After all this time? escrita por Luna Lovegood


Capítulo 9
Capítulo 8 - If you don’t wanna love me


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Como vocês estão? Obrigada pelos comentários carinhosos no capítulo anterior vocês são sempre uns amores.

Essa fic já está quase acabando :( devo dizer que ficou maior do que eu planejava. Quero avisar também postei uma fanfic nova, não me chamem de louca, eu sei que tenho outras em andamentos mas queria escrever essa pequena história chamada "All of the stars" inspirada na música do Ed Sheeran. Vai ser curtinha só dois capítulos.

Falando em capítulo espero que gostem desse.



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When you lower me down

So deep that I, I can't get out

And when you're lost, lost and alone

Yes you'd think it was the last place

You'd come back for more

If you don't want me to leave

Then don't push me away

Rather blow out the lights

You can watch it all fade

But I'm going nowhere

I'm gonna stay

When you just wanna fight

When you're closing your eyes

'Cause you don't wanna love me

I'm gonna stay

You can't push me to far

There's no space in my heart

Where I don't wanna love you

(If you don’t wanna love me - James Morrison)

 

Oliver Queen

Era estranho o quanto eu me sentia conectado à Felicity, nós estávamos namorando há apenas algumas semanas, mas eu sentia como se fossem anos, era assustador o quanto eu estava apaixonado por ela. Eu sabia que era ela, a minha escolhida, a única mulher que um dia tocara meu coração, a única que enxergava quem eu era de verdade, e me amava ainda assim, além das minhas qualidades e apesar dos meus defeitos.

Era uma noite qualquer de sábado, Felicity e eu tínhamos ido ao cinema. Eu não faço ideia de qual foi o filme que assistimos, eu estava muito consciente de seu corpo próximo ao meu, da sua cabeça descansando em meu corpo, do cheiro floral que emanava de seus cabelos sedosos. Eu estava ocupado demais em beijá-la a todo segundo, em tocar a sua pele macia e em gravar cada detalhe daquele momento que passávamos juntos, que o filme me pareceu algo sem importância quando comparado ao espetáculo que era cada mínimo movimento, cada pequena frase de Felicity, cada beijo que ela me dava.

Como eu poderia me concentrar em uma história de amor fictícia, quando eu estava naquele exato momento vivendo uma história de amor muito maior e mais bela?

Mas logo o filme acabou e meu tempo com ela também. Era uma tortura ter que deixá-la em sua casa e voltar para a minha, eu não me sentia mais como se eu estivesse em um lar. Embora eu tivesse uma boa vida com o meu pai, e eu o amasse, a minha casa não era um lar para mim, pelo menos não mais. Lar vai além de um conjunto de paredes indistintas, além do local onde eu passava as minhas noites sonhando com Felicity. Ali podia ser a minha casa, mas não era o meu lar. Por que lar é onde o nosso coração pertence e o meu lar sempre seria Felicity Smoak.

Talvez fosse por isso que o meu coração sempre parecia doer todas as vezes em que eu me distanciava dela. Por isso eu costumava voltar lá na calada da noite, a mansão não era bem vigiada e era fácil pular o muro me esconder em um canto remoto do jardim e apenas ficar ali observando a varanda do quarto dela, vendo a sombra dela passar pela janela, esperando pelo momento em que ela viria até a varanda e eu poderia me deleitar mais um pouco com a sua visão.

Senti algo em mim acordar assim que ela surgiu apoiando seus braços sobre a pequena mureta da varanda, imediatamente passeia observá-la com mais atenção. A luz da lua cheia banhava seu pálido rosto e reluzia em seus cabelos dourados deixando-a com um ar etéreo e celestial, era por causa dessa visão que eu costumava dizer que ela parecia um anjo. Felicity ergueu sua cabeça para o céu, parecia contar seus segredos às estrelas, cogitei me aproximar para ouvir o que ela dizia, mas tive medo de assustá-la. Por isso preferi ficar aqui, escondido nas sombras apenas me maravilhando com a sua imagem tão encantadora, tão pura e linda.

Ela usava uma espécie de xale cobrindo-lhe o torso, mas em algum momento o calor da noite parece ter a atingido e então ela se despiu dele. Quando eu vi seu corpo coberto apenas pela fina camisola branca, eu fiquei tentado a escalar a trepadeira que crescia pelas paredes da mansão, e alcançá-la naquela varanda, tomar seus doces lábios nos meus e fazê-la minha.

Sacudi minha cabeça tentando me livrar das imagens nada inocentes que ali se formavam, ainda era muito cedo para isso e Felicity era muito jovem. Ela merecia mais de mim, eu podia não ser o príncipe encantado que ela merecia, mas ainda assim eu a trataria como a princesa que ela era. Eu a esperaria quanto tempo ela quisesse que eu esperasse.

Me acalmei pensando que um dia esse dia chegaria, eu ainda iria subir por aquela trepadeira e alcançá-la naquele balcão, exatamente como Romeu fez com Julieta, mas sem o final trágico. E quando esse dia chegasse, ela me entregaria seu corpo, seu coração e sua alma e eu faria exatamente o mesmo por ela. E seríamos um só.

Mas antes disso eu precisava resolver as coisas, falar com o pai dela e pedir a permissão para namorar a filha dele. Devo dizer que essa ideia me apavorava, não por medo dele propriamente, mas sim do que ele poderia fazer. Pelo pouco que eu conhecia de Richard Smoak ele não hesitaria em levar Felicity para longe de mim. E ficar longe dela, isso sim me apavorava.

Observei Felicity se virar, voltar para o seu quarto e fechar a porta. Essa era a minha deixa, eu deveria ir embora também. Mas eu simplesmente não conseguia ir eu precisava ficar perto dela isso era o que me fazia bem, me trazia paz então acabei passando a noite ali. Meu coração sempre se sentiria bem enquanto eu estivesse perto dela. Porque Felicity era o meu lar.

Eu estava em meu escritório na Queen Consolidated, tentando me concentrar no trabalho, pilhas e pilhas de contratos, análises financeiras, gráficos importantes estavam sobre a minha mesa. Mas minha mente se recusava a focar naquilo, na verdade minha mente parecia ainda mais obcecada com a imagem de Felicity. Eu sentia a presença dela a todo momento, o doce perfume floral dela ainda estava impregnado em mim, eu fechava meus olhos por apenas alguns segundos, e eu podia ver aquela face de anjo emoldurada por seus belos cabelos loiros e decoradas com aqueles olhos de um azul celestial, aquela visão me atormentava, me perseguia, me fazia amá-la ainda mais.

Era como da outra vez, quando ela foi embora sem se despedir. Quando tudo o que ela me deixou foi aquela maldita carta e sequer se deu ao trabalho de responder a que eu escrevi. Eu me lembro do quanto doeu perceber que ela não me amava da mesma forma que eu a amava. Mas naquela época foi um pouco mais fácil de superar - não, superar não é a palavra correta, superar o amor que eu tenho por ela, isso seria impossível - Talvez tenha sido mais fácil ignorar aquele sentimento, mais fácil me concentrar na mágoa que crescia em mim e fingir que eu não a amava. Era fácil porque ela não estava aqui e eu não fazia ideia de onde encontrá-la.

A diferença era que agora Felicity estava perto demais para eu ignorar a sua presença, próxima demais para eu olhar em seus olhos e fingir que não a amava, eu não seria capaz de contar tal mentira. Eu sabia exatamente onde achá-la, e também sabia que ela não iria embora tão cedo.

Olhei para as horas, me assustei quando percebi que já passavam das quatro horas da tarde. Eu a havia deixado no hospital há mais de oito horas, me peguei novamente pensando nela, em como será que ela estava, se o pai dela já havia acordado e se eles já haviam conversado. Queria saber se ela estava bem e feliz. Eu não deveria me importar com ela, mas ainda assim eu me importava.

Suspirei frustrado forcei minha mente a lembrar das palavras “Não significou nada” antes que eu me permitisse esquecê-las outra vez. Antes que eu me deixasse ser tragado por todo o amor que eu sinto por ela. Antes que eu ignorasse o bom senso e voltasse para ela implorando por seu amor, não, eu não faria novamente, eu não mendigaria por migalhas de seu amor. Já era hora de aceitar que essa história nunca teria um final feliz.

Eu não conseguia lidar com essa contrariedade de sentimentos em mim! Minha razão dizia-me para colocar um fim nessa história, que não valia a pena perder a minha sanidade por causa dela. Enquanto o meu coração, tolo como só ele se recusava a desistir. Mesmo sabendo que todo o meu amor não era correspondido, lá estava ele amando-a incondicionalmente, contra todas as possibilidades. Porque a vida era assim? Seria mais fácil se nunca nos apaixonássemos. A vida teria bem menos emoções e seríamos pessoas mais vazias, mas nossos corações estariam preservados de toda a dor.

— Você está aqui. – O tom surpreso de John chegou aos meus ouvidos e imediatamente forcei a colocar em meu rosto uma máscara de seriedade, não que isso fosse enganar Diggle, mas de qualquer forma eu tentaria.

— Estou trabalhando. – Respondi tentando manter um tom neutro.

— Claro que está. – Concordou com um sorriso incrédulo e se sentou à cadeira em frente a minha mesa. – É por isso que todos esses contratos estão jogados aqui perfeitamente empilhados, como se você tivesse passado horas realmente analisando cada um deles. – Suspirei, John trabalhava comigo há anos, era meu melhor amigo, me conhecia bem demais para se deixar enganar.

— O que você quer aqui? – Perguntei em um mau humor latente. Recebi um arquear de sobrancelhas como resposta.

— Você primeiro. – Jogou para mim, ele não sairia daqui sem que eu explicasse o que estava acontecendo – Porque você está aqui na empresa e não com a sua garota? Ela precisa de você. - Afirmou com convicção.

— Não, ela não precisa John. - Respondi evitando encará-lo.

— Oliver, o que aconteceu? – Perguntou diretamente, e eu sabia que essa era deixa para desabafar tudo. E foi o que eu fiz, desabafei tentando manter a minha dignidade, contei tudo à ele desde o momento em que meu coração se encheu de esperanças até quando ela disse que a minha carta não tinha significado nada. E tudo desmoronou.

— Então essa é uma péssima hora para dizer que eu consegui comprar todos os quadros da mãe dela. – tentou brincar, mas assim que viu minha cara ele ficou mais sério. – Entendi, vou tentar desfazer a compra.

— Não! – Exclamei.

— Para alguém que quer esquecê-la você se apega de mais a tudo o que é dela. – Concluiu.

— O que você quer dizer com isso Dig?

— É bem óbvio, Oliver. Você a ama, mas tem toda essa insegurança aí te impedindo de ver as coisas claramente. Ela disse que a sua carta não significou nada? Bem talvez ela tenha se referido a outra carta... Eu não sei ao certo. Pelo o que você me disse ela pareceu um pouco confusa com a sua reação, inclusive tentou ir atrás de você... – Meu coração parou quando ele disse essas palavras, aquilo era algo a se pensar. Ela parecia triste ao me ver deixá-la. Merda, talvez eu tenha sido um idiota. – É evidente que aquela garota é apaixonada por você, não seja um tolo! Não a perca novamente. Vá até ela e esclareça as coisas, converse e não se esconda aqui enchendo a cabeça com suposições.

Diggle estava certo eu não podia me esconder de tudo, eu precisava conversar com Felicity, precisava deixar as coisas claras. Eu perguntaria diretamente, eu merecia uma resposta completa, eu merecia saber o porquê dela ter ignorado a minha carta, porque ela achou que não me devia uma resposta. Eu colocaria tudo as claras, sem mais distrações ou interrupções. Nós terminaríamos tudo de vez ou nos daríamos uma segunda chance. Eu tentei manter minhas esperanças baixas, embora meu coração discordasse disso, a simples ideia de voltar a vê-la me fazia ter uma arritmia.

— Você está certo Dig. – Assumi revigorado – Eu me pergunto quantas vezes eu reconheci isso essa semana.

— Três vezes. – Falou com um semblante divertido – Não é sempre que você assume que eu tenho razão, preciso contabilizar. Agora pare de perder tempo comigo e vá atrás da sua garota.

E eu fui.

***

Acho que eu nunca dirigi tão rápido na minha vida. Tenho certeza que ganhei algumas multas por excesso de velocidade, e outra por avançar o sinal vermelho. Mas eu minha defesa, eu não estava no controle do meu corpo. Ele parecia ter vontade própria e agia conforme essa vontade, que era encontrar Felicity o mais rápido possível.

Cheguei ao hospital e logo me dirigi ao quarto de Richard, ela com certeza estaria ali com o pai. Eu não tinha autorização para entrar, apenas familiares eram permitidos, mas eu ficaria do lado de fora e esperaria até que ela saísse. Esse me parecia um bom plano, eu só não contava que ficaria esperando ali por tanto tempo.

— Hey, – Parei uma enfermeira antes que ela pudesse adentrar no quarto de Richard – Você poderia me ajudar?

— É claro. – Respondeu solícita.

— Eu preciso falar com Felicity Smoak, ela está nesse quarto com o pai dela que é o paciente. Diga a ela que é urgente. – Minhas mãos estavam suando.

— Qual o nome do Senhor?

— Oliver Queen. – A enfermeira assentiu e entrou no quarto.

Cada segundo que ela passava lá dentro era angustiante. Minha mente ficava pensando que talvez Felicity não quisesse falar comigo. E foi decepcionante ver a enfermeira sair de lá sozinha.

— Senhor Queen? – Direcionou-se para mim. – A senhorita Smoak não está aqui, mas o pai dela disse que gostaria de falar com o senhor. Pediu que eu ressaltasse que é um assunto inadiável.

Franzi o cenho, o que Richard teria para falar comigo de tão importante? Então me lembrei da nossa conversa na noite do baile, aquela que não tinha sido ainda finalizada. Ele falara sobre as cartas, no plural. Mas não tinha como ele saber da carta que eu havia escrito para Felicity, apenas Donna sabia dela a não ser que... Imediatamente fui em direção a porta do quarto dele, nós dois tínhamos coisas importantes para esclarecer.

****

Felicity Smoak

Eu não entendia o porquê de Oliver estar indo embora, o que eu havia feito de errado? Nós estávamos bem e de repente ele estava na defensiva e dizendo que aquele lindo momento que tivemos ontem a noite não havia significado nada. Eu não o compreendia, mas eu sabia que ele estava machucado e não tinha nada que eu pudesse fazer para consertar isso. Eu fiquei apenas ali parada na porta do hospital, impotente o observando partir. Observando o amor da minha vida ir embora

Talvez ele não quisesse insistir nesse relacionamento. Talvez fosse tarde demais para recomeçar. Talvez nós... Aqui estou eu outra vez, de volta aos “talvezes” da minha vida, lidando com toda a incerteza que era Oliver e eu. Será que ele não percebe o quanto eu o amo? O quanto a simples presença dele tem o poder de me alegrar mesmo nos dias mais tenebrosos?

Eu tentava sem sucesso entender o que se passava na cabeça de Oliver. Quando éramos mais jovens era tão simples, eu conseguia entendê-lo com apenas um olhar, na verdade ele não escondia nada de mim, era sempre sincero. Mas agora ele era um homem diferente, embora eu soubesse que seu coração ainda fosse o mesmo do meu rapaz simples de olhos azuis, Oliver tinha se fechado um pouco, eu pensei que tivesse feitos todas as barreiras dele caírem, mas parece que ele havia construído uma nova.

Eu tentei passar meu tempo não pensando em Oliver, eu aproveitei para ligar para o Sr. Palmer e agendar uma entrevista para amanhã de manhã. Ele pareceu animado com o retorno, e disse que a vaga já era minha. Eu agradeci, embora confesso, eu tenha ficado um pouco assustada com a resposta efusiva dele. Teria que deixar algumas coisas claras tão logo começasse a trabalhar para ele. Eu precisava ajeitar logo a minha vida aqui. Meu pai podia estar fora de perigo mais ainda assim eu tinha contas para pagar. O próximo passo seria alugar um apartamento, algo pequeno apenas para meu pai e eu... Eu precisava deixar a mansão.

— O que você tanto risca nesse jornal? – A voz de meu pai soou um pouco arrastada e fraca. Eu imediatamente me levantei e fui até ele, precisava ver com meus próprios olhos se ele estava bem.

— Você está se sentindo bem? – Externei minha preocupação.

— Sabe, quase morrer coloca algumas coisas em perspectiva. Eu já não sou mais um jovenzinho. Mas não se preocupe, eu ainda vou ficar por aqui tempo suficiente para te dar muita dor de cabeça. – tentou brincar e eu lhe lancei um olhar repreensivo. Mas devo confessar, o tom leve dele me deixou muito aliviada – Você não respondeu a minha pergunta.

— Estou procurando alguns apartamentos para alugar. Algo simples aqui mesmo em Star City, eu não sei quanto tempo você vai ficar em recuperação...

— Oliver te expulsou da Mansão? – Questionou-me unindo as sobrancelhas em claro desentendimento.

— Não. – Neguei prontamente, apesar de seu comportamento contraditório, Oliver nunca seria capaz de uma indelicadeza dessas.

— Felicity... Como vocês dois estão? Se entenderam? – Tinha algo diferente no tom de voz do meu pai, uma certa esperança.

— É complicado pai. – desconversei, me concentrando em ajeitar uma ruga no lençol da cama dele. Eu não gostava de ter essa conversa com meu pai.

— Eu queria que vocês dois se acertassem, filha. Eu queria ver seus olhos brilhando e aquele sorriso incrível que só aparece quando você está com ele. – Falou com sinceridade. E eu suspirei. Era tão óbvio assim?

— Eu sei que queria pai, mas não se preocupe com isso. Sua única preocupação deve ser em se curar, deixa que com o Oliver eu me entendo. – Expliquei, na esperança de que ele esquecesse esse assunto.

Meu pai tinha que fazer alguns exames, apenas para checar se estava tudo bem e eu decidi que essa seria a melhor hora para voltar a mansão. Rezei para que Oliver não estivesse lá, a minha ideia era voltar e apenas ajeitar as minhas malas e as do meu pai. Oliver podia não ter me expulsado, mas eu não queria vê-lo dirigir aquele olhar de ressentimento para mim outra vez.

Fui rápida ao fazer a minha mala, na verdade a maior parte dela ainda estava pronta só tive que recolher algumas coisas que estavam espalhadas pelo quarto. Me detive assim que vi a fotografia minha e de Oliver, de quando nós éramos jovens, peguei-a em minhas mãos.

— Parece que não voltaremos a viver isso outra vez – Falei com a fotografia. – Mas vou guardar de recordação, uma lembrança de um tempo feliz.

Assim que finalizei, olhei bem para o quarto no qual eu cresci. Eram tantas memórias, tantos momento vividos aqui, tristes e felizes, não importa, cada um deles foi importante de uma maneira diferente.

Eu estava me despedindo novamente dessa casa, senti aquele vazio dentro do meu peito aumentar. Parece que minha vida era feita de despedidas, eu já tinha aceitado isso, na verdade estava tão acostumada com o adeus que ele já nem me incomodava tanto. Além disso, eu havia voltado para a minha antiga casa, já sabendo que teria que teria que deixá-la. Mas já que essa seria a minha última vez aqui, talvez eu devesse me despedir da forma correta, da forma que eu nunca tive oportunidade de fazer antes.

Desci as escadas até o ateliê de minha mãe, abri a porta vagarosamente temendo que a qualquer momento alguém pudesse dizer que eu não deveria estar ali. Resquícios de um velho hábito eu suponho, já que eu sempre entrava ali as escondidas. Me surpreendi ao perceber que as paredes ainda tinham o mesmo tom amarelado acolhedor, embora a cor já tivesse perdido um pouco de seu brilho e agora estava quase num tom pastel. Fechei meus olhos por um momento, e respirei fundo inalando todo aquele cheiro de tinta. Para mim aquele cheiro me remetia à infância, às horas passadas ali com minha mãe, apenas nós duas. Senti um aperto no coração, mas não era algo ruim. Era aquela saudade boa, eu conseguia sentir a sensação de felicidade que aquele cômodo transmitia. Quando entrei propriamente eu reparei nos quadros espalhados por todo o local. Eu não acreditei no que vi. Todos os quadros que eu vendi no leilão estavam ali, alguns pendurados nas paredes outros em cavaletes no centro. Eram tantos que alguns estavam apenas encostados nas paredes esperando para sem exibidos.

Eu não chorei dessa vez. Eu sorri, sorri de felicidade. Era triste que minha mãe não pudesse mais estar aqui comigo. Mas eu era grata por cada momento que eu passei com ela, cada lembrança que eu sempre levaria comigo. Andei pelo amplo espaço calmamente, observando cada um daqueles quadros, tentando decifrar os sentimentos e sensações que ela sentiu ao pintá-los.

Aquele lugar exalava Donna Smoak, era quase um santuário. Eu me senti próxima dela de uma forma que eu nunca me senti antes. Procurei pelo quadro que eu havia acidentalmente estragado e o encontrei encostado no canto direito da parede. Era de longe o quadro mais alegre e colorido dela, não tive dúvidas de que ela estava realmente feliz quando o pintou. Uma pena que eu tivesse vendido esse também, já podia imaginá-lo pendurando em minha sala de estar, deixando todo o ambiente mais belo. Na verdade aquele quadro merecia estar em uma parede, sendo exibido, e não em um canto qualquer. O afastei do chão disposta a encontrar um lugar melhor para ele, mas assim que o fiz reparei que havia algo preso atrás dele. Um pequeno envelope pardo, eu o teria ignorado se meu nome não estivesse escrito nele em letras garrafais. Com muito cuidado o retirei dali e abri, havia uma carta e mais um envelope, reconheci de imediato a letra de minha mãe, e tão logo eu comecei a ler minhas lágrimas caiaram.

Minha querida Felicity,

Se você está lendo esta carta significa que eu não estou mais aqui, e infelizmente não vou poder te abraçar e te confortar com o que eu tenho para te dizer. Primeiro, eu preciso ressaltar que eu a amo, amo mais do que tudo na minha vida. O dia que eu te peguei em meus braços e olhei para seus olhinhos azuis como o céu, toquei as suas mãozinhas e te amamentei foi sem dúvida o momento mais feliz de toda a minha existência. E foi em nome desse amor sem tamanho que eu fiz o que fiz, espero que possa me perdoar.

Quando você conheceu Oliver eu soube que você havia se apaixonado perdidamente, e acredite eu fiquei feliz pela minha menina que estava se descobrindo, descobrindo o que era amar. Mas o tamanho do seu amor por ele chegava a me assustar, era intenso demais para um primeiro amor. Tive medo por você minha pequena, você só tinha dezesseis anos, era jovem demais para se entregar dessa maneira, tive medo que mais cedo ou mais tarde Oliver fosse machucar você, e eu não estava preparada para ver minha garotinha sofrer. Eu espero que me perdoe com o que direi a seguir: seu pai não foi o único a afastá-la de Oliver, eu também tenho minha parcela de culpa.

Depois da sua partida, Oliver esteve aqui. Deixou-me uma carta e implorou que eu a entregasse à você. Minha querida ele estava tão triste, era como se uma luz dentro dele tivesse se apagado. E devo dizer que a mesma luz se apagou em você também.

Você deve estar se perguntando que carta é essa, já que ela nunca chegou à suas mãos. Bem, eu conversei com o seu pai. Ele queria queimar essa carta e nunca te contar da existência dela. Pobre homem, espero que seu relacionamento com ele agora esteja melhor filha, tente compreendê-lo ele nunca estaria pronto para aceitar que a garotinha dele cresceu, ele nunca aceitaria perder você. Mas eu o convenci de que seria melhor entregar essa carta quando você fizesse dezoito anos, e seria legalmente capaz de fazer as próprias escolhas, sem que nós nos intrometêssemos.

Mas ao que parece não consegui chegar até os seus dezoito. Sinto muito querida.

Então eu escondi a carta aqui, no nosso quadro. Espero que quando você a encontre já não seja tarde demais.

Lembre-se: Não desista do que te faz feliz.

Com todo o meu amor,

Mamãe.

Soltei o ar que eu havia prendido enquanto lia aquela carta. Eu deveria estar chateada com minha mãe, eu certamente estaria se ainda fosse uma adolescente. Mas agora, eu já era uma mulher crescida, eu compreendia o porquê dela ter feito o que fez. Peguei o outro envelope com as mãos trêmulas, eu estava nervosa, meu estômago revirava dentro de mim. O que Oliver teria escrito para mim?

Eu deveria ler essa carta? Essas palavras escritas há dez anos atrás não poderiam mudar o passado, o tempo perdido estava perdido e nunca mais voltaria, eu teria que aceitar isso. Lê-la agora só abriria ainda mais essas feridas. Mas eu precisava saber, não importa se machucasse ainda mais, eu precisava disso. Subi de volta para o meu quarto e fui direto para a varanda, precisava me preparar antes, respirar um pouco de ar fresco e acalmar meu coração que batia descontrolado dentro do peito. Retirei o papel pardo do envelope e encarei a letra descuidada de Oliver. Assim que eu comecei a ler as palavras dele as lágrimas vieram, grossas, quentes e desciam livremente pelo meu rosto. Eu não me importei de afastá-las, não, eu queria senti-las, eu precisa senti-las para ter certeza de que aquilo era real. De que tudo o que estava escrito ali, era o que Oliver verdadeiramente sentia em seu coração.

Eu finalmente entendi. Aquela era a carta sobre a qual Oliver me questionara mais cedo no hospital, e eu havia dito que não significava nada! Ele devia pensar que eu era alguém sem coração! Agora eu compreendia a atitude dele de me afastar... Como tudo pudera dar tão errado entre nós? Até quando a vida brincaria assim conosco, trazendo tantos desencontros, tanta dor, quando tudo o que tentamos fazer foi amar um ao outro?

Era tão injusto que tenhamos ficado separados por tanto tempo, quando nos amávamos tanto.

Minha mãe estava certa, eu não podia desistir do que me fazia feliz. Eu não podia desistir de Oliver.


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Notas finais do capítulo

No próximo teremos a "tal" carta e uma conclusão para essa história. Digam-me se gostaram! Beijos!