Paulicia Songfic escrita por Marshmallow


Capítulo 1
Ai já era


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
Musica: Ai ja era
Jorge e Mateus



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Alícia entrou na escola de cabeça baixa com o headphone acoplado ao celular, ela ouvia Raimundos ao volume máximo e estava com a mente tão ocupada com a prova que ia fazer na primeira hora que nem percebeu a aproximação do “quarteto fantástico”.

Paulo estava com o pior humor possível naquela manhã e estava procurando um motivo qualquer para causar confusão. Havia acabado de parar junto de seus amigos Kokimoto, Marcelina e Mário quando sua ex-namorada Valéria passou se exibindo por eles agarrada ao braço do tal Davi. Ver a ex agarrada ao projeto de modelo deixou o humor de Paulo ainda pior, ele precisava extravasar. Mas para sua decepção nenhum de seus habituais alvos – Cirilo e Adriano – estavam por perto então ele viu Alícia. Ele seguiu sem hesitar em direção á ela.

Alícia levou um encontrão tão forte de Paulo que caiu sentada fazendo o celular se desconectar e encher o corredor com a música alta que ela ouvia. A garota pegou o celular e saiu correndo para longe daquele bando de marginais, sem notar ela deixou um papel amassado cair, ninguém mais percebeu.

Para pra pensar

Porque eu já me toquei

Eu te escolhi

Você me escolheu, eu sei

Finalmente as aulas haviam terminado, Paulo saiu da sala desanimado e no corredor encontrou um papel amassado que começou a chutar a cada passo que dava.

– O lixo é no lixo! – gritou uma professora que passava olhando-o feio.

Paulo deu de ombros, mas abaixou para pegar o papel e jogá-lo na lixeira. Por algum estranho motivo ele desamassou o papel e o alisou, leu sem prestar atenção as palavras e quando ia jogar o papel no lixo percebeu uma palavra que lhe chamou atenção “Alícia”. Ele releu a letra rabiscada.

O Adeus de Alícia Gusman.


Após todos os acontecimentos bizarros em minha vida ainda me sinto um nada. Não há mais por que viver. Não há mais amor. Não há mais motivos para o amanhã. Em minhas ultimas palavras não perderei tempo com Adeus! Em vez disso direi apenas que todos vão se...

As últimas palavras estavam rabiscadas demais para serem compreendidas, Paulo releu a carta duas vezes antes de tomar consciência do que era aquilo. Ele olhou em volta e viu Bibi a garota de cabelos coloridos que estudava na turma de Alícia.

– Ei garota – chamou ele – Onde está a Alícia? Aquela que se veste como garoto.

– Eu sei quem é a Aly! – replicou a outra aborrecida – E não sou um GPS para saber onde ela está.

– É assunto de vida ou morte!

– Se ela não foi ver o ensaio da Banda Carrossel deve estar lá no telhado escrevendo...

Paulo saiu correndo antes da garota terminar.

Tá escancarado

Vai negar pro coração

Que você tá com sintomas de paixão

Alícia estava sentada com no beiral do telhado com as pernas pendidas e balançando no ar, escrevia em seu caderno de rascunhos, já havia pensado em todos os romances, todas as parodias, todos os filmes vistos e todos os livros lidos, não conseguia pensar em nada para escrever. Estava terminando de roer seu terceiro lápis do mês quando ouve barulhos de passos apressados subindo a escada. Mas não se virou, devia ser Jaime com outra urgência musical ou Cirilo se escondendo dos “marginais”. Mas então

– NÃOPULE!

A voz alta e esganiçada deu um susto tão grande em Alícia que ela involuntariamente girou o corpo escorregando de onde sentava e quase caindo, se segurou como pode no telhado.

– ME AJUDA! – gritou desesperada – Eu vou cair! Socorro!

Paulo correu e segurou o pulso da garota. Ele olhou para ela, Alícia era pânico puro. Com menos esforço que ele imaginou conseguiu puxa-la novamente. Alícia arfava olhando por cima do ombro, por pouco que não caiu. Suspirou profundamente se controlando e se voltou para Paulo.

– Seu idiota, resolveu me matar de susto agora?

Paulo deu um passo para trás e ergueu as mãos em defesa.

– Matar? Eu salvei sua vida. Você quase caiu.

– Não teria quase caído se o gênio não tivesse me assustado, saia da minha frente.

Alícia estava realmente furiosa. Ser perturbada, ofendida e humilhada por Paulo e seus amigos todos os dias ela podia suportar e ignorar, mas ele dar um susto daqueles nela e quase a fazer cair. Aquilo não era brincadeira, desta vez teria volta.

Paulo ficou no telhado por vários minutos até Mário ligar para chamá-lo para ir a praia, o que ele vira nos olhos de Alícia quando ela estava pendurada não era desejo psicótico por uma morte rápida e ridícula, era apenas medo. Ele olhou o papel que ainda estava em sua mão e guardou. Quem sabe não poderia usar aquilo para se divertir em uma ocasião mais apropriada?

Naquela noite o bad boy sonhou com um par assustado e furioso de olhos castanhos.

Que é quando os olhos se caçam


Em meio à multidão
É quando a gente se esbarra
Andando em qualquer direção

Fazia um mês, um calmo, doce, pacifico harmonioso e apavorante mês que Alícia não era humilhada, escorraçada, assustada ou ameaçada pela gangue de marginais da escola. Não que ela estivesse reclamando, pelo contrario, adorava ser esquecida por eles mas que era estranho isso era. Até mesmo seus colegas estavam achando a novidade bizarra.

– Aposto que estão aprontando alguma – comentou Maria Joaquina durante uma tarde que Alícia fora assistir o ensaio da banda – Se eu fosse você contratava um segurança armado para te proteger.

Não foi preciso nenhum segurança armado, Alícia tinha seus segredos e sabia se defender quando lhe convinha.

Em uma quarta-feira Alícia estava imaginando como seu dia podia ficar pior. Ela estava gripada e acordou com a cabeça pesando, cortou a mão nos cacos do copo que quebrou, se atrasou para a escola por que fez a façanha de pegar o ônibus errado, quando descia do ônibus tropeçou e torceu o tornozelo, chegou na escola em cima da hora mancando com a cabeça a beira de uma explosão e a mão ardendo pela água oxigenada que usou em exagero para lavar o sangue mais cedo.

Estava se sentindo tão alheia que nem mesmo se lembrou de pegar o celular e o headphone quando saiu de casa. Quando passou por Valéria e seu grupinho de “vadias bipolares” ouviu as piadinhas sem graça de sempre.

– Podiam ao menos ser originais – resmungou para si mesma

Adormeceu pela primeira vez na vida durante uma aula e foi aconselhada pela professora de matemática, Helena, á ir para a enfermaria. Alícia foi dispensada das aulas finais e quando saia para ir para casa uma coisa fria pingou em seu rosto seguido de um trovão. Ela olhou para o céu ofendida.

– Obrigada! Agora pego uma pneumonia.

Pediu um guarda-chuva emprestado para o diretora da escola Olívia e quando saiu começou a chover.

Paulo olhava pela janela entediado esperando as aulas terminarem, pensava em cenas eróticas do seu ultimo encontro com Valéria – eles não haviam retomado o namoro – quando um rosto de anjo com olhos castanhos invade sua mente. Ele esfrega os olhos, devia estar muito cansado ou desesperado para pensar na nerd. Desviou o olhar para baixo e viu que alguém brigava com um guarda chuva que estava preso no galho baixo da arvore que todos mais odiavam na escola.

Ele a observava lutar contra o galho na chuva, a calça preta estava molhada grudando nas pernas e o uniforme cinza claro estava ficando transparente e grudava no corpo dela mostrando suas formas delineadas e curvilíneas. Paulo se ajeitou na carteira ignorando de vez á aula com os olhos fixos na garota cujo rosto ele não conseguia ver. Ela pendurou no guarda chuva dando impulso e caindo de costas, então Paulo viu o rosto dela, Alícia.

Ele se virou para a aula, mas seus olhos pareciam ter sido magnetizados pela garota e a observou até que a ponta do guarda chuva desapareceu de vista. Paulo pela primeira vez em anos prestou atenção total ás aulas. Sempre que se distraia ele se pegava pensando em Alícia e seu guarda chuva.

Quando indiscretamente

A gente vai perdendo o chão

Vai ficando bobo

Vai ficando bobo

Paulo havia dado ordem aos seus amigos para não perturbarem Alícia, mas não disse o porquê e isso havia virado assunto padrão nos corredores. O problema era que nem mesmo ele, Paulo, havia entendido ainda aquele repentino desejo de proteger a Alícia e isso estava deixando ele irritado. Em um sábado ele dispensou a companhia dos amigos e resolveu dar algumas voltas, sozinho.

Estava passando pela praça onde ele morava quando era criança. As lembranças da infância o irritou ainda mais, resolveu ir para a praia. Passou por um ponto de ônibus e seu sangue ferveu quando viu dois caras rondando Alícia que estava muito vermelha sentada abraçada sua bolsa escolar.

Alícia já estava á beira de um homicídio ouvindo Jorge e Daniel sussurrando em suas orelhas. Era passatempo deles a importunar no ponto de ônibus. Sua paciência estava passando dos limites do silêncio quando um carro cinza com chamas na lateral para á sua frente, ela ergue o olhar automaticamente.

– Entra! – manda Paulo olhando feio para os outros dois, depois olhou para Alícia que o encarava ainda mais vermelha se fosse possível, e disse mais ameno – Te levo para casa.

Alícia tinha mil motivos para não entrar no carro de Paulo, e dois apenas para ir. E esses dois motivos estavam ainda se decidindo se arrumar confusão era ou não uma possibilidade valida. Antes porem que eles se decidissem Alícia já estava colocando o cinto de segurança.

E aí já era

É hora de se entregar

O amor não espera

Só deixa o tempo passar

Alícia evitava cruzar o caminho de Paulo desde o dia em que aceitou a carona dele, não sabia bem o porquê, uma vez que nunca fizera questão de evitar as pessoas quando essas a provocavam. Mas algo em Paulo havia mudado de repente, ele parecia estar tentando ser “legal”.

Paulo havia notado certa diferença no comportamento de Alícia, ela parecia estar o evitando. Antes ele achou que fosse apenas um acaso, mas uma manhã de sexta-feira de Agosto ele teve absoluta certeza; ele conversava com Kokimoto quando viu a morena chagando. Alícia o encarou por breve momento, olhou para os lados e voltou para a sala de aula. Paulo se incomodou com aquilo, ela nunca tinha evitado sua presença, apenas o ignorava.

As semanas passavam daquele modo, Alícia evitando Paulo e ele confuso demais para se importar. Paulo já havia lido aquela folha da carta de Alícia que já tinha memorizado cada palavra, decorado o modo dela rabiscar as letras maiúsculas com uma seta nas pontas e o jeito que ela escrevia reto e desenhado. Quanto mais Paulo tentava esquecer mais ele conseguia notar pequenas coisas na garota, e aquilo o confundia.

O Mundial fizera uma festa no fim de Setembro para comemorar o aniversario da escola, a banda Carrossel ia tocar e todos os alunos estavam ajudando para o evento. Bom, quase todos. No dia da festa Alícia estava decidia á não sair de casa. Ela tinha praticamente organizado tudo e não queria ir para ver os resultados e nem o fracasso que seria caso as pessoas não gostassem. Mas Maria Joaquina arrastou a amiga.

Alícia vestida especialmente naquele dia de roupas de mulherzinha como ela dizia, resolveu que não se levantaria da sua mesa. Até por que não ia conseguir se equilibrar de modo descente no salto. A festa estava um sucesso, e ela estava conseguindo passar despercebida ali sentada sozinha no canto.

Paulo vira quando Alicia chegou escoltada por sua amiga projeto de atriz, Maria Joaquina, e pela ruiva de cabelos colorido, Bibi, desde então não tirou os olhos da Morena. Ela estava bastante diferente usando um salto na qual parecia não estar se equilibrando bem, uma blusa preta folgada com um grande decote nas costas que ia até á cintura mostrando sua pele morena, uma calça preta lisa que deixava suas pernas ainda mais atraentes. Mas desde que chegara Paulo notou que ela não havia saído do lugar, do canto.

Impulsionado por alguma energia sádica do universo, ele se aproximou dela.

– Dança comigo?

E fica pro coração

A missão de avisar

E o meu tá dando sinal

E tá querendo te amar

Alicia o olhou. Piscou e começou a falar:

– Se isso for alguma armação para uma piada sem graça e de mau gosto que visa me humilhar eu aviso que...

– Eu só queria dançar – diz o moreno sentado na cadeira á frente – Mas se não sabe dançar tudo bem, eu entendo.

Alicia ficou vasculhando o rosto dele em busca de uma piada ou qualquer coisa, mas ele estava brincando com um guardanapo evitando os olhos dela.

– Por que está sendo legal comigo? – perguntou de repente

Paulo a olhou pensou um pouco e resolveu dizer o que achava ser a verdade.

– Li sua carta, fiquei meio... sei lá. Você é tão inocente e jovem. Não queria que se matasse e...

– Me matar? Por que me mataria? – interrompeu-o a morena

Paulo hesitou. E acabou por citar a carta dela. Para seu espanto Alicia riu, um som doce e infantil, pensou ele.

– Não seja burro – começou ela – O Adeus é uma peça que estou escrevendo para a turma do teatro da Majo. É uma peça dramática.

Paulo sentiu o rosto queimar, ele havia se preocupado tanto e agora ela ria da cara dele. Fez menção de se levantar, mas ela se esticou por cima da mesa segurando a mão dele. Paulo encarou aqueles olhos marejados pelos risos.

– Obrigada! – disse ela – Por se preocupar comigo.

Paulo olhou para a mão dela na sua, a mão de Alícia era macia. Ela soltou a mão dele ficando vermelha e baixando a cabeça.

– Me agradeça dançando – disse o moreno estendendo a mão para ela.

Enquanto todos dançavam ao ritmo da Banda, o casal solitário no canto dançavam ao ritmo de uma musica que só eles ouviam, um ritmo lento e silencioso quebrado apenas pelo som do beijo tão desejado que selavam seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Desculpem os erros.

ate a próxima



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