À margem do rio escrita por Satiko_chan


Capítulo 2
Prólogo




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Eu me lembro, como se fosse hoje, daquele dia. O dia que tudo mudou, em que minha vida adquiriu novos tons... Não que tenha sido o primeiro encontro ou quando nos conhecemos... Na verdade, não saberia dizer quando foi que lhe vi pela primeira vez. Para mim, você, Ryu, sempre esteve comigo, sempre esteve ao meu lado, mesmo quando ainda não conversávamos.

Se a nossa história fosse um livro, creio que esse dia seria o prólogo.

Nós estávamos voltando da escola, os tons alaranjados do anoitecer mal eram visíveis entre os arranha-céus e chovia. Saímos da estação de trem acompanhados por outros tantos estudantes do mesmo colégio e de outros. Eu abri o meu guarda-chuva, calmamente e comecei a andar. Sequer olhei para você ou para trás para ver se me acompanhava. "Por que eu olharia?", eu pensava.

– Oe! – Foi seu resmungo que me fez virar para o lado. – Deixa eu usar o guarda-chuva com você!

– E onde está o seu, Takahashi-kun? – Você fez uma careta, não entendia o porquê de eu ser tão formal com você, mesmo lhe conhecendo desde... desde sempre.

– Esqueci no armário da escola! - Começou a usar a própria mochila para se proteger das gotas. – Vamos, Inoue! Meu cabelo ficará arruinado com essa chuva.

Eu tive que revirar os olhos ao escutar isso... Mas não pude deixar de fitar-lhe os fios negros que por causa da chuva, começam a sair do arrepiado, que você, com certeza, levou mais de meia hora para fazer, e caiam sobre seus olhos castanhos...

Naquele momento, eu percebi. Seus olhos não eram castanhos, mas sim castanhos escuros, quase pretos e que brilhavam infantis... Por mais que você crescesse fisicamente, sua alma sempre seria a de uma criança.

Recomecei a andar como se nada tivesse acontecido e, dessa vez, sentia que estava do meu lado, reclamando, mas sem perder o bom humor.

– Neste guarda-chuva, não cabem duas pessoas, Takahashi-kun...

– Como não? Aqueles dois lá! – Apontou sem muita descrição para um casal mais à frente. – Estão usando o mesmo guarda-chuva que você!

Observei-os por um momento e não escondi a minha careta ao ver que estavam abraçados, suspirei cansada.

– Eles são namorados, por isso estão usando apenas um. – Revirei os olhos. – Você não quer que eu explique como casais se comportam, certo?

– E por que não podemos fazer o mesmo?

Você questionou-me e parou alguns passos a frente ao ver que eu não o acompanhava.

Acredito que foi no mesmo instante, minha fisionomia foi refletida na sua.

Abaixando a bolsa que ainda estava sobre a cabeça, veio, tranquilamente, até mim, tirou o guarda-chuva da minha mão, abraçou-me e, gentilmente, começou a empurrar-me para que voltasse a andar.

– Agora sim. – Sussurrou mais para si do que para mim.

Caminhamos sem dizer nada, talvez reparando que o barulho das gotas no guarda-chuva parecia competir com o batimento de nossos corações.

Eu não sei você, Ryu, mas eu estava reparando nisso.

Entretanto, você me conhece, eu não sou perfeita.

Alguns minutos depois, comecei a rir compulsivamente. Tendo que parar de andar para tentar me controlar.

Não sei se estava rindo do meu pensamento, de mim, de você, da situação ou se era...

– Do que você está rindo? – Sim, eu escutei a sua pergunta, apesar de não ter respondido e ter continuado a rir mais.

– Inoue?

– Takahashi? – Retruquei rindo e lhe olhei.

– Finalmente. – Você sorriu, mas logo em seguida estava rindo comigo.

Sim, finalmente, Ryu.

Finalmente chamei-lhe de uma maneira menos formal, finalmente nós estávamos juntos, finalmente percebemos o que sentíamos um pelo outro.

Entretanto, hoje eu percebo que foi tarde, não tarde demais, apenas tarde.


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