ele não suportava ficar no mesmo local por muito tempo, quase alguém hiperativo, entretanto, ele estava agindo como se nada estivesse acontecendo lá fora, o que me irrita profundamente.

Agora os papéis se inverteram e a desiquilibrada sou eu. Além de estar tendo ataques psicóticos, eu também ando com um enjoo insuportável, não há poção que resolva.

Ficar confinada nessa casa me dava o desejo que redecora-la todo sábado, como se já se tivessem passado anos.

Mas a verdade é que se passou meses.

07 de outubro de 1981

Apesar do grande sentimento de culpa, ficar nesse local de apenas dois andares me fazia pensar até demais. Sentir falta de coisas que jamais cogitei que um dia sentiria. Desde as mais simples até as mais sérias. Era impossível evitar, eu simplesmente me pegava deitando-me a noite, não só preocupada se eu abriria os olhos no dia seguinte, mas imaginando um futuro diferente para a pequena Lily Evans que escreveu “Enfermagem” na escolha de profissões no dia dos N.I.E.M’s.

Eu gosto de olhá-lo e tentar explicar para mim mesma como eu casei-me com o homem mais repugnantemente adorável da face da terra. Era a mesma pessoa que eu julgava odiar há alguns anos atrás, e hoje, estou casada e com um filho. Eu achava engraçado... Paguei com a língua tudo que eu falei.

James me atraia nos pequenos detalhes que as outras pessoas que já se atraíram por ele, sequer notaram. Eu gostava de sua nuca, de seus olhos abafados pelos óculos, das veias em suas mãos e seu dente levemente torto para dentro.

Meu marido é um homem engraçado, mas as coisas já não tinham a menor graça para mim.

Gosto de seu rosto engraçado, e da forma que ele se sente envergonhado se eu o encaro por muito tempo, mesmo depois de casados. Logo ele, insolente como é. Rezamos por alguma visita noturna em silêncio, enquanto dividimos olhares cansados entre a fumaça de um chá de camomila.

Ninguém vem nos visitar.

10 de outubro de 1981

Peter acabou de sair daqui, veio nos contar que os McKinnon morreram em um atentado.

Não consigo parar de imaginar Marlene morta, a imagem me tortura... Mas não consigo parar de imaginar. Vomitei até não conseguir mais. James sumiu com a capa e foi encontrar Sirius, enquanto isso eu fiquei aqui, girando pela casa feito uma idiota. Tentei ler algo, mas tudo é desinteressante.

Tentei cozinhar, mas tudo saia ruim.

Pratiquei Poções, o que me acalmou bastante. Gosto de imaginar Severus diante de mim, fazendo observações e petelecos em minhas mãos, avisando que eu estava fazendo errado. As vezes apenas para implicar, às vezes porque eu realmente estava errada. Gosto de fechar os olhos e fazer isso por horas e horas.

Então Harry acorda e Severus desaparece.

Como agora, ele está chorando lá em cima, depois continuo.

12 de outubro de 1981

Eu usei a capa de James pela penúltima vez.

Depois ele deu mais uma escapada e Dumbledore pegou a capa emprestado, nos deixando completamente isolados do mundo. Na vez em que eu saí, primeiro visitei o túmulo dos McKinnon, depois viajei até a rua onde eu morava. Fiquei alguns minutos chorando enquanto encarava minha antiga casa, imaginando onde estariam meus pais e se estavam preocupados comigo. Pensei em Petúnia.

Penso muito em Petúnia.

Tento imaginar como deve ser sua casa, seus vizinhos, se seu marido a faz rir como James me faz.

Penso em Severus.

Gasto horas e horas imaginando momentos fictícios onde ele entraria pela porta da frente e sentaria no sofá. Traria consigo novos livros e ficaria horas e horas falando sobre as Poções que os bruxos indígenas fazem no interior Amazônico do Brasil. Talvez ele desse um sorrisinho para Harry, ele nunca foi dado a crianças.

Ele e James se tratariam como seres humanos normais que tem noção da palavra respeito.

E no fim do dia ele prometeria que voltaria com novidades. E ele voltaria.

15 de outubro de 1981

Reli o pouco que escrevi e estou com medo de mim mesma.

Estou deixando a impressão de alguém depressivo... Não sou depressiva! Eu acho... Enfim, hoje eu, James e Harry assistimos um show completo de ABBA na TV. Foi bem emocionante, eu chorei durante The Winner Takes It All, o que deixou James desconfortável.

Eu ganhei um EP dessa música em janeiro, presente de aniversário de Severus. Eu já a ouvi tantas vezes que posso recitá-la como se fosse um poema. Me sinto terrivelmente mal quando escuto essa música, pois ela significa mais coisas que posso citar. Odeio pensar em Severus, é uma sensação terrível... Se eu tivesse coragem, o apagaria da minha mente.

Hoje Harry falou mais algumas palavras como beterraba, quadro, ABBA e idiota.

Estava chovendo muito então nós três ficamos na cama o dia inteiro, um olhando para a cara do outro. Gosto desses momentos, eu simplesmente paro e fico analisando como Harry se parece com as fotos de James bebê. Ele o acha parecido comigo, mas é inegável, eles são idênticos.

Fico imaginando como será quando ele ficar maior, se terá que usar óculos, se será alto ou não... Se será bom em Quadribol ou um desastre como eu. Será que ele vai gostar de Poções tanto quanto eu? De que tipo de música ele vai gostar? Será que ele vai me achar chata? São tantas perguntas...

Sinto um desespero tão grande que sufoco.

18 de outubro de 1981

Não aguento mais essa casa!

Quase joguei James escada abaixo em uma discussão, e agora estou chorando porque foi pelo motivo mais imbecil do mundo. Brigamos por causa da louça, veja só, essa casa está nos enlouquecendo. Estou exausta de mandar cartas para todos implorando por notícias ou resoluções e só receber pergaminhos com menos de dois parágrafos com desculpas esfarrapadas de estarem ocupados ou de não saberem de nada, sinto vontade de berrar e quebrar tudo!

Às vezes fico tão nervosa que me imagino abrindo a porta e saindo correndo, assim, deixando Harry para trás com James.

Então eu quase morro de tanto chorar. Estou uma pilha de nervos, já posso fazer doutorado de Enfermagem de tanto que já li, finalmente aquele imprestável do Peter fez algo de útil e me trouxe novos livros, não suporto nem olhar para a cara sonsa dele, sinto vontade de bater nele até que ele acorde e pare de agir feito um idiota.

19 de outubro de 1981

Estou virando um zumbi com tantas poções calmantes.

Me sinto menos nervosa agora, retiro o que disse sobre Peter, o pobrezinho está assustado, afinal ele é Fiel do Segredo, eu ando tão estressada que minha empatia desaparece. Estudei um pouco de Anatomia hoje, mas passei a maior parte do dia fazendo penteados no cabelo de Harry. Fiz todos, desde os Beatles até Elvis Presley.

Agora quem está nervoso é James. Ele para e fica olhando para o nada, durante horas, em silêncio absoluto. Eu sinto a tensão dele daqui, do segundo andar.

Sinto-me horrível quando o vejo dessa forma, faço de tudo para distraí-lo, mas quando James resolve ficar preocupado só falta ele entrar em uma bolha e sair flutuando. Ele preparou uma lasanha para o almoço e comemos em silêncio absoluto, ouvindo o monólogo de Harry com sua colherzinha.

Escrevi para Sirius essa tarde implorando para que ficasse alguns dias aqui, tenho medo de James ter um troço e morrer, sei lá, é muito estranho quando ele fica em silêncio, ele é falante demais, então quando fica quieto é como se... Não sei explicar, é absurdamente estranho.

23 de outubro de 1981

Péssimas notícias: estou grávida.

Fiz o teste após ter vomitado todo o jantar, e deu positivo. Eu simplesmente dei descarga e fui até a estante, pegando um livro antigo de Poções, lendo a poção de aborto. Foi tão automático que eu sequer notei o que estava fazendo. Não contei para James, e nem vou contar. Não sei o que eu faço, não quero outra criança...

Fiquei tão atordoada que escrevi uma carta para Marlene e então lembrei que ela tinha morrido. Agora não tenho ninguém para pedir ajuda.

Escrevi uma carta para Dumbledore pedindo notícias, mas ele mandou-me um curto pergaminho com a palavra “Paciência”.

Quero que ele morra.

28 de outubro de 1981

Harry está com uma virose e James continua em silêncio.

Não sei mais o que eu sinto, só quero que isso acabe logo, não aguento mais. Não aguento mais nada.

30 de outubro de 1981

Hoje foi uma luz no fim do túnel.

Sirius veio nos visitar e ele conseguiu arrancar o silêncio de James assim que passou da porta. Parecia uma festa. As gargalhadas de James e Harry me alegraram tanto que eu quase chorei de emoção. Almoçamos frango grelhado enquanto Sirius contava relatos engraçados sobre o Ministério da Magia e a peça que ele pregou em Lucius Malfoy, o fazendo escorregar na frente do tribunal inteiro durante o julgamento de um Comensal.

Em forma animaga, ele e Harry tinham uma compatibilidade invejável de tão bela. Não consigo nem acreditar no quão bem estou me sentindo, parece que estou recarregada. Ao contrário de Peter, Sirius evita falar sobre as coisas ruins que acontecem daquela porta para fora, e só sabe contar piadas e histórias.

Ele trouxe brinquedos para Harry, revistas para James, livros e ingredientes para Poções para mim. Quando a noite chegou eu quase ajoelhei-me e implorei para que ele ficasse enquanto nos abraçamos de despedida.

Meu coração ameaçou quebrar-se em mil pedaço quando James chorou após Sirius ir embora. Se eu estava achando aquela situação insuportável, eu não quero nem pensar em como estava para a pessoa mais hiperativa que conheço. Longe dos amigos, de sua capa, de tudo.

Tentei ser a Lílian das primeiras semanas de confinamento, mas ela me parece imatura e otimista demais.

Sim, nós temos um ao outro. Somos uma família, estamos juntos, vivos, e isso importa. Mas isso é o presente, eu quero saber do futuro. Não tenho paciência, não tenho fé... Tenho ansiedade, nervosismo. Meu futuro está incerto, não só o meu, mas o de meu filho.

Penso se aquele feitiço que fiz no desespero, no começo de tudo isso, valerá se algo acontecer.

Espero que sim.

31 de outubro de 1981

James está tentando ensinar Harry a falar “Juro solenemente não fazer nada de bom” no andar debaixo.

Hoje o dia passou tão arrastado que foi quase insuportável, sem contar que James quase achou esse diário debaixo da geladeira, onde eu escondo. Sei que parece infantil, mas as vezes eu esqueço que sou uma bruxa e faço coisas que somente um trouxa faria. Vou esconder isso com mais cuidado.

Meu abdômen está começando a ficar rígido e eu tensa. Ainda não decidi o que vou fazer com esse problema, não tenho coragem nem de falar para James. Sirius mandou uma carta dizendo que Dumbledore permitiu que ele ficasse uns dias aqui conosco e eu estou contando os dias para isso, mal posso esperar para ter mais um ser vivo nessa casa.

Estou pensando seriamente em mandar uma carta para Severus, ou um presente. Já enviei uma carta para Petúnia, mas ela não respondeu, amanhã de manhã vou enviar uma para meus pais. James falou que não acha uma boa ideia eu falar com Severus, mas eu preciso falar com ele antes que


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A história parece incompleta, mas Lílian Potter foi chamada pelo marido, pois alguém estava invadindo a casa.

Sobre a Lily estar grávida, não sei se a J.K realmente falou isso, mas há um boato que ela estava sim quando morreu, não sei... Enfim, usei isso aqui hahaha

De inicio eu escrevi algo engraçadinho, mas eu parei para pensar e me senti uma idiota, não deve ter sido nada engraçado ficar nessa tensão toda durante meses dentro de uma casa. Eu me pergunto porque eles não viajaram para outro país, sei lá, parece que tudo aconteceu ali, em Londres.

Enfim, o que acharam?

Espero comentários, obrigada por ter lido!!!!!

Beijos :))))



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Outubro Despedaçado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.