Vinte e Quatro Horas escrita por Amanur


Capítulo 3
Terceira parte


Notas iniciais do capítulo

A última parte.
Boa leitura!



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Vinte e quatro horas

Escrito por Amanur

...

Terceira parte

...

Sasuke não foi à aula na segunda feira, nem atendeu aos chamados da namorada. Terça feira, ele foi, pois não tinha mais desculpa esfarrapada a dar para os pais. Ele tinha dito que dormiu na casa do amigo, e que deve ter comido algo estragado lá — o que o deixara com mal estar suficiente para faltar aula na segunda. Mas, na terça feira, ele teve que ir.

E Sakura não foi à aula naquele dia também. O que era um alívio para ele. E no final do dia, ele resolveu encarar de vez a namorada. Até por que, havia coisas que não faziam sentindo na história contada pela Sakura. Como, por exemplo, se a Karin realmente tivesse lhe pedido para fazer aquilo, porque então ela ficou brava e até tentou cancelar os planos quando soube que ele tinha namorada? Sem falar que a Sakura parecia realmente surpresa ao saber que ele era comprometido.

Então, ele marcou um encontro com a Karin, no final de semana.

— Você fez mesmo isso, Karin? — ele perguntou, assim que a viu.

— O quê?

— Não se faça de sonsa. Você pediu à Sakura para me chamar para sair, para me testar!

— Como é que é? Quem é Sakura? Que história é essa, Sasuke?

Ele estreitou os olhos, desconfiado. Mas a Karin parecia genuinamente confusa. E agora, brava e impaciente.

“Ah, que se dane!”, pensou. Então, contou tudo a ela, e eles realmente terminaram a relação depois de muitos tapas e desaforos ditos um contra o outro. Infelizmente, não foi um rompimento pacífico.

Mas os dias foram passando, e nada da Sakura aparecer. E ninguém sabia de nada. Tudo o que disseram a ele é que, de tempos em tempos, ela sumia por alguns meses, e voltava como se nada tivesse acontecido.

Até que, já tinha se passado um mês, e ele resolveu perguntar à coordenadora da escola, no horário de saída.

— Me desculpe, Sasuke, mas não tenho autorização para te dar essas informações. — ela disse.

— Por favor? Eu estou muito preocupado com ela. Ela não atende minhas ligações, e ninguém sabe me dizer sobre ela... A Sakura, não sei se a senhora sabe, não era muito de falar... Mas eu realmente me preocupo com ela. — o que não era uma mentira de todo.

A coordenadora suspirou. E como ele parecia mesmo atormentado com aquilo, resolveu abrir o jogo e contou tudo o que sabia a ele (mesmo indo contra as regras).

No dia seguinte, ele matou a aula para ir à cidadezinha onde tinham passado as quase vinte e quatro horas. E ficou ali, parado, sem acreditar que o endereço residencial que a coordenadora lhe deu era, na verdade, o endereço de um hospital. E o hospital ficava a uma quadra do shopping em que tinham almoçado e jantado.

Ele perguntou à moça da recepção em que quarto a Sakura estaria, se identificando como um parente distante. Como era horário de visitas, ela o informou.

Então, depois de pegar o elevador, foi até o quarto 706.

A porta estava aberta, e uma enfermeira estava na frente dela, injetando algum medicamento nas veias dela.

— Prontinho, querida. Logo, logo vão busca-la para fazer os exames.

— Ok. Meus pais, onde estão?

— Acho que desceram para pegar algo para comer.

— Ah, tá...

E então, a enfermeira se afastou, deixando Sasuke a vista ao lado da porta, com o uniforme escolar e mochila nas mãos.

Ela quase pulou da cama, assustada.

— Mas o que diabos você está fazendo aqui? — ela diz, passando as mãos nos cabelos para ajeita-los, pensando que deveria estar horrorosa.

— Eu que te pergunto! Mas que merda você tem?

— Vá embora, Sasuke, você não deveria ter vindo.

— Eu não acho que você tem o direito de exigir isso de mim. Você foi uma bela filha da mãe por ter mentindo para mim sobre a minha namorada! Minha ex, agora... — se corrigiu.

Ela olhou para ele, num misto de culpa e remorso.

— Eu sei que, no fim das contas, não fui justa com você nem com sua namorada... E eu realmente sinto muito, Sasuke. Mas foi a única coisa que consegui pensar dizer para você parar de me fazer perguntas e me deixar em paz.

— Eu estou muito fulo com você, sabia?

Ela baixou os olhos e ficou encarando as mãos pálidas.

— Não pela mentira... Mas por não ter me dito que você estava doente. Anda, desembucha o que é que você tem! — ele diz, puxando uma cadeira perto da cama dela.

Ela suspirou, e olhou para ele. Sasuke não parecia bravo de verdade, mas ainda franzia o cenho, sério. Ela não tinha mais como escapar de contar a verdade a ele, então, respirou fundo.

— Eu nasci prematura, com seis meses e meio. Nasci com sérios riscos de vida. Meus órgãos internos não estavam ainda bem formados. Então, tive que ficar durante um bom tempo incubada. A maioria dos meus órgãos, com o tempo, conseguiu se desenvolver bem, mas os meus pulmões não, por que desenvolvi uma condição que os médicos chamam de hipoplasia...

— Hum. Você pode traduzir isso?

Ela suspirou.

— Hiplopasia é a incapacidade das células de se renovarem, formando a pele, músculos, etc. Então, falando de uma maneira bem generalizada, seria o mesmo que afirmar que os meus pulmões não estão completos.

— Hum...

— É por isso que eu fico cansada com facilidade, e não posso praticar esportes, nem ter o nível de adrenalina muito elevado, porque meus pulmões não aguentariam a carga de oxigênio que receberia. É claro que eu tomo remédios que me ajudam durante o dia, e naquele dia eu tomei mais do que deveria para aguentar as vinte e quatro horas... Mas de tempo em tempo preciso ser submetida a cirurgias. — e então, ela puxou para baixo a gola da camisola hospitalar que vestia para mostrar as cicatrizes que tinha no peito.

Sasuke tentava se manter cético e estoico àquilo tudo, mas suas mãos estavam começando a ficarem trêmulas.

— E... O quão incompletos estão os seus pulmões? — perguntou.

Ela não respondeu imediatamente, olhando novamente para suas mãos.

— Bem incompletos. Quando saí da incubadora, os médicos disseram que eu não sobreviveria até os dez anos...

— Hum... Mas você está com dezessete anos agora!

— Sim. E você sabe o que isso significa?

— Que eles estavam errados? Que você tem chance de viver mais!?

— Não, Sasuke. As chances de sobrevivência de alguém na minha situação são muito, mas muito pequenas mesmo. Isso significa que eu e meus pais estamos apenas esperando...

— Merda! Você não está me zoando, está?

— Eu não brincaria com isso, Sasuke...

Ele não sabia mais o que dizer.

— Eu sou profundamente grata a você por ter saído comigo. E sei que minha condição não desculpa o que fiz a você e sua namorada. Meus problemas não tem nada a ver com vocês... Foi só que... Tudo o que eu queria era sair com um menino e saber como é ter um dia normal, como uma adolescente normal, porque minha infância foi completamente desperdiçada dentro de hospitais, ou presa a uma cama, porque não podia me agitar como todas as crianças se agitam. Eu não podia gastar toda a energia que eu tinha no meu corpo. Eu sequer mal podia provar o gosto de uma bala de goma, ou de um sorvete de morango, porque meus pais me proibiam por medo que essas coisas artificiais, cheias de química, me fizessem mais mal ainda. E isso é provavelmente o que me fez continuar viva até hoje! Então, Sasuke... Essa foi basicamente a minha vida. E é o que me aguarda... Eu fui egoísta em te meter nisso tudo, sem nem ter dito nada, mas a verdade é que eu tinha medo de que, sabendo a verdade, você não fosse aceitar, que fosse me achar ainda mais asquerosa ou sei lá o quê. Também não estou querendo me justificar dizendo isso, só estou dizendo a verdade... — suspirou — Vá embora. Me deixe sozinha.

Ele se levantou, sentou no colchão ao lado dela. Então, se inclinou um pouco, segurou o rosto dela com ambas as mãos e deu um longo beijo nos lábios dela. Quando os lábios se separaram, ele olhou diretamente nos olhos dela.

— Eu tinha quinze anos quando, um dia, meu irmão chegou em casa chorando, porque um amigo dele morreu num acidente. Eu fiquei bastante impressionado com aquilo, porque, até então, eu não tinha perdido ninguém próximo a mim. E meu irmão tinha. — ele fez uma pausa, procurando pelas palavras certas a dizer — E até hoje ele lamenta por não ter passado mais tempo com ele. E, bem, eu ainda não perdi ninguém, e eu não quero perder ninguém, mesmo sabendo que isso é inevitável. Quero dizer, todo mundo, um dia, morre. Mas tem uma coisa que a minha mãe vive me dizendo que, hoje, mais do que nunca, fez tanto sentindo pra mim. “É melhor se arrepender de algo que fizemos, do que algo que não fizemos”. E com isso quero dizer que não me arrependo de ter saído com você. E sairia de novo, e de novo. E por que eu não quero me arrepender de ter saído do seu lado, é que eu não vou sair do seu lado agora. Eu disse que sou o tipo de amigo chato, não disse? Eu vou grudar no seu pé como chiclete velho até o fim. E não adianta você me xingar ou contar mentiras para me afastar. Por que eu também sou muito curioso, e vou querer sempre saber o que está acontecendo com você. Então, pode espernear à vontade, por que não vou te dar ouvidos, ouviu?

— Seu idiota.

— Uma pessoa a mais me chamando de idiota não vai fazer diferença. — deu de ombros.

— Eu te odeio.

— Eu não acredito.

— Não, eu realmente te odeio. Te odeio por não conseguir me fazer te odiar. Te odeio por você me provar que eu não estava errada por ter me apaixonado por você à primeira vista...

Os olhos dele olharam seriamente para ela, mas seus lábios sorriam. E então ele deu mais um beijo nela.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Bom, resolvi deixar por conta de vocês a decisão final sobre o destino dela; se ela morre, ou não... Até por que eu mesma fiquei na dúvida (e resolvi deixar assim). T_T

Sei que ficou meio óbvio que ela tivesse algum problema de saúde também, mas como o propósito da história não era desenvolver um enredo de suspense, não me ative muito a essa obrigação de deixar coisas muito implícitas (apesar de saber que teria ficado melhor se fossem)... mas como disse antes, essa fic estava fermentando há muito tempo, e só agora consegui pensar num desenvolvimento até o final dela... T_T

Enfim, espero que tenham gostado. Ficarei mais do que feliz em ler a opinião de vocês sobre a história nos comentários. Sintam-se livres para fazer qualquer crítica (se faltou explicar alguma coisa, ou se algo ficou mal explicado...enfim, sobre qualquer coisa). :)

E agradeço desde já aos que leram até o fim, e aos que comentaram também! T__T

PS: a Hipoplasia existe; pesquisei informações sobre ela nesses dois sites:
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipoplasia)
(http://www.saudemedicina.com/hipoplasia/)



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