Sunshine escrita por Junebug


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu encaro o lindo vestido em cima da minha cama. Ele tinha sido um presente para minha mãe, mas ela nunca chegou a usá-lo. Não era branco, mas tinha um tom de salmão bem claro que lhe conferia uma beleza suave. As mangas eram curtas e a saia não devia chegar muito abaixo dos joelhos. Respiro fundo. Se eu ia mesmo usá-lo, estava na hora.

Eu estaria muito bem no vestido, não fosse por algumas cicatrizes mais feias espalhadas pelos meus braços e pescoço. Procuro melhorar a imagem que encaro diante do espelho com um penteado trançado, só que ao invés de prender todo o cabelo, eu deixo boa parte solta, o que ajuda a esconder várias das marcas.

Enquanto complemento a parte trançada com algumas pequenas flores que Peeta e eu havíamos colhido mais cedo, não paro de me perguntar por que mesmo estou fazendo tanta questão disso do penteado e da roupa. Talvez haja uma pequena parte de mim que se importa com minha aparência. Talvez seja porque eu sei o quanto Peeta aprecia coisas bonitas...

Ouço a porta da frente se abrir e os passos pesados de Peeta adentrando o hall. Ele para quando me vê descendo as escadas, os olhos brilhando e a boca meio aberta. Eu procuro agir com naturalidade, mas tenho certeza de que não consigo disfarçar como aquilo me afeta. Coloco uma mecha de cabelo para trás da orelha e pergunto:

- Está tudo pronto?

- Acho que sim... Eu só... estou me sentindo mal vestido agora – responde Peeta com um sorriso.

Ele está usando roupas bem boas. Calças pretas e uma camisa branca que eu sei que é nova. Tinha começado a chover lá fora há pouco tempo, então dá pra ver marcas de pingos d’água na roupa e seus cabelos ondulados estão meio úmidos. Parece que o vento que bagunçou um pouco sua aparência só fez melhorá-lo.

Sacudo a cabeça para o que ele disse, também sorrindo, e me aproximando mais dele, que me envolve em seus braços e se inclina para me dar um beijo. Algum tempo depois, se afasta alguns centímetros para dizer num sussurro sem fôlego:

- Você está muito linda, Katniss.

- Não seja exagerado – eu retruco, pondo uma mão no cabelo dele e voltando a beijá-lo.

Com certo esforço, nós finalmente conseguimos nos manter afastados por tempo suficiente para buscar na cozinha os pães que decidimos dar um jeito de torrar na lareira da sala. Os dias estavam começando a esfriar e aquela seria a primeira vez que a acenderíamos naquele fim de outono.

Enquanto estamos ali sentados no tapete em frente às chamas alaranjadas, com uma bandeja de pães torrados já meio vazia e a casa inteira tomada pelo aroma delicioso, Peeta insiste que precisa começar a me desenhar, porque ele teme esquecer qualquer pequeno detalhe se fizer isso depois.

Eu fico ali encostada no sofá de lado, observando-o correr as mãos ágeis pelo papel, o sorriso constante no rosto. Eu sinto aquela felicidade dentro de mim também e uma sensação de leveza no estômago, embora também tenha que lutar contra aquele terrível sentimento de culpa que sempre aparece para me perseguir quando percebo que algo está me fazendo feliz.

Decido que não quero e não vou deixar que a culpa me alcance hoje. Me aninho junto a Peeta, apoiando a cabeça em seu ombro. Ele beija minha testa e passa o braço esquerdo pela minha costa enquanto a mão direita ainda finaliza o desenho em seu colo.

Não é que algo vá mudar drasticamente entre nós dois a partir de hoje, mas também não é por isso que aquele momento deixaria de ser especial. Quero dizer, nós mal temos dezenove anos, mas temos muita certeza de que é o que queremos.

Depois, Peeta praticamente já mora aqui e, de várias formas, nós já vivemos como se estivéssemos casados. Mas tínhamos crescido no Distrito 12, jamais nos sentiríamos realmente casados sem o ritual dos pães.

Diante do fogo, eu fico tentando me lembrar dos versos da nossa canção tradicional de casamento, mas eu só consigo pensar em uma outra canção que aprendi com Madge. Ela costumava tocá-la ao piano e me fazia acompanha-la num dueto. Essa canção me lembrava muito Peeta. Antes que me desse conta, eu a estava entoando numa voz baixa:

Green are the meadows you see in your dreams

(Verdes são os campos que você vê em seus sonhos)

Blue are the stars in the sky dark and deep

(Azuis são as estrelas no céu escuro e profundo)

Purple the evening that’s tucking you in for the night

(Roxo o fim de tarde que te envolve noite adentro)

You are the sunnshine

(Você é a luz do sol)

On rainy days

(Em dias de chuva)

And if i have sunshine

(E se eu tenho a luz do sol)

A rainbow is coming my way

(Um arco-íris virá até mim)

Peeta tinha parado com seu desenho. Primeiro ele ficou me observando, depois passou a encarar as chamas da lareira, como eu fazia. Era como se estivéssemos hipnotizados. Minha voz ia ficando mais alta e confiante à medida que minhas cordas vocais iam se acostumando a voltar a cantar depois de um longo tempo. Aquela era a primeira vez que eu cantava assim em alto e bom som em mais de um ano, depois de... tudo.

Cloudy days

(Dias nublados)

Will Blow away

(Irão se afastar)

And the sky will not always be grey

(E o céu não estará sempre cinzento)

You are the sunshine

(Você é a luz do sol)

On rainy days

(Em dias de chuva)

And if i have sunshine

(E se eu tenho a luz do sol)

A rainbow is coming my way

(Um arco-íris virá até mim)

Nos últimos versos, minha voz falha um pouco e eu preciso limpar uma lágrima que escorre pelo meu rosto. Peeta se volta para mim, um tanto preocupado. Eu tento sorrir para ele querendo dizer que está tudo bem, porque realmente está, aquela emoção que tomou conta de mim tem um gosto agridoce, mas não é exatamente tristeza. Eu me sinto ainda mais leve que antes.

Peeta coloca uma mão na minha bochecha e pergunta, para se certificar, recorrendo ao nosso velho jogo:

- Você está feliz. Verdadeiro ou falso?

- Verdadeiro – eu digo, jogando os braços em volta dele.


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Notas finais do capítulo

A música que a Katniss canta é parte de 'Sunshine' da J J Heller.

Obrigada por ler! Me diga o que achou!!! ^^

Bjo.



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