Vinte e Quatro Horas escrita por Amanur


Capítulo 1
Primeira parte


Notas iniciais do capítulo

Essa história estava engavetada desde 2013, mas só agora consegui parir ela! T_T por que, olha, foi um parto mesmo, viu! A quantidade de vezes que comecei tudo de novo foi, tipo assim, fenomenal! ¬¬Enfim, conclui ela em 31 páginas, ou seja, 3 partes (a segunda é a mais longa).Vou postando uma por dia. Espero que gostem. Boa leitura!



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Vinte e quatro horas

Escrito por Amanur

...

Primeira parte

...

Ela entregou um envelope pardo a ele, e saiu correndo.

Simplesmente assim, sem dizer mais nada. Ela entregou aquele negócio e saiu correndo disparada em direção oposta a ele. Ele percebeu que ela parecia bastante constrangida, com o rosto corado, ela mal conseguiu olhar nos olhos dele... Mas ele ficou ali, consternado com a aproximação inusitada daquela moça.

Ela era estranha. Ele já tinha visto aquela garota em sua escola e, às vezes, pegavam o mesmo ônibus também. Ela deveria morar pela vizinhança, pensou, porque já tinha cruzado com ela por aí — na farmácia, no supermercado, ou até mesmo quando saía de bicicleta para se exercitar. Uma vez, ele quase passou por cima dela ao virar numa esquina. Ele deu de cara com ela, pediu desculpas e seguiu seu caminho. Ele também tinha quase certeza de que ela já tinha se oferecido para segurar sua mochila dentro do ônibus, porque ela estava sentada e ele de pé no meio da multidão.

A verdade é que não tinha como não notar aquela garota por causa do cabelo pintado em cor de rosa. Ela era a única assim (chamativa!), pela vizinhança. Sem falar que ela tinha os olhos num tom de verde mais claro que já viu na vida, além da pele super pálida que lhe dava uma aparência fantasmagórica.

Ela era estranha. De algum modo, pelo menos...

Então, ele olhou para o envelope em sua mão. Coçando a cabeça, ele ainda olhou para os lados como se procurasse por alguém, ou alguma câmera escondida, como se aquilo fosse algum tipo de pegadinha. Mas não parecia haver nada.

Ele estava a três quadras de casa; tinha acabado de descer do ônibus. Algumas pessoas passavam por ele pela calçada, mas nenhuma delas parecia se importar com o que acabou de acontecer...

E ela saiu correndo em direção oposta a dele, com o coração na mão. Parou ao virar a esquina, numa rua, onde ele não pudesse mais vê-la. Encostou-se ao muro de uma casa, com lágrimas nos olhos e pernas bambas. Ofegava mais do que deveria. Pôs a mão sobre o peito, como se seus pulmões estivessem prestes a explodir junto com o coração. Ela mal conseguia acreditar que finalmente tinha feito aquilo. Era loucura, e tinha praticamente certeza de que seria rejeitada, mas pelo menos poderia dizer que não se arrependeria de algo que não fez. Afinal, não tinha nada a perder mesmo...

Ele, por outro lado, tinha.

Ao chegar em casa, deu de cara com a sua namorada. Ela estava arrumando a mesa da sala com pratos e talheres, ajudando sua mãe a cozinhar o almoço.

Ao vê-lo, ela correu para cumprimentá-lo com um beijo.

— Que envelope é esse? — a garota perguntou.

— Ah, é um documento que peguei na escola. — mentiu. E nem sabia bem porque estava mentindo para ela, afinal, não tinha nada a esconder. Não era como se ele estivesse a traindo...

E ele adorava ela! Estava quase prestes a assumir, até mesmo, que a amava.

No entanto, lá estava ele socando o envelope para dentro da mochila.

Mais tarde, quando sua namorada foi embora, trancado em seu quarto, ele resolveu abrir o envelope. Havia um bilhete (metade de uma folha de caderno), escrito à mão numa letra cursiva. O bilhete começava assim:

Tudo o que quero é passar vinte e quatro horas com você.”

Sasuke soltou uma risada quase histérica.

— Isso só pode ser mesmo pegadinha... — ainda resmungou. E logo voltou a terminar de ler o papel.

Se você aceitar a proposta, prometo que nunca mais me verá depois dessas 24 horas.” — E abaixo disso, tinha um número de celular. E só. Não estava assinado, nem mesmo particularmente endereçado a ele. Apenas aquelas duas frases secas, sem sentido.

Aquilo tinha que ser uma pegadinha!

Sem pensar duas vezes, jogou o bilhete junto com o envelope no cesto de lixo, abaixo da sua escrivaninha, e foi dormir.

No dia seguinte, ele não viu a garota em lugar algum. E quando chegou em casa, sua namorada estava no seu quarto, com o bilhete amassado na mão.

— Que diabos é isso, Sasuke?

Ele suspirou, num misto de raiva (por descobrir que ela mexia em suas coisas quando ele não estava por perto) e compreensão. Afinal, se ele estivesse no lugar dela, também iria querer saber o que aquilo significava (embora soubesse que jamais mexeria nas coisas dela sem permissão).

Então, tudo o que podia fazer naquele momento (para não piorar a situação), era tentar explicar.

— Não é nada demais. Uma menina, ontem, apareceu na minha frente me entregando esse envelope. E só. Depois, ela saiu correndo. Deve ser louca.

Sua namorada mordeu o canto da boca, como sempre fazia quando estava irritada, desconfiada.

— Eu juro, Karin. Alguma vez eu já menti para você?

— Ontem. Você disse que isso era um documento da escola.

Ele revirou os olhos.

— Ok, falha minha. Eu só não queria ter que explicar toda a situação ali, na frente da minha mãe. E além do mais, isso não significa nada para mim. Tanto que joguei a porcaria no lixo, não foi mesmo?

— Você ligou para ela?

— Não! A ideia nem passou pela minha cabeça! — o que era a mais pura verdade.

— U-hum. — mas ela ainda estava desconfiada.

— Acredite em mim.

— Eu quero! É sério, eu quero muito poder acreditar em você, Sasuke. Mas o fato de que você mentiu para mim não quer sair da minha cabeça agora... Você poderia ter me contado sobre isso depois que almoçamos. Por que não contou?

— Por que nem eu sabia o que tinha dentro do envelope ainda. Não queria te aborrecer com coisas desnecessárias!

— Bom, parece que você conseguiu o oposto! — ela pegou suas coisas sobre a cama dele, e foi dando as costas — Tenho que estudar para o vestibular mesmo... Não posso perder tempo com coisas insignificantes... — e bateu a porta do quarto dele.

Sasuke só ficou na dúvida com relação ao que seria “insignificante” para ela.

Só que mais alguns dias se passaram, e tanto sua namorada quanto a garota maluca não apareceram.

Na escola, ele tentou procurar a menina. Perguntou para todos os seus amigos se alguém sabia quem era a garota dos cabelos cor de rosa, mas ninguém sabia responder muita coisa, além de que ela se chamava Sakura, estudava na sala ao final do corredor, e não tinha amigos. E como se não bastasse, parece que a menina não esteve assistindo as aulas nos últimos dias.

Então, ele resolveu desistir de procurá-la. Até para não causar mais conflitos com sua namorada. Mas ao chegar em casa, naquele dia, ele se deparou com o seu irmão mais velho segurando o bilhete.

— Mas que merda, Itachi! Eu joguei isso no lixo, porque você pegou de volta? Aliás, porque diabos as pessoas insistem em mexer nas minhas coisas quando não estou em casa?

— Eu estava procurando uma caneta, quando vi o envelope no seu cesto. Aliás, você deveria limpá-lo com mais frequência...

— Por que você pegou o envelope do lixo? — indagou, ignorando o sarcasmo do irmão.

— Parecia importante. — Itachi deu de ombros.

— Bom, não é.

— Talvez não para você, mas para essa menina seja.

— Como você sabe que é de uma menina? Andou ouvido minha conversa com a Karin?

— É difícil encontrar um menino com uma letra bem desenhada, assim, não acha?

— Ah. Bom, não importa. Eu não vou ligar.

— Eu estava pensando... Porque será que ela pediu apenas vinte e quatro horas!?

— Por que ela é louca! Lé-lé da cuca!

— Me pergunto se realmente é...

Itachi se levantou da cadeira e saiu do quarto. Mas deixou o maldito envelope ali, sobre sua escrivaninha, como um lembrete. Aquela coisa parecia estar o perseguindo.

À noite, ele não conseguiu dormir direito, pensando na moça. Um monte de perguntas ficava rolando por sua mente, o deixando cada vez mais inquieto. Como, por exemplo, por que ela não estava mais indo à escola? Será que era por causa dele mesmo? Será que era porque estava envergonhada demais para encará-lo? Ou será que havia algum outro motivo? E o que ela queria dizer com “nunca mais vê-la depois das vinte e quatro horas”? Isso significava que ele a veria de novo, então, se não aceitasse? E o que ela pretendia fazer durante essas vinte e quatro horas?

Até que finalmente chegou a cogitar a possibilidade de ligar para aquele número.

Mas ele ainda estava resistindo por causa da namorada que não falava com ele há quase duas semanas. Ele bem que tentou falar com ela, mas não havia o que a fizesse retornar. E-mails, telefonemas, mensagens no celular, mensagens no facebook... Nem mesmo adiantou ele ter ido a casa dela, porque a mãe da Karin dizia que ela não estava em casa — o que obviamente era uma grande mentira. Ele sabia que ela estava estudando feito louca para o vestibular, assim como ele deveria estar fazendo — Pena que ele estava com a cabeça cheia demais com aquela maldita garota de cabelos cor de rosa.

— A única maneira de você conseguir descansar é ligando para essa menina e descobrir o que ela quer. — seu irmão aconselhou.

— Se eu fizer isso, vou ter que contar à Karin, e ela vai terminar comigo...

— Apenas ligue logo para a menina, e descubra o que ela quer. A Karin nem precisa saber. Até porque, Sasuke, falar com outra menina não é traição!

Seu irmão tinha razão.

Então, no final daquela tarde, ele pegou seu aparelho, se trancou no quarto e discou os números que estavam no bilhete.

Ouviu com impaciência os toques de chamada até cair na caixa eletrônica.

“Talvez esteja ocupada”, pensou.

Então, esperou mais uns cinco minutos e tornou a discar os números.

Mais uma vez ouviu os toques. Até que, quando estava prestes a encerrar a ligação, achando que ela não atenderia outra vez, ouviu uma voz fraca do outro lado da linha.

Sim?

— Não! Quero dizer, sim... Er, oi. É a Sakura? — perguntou atrapalhado.

Ela não respondeu.

— Ahn, oi? Está aí?

— Sim!

— Ahn... Então, estou ligando. Err, não sei bem por que... Será que você pode me esclarecer? — ele estava confuso consigo mesmo.

— Você aceita o que pedi? — ela pergunta, assim, diretamente, sem mais nem menos, por que tinha reconhecido sua voz (o que o deixou meio sem jeito).

— Bom... É que... Espero que você entenda... Eu não te conheço. É complicado...

— Eu sei.

— Entãaaaaao...

— Você aceita ou não?

Ele passou a mão livre no rosto, se sentindo um tanto incomodado.

— Olha... Quem sabe a gente se encontra para tomar um café em algum lugar, ou comer algum lanche por aí, e então a gente conversa?

— Não! Ou você aceita, ou não aceita. E essa ligação não conta.

— Err... Exigente você, hein?! — comentou.

— Desculpa...

— Por que você não me diz logo o que quer?!

— Não há motivo algum para eu te dizer qualquer coisa se você não aceitar.

Ele soltou um suspiro. Já estava ficando cansado daquele joguinho que ela estava jogando. Por outro lado, quanto mais conversava com ela, mais curioso ficava.

— Mas olha só, como é que eu vou saber se é algo que eu possa aceitar ou não, se você não me diz sobre o que é?

Houve um silêncio de alguns longos segundos do outro lado da linha.

— Bom, eu não vou exigir que você faça qualquer coisa que não queira fazer, se é isso com o que está preocupado...

— Hum... Você não vai fazer nada esquisito, então, né?!

— Não! É claro que não!

— Você não vai me matar, não é?

Você realmente acha que eu tenho capacidade de fazer isso? Justo eu, quase meio metro de altura contra os seus quase dois metros? — ela disse, num tom meio desgostoso.

Bom, ela estava exagerando tanto na altura dele quanto a própria. Mas era bem verdade que ele era mais alto do que ela, e que ele tinha um porte físico mais vantajoso do que o dela. Na verdade, pela perspectiva, era ela quem deveria tomar cuidado.

Ele pensou.

“Mas o que diabos, então, ela iria fazer comigo?”, se perguntou.

Sua razão ainda lhe dizia para não aceitar, mas sua curiosidade o instigava a ir adiante com aquela ideia maluca. Aliás, a curiosidade excessiva era um dos seus maiores defeitos.

Então, respirou fundo, resignado.

— Tá, eu aceito! — disse.

E algo lhe dizia que ainda teria uma bela dor de cabeça por estar fazendo essa bobagem.


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Notas finais do capítulo

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