Narrado por: uma humana cantante

Eu me animei na hora com a idéia de cantar no karaokê. Mas foi só na hora mesmo. Agora uma semana depois, a poucos minutos da minha vez no palco, eu estou tremendo de medo. Eu até tive pesadelos com isso, uns bem assustadores, outros engraçados. Em um em especial Heiderick aparecia pra mim no meio do nada, com uma roupa assustadoramente preta, enrolado como uma fita escarlate, como se fosse um embrulho pra presente. Quando eu tocava nele, pra poder desembrulha-lo – e eu estou falando apenas da fita – ele desaparecia e no lugar havia uma luz concentrada em cima de mim, um microfone e eu sabia que tinha que cantar, mas minha voz não saia. Eu tinha medo de olhar pra frente e encara o que quer que estivesse na platéia. Esse sonho me perseguiu por duas vezes.

Todos estivemos ocupados com os preparativos essa semana para que o concurso pudesse ficar organizado e para que pudesse realmente acontecer neste sábado. Muitos vampiros se inscreveram, o premio seria uma noite liberado no Host Cl.ub para o vencedor e um convidado especial. Bem eu não vou concorrer pelo premio, na verdade não faço idéia de onde estava minha cabeça ao me inscrever nesse concurso.

Até agora já cantaram aqui do bar o Milles, que cantou Baby, do Justin Bieber. Ele parecia o próprio cantor, como um anjinho com aqueles cabelos loiros e aquela voz doce, simplesmente encantador. Kantan também já cantou. Ele cantou uma musica antiga, numa voz formidável e tirou a nota 95! A maior até o momento.

Depois deste eu assisti ao show do Andréas, que agitou as pessoas, mesmo sendo um pouco desafinado. Sua musica era Smells Like A Teen Spirit, do Nirvana. Após o seu show, mais outros vampiros cantaram, muitos eu não conhecia, mas outros eu via varias vezes no bar. Tinha uma vampira ruiva e solitária, que sempre is se embriagar com sangue. Tinha um vampiro que parecia um velhinho, mas seus olhos muito azuis, o fazia parecer mais jovem.

 A próxima pessoa que cantou foi a Sam. A música dela deu direito a um show de dança. Vestida com um maiô a lá Beyoncè ela cantou Ego. Eu fiquei irritada porque a música dela era especialmente direcionada ao Heiderick. Não que eu não tivesse tido a mesma idéia, porém sem a dança.

            Mais vampiros cantaram, musicas animadas e dançantes, algumas eu imaginava que foram compostas antes mesmo de eu nascer, ou até da minha mãe nascer. De repente Heiderick veio pro meu lado.

            - Vamos Mizi, daqui a pouco é a sua vez. – ele sorriu pegando na minha mão, será que ele podia ouvir meu coração acelerar? Ou apenas via minha pele corar? O que será que ele pensava disso?

            - É... mas você vai primeiro não é?

            - Então vou esperar por aqui, quero ver você cantar.

            - Por que esse tom de deboche mocinha? Você vai se surpreender, pois eu canto muito bem.

            - Veremos.

            - Isto é um desafio senhorita Miziara?

            - Talvez...

            - Então está aceito. Aposto que tiro uma nota maior que a sua.

             E ele se foi para o palco.

            Bem... eu confesso que fui totalmente surpreendida. Eu conhecia a música, uma música lenta, Must Get Out, do Maroon 5. Quando eu percebi todos ao meu redor dançavam, ou ao menos se moviam ao som da musica. Todos meio que hipnotizados pela voz dele. A voz dele estava doce e penetrante... com aquele toque triste e depressivo, a voz de alguém que sofreu. Ao final do primeiro refrão ele olhou para mim, no inicio com uma expressão arrogante, mas quando os olhos dele encontraram os meus, ficamos os dois presos nesse contato, e foi aí que eu fiquei imóvel mesmo, ouvindo o som da voz dele, que parecia quase surreal. A cena toda parecia fazer parte de um sonho. Eu descobri que o que eu sentia por ele era bem mais que amizade, era um calor que preenchia meu peito. Eu simplesmente precisava dele na minha vida. Não paramos de nos olhar enquanto a musica não terminou. Nossos olhos continuaram focados, conectados um ao outro.

            A música parou, nós piscamos e parece que o mundo inteiro mudou. Naqueles três minutos, enquanto os olhos verdes quase transparentes me fitavam o meu mundo inteiro mudou. A próxima musica seria cantada por mim.

[continua]