Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 30
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Voltei de viagem na sexta passada e já deveria ter postado esse capítulo antes mas acabei me enrolando!!! Mas aqui estou, e sei que vocês estão cansados de esperar, mas quero falar umas coisinhas antes... Nossa história bateu 6 MIL VISUALIZAÇÕES!!!!!! Sei que é um número pequeno perto de tantas fics bombadas, só que...UAU! Eu nunca imaginei que alguém além da minha prima e de alguns amigos fossem ler, então, sim... Eu estou MUITO feliz por receber essas visitas por aqui. Alguns leitores me emocionam com seus comentários ou mensagens privadas que me enviam. Sempre escrevi para mim mesma, mas hoje sei a felicidade de poder dividir minhas histórias com alguém! Vocês me fazem muito bem, me fazem esquecer dos problemas e dos momentos difíceis! Muito obrigada por tudo, mesmo, de coração. E um agradecimento especial pela recomendação LINDA que a Fran (LoveBell) escreveu, fiquei sorrindo o dia todo igual uma besta! Agora sim... Boa leitura!



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"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente". (Mario Quintana)

 

Gil rezou para conseguir permanecer imóvel e que o chefe não notasse a tensão que se formava em seus músculos. Os dedos de Vincent ainda acariciavam a pele quente do seu rosto e só parou para afastar alguns fios molhados de suor em sua testa.

Ainda fingindo dormir, ela buscou desesperadamente alguma lembrança da noite anterior e a sua imagem deitada no sofá — segurando uma garrafa de rum — foram as únicas coisas que lhe vieram à cabeça. Não saber o que de fato havia acontecido entre eles a estava deixando maluca, portanto, se viu obrigada a abrir os olhos e revelar a sua real situação. Precisava de respostas. E precisava imediatamente. No momento em que abriu os olhos, o toque de Vincent cessou.

— O que eu estou fazendo aqui? — Gil tentou soar o mais despreocupada possível, mas a sua voz trêmula a entregou.

— Bom dia pra você também, Gilan. — a expressão de Vincent tornou-se rígida.

— Bom dia. — Gil murmurou e sentou-se timidamente, encostando as suas costas na cabeceira da cama. — Eu não me lembro de ontem à noite… Nós… Eu e você-

— Você dormiu no sofá. — Vincent rapidamente explicou. — E eu apenas a carreguei até aqui.

Gil olhou discretamente ao redor. — Eu estou no seu quarto.

— Que boa observadora você é. — ele zombou.

Gil encarou as orbes negras e dilatadas de Vincent e sua primeira reação foi desviar o olhar. Ser analisada com aquela intensidade parecia sugestivo demais para lidar. Além disso, Gil poderia apostar que a sua aparência, depois de toda a bebedeira de ontem, era algo lamentável. 

Mas então, aquela energia tensa que os rodeava a atraiu para o chefe. E ela voltou a fitá-lo, subindo o seu olhar cautelosa e devagar.

Vincent já usava uma de suas camisas sociais, calças oxford e cabelos úmidos muito bem-arrumados. Os botões semi abertos em seu peito revelavam uma camada escassa de pêlos, e Gil sentiu o seu rosto arder. Talvez não tenha sido o melhor momento para prestar atenção nesses detalhes. Aquela cama, apesar de enorme, parecia extremamente menor com Vincent sentado ali. 

Mudou o foco e fixou o seu olhar no rosto do chefe, reparando em algumas olheiras. Era uma visão preocupante, considerando o grande talento de Vincent em se manter impecável. Seu coração apertou com o impulso de perguntar o que aconteceu para ele simplesmente desaparecer na noite anterior. Mas se conteve. Isso não era da sua conta, como a maioria dos assuntos do chefe.

— Eu vou para o meu quarto. — Gil afastou o edredom de suas pernas e fez menção de deixar a cama, mas as mãos de Vincent a seguraram.

— Fique. Ainda é cedo. Você pode dormir mais um pouco. — ele pediu calmamente.

— Que horas você chegou ontem à noite? Por que eu dormi no seu quarto? E onde você dormiu? — Gil se penalizou por soltar tantas perguntas de uma só vez, mas já estava a ponto de explodir segurando todas elas.

Vincent riu. E Gil quis odiá-lo por isso, mas se sentiu menos tensa com a imagem daquele homem sorrindo tão tranquilamente ao seu lado.

— Eu cheguei tarde demais para um homem casado. — Vincent ficou sério novamente, embora o seu rosto ainda estivesse relaxado. — E como eu disse, não é a primeira vez que te encontro dormindo na sala, eu só pensei que talvez o meu colchão fosse mais confortável para você. — ele fez uma pausa e bufou parecendo cansado. — E eu dormi no sofá, é claro.

Gil aceitou aquela explicação e brincou com a barra de sua blusa tentando disfarçar o nervosismo. 

— Entrei no quarto apenas para tomar um banho, sinto muito se eu a acordei. Mas ainda é realmente cedo. Volte a dormir. — Vincent levantou-se da cama e começou a abotoar os botões de sua camisa, um gesto que fez Gil respirar alto demais.

— Prefiro voltar para o meu quarto. — sua voz não continha um pingo sequer de confiança, mas Gil sabia que isso era o melhor a fazer.

— Você também não se sente à vontade aqui. — aquilo não era uma pergunta. Vincent deu as costas indo até o closet, voltando logo em seguida segurando uma gravata. — Fique. Vou preparar um chá. — ela quis protestar mas recebeu um olhar severo do chefe. — Apenas fique, Gilan.

Assim que Vincent deixou o quarto, Gil jogou-se na cama e esfregou discretamente o nariz pela fronha do travesseiro. Nenhum lugar daquele apartamento a havia deixado tão à vontade quanto esse quarto. Ela sentia Vincent em todas as coisas. No cheiro. Na mobília. Nas fotografias penduradas na parede. Até mesmo na pequena agenda em cima da cabeceira. Mas Gil sabia que não podia ficar ali. Levantou-se da cama na intenção de desobedecer o chefe e correr para o seu quarto e os seus olhos perceberam no chão algumas peças de roupas jogadas. 

Pegou a camisa e a gravata que Vincent usava na noite anterior, e pelo cheiro, confirmou o que já imaginava, o chefe havia saído para beber. E de certa forma, se sentiu vingada ao lembrar que acabara com toda a garrafa de rum dele. Foi até o banheiro, e antes de jogar as peças no cesto, reparou em uma marca suave de batom na manga da camisa de Vincent.  E foi como um soco no estômago.

Vincent esteve com alguém. Outra mulher. E Gil desejou que essa informação doesse um pouco menos. Tecnicamente, o chefe não estava quebrando as regras, ele não havia trazido ninguém para o apartamento, exatamente como Gil havia exigido no contrato, ainda assim, ela sentia-se furiosa, como se algo dentro dela tivesse se partido ao meio. Ela só queria ir embora dali. 

Antes que pudesse se mover, Vincent surgiu no quarto carregando uma bandeja. Sem parecer perceber a expressão aflita de Gil, ele sentou-se novamente na cama e apontou para uma cartela de aspirina, uma xícara de chá e algumas torradas.

— Tome, beba e coma. — ele disse com autoridade, porém, Gil  apenas saiu pela porta o ignorando completamente.

A poucos centímetros da maçaneta de seu quarto, uma mão a puxou. Gil abaixou o rosto sentindo um lacrimejar arder em seus olhos. Não. Chore. Agora.

— O que aconteceu? — Vincent exigiu saber, segurando a ponta do queixo de Gil forçando-a a erguer o olhar.

— Não! — ela deu um passo para trás, se afastando bruscamente.

Não queria ser tocada por ele. Vincent pareceu notar a sua repulsa e a olhou com uma expressão ferida.

— O que aconteceu, Gilan?

— Eu acho que preciso vomitar. A ressaca, a bebida… Eu… — Gil tocou na maçaneta com as mãos trêmulas, falhando na simples tarefa de abrir a porta. Vincent notou a sua dificuldade e a ajudou.

Correu imediatamente até o banheiro da sua suíte e se trancou, pode escutar os passos do chefe se aproximando.

— Se você precisar de qualquer coisa eu estarei aqui. — Vincent gritou do outro lado da porta.

Eu preciso conseguir sair daqui. Gil quis gritar. Mas ao invés disso, sentou-se contra a porta e abraçou os próprios joelhos.

xXx 

Gil levantou-se um pouco zonza e andou em direção a pia. A visão de sua imagem no espelho a espantou. Estava destruída, e não só por fora. Tirou a sua roupa e ligou o chuveiro. E ficou assim por longos minutos. Apenas sentindo a água quente atingir o seu pescoço. Não queria sair daquele banho. Não queria tomar café da manhã. Não queria absolutamente nada que a obrigasse a interagir com Vincent. Vestiu o seu roupão e abriu a porta do banheiro devagar, observando com cuidado se o quarto estava vazio. E estava.

 

Em cima da sua mesa de cabeceira havia uma bandeja, a mesma que antes Vincent segurava. Engoliu a aspirina e bebericou um gole do seu chá, agradecendo a sensação morna que descia pela sua garganta. E então, reparou em um pequeno bilhete ao lado da bandeja.

Eu te devo uma folga e você me deve uma garrafa de Rum. Por favor, descanse.

Vincent.

Não gostava de se ausentar em seus compromissos, muito menos se eles envolvessem trabalho. Só que isso não era apenas pela ressaca, era muito mais. O seu corpo implorava por alguns momentos longe de Vincent. Dois passos para frente, cinco para trás. Era assim que essa relação a fazia se sentir. E com toda a força que ainda lhe restava, arrumou-se o melhor que pode e chamou um táxi. Não ficaria naquele apartamento sozinha.

E antes que se desse conta, estava na portaria da produtora. 

Na recepção. 

Na sala de espera. 

Encarando os olhos confusos de Matt.

— Gil? — o produtor se aproximou, seus cabelos úmidos entregavam que o jovem havia acabado de chegar. — O que você-

Gil não permitiu que Matt terminasse a frase e o abraçou. Forte. Desesperada. Num impulso quase infantil de se sentir um pouco melhor.

— Você disse que eu poderia… — ela murmurou tão baixo que duvidou se o produtor de fato a ouviu. 

— Me usar? — Matt deixou um sorriso escapar, mas Gil não conseguiu retribuir.

— Eu estou envergonhada. Eu não deveria estar aqui.

— Você está exatamente no lugar que deveria estar. — e Matt a apertou ainda mais contra o seu corpo. — Já tomou café da manhã?

— Na verdade, não. Tomei um chá. — Gil sentiu o seu estômago reclamar, o que fez Matt gargalhar.

— Parece que alguém aqui precisa se alimentar. — o produtor se afastou minimamente do abraço, o suficiente para encarar os olhos de Gil. — Conheço uma confeitaria incrível a duas quadras daqui.

— Você não precisa abandonar o seu trabalho por minha causa.

— Eu terei que comer em algum momento, certo? — ele a soltou do abraço, mas logo em seguida apertou a sua mão e entrelaçou os seus dedos. 

Assim que chegaram na charmosa pâtisserie, Gil encarou admirada as opções de doces das prateleiras. Tudo era tão colorido e atrativo que tornava quase impossível se decidir por apenas um item. E não existia nada melhor no mundo do que uma boa dose de açúcar.

— Eu quero uma torta de pecã. — Gil pediu tímida.

— Só isso? — Matt riu e fez o pedido, adicionando mais algumas coisas. — Dois éclairs de pistache, uma porção de bruttibonis e uma torta de maçã.

— Quantas pessoas comerão com a gente? — Gil zombou.

— As porções são pequenas e absurdamente saborosas, apenas confie em mim.

Gil observou encantada o sorriso animado de Matt. Ele parecia sempre tão tranquilo e resolvido, como se nada pudesse destruir o seu humor. Era tão confortável e tão… Estável.

— Esse lugar é muito cheiroso. — Gil puxou assunto enquanto iam em direção a uma mesa. — Tem aroma de-

— Cereja. — Matt completou, encarando fixamente os olhos de Gil.

— Talvez você queira uma explicação. — ela desconversou. — Por eu aparecer assim, sem avisar.

— Eu só quero saber se você está bem. — Matt pareceu sincero.

— Sim. — Gil torceu o nariz. — Não. Eu não estou nada bem. E eu gostaria de desabafar, mas eu… Eu não posso.

— Não pode? Ou não quer?

— Não posso. — Matt a olhou com surpresa, talvez não esperasse por essa resposta. — É complicado.

— Tem a ver com Vincent? — a voz do produtor parecia menos amigável que o normal.

— Sim. — a rapidez de sua resposta a desanimou. Estava tão magoada que sequer conseguia disfarçar.

O produtor cerrou os olhos e respirou pesadamente. Gil o observou intrigada, ele parecia querer dizer alguma coisa, mas segundos depois, a expressão dele suavizou-se.

— Quando eu disse para você vir até mim sempre que o seu coração pedisse, eu realmente fui honesto. — Matt murmurou. — Eu não preciso saber o que aconteceu, desde que eu possa estar perto de você.

Gil sorriu. Simples e fácil. Como tudo ao redor de Matt. 

O produtor estendeu a sua mão em cima da mesa e Gil o tocou com receio, sentindo o calor dele envolver os seus dedos gelados. 

Era um gesto reconfortante, que aquecia muito mais do que a sua pele. E permaneceram assim, soltando-se apenas quando o garçom chegou com os pedidos.  E cerca de uma hora mais tarde, depois de se deliciarem com os doces e jogarem conversa fora, saíram da confeitaria, caminhando lentamente até a frente da produtora. Gil sentia-se melhor, Matt tinha esse dom de deixá-la genuinamente feliz com pequenos gestos.

Um vento frio tocou em seu rosto, fazendo o seu corpo tremer involuntariamente. Matt observou o movimento e sem hesitação, tirou o seu casaco.

— Eu preciso ter certeza que você ficará bem. — o produtor disse, se aproximando devagar. — Você não precisa estar ao lado de alguém que te faz mal. — Matt colocou o seu casaco em volta dos ombros de Gil, e em seguida, ficou de frente para ela.

— Eu não posso abandoná-lo. — Gil simplesmente admitiu.

— Não se abandona o que não existe. — o produtor murmurou e Gil o encarou com um certo pânico. Às vezes se perguntava o quanto ele sabia, o quanto ele já havia observado. — Vincent não te merece.

Gil sentiu as mãos de Matt deslizarem pelos seus braços enquanto ajeitava o casaco. E então, percebeu o quanto havia se inclinado na direção do produtor. O quanto queria acabar com a distância entre eles. O quanto queria ser beijada.

Gil precisava ser beijada.

Fechou os olhos e sentiu a respiração quente do produtor soprando em seu rosto, não demorou muito até que os seus lábios se encostassem. Um contato mínimo, um carinho em sua pele que fez com que os seus músculos relaxassem. Suas bocas foram se abrindo devagar, ritmando o movimento do beijo. As mãos de Matt subiram até a nuca de Gil, a qual ele agarrou com cuidado. Ela o abraçou com a mesma gentileza, e inesperadamente, algo explodiu entre eles.

Línguas, arrepios e uma necessidade desorientada. Matt a beijou com um desespero que ela mesma se surpreendeu. 

Matt a queria. Alguém a queria. De verdade. Sem mentiras ou contratos, apenas a queria, exatamente como era.

Por isso, quando as suas bocas se afastaram, a resgatando do transe daquele momento, Gil não sentiu culpa. Por isso, quando Matt tocou a pele de suas bochechas e desceu o toque até o seu pescoço, Gil desejou mais. E quando flagrou um par de olhos âmbar em sua direção, Gil não sentiu nada.

Amelia os observava. Mas isso já não tinha a menor importância.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem... o/