Narrado por: um humano arrogante

            Finalmente a Mizi aceitou sair comigo. Não sei bem por que, mas depois que nós terminamos ela chama cada vez mais minha atenção. Quase me arrepende de ter ‘ficado’ com a ruiva. Nós íamos até o shopping, num restaurante de lá. Espero que ela perceba o quanto gosta de mim e não seja uma garota difícil em relação a isso.

            Ela se atrasou quinze minutos. É o normal dela, sempre desajeitada quando nervosa. Eu chamei um táxi pra nós, e estávamos sentados no banco de trás quando o telefone dela tocou. Ela atendeu prontamente quase deixando o aparelho cair.

            - Oi? Estou ocupada agora... ahn... não sei, talvez lá pras dez horas... como assim tarde? – ela ficou calada agora, ouvindo. – Heiderick... não, eu não estou nervosa... nem chateada. Eu não fico te importunando... ok! Eu estarei lá. Boa noite... não, não vou mesmo dizer onde estou indo. Não ligue de novo... TCHAU!

            Ela ficou nervosa... bem pela conversa eu fiquei ainda mais curioso para saber qual a relação dela com esse cara. Por que ele a perseguia tanto? Será que estavam namorando? Resolvi sondar...

            - Ei Mizi... esse cara que te ligou... Heiderick? Bem... ele se preocupa muito com você né? As vezes parece um irmão...

            A expressão dela foi de quase decepção com meu comentário, seus olhos de repente entristeceram, e ela pareceu nem perceber isso.

            - Ah, ele é um amigo... de um primo meu. Nos conhecemos a pouco tempo.

            - Nossa, vocês parecem bem ligados...

            - Sim. Estamos sim. – agora ela sorriu, os lábios formando um linha diferente, quase como se ela guardasse um segredo divertido.

            Chegamos ao restaurante, e fizemos o pedido. Embora ela parecesse se divertir eu podia ver que estava distraída e que constantemente olhava seu celular. Acho que ela ainda não percebeu que esta apaixonada por aquele cara. Mas isso não era nada. Ela também já fora apaixonada por mim e voltaria a ser. Isso era uma certeza.

            Quando estávamos na sobremesa, por volta das nove da noite, ela olhou para o lado e corou. Os olhos ardendo em fúria. A fúria de um animal pequeno e indefeso. Quando me virei para ver o que ela olhava, pude ver seu amigo entrar no restaurante e se sentar numa mesa, não tão próxima a nós, ele certamente queria que aquilo parecesse uma coincidência, mas ele não lidava com um iniciante. Ficar com a Mizi agora era questão de honra pra mim. Ele se sentou e fez o pedido ao garçom, sem parecer nos notar.

            - Vamos fingir que não vimos ele aqui, tudo bem? – ela pediu a voz sussurrante e furiosa. Ela era tão engraçada furiosa.

            - Quem? – eu disse com um sorriso conspirador. Nós dois rimos da situção.

            Embora ela tivesse pedido para ignora-lo ela constantemente olhava na direção dele. Quando estávamos saindo ele se aproximou da nossa mesa, com a cara mais descarada, fingindo que tinha acabado de nos ver. Foi a gota d’água pra mim.

            - Se levanta Mizi, vamos embora agora.

            - Ei quem te deu o direito de falar assim com ela?

            - E quem te deu o direito de invadir e atrapalhar o nosso encontro?

            - Invadir? Como assim não... eu sempre venho comer aqui.

            - Sempre? Então vá fazer isso. Termine seu jantar enquanto estamos indo embora.

            - É claro que não. Acha que vou deixar ela ir assim com um idiota como você?

            - Não é você quem decide isso.

            Eu estava muito concentrado na discussão para reparar na Mizi. De repente ela se levantou da mesa, irritadíssima, como pude perceber.

            - Vocês querem parar? Essa atitude alem de infantil é ridícula!!! Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui!

            - Vamos Mizi. Deixe esse intrometido pra lá. – quando eu ergui a mão para pegar a dela pude sentir toda a hesitação pela qual ela passava. Como se fosse machuca-la ter de ir comigo. Era estranho mas eu parecia conhece-la tão bem, cada expressão em seu rosto, cada movimento de seu corpo, o tom da sua voz, tudo aquilo fazia sentido pra mim, era indispensável pra mim. Ela disse com a voz fraca:

            - Melhor... melhor eu ir sozinha – eu pude ver que seus olhos se voltavam para ele, era como se ela não quisesse decepciona-lo. Eu entendi que naquele momento ela realmente queria ficar com o amigo de primo dela, que talvez ela sentisse por ele o mesmo que sentia por mim, que talvez, em seu coração ele estivesse roubando o lugar que me pertencia. Eu percebi também que eu gostava dela. Que o que havia acontecido entre mim e a Vanessa não foi nada. Uma aventura passageira. Deicidi ir embora e fingir que ela também iria pegar um táxi e sair dali. Mas eu sabia que não era assim...

[e não foi mesmo]

Narrado por: uma humana furiosamente encantada

Zac saiu. Eu deveria estar muito chateada com o Heiderick por isso. Eu deveria ter ido com o Zac. Mas eu fiquei lá, pois os olhos assustadoramente transparente simplesmente me prenderam.

- Vem Mizi... sente-se aqui comigo.- ele sorria vitorioso.

- Você não devia ter aparecido aqui e sabe disso.

-Eu queria ver com os meus olhos que estava tudo bem...

- Não queria não. Você queria arruinar o meu encontro.

- Ta isso também. – sorriso vitorioso de novo. Será que ele tinha noção do quanto esse sorriso podia mexer com uma garota? – Mizi... eu só quero me certificar que você não vai ficar com ele de novo. Não quero que ele te faça sofrer ou algo assim.- ele engoliu em seco me olhou intensamente e de repente eu fui sugado pela transparente azul de seus olhos – Mizi... me diga uma coisa... e seja sincera. Você ainda gosta desse Zac? – disse o nome com desdém.

Eu não sabia o que responder. Tudo o que passava pela minha cabaça era que o Heiderick era só meu amigo, mesmo que as vezes – vezes até demais eu assumo – eu quisesse mais do que isso.

- Eu... não sei Heid. Não é como antes... mas eu não posso te dizer que não sinto nada.

- Eu gosto de você Mizi... – e meu coração disparou. No segundo que ele levou para completar a frase eu tive a completa certeza que não sentia a mesma coisa pela Zac, e que definitivamente eu sentia algo pelo Heid. E não era só amizade. – você é minha amiga e não vou deixar ninguém te magoar.

Depois disse fomos tranquilamente para casa, a conversa não se voltou mais a esse assunto. Não me lembro bem o que se passou depois do que ele disse.

Quando chegamos na porta da minha casa, virei meu rosto para dar boa noite pra ele, quando vi que os lábios dele – que iam beijar minha bochecha – a um centímetro dos meus lábios. Eu queria muito, muito –mas muito mesmo, exageradamente muito – ter beijado ele ali, mas como ele não fez nada, eu também fiquei imóvel.

- Boa noite Heid – sussurrei finalmente saindo do carro. Ele me sussurrou de volta, com a voz rouca. Deu partida mal eu fechei a porta do carro.

[o fim da noite do vampiro]

Narrado por um vampiro preocupado:

Eu cheguei em casa tão rápido que nem vi a estrada passando por mim. Tomei um banho para me desligar do assunto e fui só de short para o meu caixão. Deitei-me lá e finalmente minha mente chegou onde queria. Agora eu tinha certeza que passaria o resto da noite pensando nela. Pensando em como a boca dela tinha ficado perto da minha... o calor que eu já conhecia mas que me dava arrepios –bem a sensação é praticamente a mesma que um arrepio – pois era como se os lábios dela me chamassem. Mas o que deu em mim para beija-la na bochecha? eu estava tentando ser carinhoso? Será que uma garota como ela sentiria alguma coisa por um vampiro? Um vampiro que a atacou na primeira vez que se viram? Se era assim... porque ela ficou corada e hesitou antes de sair do carro? Será que ela queria me beijar? Então por que não beijou? E eu por que não a beijei? Será que ela teria me rejeitado? Seria esse um beijo sincero da minha parte? E da parte dela?

[ele passou a noite inteira se questionando sobre tudo isso... mas acho que já estamos cansados de perguntas por hoje.]